segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A GREVE... O ANDAR DA CARRUAGEM... E O PRECIPÍCIO!

“É salutar e estrategicamente importante, mantermos o movimento coeso, centrado nessas duas reivindicações (o reajuste e o repasse de verbas para a universidade), até que sejam encerradas as negociações, que provavelmente ocorrerá até 31 de agosto. Feito isso, podemos aí, em Assembleia, ou/e por meio de consulta eletrônica (já que é um instrumento estatutário de nosso sindicato), a fim de ampliar a participação dos docentes, dizer se aceitamos ou não a proposta final, e, em seguida, decidirmos pelo fim, ou não, do movimento grevista”.
Com essas palavras, um chamamento à racionalidade do movimento em função de posições radicalmente antagônicas, encerrei meu artigo, publicado no Blog Gramática do Mundo na última semana de agosto (http://www.gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/08/a-greve-na-ufg-e-o-andar-da-carruagem.html).
Nele eu teci críticas ao comportamento adotado por aqueles que não desejavam greve, e ansiavam por rapidamente botar fim ao movimento; e pelos que desejam greve ad infinitum, sem preocupação com o tempo que o movimento perdurará, o que alguns chamam de “greve até o fim do mundo”.
Não pretendo, absolutamente, adotar um comportamento arrogante. Não me coloco como senhor da verdade, até porque não acredito em verdades absolutas. Mas, me exponho sempre, e assim me caracterizei desde que criei este blog, apresentando minha opinião para debate, com analises que considero, naturalmente, as mais corretas dentro de uma determinada realidade. Procuro sempre ser coerente entre atos e opiniões. Por isso, e pelo que aconteceu entre a data que publiquei o texto citado e esta última semana, é que decidi complementar aquele artigo, com a análise que se segue.
SOBRE O QUE É SER RESPONSÁVEL NUMA GREVE
Nossa última assembleia se iniciou com intervenções questionando a responsabilidade na deflagração da greve. Particularmente me vi criticado, uma vez que defendi nas primeiras assembleias a necessidade de entrarmos em greve, como resposta aos cortes de verbas nas universidades, bem como para mostrarmos nossa insatisfação com a proposta de fatiamento de nosso reajuste por longos quatro anos, em um momento de grave crise fiscal, política e econômica.
Com a perspectiva de as negociações se encerrarem no dia 31 de agosto, prazo definido nas mesas de negociações entre federações, sindicatos e o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão, naturalmente a greve se colocava, sim, como um instrumento radical de pressão, já que nossa categoria é incapaz de se movimentar de outras maneiras. Vivemos na Universidade as rotinas de nossos espaços restritos, nos laboratórios aos quais estamos ligados, sobre nossas pesquisas ou dos aspectos relativos àquilo que diz respeito particularmente a cada um. O questionamento sobre a realidade que nos cerca e que nos envolve cada vez mais, na medida em que tudo se conecta, constitui-se tão somente em um bate-papo de corredores ou nos intervalos de almoço. Não se debate com profundidade os problemas da Universidade. Há uma aceitação passiva das decisões administrativas e das políticas adotadas pelo governo. Sequer as conhecemos em profundidade. Deixamos isso a cargo dos nossos representantes nos conselhos universitários, mas pouco lemos a respeito do que se decide. Ou seja, nosso futuro na universidade pouco importa, a não ser quando aperta no bolso.
Essas questões, e a normalidade que nos cerca e da qual nos habituamos, já me motivaram a escrever alguns artigos em meu Blog. Entendi que a paralisação, de uma maneira ou de outra deveria servir não somente para pressionar o governo às vésperas de finalizar as negociações sobre nosso reajuste, mas também para fazer com que os colegas despertassem da letargia que tem afetado a universidade há muitos anos. Acostumamos-nos com as melhorias que inegavelmente aconteceram e perdemos a capacidade de perceber o abismo adiante de nós.
Claro que há outras motivações por parte de alguns colegas que veem a greve também como instrumento de desgaste político do governo, ou como um mecanismo para ampliar influência de grupos políticos entre os professores, além de conquistar espaços na disputa sindical, principalmente na tentativa de fazer o nosso sindicato retornar à influência da Andes. Nada, contudo, que não esteja dentro do jogo das disputas democráticas. Pelo menos dentro dos limites do permitido. Se é aceitável, somente a força de cada lado, dentro do processo de eleições sindicais, irá dizer.
Mas esse é exatamente o grande problema. Tentar descobrir qual é o limite do aceitável de uma greve na Universidade. Aqui me refiro a essa luta específica, de momento, nossa greve que já dura quase dois meses. É claro que não se pode, de forma inconsequente, levar uma paralisação até ao extremo de prejudicar um semestre letivo e, assim, adiar por seis meses a formação dos nossos alunos. Muito menos, é aceitável o estrangulamento da universidade, por inanição. Contraditório, já que criticamos o comportamento de governos que, ao não nos atender, estariam apostando no enfraquecimento dessa instituição. Pelo menos muitos acreditam nisso. Ocorre que a política é, principalmente por nossas bandas, extremamente instável. Quando se imagina haver certa tranquilidade institucional, a disputa pelo poder descamba para um processo autofágico, e se exige, para além da democracia, a rotatividade dos partidos no poder. Mas essa é outra discussão, embora seja uma das razões da crise.
O fato objetivo, para não nos perdermos em subjetividades, é que o momento político brasileiro é, nesse momento, extremamente crítico. Uma crise econômica internacional, um descontrole fiscal que fez com que pela primeira vez fosse enviado ao Congresso Nacional um orçamento deficitário, e uma crise política que vem acompanhada de radicalidade na disputa pelo poder, mas também da visibilidade de velhos esquemas corruptos que tradicionalmente corroem as estruturas do Estado brasileiro e já desde muito denunciado, mas somente agora investigado e punido: uma crise moral e ética enfraquecem a política, o governo e nos deixa em meio a uma ambiente de incertezas.
Como diz um velho ditado popular, é impossível extrair água de uma pedra. E não me refiro às rochas porosas que são características dos aquíferos. O que quero dizer é da impossibilidade de conseguirmos resultados positivos e vitórias dentro daquilo que desejamos e reivindicamos, em meio a um ambiente de caos fiscal e de intensa crise política que corrói o Estado brasileiro, a ponto da atual presidenta da República correr o risco de sofrer um impedimento para concluir o seu mandato. Afinal, golpes institucionais se tornaram práticas corriqueiras em diversos países latino americanos, e os exemplos mais concretos são os de Hondura e do Paraguai. Embora se tenha tentado também isso na Argentina, na Bolívia, no Equador e na Venezuela por diversas vezes.
Mas também, para contrariar o slogan de um comediante que se tornou deputado federal, “pior do que está, pode ficar”. Nós, que estamos há mais tempo na universidade, sabemos o que pode nos aguardar em um governo conservador. Os mais novos deveriam recorrer à história, e assim saberiam o quanto a Universidade sofreu com políticas conservadoras, excessivamente neoliberais, nos anos 1990 e anteriores. Assim, estrategicamente, o melhor que o movimento docente pode fazer é adotar a tática de recuar momentaneamente, para poder acumular forças e torcer para que a situação econômica do país melhore. Não deve nos interessar o “quanto pior melhor”, tão repetido pela presidenta, mas que, na política é algo permanente na linha política daqueles que estão na oposição e fora das mordomias do poder. Muito embora também faça parte de iniciativas tresloucadas de grupos sectários de extrema esquerda, que, nesse particular, aproxima seus discursos aos interesses e objetivos da extrema direita. O caos como objetivo, facilitaria a aglutinação de novos “combatentes”.
Um passo atrás, dois à frente. Essa deve ser a estratégia inteligente que devemos adotar. Encerrarmos a greve e manter negociações visando uma reformulação em nossa carreira. Além da necessidade de discutirmos e debatermos com intensidade, o que não temos feito, os rumos e destinos da universidade, a meu ver, completamente invertido com o abandono da graduação e a preocupação excessiva e determinante para o financiamento dessas instituições, nas melhorias das notas dos cursos de pós-graduação.
Nesse sentido podemos falar de responsabilidades. Com o conhecimento de nossas possibilidades, do entendimento da complexidade da realidade econômica, fiscal e política do país e da preocupação com o futuro, nos cabe tomar uma decisão coerente com nossa capacidade de discernimento. É o momento de encerrarmos o movimento grevista, mas de continuarmos nossa luta pela garantia dos repasses necessários à universidade e de melhorias em nossa carreira em um curto espaço de tempo, no máximo até 2017.
Mas os professores não podem, simplesmente, votar pelo fim da greve e voltar a acomodar-se, como se nada tivesse acontecido, e a destilar as frustrações contra os que estão à frente de nossa entidade. A força que podemos ter depende do fortalecimento de nossas instituições que nos representam enquanto uma categoria, o sindicato e a federação. Não basta nos contentarmos com gratificações e bolsas obtidas por meio de projetos de pesquisas e de extensão. Isso é provisório, e farão falta mais adiante, na medida em que se incorporam aos nossos gastos e estilo de vida. É preciso estarmos presentes na discussões sobre nossa carreira, defender melhorias em nossas condições de trabalho e cobrarmos da reitoria manifestação firme em defesa de nossa autonomia, uma luta antiga mas que parece distante das preocupações dos colegas professores.

Enfim, o que acredito ser uma atitude responsável é, além de encerrarmos a greve, sabermos que nossas conquistas futuras estão umbilicalmente ligadas ao nosso envolvimento nas discussões sobre os destinos da nossa universidade, e da universidade pública e gratuita de maneira geral. Fora isso, outras atitudes, movidas pelo discurso extremo e radical ou pela acomodação e insensibilidade diante dos problemas que é de todos, só nos empurrarão em direção ao precipício.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

QUAL A CREDIBILIDADE DA AGÊNCIA DE "RATING", STANDARD & POOR'S?

STANDARD & POOR'S PAGARÁ MULTA DE US$ 1,37 BILHÕES POR SEU PAPEL EM CRISE
Esta notícia não é de hoje. É de fevereiro deste ano.
Mas os mesmos editores do G1 não relembrarão disso que eles mesmos publicaram. E diz respeito a processos contra a Agência Standard & Poor's, a mesma que acaba de rebaixar a nota do Brasil. Ela foi condenada nos EUA por esconder e omitir informações sobre grandes bancos que estavam praticamente quebrados. Para mais informações sugiro que assistam o documentário, premiado com o oscar em 2010, INSIDE JOB. Disponível no Vímeo.
Entenda qual é o papel dessas agências e suas relações com os grandes bancos e corporações multinacionais. É fundamental entendermos qual o papel dessas empresas dentro da lógica de funcionamento do sistema capitalista. Evidentemente ele está relacionado aos interesses dos grandes especuladores do sistema financeiro internacional. Não se trata somente de defender tais investidores, mas também de enfraquecer momentaneamente empresas estratégicas importantes, facilitando suas aquisições ou de suas ações. Esses "abutres", se servem de tais avaliações de "riscos", aproveitam situações de crises, ou as acentuam intervindo nas crises, e lucram cada vez mais. Os efeitos colaterais não são pequenos, e abalam cada vez mais toda a estrutura do capitalismo e não somente do país "rebaixado", pois geram instabilidades e inseguranças na população. Contudo, o que importa para esses especuladores é o lucro imediato e o controle de poder em estados-nações importantes, que venham a facilitar seus enriquecimentos. Mesmo que à custa do crescimento da concentração de rendas e do empobrecimento da grande maioria das pessoas.

Não se trata de negar as crises, elas são da própria essência do sistema capitalista, mas de compreender como alguns poucos setores se aproveitam para lucrar ainda mais, e como eles potencializam as crises, de forma a criar um pessimismo crescente na população ao mesmo tempo em que, sub-repticiamente, esses "abutres" agem para obter altos dividendos com o desespero que se espalha, principalmente entre as camadas médias e pequenos proprietários.
Leia também este artigo:

Vejam esse artigo de Paul Krugman, publicado em 2011, no portal UOL:

Standard & Poor's não tem credibilidade para avaliar dívida dos EUA

Andrea Comas/Reuters
Para entender todo o furor em torno da decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de rebaixar os títulos da dívida do governo dos Estados Unidos, é preciso que se leve em consideração duas ideias aparentemente (mas não realmente) contraditórias. A primeira é que os Estados Unidos não são de fato mais aquele país estável e confiável que era no passado. A segunda é que a própria Standard & Poor’s tem ainda menos credibilidade; esta agência é a pior instituição à qual alguém deveria recorrer para receber opiniões sobre as perspectivas do nosso país.
Comecemos pela falta de credibilidade da Standard & Poor’s. Se existe uma única expressão que melhor descreve a decisão da agência de classificação de risco de rebaixar os Estados Unidos, esta palavra é chutzpah (cara de pau) – tradicionalmente definida pelo exemplo do jovem que mata os pais e depois suplica por clemência pelo fato de ser órfão.
O grande déficit orçamentário dos Estados Unidos é, afinal de contas, basicamente o resultado da queda econômica que se seguiu à crise financeira de 2008. E, a Standard & Poor’s, juntamente com as outras agências de classificação de riscos, desempenhou um papel importante no que se refere a provocar aquela crise, ao conceder classificações AAA a papeis lastreados em hipotecas que acabaram se transformando em lixo tóxico.
E a má avaliação não parou aí. É notório o fato de a Standard & Poor’s ter dado ao Lehman Brothers, cujo colapso provocou um pânico global, uma classificação A no mês em que aquele banco faliu. E como foi que a agência de classificação de risco reagiu depois que a instituição financeira de nota A foi à falência? Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.
Então, são essas as pessoas que agora decretam que os Estados Unidos da América não são mais dignos de crédito?
Mas esperem, essa história fica ainda melhor. Antes de rebaixar os papeis da dívida dos Estados Unidos, a Standard & Poor’s enviou um esboço preliminar do seu novo relatório ao Departamento do Tesouro. Os funcionários do departamento identificaram rapidamente um erro de US$ 2 trilhões nos cálculos da Standard & Poor’s. E o erro era daquele tipo que nenhum especialista em orçamento poderia cometer. Após discussões, a Standard & Poor’s admitiu que estava errada – e rebaixou os Estados Unidos assim mesmo, após remover uma parte da sua análise econômica do relatório.
Conforme eu explicarei daqui a pouco, não se deveria dar muito crédito, de qualquer maneira, a tais estimativas de orçamento. Mas o episódio não gera exatamente confiança na avaliação da Standard & Poor’s.
De forma mais geral, as agências de classificação de risco jamais nos proporcionaram qualquer motivo para que nós levássemos a sério as suas avaliações sobre solvência nacional. É verdade que nações que declararam moratória geralmente foram rebaixadas antes que isso acontecesse. Mas em tais casos as agências de classificação de risco estavam simplesmente seguindo os mercados, que já haviam repudiado esses devedores problemáticos.
E, nos casos raros em que as agências de classificação de risco rebaixaram países que, como os Estados Unidos neste momento, ainda gozavam da confiança dos investidores, essa decisão por parte delas se revelou consistentemente equivocada. Vejamos, particularmente, o caso do Japão, que foi rebaixado pela Standard & Poor’s em 2002. Bem, nove anos depois o Japão ainda consegue pegar dinheiro emprestado livremente e a juros módicos. De fato, na última sexta-feira, a taxa de juros sobre os títulos de 10 anos do Japão era de apenas 1%.
Portanto, não existe motivo para levar a sério o rebaixamento dos Estados Unidos ocorrido na sexta-feira passada. As últimas pessoas em cuja avaliação deveríamos confiar são os analistas da Standard & Poor’s.
No entanto, os Estados Unidos têm de fato grandes problemas.
Esses problemas têm muito pouco a ver com a aritmética orçamentária de curto prazo ou mesmo com a de médio prazo. O governo dos Estados Unidos não está tendo problemas para pegar dinheiro emprestado para cobrir a sua dívida atual. É verdade que nós estamos acumulando dívida, sobre a qual teremos que pagar juros. Mas se fizermos de fato as contas, em vez de ficarmos repetindo os números enormes com voz sinistra, descobriremos que até mesmo déficits muito elevados no decorrer dos próximos anos terão um impacto pequeno sobre a sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos.
Não, o que faz com se tenha a impressão de que os Estados Unidos não são confiáveis não é a matemática orçamentária, mas sim a política. E, por favor, não vamos repetir as declarações usuais de que ambos os lados são culpados. Os nossos problemas são quase que inteiramente provocados por um dos lados – eles são causados, especificamente, pelo crescimento de um extremismo de direita que está preparado para criar crises repetidas em vez de ceder um centímetro sequer em relação às suas exigências.
O fato é que, no que se refere à economia básica, os problemas fiscais de longo prazo dos Estados Unidos não devem ser tão difíceis assim de se resolver. É verdade que uma população em processo de envelhecimento e o aumento dos custos dos serviços de saúde provocarão um aumento mais rápido - sob as atuais políticas - dos gastos do que das receitas tributárias. Mas os Estados Unidos têm custos com saúde bem mais elevados do que os de qualquer outra nação desenvolvida, e impostos muito baixos segundo os padrões internacionais. Se nós pudéssemos nos aproximar, ainda que parcialmente, das normas internacionais nessas duas frentes, os nossos problemas orçamentários seriam resolvidos.
Então, por que é que não podemos fazer isso? Porque temos neste país um movimento político poderoso que gritou “comitês da morte” ao se deparar com tentativas modestas de utilização mais efetiva das verbas do Medicare, e que preferiu que nós corrêssemos o risco de uma catástrofe financeira do que concordar com a cobrança de um único centavo em impostos adicionais.
O verdadeiro problema enfrentado pelos Estados Unidos, mesmo em termos puramente fiscais, não é determinar se nós cortaremos um trilhão aqui ou um trilhão ali do nosso déficit. O problema é saber se os extremistas que estão atualmente bloqueando qualquer tipo de política responsável podem ser derrotados e marginalizados.
http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2011/08/09/standard--poors-nao-tem-credibilidade-para-avaliar-divida-dos-eua.htm
Tradutor: UOL

PAUL KRUGMAN

Professor de Princeton e colunista do "New York Times" desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de Economia em 2008.