segunda-feira, 12 de junho de 2023

AS JORNADAS DE JUNHO ERAM PREVISÍVEIS E AS CONSEQUENCIAS PODERIAM TER SIDO OUTRAS

ESTAVA ESCRITO NAS ESTRELAS

A mudança radical na política brasileira, que nos jogou em uma crise profunda, com a ascensão de personagens políticos que imaginávamos sepultados com o fim da ditadura militar e pela “Nova República”, não se deu repentinamente. Ela se seguiu a uma série de mudanças que já vinham acontecendo por diversas partes do mundo. Os movimentos dos “Indignados”, “Occupy”, e aqui no Brasil com as “Não é por 20 Cents” e “Não vai ter copa” refletiam os rumos de uma crise que já acontecia desde a virada do século XX para o XXI, atingindo o seu ápice com a chamada crise econômica em 2008, que se prolonga até os dias atuais, entre altos e baixos da economia mundial.

A mudança de estratégia dos EUA, para combater seus desafetos, com a eliminação seletiva via uso de drones para assassinar suspeitos de serem terroristas; e o advento das “guerras híbridas”, como táticas desconcertantes de desequilíbrios geopolíticos e intervenção indireta nas políticas de determinados países, a fim de derrubar governos que fossem considerados ameaças aos interesses do império, mantiveram o mundo sob tensão, até explodir em guerras como na Síria e na Ucrânia.

Resgato aqui, com links para acesso a artigos publicados no Blog Gramática do Mundo, os vários momentos em que, acompanhando pela geopolítica todas essas transformações, procurei indicar as crises que nos cercavam, e até mesmo arriscar em projeções sobre os rumos que estavam tomando o mundo, e, em especial, no nosso país. Posso dizer, com tranquilidade, que acertei no vaticínio sobre algumas das consequências que estavam por vir.

É dessa maneira que me manifesto nesse 13 de junho de 2023, quando se completam dez anos das JORNADAS DE JUNHO. Acrescento que a ascensão da extrema-direita se deu muito mais por negligência e extremo sectarismo e esquerdismo da esquerda e da chamada esquerda radical, do que pela competência de personagens e grupos até aquele momento invisibilizados.

A onda que se seguiu às manifestações de junho de 2023, foi também impulsionada pela cobertura midiática não meramente contemplativa, mas bastante ativa e a partir de 2014 praticamente protagonista na frente de propaganda, a fim de ampliar o poder da multidão com o intuito de derrubar o governo de Dilma Rousseff, alçando a condição de lideranças personagens saídos dos subterrâneos da política, outsiders, ou políticos inexpressivos, mas porta-vozes dos indignados, ressentidos, frustrados e alienados, cuja cultura política se expressa pelo seguidismo expresso nos votos de currais e na influência de púlpitos de igrejas que os transformam em rebanhos servis e ignorantes da realidade e do mundo objetivo.

Mas o resultado não foi como o planejado. A tentativa de impor um derrotado na condução do país, a partir de 2015, que culminou no impeachment de uma presidenta legitimamente eleita e sem culpa grave que a condenasse, no que se constituiu em um golpe institucional, falhou. E, após um governo desastrado de um vice golpista, a ascensão da extrema-direita fugiu de todos os roteiros planejados pela centro-direita com forte apoio midiático: o tiro saiu pela culatra. Mas os derrotados fomos todos nós, brasileiros e brasileiras, que amargamos dez anos de uma crise fabricada a fim de retirar o Brasil de uma rota que era diferente daquela que tradicionalmente o país vinha seguindo desde os seus primórdios. Embora tendo retornado Lula á presidência, depois de situações inusitadas e de idas e vindas, perdemos um tempo considerável em meio a destruição de toda uma estrutura de estado que favorecia às camadas mais fragilizadas da sociedade. Reconstruir tudo isso não será fácil, porque se criou uma polarização política nefasta, e os embates se dão com base em mentiras e ataques mesquinhos e perversos, dividindo de forma sectária a sociedade brasileira.

Mas a história está aí, para não deixar esquecer por quais caminhos trilhamos e por quais erros nos guiamos até chegarmos aos dias atuais. Precisamos lembrar, sempre, do nosso passado, para evitar repetir erros que são cruciais para nossas vidas.

 

INDIGNADOS! PARA QUAL DIREÇÃO SEGUEM AS MUDANÇAS?

Novembro de 2011

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2011/11/indignados-para-qual-direcao-seguem-as.html

Infelizmente, a revolta das pessoas decorrente de situações reais, de dificuldades que lhes afetam diretamente, ao não se traduzir em transformações imediatas (o que é praticamente impossível), criam desesperanças e jogam nas ruas milhares de pessoas sem a verdadeira percepção de como as estruturas do Estado funcionam. (...)

Mas há um reverso nessa história, e talvez seja o pior resultado. A possibilidade de esse descontentamento ser absorvido por grupos e partidos conservadores, à espreita do crescimento da desesperança que se seguirá à frustração inevitável daqueles que se entregam aos protestos, ao não verem resultados concretos nas suas revoltas.

 

INFORMAÇÕES ABSTRATAS CONSTROEM REALIDADES VIRTUAIS

Novembro de 2011

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2011/11/informacoes-abstratas-constroem.html

Tenho repetido sempre, seguindo o mestre Milton Santos, que a informação é carregada de ideologia e nos tempos atuais cumprem mais o objetivo de desinformar, do que propriamente criar uma consciência a respeito de sua complexidade, de forma a levar o indivíduo a refletir e a pensar, construindo hipóteses, dúvidas, que o levem a um questionamento capaz de construir novas ideias que possam mudar o mundo positivamente.

Infelizmente, a Universidade nos últimos anos somente replicou a lógica demandada pela dita globalização, ou mundialização como querem os franceses. Seguindo-se aos interesses do mercado, numa pressa espetacular para garantir mão de obra nas novas conformações do trabalho criadas mundo adentro, fragmentou-se em uma infinidade de especializações, reduzindo a capacidade da juventude (já representada nos dias de hoje nos profissionais que assumiram seus postos, em muitos casos inexistentes há pouco mais de uma década) de pensar, criar, que não fosse dentro da lógica capitalista da ampliação de seus ganhos.

Empobrecido nessa capacidade inventiva, não de construir novos caminhos da lógica capitalista, mas de novas ideias que possam tornar o mundo mais racional e humano, cede-se o espaço para uma perigosa situação. Num mundo de acesso fácil à informação, pouco assimilada, mas imediatamente incorporada à sua visão de mundo, cada indivíduo julga-se, ou melhor julga pelo que recebe de informações, capaz de opinar sobre tudo e a estabelecer juízos de valores sobre fatos que se apresentam de maneira abstrata, ou que são construídos para tornarem-se instrumentais ideológicos capazes de tornar-se uma verdade absoluta. Nada de mais, pelo contrário, se esse conhecimento não fosse construído de maneira superficial.

As redes sociais potencializam isso e transformam-se, elas também, em instrumentos que aceleram o processo, devido à rapidez com que essas informações circulam para milhares de pessoas em um curto espaço de tempo. Mal recebe a informação e ela é imediatamente repassada, sem processá-la e analisá-la, mas por envolver muitas vezes temas que são facilmente aceitos, ou pela polêmica que carregam, ou por situar-se no âmbito dos agrados ou desagrados que marcam o cotidiano daquela pessoa.

E assim, num mundo de verdades virtuais e de informações abstratas, muitas vezes falsas, ou construídas em uma versão ideológica, do interesse de quem as produz e as difunde nos submetemos a uma espécie de tribunal tridimensional, onde fato, verdade e versão, se confundem e transformam nossas vidas em uma mera ficção hollywoodiana.

Abre-se dessa forma, no vazio de ideias consistentes e inovadoras, um largo caminho para a fascistização da sociedade, com a ampliação de situações que demonstram acentuado grau de intolerância com o outro, com as diferenças, com os limites que existem nas relações em sociedade, de respeito mútuo e de aceitação das contradições como elementos que são somatórios na diversidade que constituem nossa humanidade.

 

AS ORIGENS DA INTOLERÂNCIA E O FASCISMO MODERNO

Março de 2012

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/03/as-origens-da-intolerancia-e-o-fascismo.html

O fascismo moderno, enfim, não aparece espontaneamente na cabeça de jovens. É fruto de teorias preconceituosas e de instrumentos sociais que criam e reforçam valores que se baseiam na intolerância, na não aceitação das diferenças, e na liberdade de as pessoas definirem suas opções sexuais. Como na atitude bizonha e estúpida de um deputado pastor que pretende criar medidas que desfaçam a opção sexual de gays.

Tudo isso faz parte de dogmas que permanecem sendo instigados de forma instrumental em templos, tabernáculos, igrejas e mesquitas de todo o mundo, muito embora não se constitua em regra geral nem tenha relação com a fé individual, de cada pessoa, com sua legítima crença e liberdade de acreditar no que lhe convier.

São teorias também que fundamentam programas partidários que representam setores econômicos dominantes e a classe média alta, mas que pelo reforço ideológico religioso dissemina-se indistintamente por todas as demais classes sociais, apontam para perigosos caminhos, e se refletem de forma mais agressivas em alguns países, mas tendem a se expandir na medida do crescimento da crise econômica.

 

AS CRISES E A DESCONSTRUÇÃO DA POLÍTICA

Maio de 2012

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/05/as-crises-e-desconstrucao-da-politica.html

Vivemos, assim, um momento de profundas contradições. Crise econômica nos Estados Unidos e Europa que potencializa situações em que a intolerância desperta as frustrações e o desespero pela falta de emprego e de perspectivas futuras, e aqui no Brasil, onde economicamente passamos por um período de expansão e crescimento, mas cujas delinquências políticas, tradicionalmente ainda vigorando, nos mantém tensos e incertos quanto ao nosso futuro. Ou a dúvida sobre quem será beneficiado com todo esse crescimento.

E, no meio de tudo isso, a necessidade de estarmos vigilante, principalmente aqueles que conhecem o processo histórico e os exemplos de situações parecidas que levaram a humanidade para rumos indigestos, e buscarmos o convencimento das pessoas de que não é banindo a política que esses problemas serão corrigidos.

Só haverá saída no âmbito da própria política. E é sempre assim, mesmo que no advento de um processo revolucionário. Sair dele será também um exercício de apaziguamento das diferenças e de acordos selados pela política. O que as pessoas não podem abdicar é da capacidade de discernir o joio do trigo na escolha de quem irá lhe representar nos parlamentos ou na condução das administrações públicas.

Recusar-se a essas escolhas, motivado pela desesperança e incentivados por quem queira se aproveitar desse momento em aventuras abstratas, só irá beneficiar quem tem a riqueza, afasta mais ainda os trabalhadores da vida política e nos mantém reféns de nossos próprios vícios.

Ao mesmo tempo, é essencial compreender que a solução definitiva para esses males passa necessariamente pelo combate a um sistema que tem na ganância e na usura a base de suas transformações. Enquanto a cultura que prevalecer na sociedade for aquela onde o consumismo é o motor a motivar as pessoas, a individualmente buscarem formas de serem felizes tentando alcançar um estilo de vida individualista, egoísta e que sempre exige o esforço em busca de cada vez mais dinheiro, dificilmente poderemos acreditar que as gerações futuras terão um ambiente mais saudável e honesto para viverem.

 

O OVO DA SERPENTE – A pós-política e o perigo dos três efes: fakes, farsantes e fascistas

Julho de 2012

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/07/o-ovo-da-serpente.html

Mas o que me viria a me surpreender, por todo esse tempo de virtualidade digital seria a virulência dos embates, oriundos principalmente de pessoas identificadas com grupos aparentemente de esquerda. Além dos inconformados conservadores, contrariados com as recentes mudanças políticas no Brasil.

Passei a observar tais comportamentos, e até mesmo em algumas situações o grau de agressividade e de ofensas destiladas atingiu níveis preocupantes, me alertando para buscar explicações em uma nova realidade que teve início em conflitos que marcaram um novo estilo de luta da juventude por vários países, denominado “indignai-vos”. Na esteira da crise capitalista que se estende desde quando as torres gêmeas foram postas ao chão, em 2001, cujo epicentro se deu em 2008 com a quebra de inúmeras instituições financeiras na sequência de uma grave crise no mercado imobiliário estadunidense, até o momento atual, com uma crise imprevisível na Europa e do capitalismo de uma maneira geral.

A partir de uma situação concreta, particular, e as observações que as minhas aulas de geopolítica me impunham, fui construindo algumas ideias a respeito dos tempos atuais. Na junção das lembranças das elaborações de Milton Santos, das leituras dos últimos textos de Eric Hobsbawm, e, obviamente, da dialética marxista, fui me convencendo que vivemos uma época de transição, de um possível esgotamento do sistema capitalista. Mas, como já alertava Gramsci, o perigo está quando o novo demora em chegar e o velho resiste em desaparecer. Se não há a perspectiva de saídas revolucionárias, que possam dar um novo rumo à sociedade mediante a existência de uma vanguarda devidamente organizada, outros mecanismos certamente despontarão, a exemplo de como se deu o surgimento do nazi-fascismo, nas décadas de 1930-40, e prolongarão a agonia sistêmica.

***

Além disso, por não possuírem elementos ideológicos que lhes garanta organicidade, alguns desses movimentos não somente atacam os partidos políticos, mas escolhem aqueles que são forjados ideologicamente, e destilam injustos ódios que com o tempo transformam-se em comportamentos intolerantes. Parece haver uma necessidade de se destruir as ideologias dos que as têm. Mas como não há espaços para discussões, pela ausência delas diante de um pragmatismo imediatista, a agressividade passa a se constituir na arma aparentemente eficaz para fazer valer seus objetivos.

Ocorre que na sequência de comportamentos que vão se tornando cada vez mais intolerantes, amplia-se a virulência das agressões, e o que se vê é a repetição de atos que nos fazem lembrar a maneira como o nazismo e o fascismo despontaram logo na sequência da crise econômica da terceira década do século passado.

A alienação de uma juventude forjada em tempos de uma globalização neoliberal, a destruição dos laços familiares, a individualidade crescente, a busca egoística pelo sucesso a qualquer custo, e a ampliação de valores teológicos que substanciam tudo isso, denominada teoria da prosperidade, compõem um conjunto de circunstâncias que explicam os tempos de negação da ideologia. Mas não somente isso. Agregue-se, contraditoriamente, a falta de informação em um tempo em que as ferramentas tecnológicas facilitam a aproximação com o que acontece em todas as partes do mundo. Mas são essas mesmas ferramentas, que explicam, para o bem e para o mal, o distanciamento de leituras mais complexas, filosóficas, optando-se por um cartesianismo vulgar, porque fruto de toda a confusão gerada pela sociedade midiática neoliberal, e pela informação deformada, apolítica e baseada na espetacularização do medo. O que os empurram para leituras alienantes, bizarras e de auto-ajuda.

A radicalidade de alguns desses comportamentos foram potencializados pelas redes sociais, criando uma coragem peculiar a alguns jovens, situação que não aconteceria em plano real, pela absoluta falta de backgrounds, consequência do distanciamento teórico e da ausência de fundamentos a lhes garantir segurança para um embate ideológico.

O que se vê, então, é o destilar de ódios a todos aqueles que porventura pensem diferentes, discordem e confrontem seus pensamentos e práticas. Semelhante ao que aconteceu na ascensão do fascismo tradicional, aquele que no período de crise sistêmica parecida com a que vivemos nos dias atuais, despontou a partir de comportamentos críticos, de suportes garantidos pelas insatisfações e indignação de populações que viviam momentos de dificuldades econômicas graves. Também naquele momento, os jovens tornaram-se alvos potenciais de lideranças emergentes, pela insatisfação com uma época que não lhes ofereciam perspectivas. E alimentados pela intolerância, visaram também os comunistas, que ameaçavam ideologicamente a elite dominante, fracassada desde o final da primeira guerra mundial. A negação da política instrumentalizou uma reação conservadora.

Alguns daqueles que usam das redes sociais para agirem de maneira desrespeitosa não o fazem de maneira explícita, mas escondem-se em perfis falsos, prática criminosa que tem se tornado comum, principalmente no Facebook. Ou senão, omitem de seus perfis informações que possam identificá-los e apresentam desenhos, ou charges, em lugares de fotos que os reconheçam.

Não é essa uma prática somente desses grupos, mas pude identificá-las também sendo utilizada por jornalistas de blogs conservadores, de jornais, tabloides e revistas, que postam suas matérias para serem repercutidas, e que, ao serem criticados acionam seus fakes, que agem agressivamente, ofendem o interlocutor e tentam desqualificá-lo. Assim como fazem alguns desses farsantes, anonimamente, em comentários agressivos nos blogs que tem defendidos os últimos governos no Brasil e teçam criticas aos partidos conservadores.

Ao fim de tudo, esses comportamentos tornaram-se bem visíveis no desencadear da greve na universidade. Comportamentos sectários, violentos e intolerantes, traduzem um sentimento comum à época do fascismo, de não aceitação das diferenças, de negação do pensamento oposto e da reação intempestiva e agressiva na imposição de um pensamento ou de uma determinada prática. Não sei se surpreende, mas é lamentável, o fato de juntarem-se a esse coro intolerante alguns professores, que obviamente se desqualificam enquanto educadores. Mas suas posturas indicam que eles pouco se importam com isso, a inconsequência é uma marca que lhes acompanham e a intolerância um traço de caráter.

E, não surpreendente, grupelhos de extrema-esquerda, setores anárquicos despolitizados e contumazes direitistas, se irmanaram no mesmo comportamento. Mas tudo isso deve servir de alerta aos que defendem uma sociedade baseada na tolerância, no respeito às diversidades e na aceitação de ideias que se contraponham. Considerando-se o momento de crise econômica mundial, do xenofobismo e da intolerância religiosa, vivemos circunstâncias bastante parecidas com o que ocorreu no século XX. O fascismo e o nazismo ascenderam mediante a insatisfação popular, e se consolidaram com um discurso baseado no moralismo hipócrita, no anticomunismo e na descrença com as organizações políticas.

 

A FÚRIA: O DESPERTAR DA MULTIDÃO, OU A REVOLTA DE UM INCONSCIENTE COLETIVO?

FRAGMENTOS DE UM OLHAR SOBRE A MULTIDÃO

Junho de 2013

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2013/06/fragmentosde-um-olhar-sobre-multidao-eu_22.html

Eu acompanho essas manifestações há mais de dez anos. Claro, ao longe, como estudioso de geopolítica. A maior delas, ou uma das mais importantes, foi em 1999, durante uma reunião da OMC e gerou um filme chamado "A batalha de Seattle". Já escrevi sobre isso no meu blog (http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2011/11/indignados-para-qual-direcao-seguem-as.html). Há diversas demandas, revoltas represadas, reivindicações justas. Mas nada disso será possível de ser mudado sem organização. As vozes das ruas, da multidão, criam motivações, e até mesmo uma empolgação exagerada, principalmente na juventude, cuja adrenalina explode e os empurra com força para o embate. É natural e importante que isso aconteça. Mas o que virá depois disso depende da política (ou da guerra, quando fracassa a política, mas aí sabemos as consequências). A multidão tem sido protagonista desde o final do século XX, com grandes protestos antiglobalização, e depois, com a intensificação da crise, na chamada “primavera Árabe”. Os resultados de tudo isso ainda está por vir, mas nos países onde ocorreram houve retrocesso na condução política.

 

 

SOBRE MÁSCARAS, VIOLÊNCIAS E O DIREITO DE SE MANIFESTAR

Fevereiro de 2014

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/02/nihil-humani-me-alienum-puto.html

Ao não desejarem participar de organizações de caráter político, e abominarem os partidos políticos, mesmo os que se intitulam revolucionários e socialistas ou comunistas, esses manifestantes deixam de analisar a conjuntura política com base em fatos concretos e na realidade objetiva. Novas "realidades" são perversamente construídas por outros setores da política, que se beneficiam com esses comportamentos, o que leva a fortalecer a indústria do medo, e a exigência de governos fortes, militarizados e com uma base de parlamentares mais conservadores.

Não há dúvidas de que há infiltração nessas manifestações. Tanto por organizações políticas, que temem se apresentar abertamente por medo das reações dos “Black blocs” e visam também “recrutar” novos militantes entre aquela juventude, como por setores fascistas, tipos provocadores que desde aquele momento por mim citado anteriormente, na década de 1980, já se infiltravam em nosso meio. Policiais ou não. Por motivos diferentes esses setores objetivam criar os confrontos para gerar desgaste nos governos, de tal forma que os possam debilitar. O uso da violência, no caso, como mecanismo de se contrapor à repressão policial assume um verniz diferente nos dois casos, mas o resultado é desastroso de qualquer jeito. Principalmente quando o personagem culpado desse tipo de ato não é um indivíduo vinculado às forças repressoras, porventura infiltrado. O que dá margem para a mídia conservadora enfatizar no seu discurso de um ambiente dominado pela insegurança e anarquia.

Não tenham dúvidas de que o principal discurso nas próximas campanhas eleitorais será esse. Dominados pelo medo, que cotidianamente entra em suas casas pelos canais de TV, ou pela própria realidade que as cercam, as pessoas tendem a sucumbir à repetição constante desse discurso, e corremos o risco de ver a eleição de um parlamento muito mais conservador do que o atual.

Esse poderá ser o resultado de atos inconsequentes e irresponsáveis, movidos por um voluntarismo tolo, e a demonstração de atos de estupidez como se fossem atitudes libertárias e revolucionárias. Em um novo tipo de ludismo pós-moderno que está mais para os atos de cegueira atestado por José Saramago.

As máscaras que assumem as frentes dessas manifestações escondem jovens desprovidos de capacidade política para entender os mecanismos que movem a sociedade. Ou meros provocadores desejosos de reeditar aqui no Brasil os mesmos gestos fascistas de 50 anos atrás, quando um golpe militar foi dado com o argumento de pôr fim à baderna, à desordem e a comunização do país

 

FAKES, FALSÁRIOS E FASCISTAS: COMO DESPERTAR O LADO SOMBRIO DAS PESSOAS

Maio de 2014

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/05/fakes-falsarios-e-fascistas-como.html

A desinformação, a preguiça de ir atrás da veracidade daquilo que está sendo divulgado, aliado à alienação peculiar, facilita a adoção desses mecanismos manipuladores, que repetidos à exaustão assume ares de verdades insofismáveis. Quando, em verdade, e realmente, são situações determinadas e localizadas, sem representar, como se apregoa, o declínio da civilização contemporânea, ou algo que o valha. Prato cheio para oportunistas, fascistas e para aqueles que desejam convencer as pessoas a ingressarem no mundo da ficção religiosa, de seitas que se deleitam com a desesperança e com o medo das pessoas.

Repercuti em minha página pessoal no Facebook essa percepção, e aqui a reproduzo.

Estou impressionado com a quantidade de pessoas que estão compartilhando postagens produzidas por páginas organizadas por "fakes". Matérias falsas, ou propagandas subliminares, são repercutidas sem que haja um mínimo de averiguação sobre a origem das notícias, em sua maioria, falsas. Algumas são boatos, e boa parte deturpações de notícias antigas. E o que é pior, muitos que repercutem isso estão na universidade ou tem curso superior. Por causa desse comportamento uma dona de casa foi linchada e assassinada em Guarujá, SP. Fico em dúvida se é desinformação, alienação, oportunismo ou má fé mesmo.

Vivemos, um tempo, de potencialidades de práticas antigas, mescladas com ares de modernidade tecnológica. O boato se dissemina virtualmente, e organiza em júbilo antros de acusadores odiosos, mas seu prólogo acontece nas formas tradicionais, da violência estúpida em grupo, nos justiceiros que assumem o papel de juízes, júri e carrascos. Sob os argumentos de ausências de autoridades, mas diante de situações que são reais, como o descontrole do aparato repressivo e a agressividade de um setor cada vez mais sob pressão: as polícias militares. Sob o medo, seduzido por ele e manipulado por outros, a multidão torna-se instrumento daqueles interesses que não se apresentam perceptivelmente.

Nas sombras, escondem-se os reais interesses, de grupos que disputam avidamente o poder político e desejam concentrar cada vez mais o poder econômico. Instigam e aproveitam-se dessas situações, para afinal dar o bote sobre as carcaças de uma sociedade onde as pessoas não se veem nela, mas apenas os outros. Nesse momento surgem os reformadores do caos, os mesmos, aqueles que por décadas e séculos controlam as riquezas, concentram rendas e constroem mundos partidos, sectarizados, mas que vivem protegidos em muralhas repetindo-se, sob novas conformações, mundos antigos e medievais. E as massas, como sempre, cumprem bem o papel de massa de manobra. Com o perdão da redundância.

 

DEPOIS DE UMA TRAGÉDIA COMO CONTER A DESTEMPERANÇA E O MESSIANISMO?

Agosto de 2014

https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/08/depois-de-uma-tragedia-como-conter.html

O que faltou, portanto, ao governo brasileiro foi apresentar para a população, e à juventude, durante todos esses anos, principalmente depois das jornadas populares de junho de 2013, as distinções entre os projetos políticos que estão em disputa. E encarar com mais determinação as contradições que lhes cercam. Temo que isso sendo feito agora possa dar a impressão de que é devido à disputa eleitoral.

Ademais, como já tenho inserido em alguns artigos, mesmo com um ímpeto oposicionista, tentando algo mais à esquerda do que o governo atual, essa juventude se encaminha para uma armadilha, na escolha de uma, ou duas, candidaturas que escondem seus objetivos, definidos seja pelas opções liberais, ou pelo fundamentalismo religioso conservador. A ilusão do discurso eleitoral, a ânsia de transformação por não conseguir enxergar a continuidade das mudanças, ou porque ficaram refratários a elas pela massificação ideológica midiática, fará com que essa juventude, e aqueles que se encontravam na posição de indefinição, seja levado pela comoção de um trágico acidente, pela ineficiência da propaganda governamental e pelo discurso messiânico. Situação que seja aqui no Brasil, seja em qualquer parte do mundo, sempre trás futuros dissabores quando da descoberta da fraude eleitoral (como foi no caso Collor; ou no Egito recente), causando crises de proporções desconhecidas, levando o país ao caos e ao retrocesso econômico. Nessas condições, as camadas mais pobres, percentual maior da população, e principal beneficiada pelas conquistas dos últimos 12 anos, será a mais afetada, retroagindo aos tempos em que a política brasileira privilegiava somente medidas do agrado das elites econômicas das camadas sociais abastadas.