quinta-feira, 26 de maio de 2016

A DERROTA DA POLÍTICA: AS RAPOSAS, LOBOS E HIENAS E O “GOLPE DOS BICHOS”

Quantas perguntas... Para onde foram as pesquisas Datafolha e Ibope sobre a aceitação do Governo? E a opinião sobre o impeachment da Presidenta Dilma? E o que dizer do envolvimento de toda a cúpula do PMDB com a corrupção e a mobilização que levou milhões às ruas? E, afinal, quem era o presidente deste partido senão o interino golpista? Qual será a opinião da população sobre isso tudo? O que será que houve? Ou não era em defesa da ética na política?
Mas o que pensa agora a população sobre Dilma não estar envolvida nessas escutas que visavam parar as investigações? Que na verdade ela era vista como um empecilho para isso, e, portanto precisava sair? Tantas perguntas, poucas respostas... E um silêncio estranho. Ora, pois.
Ludibriaram o povo, deram um golpe de Estado institucional (jurídico-parlamentar), e agora esperam baixar a poeira para manipular com pesquisas direcionadas. Tentam esconder que um grupo mafioso procurou se proteger destruindo a democracia e afastando uma presidenta honesta. E a grande mídia é responsável por essa estratégia da manipulação golpista.
Os artífices desse golpe foram Temer, Cunha, Jucá e Aécio, raposas, lobos e hienas da política, coadjuvados por oportunistas de todos os matizes. Os partidos envolvidos são muitos, os que lideraram o golpe são: PMDB, PSDB, DEM, PTB, PPS, PP...
A preocupação: parar a Lavajato. O objetivo: implementar reformas neoliberais não possíveis de serem feitas através de propostas eleitorais (confirmado em escuta de conversas entre Jucá e Aécio).
E o sr. Procurador, porque não diz desde quando esses áudios reveladores do golpe estavam em mãos do judiciário ou do Ministério Público? Desde antes da votação do impeachment? Eles não seriam suficientes para reverter o resultado daquela votação? As perguntas não se acabam. Nem a desfaçatez.
No meio disso tudo, fazendo cara de paisagem, o STF, teoricamente (desculpe a redundância) "o guardião da Constituição". Mas, lembrando o que disse um ministro, na reunião do governo militar que instituiu o Ato Institucional n° 5 e consolidou a ditadura em 1968: "às favas com os escrúpulos".
E assim, retrocedemos em duas décadas as conquistas democráticas. Ainda dá tempo de reverter. Mas, cadê as pesquisas sobre o que pensa o povo dessa bagunça toda criada por velhas raposas desse necrosado sistema político brasileiro? (As hienas não se aguentam de rir de suas próprias espertezas, e se aliviam).
Essas respostas só serão dadas com muita luta, mobilização e com o povo de volta às ruas. Agora sem se constituir em massa de manobra e sem manipulação.
Houve quem avisou, eu inclusive: É golpe!!!
Pelo resgate da política e da legalidade constitucional.
#diretasjá!

terça-feira, 3 de maio de 2016

O DESPERTAR DA BESTA... E O RESGATE DA UTOPIA!

Este é um artigo que primeiro recebeu um título, diferente de como eu comumente faço. A minha inspiração para o título foi a tétrica apresentação de como é, e se comporta, a maioria dos parlamentares, na transmissão ao vivo da sessão que aprovou o relatório-farsa, denominado impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Hipocrisia, cinismo, traição, perfídia, oportunismo, mau-caratismo e tantos outros adjetivos que poderiam caracterizar aquele espetáculo grotesco. O auge da tenebrosa sessão se deu quando um indivíduo desqualificado moralmente dedicou seu voto à memória de um dos maiores torturadores e assassino da história recente da política brasileira[1]. O circo, no qual se transformou o Congresso Nacional, somente refletiu uma tendência reacionária que se iniciou aqui no Brasil no começo dessa década, mas teve seu ápice no ano de 2013, após as manifestações no meio daquele ano, conhecidas como “jornadas de junho”.
O que estamos a assistir, na conjuntura política brasileira, e que nos envolve direta ou indiretamente, começou a ser preparado há anos, mas não mereceu a atenção necessária por parte dos partidos de esquerda, nem pelo governo. Na verdade, o que ocorre aqui no Brasil tem se repetido por outros países há mais de uma década. Uma virada direitista diretamente relacionada à necessidade sistêmica de encontrar outros rumos para um mundo em crise. Essa é uma característica do capitalismo. Há uma necessidade, de nesse momento em que a crise atinge o Brasil, em parte forçada pelos que detêm o controle dos meios de produção, a burguesia industrial através da FIESP; a burguesia rural, latifundiários do grande agronegócio; e os rentistas e banqueiros do sistema financeiro, em encontrar uma saída mediante a retomada do controle político do Estado brasileiro. É a garantia de se manter o sistema em sua lógica, sempre expansiva, e a manter os lucros que sustentam a ganância de uma minoria, às custas do Estado e por sobre a pobreza.
O golpe midiático-jurídico-parlamentar que está sendo aplicado representa uma condição sine-qua-non para que a elite brasileira assuma o comando do Estado e aplique políticas neoliberais estruturantes, retire investimentos importantes em áreas sociais, reduza o tamanho do Estado eliminando ministérios cujo foco seja a defesa dos direitos humanos, das mulheres, da igualdade racial e de apoio aos trabalhadores rurais e agricultura familiar, e aplique a dose fatal de diminuição do Estado, com a privatização do que restou de empresas estatais, além daquelas privatizadas nos governo Collor e FHC. A Petrobrás, naturalmente será o principal alvo, e a enorme produção de petróleo no Pré-Sal.
Mas, além disso, houve por esse tempo, desde 2012, uma preparação sintomática para aplicação desse golpe. Isso envolveu o financiamento de organizações voltadas para cooptar parte da juventude que saiu às ruas naquele ano e no ano seguinte. Entidades estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos, bancadas financeiramente por grandes corporações, algumas ligadas à exploração do petróleo, como a Exxon-Mobil, investiram recursos que possibilitaram a esses grupos se organizarem e disseminarem o veneno, com o apoio da grande mídia, que sacudiu as bases do governo Dilma e garantiu a eleição da bancada mais reacionária do Congresso Nacional desde o golpe militar de 1964. Por certo tempo, até pouco antes do final da apuração das eleições de 2014, esses setores imaginavam ter ganhado a eleição, a frustração com o resultado transformou-se em uma determinação de não permitir que a presidenta governasse. O golpe se iniciou nos primeiros dias após o resultado das eleições.
Por todos esses anos, pelo olhar da geopolítica, que me obriga a analisar todas as revoltas que se espalham pelo mundo, a maneia como elas vão significando a degradação da ordem, às vezes guerras e, principalmente a desestabilização de governos, analisei e escrevi a respeito dessa situação.[2] Debati em meu grupo de estudos, a partir da obra do professor Moniz Bandeira, “ A Segunda Guerra Fria”,[3] a estratégia adotada pelos EUA e países ocidentais ligados à OTAN, a ação dos serviços de espionagem desses países, e os mecanismos usados para “incendiar” alguns deles. Dentre esses mecanismos, um pequeno livro, transformado pela CIA num manual que orientou ONGs e movimentos surgidos em diversas partes ligados a grupos conservadores e reacionários. “Da ditadura à democracia”, de Gene Sharp, se tornou um instrumento eficaz na mobilização principalmente de jovens, a princípio em países onde alguns governos se sucediam por anos no comando do Estado, no leste da Europa e anos depois no Norte da África e Oriente Médio. Em seguida nos países onde a democracia ocidental prevalece, mas cujos governos não estivessem sintonizados com os interesses hegemônicos estadunidenses, como no continente americano.
Conforme o professor Gene Sharp explicou, a luta não violenta é mais complexa e travada por vários meios, tais como a guerra psicológica, social, econômica e política, aplicados pela população e pelas instituições da sociedade. Tais meios são, e.g., protestos, greves, não cooperação, deslealdade, boicotes, marchas, desfiles de automóveis, procissões etc., porque os governos somente podem subsistir se contrem com a cooperação, submissão e obediência da população e das instituições da sociedade.[4]
Enquanto as esquerdas acomodavam-se no poder na América Latina, e cumpriam a árdua tarefa de lidar com uma crise estrutural do capitalismo, para isso adotando remédios amargos para a população quando a situação se agravou, e isso não foi uma postura isolada do governo brasileiro, os grupos de direita, alimentados externamente ideológica e financeiramente, se organizavam e capturavam uma juventude a princípio perdida em meio a uma série de manifestações saídas aparentemente do nada.
“Entre os grupos que mais se destacaram nos últimos dois anos estão o Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua e Revoltados On Line. (...) Estudantes pela Liberdade (EPL), braço brasileiro da Students for Liberty, uma organização não governamental (OPNG) formada em 2008 por jovens liberais dos Estados Unidos – no Brasil, surge em 2012”.[5]
Segundo informações da Conservative Transparency, a Atlas Economic Research Foundation está entre os três principais financiadores da Students for Liberty americana, que também recebe recursos da Foundation Koch, dos famosos bilionários da área de petróleo, os irmãos Koch – Davi, Charles, Bill e Frederick. Já a Atlas recebeu doações de várias organizações e empresas, entre elas fundos de investimentos filantrópicos controlados pelos irmãos Koch. Outra grande doadora da Atlas é a Exxon-mobil, uma das “sete irmãs”, como são chamadas as grandes companhias de petróleo acusadas de formação de cartel para controlar a produção mundial. Com as fusões, hoje são apenas quatro “irmãs’, Exxon-Mobil, Chevron Texaco, Shell e BP. (Idem)
Essa onda conservadora, portanto, não surgiu espontaneamente. Por um lado ela é decorrência da disputa geopolítica, ampliada com o surgimento dos BRICS e a mudança do protagonismo político, como consequência, afetando a hegemonia dos Estados Unidos e ameaçando até mesmo a situação do dólar como moeda única nas transações internacionais. Procurou-se, por ações dissimuladas, atingir a China (região de Xinjiang), a Rússia (revolta na Ucrânia), e o Brasil (impeatchment). Em todos os casos houve como precedente a descoberta de vigilância a todos esses governos, por órgãos de espionagem dos EUA, denunciados por Edward Snowden, técnico de uma empresa que prestava serviços para a Agência de Segurança Nacional (NSA), atualmente vivendo exilado na Rússia.
Era a estratégia da “freedom agenda”, do presidente George W. Bush, cujo objetivo consistia exatamente no que o Directorate of Army Doctrine (DAD), do Depatamento de Defesa do Canadá, definia como subversão, i.e., a tentativa de solapar a estabilidade e a força econômica, política e militar de um Estado sem recorrer ao uso da força por meio da insurreição, mas provocando violentas medidas , a serem denunciadas como “overreaction by the authorities and thus discrediting the government”.[6] A propaganda – acrescentou o documento do DAD – era a “key elemento of subversion”[7] e incluía a publicação de informações nocivas às forças de segurança, bem com a divulgação de rumores falsos ou verdadeiros destinados a solapar a credibilidade e a confiança do governo.[8]
Por outro lado, essa onda foi alimentada pela crise econômica, gerando uma sequencia de impactos geopolíticos, políticos e econômicos, tudo como consequência da crise econômica que explodiu em 2008: 1) Afetou a maneira como os EUA lidavam com seus aliados títeres da Ásia e África, devido aos cortes de investimentos e subsídios para esses países, acirrando uma luta interna em duas direções, econômica e política. À medida em que alguns governos aliados caíam, iniciavam-se as revoltas, seguindo-se a estratégia apontada acima. Entregavam-se os anéis para salvar os dedos. 
A instabilidade política levou ao caos e em seguida a guerras, alimentadas em situações onde os grupos que se se destacavam em processos eleitorais fossem opositores aos interesses do ocidente, como exemplo o Egito; 2) Onde governavam antigos dirigentes políticos, mesmo que com comportamentos diferentes, casos da Líbia e da Síria, tradicionalmente opositores dos interesses hegemônicos dos EUA, foram estimuladas revoltas populares, seguindo-se a mesma estratégia de aparentar insatisfação com os governos. Com a reação desses iniciava-se uma guerra civil sangrenta, até que se tornasse possível suas derrubadas, ou suas eliminações; 3) a crise econômica atingiu governos já fragilizados, em países tradicionalmente empobrecidos, fragmentando a sociedade, fazendo surgir grupos milicianos e desestruturando governos já fracos, abrindo caminho para uma sequencia de violência que ampliou a fuga de população em direção à Europa, gerando nesse continente o fortalecimento da xenofobia e de grupos neo-nazistas, cujos partidos passaram a se destacar nas eleições por diversos países, inclusive a Alemanha.
Para entendermos toda essa situação, não podemos ficar somente presos à política. O que está acontecendo atualmente no mundo é consequência de situações limites do sistema capitalista. Bancos em condições falimentares, quebrando, deflação em alguns países, desemprego crescente principalmente entre os jovens, problemas ambientais, paralisia de setores industriais, crise das commodities, escassez de água... etc... Toda essa situação leva multidões insatisfeitas às ruas, e, embora em defesa de causas justas, em muitas situações as pessoas são manipuladas e conduzidas a direcionarem seus ódios aos governos, mas não conseguem compreender que a maioria de seus problemas são gerados por razões estruturais, sistêmicas, de uma economia global que está em crise e sem perspectivas de saída.
Mas, aqueles que compreendem os mecanismos utilizados pelo sistema capitalista, a partir de sua lógica expansiva, sabem que as crises se constituem em oportunidades para os setores enriquecidos, os rentistas, os proprietários dos meios de produção. Contudo, mesmo esses segmentos tem a compreensão de que algo precisa mudar no capitalismo. E o Estado se constitui no instrumento a se fazer essas mudanças, a seu favor, naturalmente. Para isso, ter o controle do Estado, o domínio da política e da maioria parlamentar, é a condição principal para se garantir a adoção de políticas que venham a estabelecer novas regras, novos ajustes à economia, para amenizar aos seus interesses, o impacto da crise econômica sobre seus lucros.
Faltou à esquerda que estava no poder a percepção sobre os caminhos que o mundo tomava e a onda conservadora que se espalhava pelo mundo. Consideremos, contudo, que o controle do Estado demanda um esforço enorme. Isso, naturalmente, desviou o foco das atuações de boa parte desses partidos, que se envolveram na burocracia estatal e levou junto boa parte das lideranças sindicais e quadros partidários. Um erro, pois por meio de suas organizações deveriam estar atento à escalada da direita, as evidências eram claras e se escancararam depois das jornadas de junho de 2013. Principalmente ao deixar a juventude ser seduzida por organizações nitidamente financiadas por agentes estrangeiros e pela burguesia local. As duas frentes deveriam ser cobertas com atenção, mas descuidou-se das duas, pois permitiu que a corrupção persistisse e negligenciou a luta ideológica. E, mais grave, delegou poder a setores oportunistas de partidos conservadores, como garantia de governabilidade, mas fragilizou-se ao permitir que práticas condenáveis de controle da máquina do Estado se mantivessem, tal qual funcionava nos governos anteriores, de centro-direita, mediante a dilapidação de dinheiro público. Isso contaminou também a própria esquerda, ao adotar práticas semelhantes, para gerar recurso de campanha, via caixa 2. A semelhança das práticas, com o que se fazia antes, facilitou a investigação, dirigida para desestabilizar o próprio governo.
Livro de Denis de Moraes
Ao mesmo tempo, segmentos mais à esquerda, partidos de fora do governo e que lhes faziam oposição, miraram no alvo errado, por uma estratégia sectária de disputar dentro da esquerda uma hegemonia sem resultados reais pela incapacidade de envolverem as massas, pelo dogmatismo exacerbado e incapacidade de saber fazer política. Esqueceram-se do inimigo principal, mesmo quando durante as jornadas de junho, alguns desses agrupamentos tenham sido expulsos das manifestações e impedidos de ostentarem suas bandeiras. Chocava-se o ovo de uma serpente e as esquerdas não compreendiam a situação real e se limitavam a combater no espaço da política tradicional, esquecendo-se de enfrentar a luta ideológica contra a direita, que se disseminava também nas igrejas evangélicas. Algo muito parecido com o que aconteceu em 1964, guardando-se as devidas circunstâncias, para não incorrermos no erro do anacronismo.
Aos poucos, e cada vez mais às escancaras, despontavam organizações de direita e até mesmo, indivíduos que por muito tempo eram vozes isoladas que pregavam no deserto, passaram a se constituir em baluartes da moralidade e defesa da “democracia”. Muito embora em suas fichas corridas ostentassem falcatruas e defesas de assassinos e torturadores, algo que se explicita na medida em que encontram na multidão intolerante ecos para suas psicopatias. Embalados pela onda que crescia, ampliava-se a desfaçatez com que esses setores desfilavam em meio à multidão que, cega, era induzida a acreditar em discursos fascistas, que procuram retornar aos tempos da ditadura e fomentando situações assemelhadas ao odiento macarthismo que assolou os Estados Unidos na década de 1950, com reflexo nos anos seguintes, no começo da guerra fria.
A política foi violentada e a esquerda perdeu a luta ideológica. Evidente que é uma derrota momentânea, mas que deixará marcas cujo tempo a apagar não será curto. Mas dependerá da capacidade de fazer autocrítica e da retomada de sua força organizacional, para enfrentar uma direita que mostrou os dentes e perdeu o medo de se expor. Com isso, explicita-se a luta de classes, para desespero de cientistas sociais que capitularam nas duas últimas décadas, e - salvo as honrosas exceções dos que se mantiveram fiéis ao marxismo -, aderiram ao neoliberalismo e à nova direita dita intelectualizada, e reproduziram o discurso de fim história.
O que se espera, a partir de agora, é a retomada do movimento popular, por muito tempo dividido e disperso em meio à uma crise existencial, entre lutar pela ampliação das conquistas e manter, com apoio ao governo, o que já se tinha conquistado. Sem o compromisso de ter que evitar bater no governo para não o enfraquecer mais (o dilema existencial, mas real), inevitavelmente os partidos, sindicatos, entidades e organizações de esquerda terão agora a possibilidade de se reinventar, analisar erros cometidos diante da necessidade de garantir a governabilidade e de manter o poder mediante a utilização de esquemas corrompidos, com desvios de recursos públicos para campanhas eleitorais, prática por muito tempo condenada antes que tivessem o controle da máquina estatal. É que se espera. É o que é necessário para retomar a credibilidade.
Algo que não será muito difícil, uma vez que os remédios que serão adotados pela direita que assume o poder, ávida por tomar atitudes que reponha o Estado na linha que lhe interessa: o neoliberalismo, sem matiz. Sabe-se bem que as políticas defendidas por esse setor são aplicadas tendo em vista, em primeiro lugar, o atendimento de interesses do mercado. Essa divindade serve bem a seus fiéis adoradores, a burguesia, a classe média alta, rentista ou desejosas de tornar-se burguesia e viver tal qual. Para o resto da população, a imensa maioria dos que dependem de salários, prevalecem a indiferença. A esses restam os templos religiosos comandados por oportunistas reacionários, que abusam e exploram a fé das pessoas a fim de enriquecerem-se sem limites. O Estado não será o instrumento para reduzir desigualdades, ou amenizar as situações de pobreza da população. As políticas sociais voltarão a tornar-se instrumentos de manipulação e de fortalecimento de feudos, do velho apadrinhamento a consolidar e perpetuar o poder dos velhos caciques, a reproduzir-se por herança para jovens de “sangue nobre”, seguindo-se preceitos seculares da meritocracia, e o retorno à aversão aos que buscam teimosamente romper com as barreiras e gargalos que limitam o acesso aos mecanismos que os possibilitam serem incluídos na sociedade.
Mas, que tipo de sociedade? Essa que está aí deve ser mantida? Ou será que mais do que garantir a inclusão social talvez não seja necessário destruir não somente os muros e barreiras, mas também a própria maneira com essa sociedade está estruturada? Um novo tipo de sociedade.  O retorno à utopia que nos faz projetar outros mundos possíveis, ao invés de insistirmos em reformar um modelo de sociedade falido e um Estado paquidérmico, com estruturas viciadas, corrompidas a se debruçar permanentemente sobre alternativas para uma crise sistêmica insolúvel.
Retomar a discussão em um patamar que possa dar indicações claras às pessoas do que significa a luta de classes. Renovar o discurso e revigorar a luta ideológica, sem condescendência com setores reacionários e oportunistas, mas procurando ampliar verdadeiramente com quem faça política não por profissão, mas pelo desejo de construir um outro mundo, uma nova sociedade. Uma alternativa ao capitalismo: o socialismo renovado.
Utopia? Mas para que serve a utopia? “Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. (Eduardo Galeano)[9]
Avante! Sem esmorecer. Temos um mundo inteiro a ganhar.



NOTAS:

[1] http://paulofontelesfilho.blogspot.com.br/2015/11/bolsonazi-ficha-corrida-de-um-dos.html
[2] http://www.gramaticadomundo.blogspot.com.br/2013/06/fragmentosde-um-olhar-sobre-multidao-eu_22.html
[3] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A Segunda Guerra Fria. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. Pp. 107-118
[4] Idem. P. 108.
[5] Rodrigues, Fania. A nova direita. Revista Caros Amigos. Nº 229. Abril/2016. Pp. 18-21
[6] “reação exagerada por parte das autoridades e, portanto, desacreditar o governo” (tradução)
[7] “elemento-chave de subversão” (tradução)
[8] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Idem. P. 107-108
[9] https://www.youtube.com/watch?v=9iqi1oaKvzs