terça-feira, 12 de abril de 2016

O QUE AFETA O BRASIL? A LUTA DE CLASSES, A DISPUTA PELO PODER E INTERESSES GEOPOLÍTICOS

Desde o ano passado procurei, através do Blog Gramática do Mundo, emitir minhas opiniões e analisar à luz de meus estudos geopolíticos, e, naturalmente, mediado por minhas convicções ideológicas, toda a construção da crise brasileira. Desde os erros cometidos pelos sucessivos governos da coalizão de centro-esquerda, inclusive nos governos Lula, por suas indecisões em tomar posições firmes em relação a algumas reformas estruturantes, no aparato político e também judiciário, e, principalmente, pela ausência de coragem em estabelecer limites a uma mídia historicamente golpista e reacionária. Além de ceder, excessivamente aos setores empresariais e do mundo das finanças, na ilusão de que esses setores se contentariam com meras medidas econômicas que lhes assegurariam as benesses conquistadas secularmente por meio dos estamentos medievais adaptados à uma estrutura colonial, neocolonial e neoliberal, algo bastante estudado por intelectuais respeitados nas universidades brasileiras – eu destacaria Darcy Ribeiro, injustamente execrado pelo corporativismo estreito e sectário – mas que foi menosprezado na construção das políticas públicas. Equívocos que se repetiram no primeiro governo Dilma, com desonerações que afetaram de forma fatal as finanças brasileiras, mas que asseguraram a esses setores a manutenção de seus lucros e a ampliação de suas riquezas.
Critiquei também o fato de ter se permitido a manutenção de um esquema de usurpação de recursos públicos, desviados por mecanismos de corrupção e propinas, para abastecer caixas 2 de campanhas de partidos que davam sustentação ao governo. Prática naturalmente utilizada há décadas na política brasileira, portanto somente escondida da população desinformada sobre a forma como está estruturada a política brasileira. E critiquei também o fato de o Caixa 2 não ser considerado crime, e a maneira conivente como a justiça brasileira sempre se comportou nesses casos.
Minha análise também extrapola os limites das fronteiras brasileiras. Há uma crise em curso por todo o mundo, ainda consequência da quebradeira que atingiu os EUA em 2008, afetou o sistema financeiro e consequentemente levou os Estados à falência, por terem sido eles os salvadores de muitos bancos falidos ou em situação pré-falimentar. O que não se esgotou, e vivemos ainda as consequências dessa crise, que não tem data para acabar, uma vez que atinge todo o sistema capitalista e se espalha em rede. O Brasil, por não ser uma ilha isolada neste mundo globalizado, foi afetado também por esta crise, embora tempos depois do seu epicentro. Agreguei a isso os interesses geopolíticos, pelo fato de o governo brasileiro ser protagonista na criação dos BRICs e isso ter levado a um novo equilíbrio na hegemonia mundial. Há interesses bem claros, externos, para uma possível derrubada do governo Dilma, e isso pode ser contabilizado na conta de grandes corporações que exploram mundialmente as riquezas do petróleo e de países que se viram afetados pelo protagonismo de um novo grupo fora do eixo EUA-Europa-OTAN.
Bem como fui crítico também à pouca coragem em atacar mais ostensivamente os fantasmas escondidos em velhos armários, símbolos de setores fascistas, remanescentes da ditadura militar, que se escoraram em uma justiça covarde e conservadora, mas também na falta de convicções do governo em jogar duro com esses setores, a fim de evitar, definitivamente, uma possível volta de desejos fascistas incontroláveis que vociferavam na catacumbas dos ditadores.
Entre os erros dos governos e os acertos, sobressaíram para a sociedade os acertos. E houve avanços consideráveis nesses anos. Contudo, os erros cometidos foram cruciais para deixar expostos caminhos que poderiam ser (e foram) explorados para repetir, como no passado, atos intoleráveis de rompimentos da legalidade constitucional. Isso faz parte da história brasileira, jamais poderia ter sido esquecido, e por isso todos os mecanismos que poderiam levar a essas possibilidades deveriam ter sido atacados. Ademais, e aqui a junção com os interesses externos, já de há muito se delineava pelo mundo movimentos estranhos, com vernizes “democráticos” a espalhar ódio e intolerância e a derrubar governos. A cartografia desses conflitos internos, por diversos países, davam nitidamente a indicação que aconteciam, principalmente, em países cujos governos não se curvavam às imposições do império. Refiro-me, naturalmente, aos EUA, e seus aliados. Faltou vigilância, a defesa da democracia e o aperfeiçoamento dos mecanismos que a sustentam. Ao contrário, deixaram-se brechas, e cometeram-se erros, que fizeram com que os setores reacionários se aproveitassem para, também por aqui pelo Brasil, repetisse o que já estava ocorrendo em diversas partes do mundo, inclusive na América Latina.
Para lembrar de cada uma dessas análises, insiro abaixo os links para esses artigos. Repito, são análises construídas por meus estudos geopolíticos e por minhas convicções ideológicas. Certamente não expressam uma verdade absoluta. Mas espero que possam servir de balizamento para entendermos todo esse processo e contribua na formulação de uma compreensão de que, ao contrário do que se pretendeu afirmar no final do século XX, a luta de classes não acabou. Ela permanece, com toda a sua radicalidade, e se expõe de forma muito mais visível em momentos de graves crises econômicas. Estamos em meio a uma luta de classes encarniçada, a uma grave crise econômica e, também, em meio a uma transição de um sistema que atingiu seu auge, e consequentemente os limites de suas contradições. Mas, para onde vamos, ainda é uma incógnita, o que só torna a transição mais complexa e mais suscetível a conflitos, enfrentamentos políticos, religiosos e guerras de proporções mundiais. Quando o velho insiste em sobreviver e o novo demora a surgir, em se tratando de formações sociais, temos diante de cada um que vive esses momentos, uma longa, violenta e perigosa transição. Resta-nos a resistência para que dentre os caminhos propostos não nos deparemos com retrocessos, nem nos encaminhemos para um abismo.
Eis os links para os artigos:
2 – A SANHA GOLPISTA E A HISTÓRIA COMO TRAGÉDIA. ASSISTIMOS AGORA A UMA FARSA: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/04/a-sanha-golpista-e-historia-como.html
3 – O BRASIL DIANTE DO ENIGMA DA ESFINGE: DECIFRA-ME OU TE DEVORO: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/07/o-brasil-diante-do-enigma-da-esfinge.html
4 – CRISE: O BRASIL NO OLHO DO FURACÃO – DA CRISE ECONÔMICA MUNDIA A UMA DISPUTA ENCARNIÇADA PELO PODER E Á QUEBRA DO ESTADO DE DIREITO: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/03/crise-o-brasil-no-olho-do-furacao-da.html
5 – O BRASIL DIANTE DE UMA ENCRUZILHADA - NÃO HÁ MEIA ALTERNATIVA: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/04/o-brasil-diante-de-uma-encruzilhada-nao.html

6 – O DESPERTAR DA BESTA... E O RESGATE DA UTOPIA.









sábado, 2 de abril de 2016

O BRASIL DIANTE DE UMA ENCRUZILHADA. NÃO HÁ MEIA ALTERNATIVA

DE DOIS CAMINHOS: UM DELES PODE SER A REDENÇÃO DO FASCISMO.

Na semana que passou participei de um debate sobre a crise brasileira. O evento aconteceu na Universidade Federal de Goiás, convocado pelas entidades que representam professores, servidores técnicos administrativos e pós-graduandos. É evidente a necessidade de discutirmos a situação em que o Brasil está vivendo, a Universidade não pode se omitir diante de uma realidade que é absolutamente crítica e preocupante para os rumos democráticos e garantia das conquistas sociais. Mas, o que poderíamos esperar de uma discussão a essa altura da crise? Aí entra minha divergência quanto ao que seria essencial ser discutido e ao que foi priorizado nas intervenções, com poucas exceções.
De antemão digo que me senti contemplado por boa parte do que foi dito em termos de análise sobre as origens da crise e os erros cometidos pelos governos do PT, principalmente nos últimos anos do governo Dilma. Mas o que me preocupa e me angustia é o tempo. A ausência da perspectiva sobre o que estamos, de fato, precisando abordar, diante das circunstâncias em que vivemos, e uma certa ingenuidade de alguns “críticos éticos”, que não tem a percepção de compreender que estamos diante de um ambiente fértil para o fortalecimento de uma direita fascista aqui no Brasil, como nunca aconteceu antes.
Analisar as condições pelas quais chegamos ao ponto em que estamos é absolutamente necessário. Somente assim os erros serão evitados mais adiante. Mas a minha crítica é exatamente ao fato de não estarmos fazendo isso há muito tempo. A Universidade entrou numa rotina onde as discussões estão quase completamente vinculadas a abordagens relativas aos projetos e grupos de pesquisas nos quais os professores estão envolvidos. Fizemos da universidade um ambiente absolutamente burocrático, cordato e apegado às exigências capesianas. E, além de tudo, firmemente ancorado pelas regras neoliberais impostas pelas agências de avaliação, ou de rankings, internacionais. Contudo, não vou entrar aqui nessa polêmica. Não é esse o objetivo do artigo.
Mas, o que desejo é provocar uma discussão que seja mais centrada na realidade concreta, sem abstrações ou diletantismos. Conhecemos o passado, nossos presságios não são meros devaneios, estão fundamentados na nossa história. Estamos diante de uma realidade em que só nos restam duas opções, no que se fere à escolha; e duas alternativas quanto às consequências das decisões que estão prestes a ser tomadas.
Em primeiro lugar, e o maniqueísmo não foi criado pelos que defendem a democracia e a legalidade, mas sim por quem deseja aplicar um golpe de estado, só há dois lados nessa história desse tempo presente. Buscar nos erros do governo uma justificativa para dizer que tudo isso que estamos vivendo é consequência desses equívocos, é de um absoluto erro estratégico. E não garante a esse analista a condição de isento, mas de confundir toda a confusão já armada por uma mídia que há anos, em sintonia com o que acontece em outros países, procurara desgastar ao máximo os governos Lula e Dilma, e, mais do que isso, a criminaliza-los. Como se procurou fazer com Hugo Chavez, Cristina Kischner e Evo Morales, aqui na América Latina. A direita sempre seguiu a reboque de uma estrutura midiática que se constituiu na mais forte organização direitista a fazer oposição aqui e alhures.
Em segundo lugar, somente duas alternativas estão postas neste momento: a defesa dos preceitos democráticos e legais nos respeitos constitucionais e nas garantias do Estado de direito; ou a ânsia de derrubar um governo legitimamente eleito, por mecanismos casuísticos, muito comum no ocaso da ditadura militar. O mesmo que inventou os “senadores biônicos” para não perder maioria no Senado, depois de uma eleição em que levou uma surra homérica.
É, portanto, com base nesses dois cenários que devemos, neste momento, travar nossas discussões e pensar em estratégias que nos garantam a defesa de nossas conquistas garantidas a partir do começo deste século, desde o primeiro governo Lula. Me refiro, especificamente, ao que as universidades brasileiras conseguiram acumular por esses anos, após uma situação de mendicância como decorrência da absoluta falta de recursos nos governos anteriores nos malfadados tempos dos governos de FHC.
Não se trata, simplesmente de salvar um governo ou um partido, como de forma manipulatória a grande mídia tem procurado transmitir. A nossa preocupação e luta deve ser no sentido de preservarmos o que conquistamos em termos de melhorias, expansão e investimentos, tanto nas universidades como nos Institutos Federais. Mas, é evidente, e democrático, que devemos também, após isso, cobrar uma correção nos rumos do atual governo, e exigir que o Congresso Nacional garanta a governabilidade, ao invés de ficar obcecado em aplicar golpes para alavancar personagens que estão, esses sim, à beira de serem cassados por crimes de corrupção.
Não há dúvidas quanto aos avanços obtidos por todos esses anos. A Universidade brasileira avançou muitos degraus nesses 14 anos, e é incomparavelmente melhor do que estava nos finais dos anos 1990, praticamente à beira da privatização.
No cenário de um possível impeachment, não precisamos ter nenhuma dúvida sobre qual será a política adotada nas universidades brasileiras, absolutamente oposta ao que tem sido feito nos últimos anos, tanto nas questões da expansão, do financiamento e nas políticas de inclusão social. Sabemos muito bem o perfil daqueles que estão por trás do impeachment da presidenta Dilma e de seus projetos, não somente em intenções, mas em práticas aplicadas nos governos FHC e em diversos governos estaduais.
Na impossibilidade de o golpe não se concretizar, viveremos sob dois fogos. De um lado, a necessidade de aproveitar uma necessária mobilização para barrar os cortes que estão sendo implementados no governo Dilma, como consequência de um real endividamento do estado, e garantir que os investimentos sejam suficientes para manter os avanços obtidos. De outro lado, a verdadeira queda de braço que se seguirá em um ambiente político fraturado, que exigirá um esforço para garantir que a ordem democrática e institucional não seja quebrada, por meio de tentativas de desestabilizar o país e impedir qualquer recuperação de nossa economia, a fim de manter o governo Dilma nas cordas.
Por isso, antes de tudo, o que devemos estar discutindo é o processo político em que estamos vivendo, em muito similar à situação pré-1964, com a diferença de que não existe mobilização de tropas, mas temos, muito mais do que naquela época, o surgimento de setores civis fortemente sectarizados e abertamente defensores de práticas intolerantes e comportamentos fascistas, com ataques e agressões aos que divergem ou que representam partidos de esquerda, bem ao estilo do que aconteceu nas origens do nazi-fascismo.
Não é admissível que na universidade, neste momento, setores progressistas percam tempo com atitudes de julgadores dos equívocos cometidos pelo governo Dilma, a fim de demonstrar uma pretensa isenção, e fechem os olhos à uma realidade que está diante de nossos olhos, porque é absolutamente escancarado, a tentativa golpista de implementar um golpe de estado manipulando a massa levando-a a acreditar que se trata de depor a presidenta como consequência de apurações de corrupção, e não por razões fúteis sem consistências jurídicas, das chamadas “pedaladas fiscais”, pelas quais cerca de 16 governadores deveriam, então, ser também depostos. Sem contar que se trata de uma prática cometida por, pelo menos três outros presidentes anteriores à Dilma.
Tem sido comum ouvir de gente séria, e absolutamente opostas às ideias direitistas, a dificuldade que sentem em defender o governo, e, na linha do que tem dito alguns dos que debatem esse tema, julgam que essa situação foi causada pelo próprio governo, em função de suas incompetências ou de adotar políticas que o afastaram da linha programática apresentada durante a campanha eleitoral.
Ora, isso, por mais que seja uma leitura correta das circunstâncias que nos trouxeram até este momento, significa lavar as mãos para as consequências que advirão de uma possível quebra de normalidade democrática, e uma conivência com toda a guerrilha midiática em curso, pela qual já se formou juízos, sem julgamentos, sobre comportamentos de diversas personalidades políticas, inclusive da presidenta, embora sobre ela não pese nenhuma acusação que a pudesse transformar ré em qualquer processo que justificasse sua cassação.
Nesse momento, não se pode fechar os olhos a um movimento de radicalização das posições ideológicas, numa cruenta luta de classes, mas que joga setores da população mais pobres nessa onda, em decorrência de uma crise econômica que é sistêmica e da manipulação das informações. O que virá, e que já tem sido visto, embora ainda em pequena escala, será uma exacerbação da intolerância e a tentativa de destruir partidos e agredir quem ouse pensar diferente daquilo que está se tornando uma doutrina moralista, que pune não pelo fato de se cometer crime, mas por se pensar contra os preceitos elitistas e reacionários.
As “verdades”, que assim se tornaram repetidamente entoadas pela mídia, são cortinas de fumaça para encobrir o real objetivo em curso, da tomada de poder por meios outros que não aquele determinado constitucionalmente, dentro de processos eleitorais legítimos. Para que isso seja feito com o apoio das massas populares requer a construção de verdadeiras ladainhas, de massificação fascista de informações confusas direcionadas para, pela dúvida, exprimir julgamentos coletivos, e seletivos, em meio a uma cegueira que impede as pessoas de saberem distinguir o que é denúncia, muitas vezes não comprovadas e condenações, advindas de apresentações de provas e de finalização do devido processo legal.
Mas o que se vê é a repetição de práticas nazi-fascistas com os mesmos instrumentos propagandísticos adotados para dominar e controlar a multidão. Ora, o que fez com que Adolf Hitler tivesse uma ascensão tão poderosa, ancorada na aceitação popular da necessidade de um justiceiro a julgar e condenar impiedosamente aqueles que supostamente conspiravam contra a Alemanha? Nada mais do que a massificação de informações deturpadas, escoradas em preconceitos, xenofobia e intolerância política e religiosa. Tudo isso com um suporte ideológico com pilares éticos e morais pelos quais boa parte das pessoas seguiam cegamente, conduzidos por dogmas e valores questionáveis racionalmente, mas premidos pela agressividade do comportamento condenatório e do efeito “manada” que essas ações conduzem e intimidam.
Assistimos a história não ser repetida, porque vivemos uma época temporalmente diferente, mas transformada em uma tragédia farsesca, com personagens bufões, que se julgam líderes de uma época moralmente questionável, porque estamos diante de uma transição onde o sistema cujas redes estão entrelaçadas simplesmente faliu, tornou-se insuportável até mesmo pelos próprios regimes políticos que lhes dão sustentação. A classe economicamente dominante não tem saída, diante da tragédia que se tornou a estrutura capitalista. Só pode tentar se manter com o poder mediante a destruição de valores que lhes são antagônicos, e procura, pelos erros cometidos por quem deveria seguir por outro caminho, aniquilar uma alternativa a uma ausência de direção de uma forma de produção que não consegue se desvencilhar de suas próprias armadilhas.
Estamos, pois, em uma encruzilhada, onde não é possível seguir por dois caminhos. Somente um deve ser a escolha que nos conduzirá para encontrar novos mecanismos de transformações sociais e de resgatar heranças usurpadas por conquistadores, colonizadores e formadores de uma elite perversa e gananciosa. O outro caminho, nos leva de volta para o passado, e, consequentemente, em direção ao abismo. Significará a redenção do fascismo.

Qual caminho a universidade seguirá nessa encruzilhada?