Imagem: Site Politize |
Desde o início da
decretação dessa pandemia, na qual ainda estamos metidos, e com o
distanciamento social implementado pelos governos estaduais, venho produzindo
artigos que nos provoquem reflexões sobre o entendimento de todo esse processo.
Outros colegas da Universidade, com a suspensão das aulas, e o devido trabalho
em home office, estão fazendo o mesmo, e produzindo materiais[1] que nos auxiliem a
compreender a dimensão da Covid19,[2] cada um/a em sua área de
especialização[3].
Assim, contribuímos para evitar a disseminação de informações falsas e/ou
manipulações de realidades que tem sido cruéis e que ainda irão provocar muitas
perdas de vidas e desespero familiares.
As consequências
ainda são difíceis de serem previstas, mas o olhar na história e o quanto
outras pandemias trouxeram fortes impactos sociais e econômicos, faz com que
acreditemos que iremos ainda por muitos meses, e talvez anos, lidar com quedas brutais
nos Produtos Internos Brutos nos países, um impacto terrível nos níveis de
emprego em função da redução abrupta do processo produtivo e prováveis revoltas
e insurreições populares diante do desespero que será conviver com fome e
desesperança.
Instituto de Estudos Socioambientais da UFG |
Neste momento
importa olharmos bem criticamente as condições em que o estado brasileiro tem
deixado tanto os investimentos em saúde, como no aprimoramento das condições de
vida daquelas pessoas mais fragilizadas socialmente. Quando analisamos os
dados, e as vidas das pessoas se tornam estatísticas, infelizmente, nos
debruçamos sobre realidades cruéis, passíveis de terem sido resolvidas, mas
decorrentes da absoluta ausência de compromisso do governo brasileiro com as
questões sociais, e amarrados a uma lei criminosa que limita os gastos do
Estado, e impõe a áreas importantíssimas, como saúde, educação e ciência, uma
redução absurda nos valores investidos, causando uma destruição dos sistemas
que estruturam essas áreas de enorme valor estratégico para a Nação como um
todo. Um estudo precioso tem sido elaborado por um grupo de professores do
Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, e pode ser pesquisado no acesso ao
site do Observatório do Estado Social Brasileiro[4].
Observatório do Estado Social Brasileiro |
Os artigos que
tenho produzido objetivam desnudar essa realidade. Parto de outras análises,
feitas durante todo esse período por diversos especialistas, cientistas da área
de saúde, bem como também os cientistas sociais, para construir a elaboração de
conteúdos que se afinem com uma visão crítica, de uma realidade perversa e que
precisa ser demonstrada em toda a sua dimensão. Não é algo que surgiu neste
momento. Este momento de uma epidemia terrível, que se espalhou por todo o
mundo, a ponto de ser definida pela Organização Mundial de Saúde como uma
pandemia, desnuda uma realidade que não é mostrada com frequência, em certos
casos ela é escondida, e na contrapartida da virtualização de um mundo
ultratecnológico, perde espaço nas mídias de uma maneira geral. Até mesmo nas
mídias sociais, já que ao viajarmos buscamos aqueles lugares deslumbrantes,
lúdicos, idílicos. Por uma necessidade compreensível de buscarmos descansar do
stress e da escravidão ao trabalho. E, naturalmente, são as belezas naturais ou
artificiais que fazem parte de nossas selfies.
Mas as cercanias
das cidades, as favelas, periferias descuidadas e esquecidas pelo poder
público, embora cheias de cidadãos e cidadãs (sem direitos de cidadania) que
são procurados em épocas eleitorais, mas negligenciados no cotidiano de suas
vidas. Esses são os principais alvos dessa e de outras epidemias, doenças que
afetam os seus cotidianos, decorrentes da pobreza, falta de condições básicas
de higiene, por causa da ausência de serviços básicos de saneamento, infraestruturas
adequadas de moradias, enfim, um descaso absoluto, secular.
Imagem: BBC |
Não ocorrerão
transformações pós-pandemias se, junto com as preocupações de momento para
conter a disseminação do vírus “sars cov-2”, não vierem um forte sentimento de
indignação por essas condições. E que possamos dar mais e muita visibilidade a
uma realidade cruel, que em muitos casos transformam seres humanos em ratos,
pelos ambientes sujos e podres nos quais esses indivíduos vivem. Não porque
desejam. Não porque não adquiriram méritos suficientes para viverem em outras
condições. Mas porque estão submetidos a uma lógica perversa, um apartheid
natural de um sistema que se transforma em duas direções. Em uma, do topo,
ampliando a riqueza e reduzindo o percentual daqueles que a controla: e, do
outro, da base de uma pirâmide onde situa-se a imensa maioria da população,
sobrevivendo em meio à essas condições e garantindo a mão-de-obra necessária para
satisfazer o luxo e a ostentação dos ricos.
Essa população, ao
final do isolamento social, ela permanecerá no distanciamento social, pelas
condições que a levaram à essas circunstâncias, e de políticas seculares de um
país que se desenvolveu na separação estrutural opondo a casa grande à senzala.
A maneira de forçar as mudanças, e que as lições dessa pandemia sejam
aprendidas, é deixarmos bem claro essas condições, mostrarmos incessantemente a
perversidade que é a realidade brasileira, e deixar de nos inebriar e nos
deslumbrar com as maravilhas que as tecnologias produzem e nos fascinam, ignorando
as condições em que vivem a maioria das pessoas.
Imagem: Portal Vermelho |
Os artigos abaixo,
com os links para acesso, procuram identificar as razões, as causas, os
comportamentos, e a normalidade que faz nos cegar diante da realidade. Espero
que ajudem a levantar bandeiras, e, mais do que isso, que motivem o máximo de
pessoas a se imbuírem do desejo de ir à luta, para além do mundo virtual, tão logo
saíamos dessa condição de quarenta na qual estamos colocados por absoluta
necessidade de combater um vírus invisível aos nossos olhos, um microrganismo, mas
de um poder destrutivo brutal. Após derrotá-lo, cabe-nos criar coragem de
enfrentar esses outros desafios, com a certeza de que em breve iremos nos
deparar com outros vírus e novas epidemias.
Controlar essas
doenças só será possível, de forma plena, se nos anteciparmos à suas
disseminações. O que significa mudar a lógica como a saúde é tratada, e de
curativa transformar os atendimentos e a sua política em preventiva, passando
por eliminar essas condições miseráveis em que vive uma enorme parcela da população.
ACESSEM, LEIAM E
COMPARTILHEM:
1. MEU BLOQUEIO, O
NOVO CORONA VÍRUS E COMO VEJO ESSA PANDEMIA – 24.03.2020
2. TUDO QUE É
SÓLIDO DESMANCHA NO AR – O COVID19 E A CRISE CAPITALISTA MUNDIAL – 28.03.2020
3. O COVID 19 E O
MUNDO NA ENCRUZILHADA – 05.04.2020
4. A DIMENSÃO DA
GEOPOLÍTICA NO MUNDO ATUAL – 10.04.2020
5. COMO CHEGAMOS
ATÉ AQUI E COMO SERÁ O MUNDO PÓS-PANDEMIA? – 28.04.2020
6. SOS SAÚDE:
ESTAMOS ATINGINDO OS LIMITES DA NATUREZA HUMANA E DO ECOSSISTEMA – 04.05.2020
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[4] Observatório do Estado Social
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