terça-feira, 11 de janeiro de 2022

DE VOLTA ÀS ORIGENS – UM RETORNO AO PASSADO PARA REVIGORAR O PRESENTE

Praia do Forte - BA

Como sempre faço todos os anos, numa espécie de catarse para fugir da rotina e me deparar com outras paisagens, me aventuro nas estradas em busca de algum canto onde eu possa me distrair e relaxar. Ao longo de quase trinta anos perdi a conta da quilometragem que percorri por todos os cantos desse nosso imenso país, de norte a sul, de leste a oeste. Até mesmo atravessando a fronteira, pelo Uruguai e indo em direção a Argentina, retornando pela tríplice fronteira, acrescentando aí o Paraguai.

Aqui mesmo neste blog já registrei por meio de dois artigos as minhas aventuras: “A experiência de um sertanejo nordestino da Caatinga até o Cerrado goiano – E a caça ao pequi”;[1] e “Minha vida é andar, por esse país, pra ver se um dia descanso feliz...”[2] Desta feita, para além do que já relatei nas redes sociais, um eterno retorno à minha querida Bahia, e um passeio pela sempre aprazível e agradável João Pessoa, na Paraíba, fui também em busca de relembranças, do resgate de minha origens. E é o que irei, de forma resumida, transmitir nesse pequeno artigo.

Na verdade, essa busca por informações e lembranças do meu passado faz parte de um Memorial que começarei a escrever, como condição para ascender ao último degrau da carreira nossa de docente na Universidade, para professor Titular. Ainda falta retornar para registro à cidade que nos abrigou quando viemos da Bahia para Goiás: Morrinhos.

Mas, foi também uma retomada de contatos com parentes, primos e primas, tanto em Salvador, como em Alagoinhas, cidade onde nasci. Fiz um registro fotográfico, que insiro aqui para compartilhar esses momentos com os leitores do meu blog, com amigos e amigas. Mas o registro completo virá com o Memorial, que disponibilizarei para todos e todas, assim que for aprovado pela Banca onde deverei apresentá-lo.

Em Salvador, a primeira parada. Era para ser um final de tarde em Itapoã, mas terminou sendo uma noite agradável em companhia do primo Antonio Carlos e sua companheira Eva, onde sempre somos bem recebidos, e com quem sempre mantenho um permanente diálogo. Itapoã guarda em mim muitas saudosas lembranças. Em sua praia, nas pedras desse lugar tornado icônico por Vinicius de Moraes[i], registrei uma das fotos mais belas de minha querida e inesquecível filha, Carol, no ano de 2006. Um ano depois ele faleceu, em 13 de dezembro de 2007.

As conversas sempre giram em torno de nosso passado, das lembranças de nossos pais e nossas mães, dos lugares onde vivemos, e, felizmente, da afinidade política que nos coloca do lado certo da história, e contra esse estrupício que acidentalmente foi parar na presidência da República. Mas, enfim, acidentes acontecem na história.

Para além de Salvador, indo em direção ao Recôncavo baiano, não tão distante, a 120 quilômetros da capital, se encontra Alagoinhas. Uma cidade que cresceu muito rapidamente, aproveitando-se da confluência da BR-101, na intensidade do tráfego entre Feira de Santana e Aracajú, além de beneficiada por uma malha ferroviária -  atualmente conta com mais de 150.000 habitantes. Mas também por sua economia forte e na produção de limão e laranja com destaque, além de, desde a década de 1960, ter sido beneficiada pela descoberta de petróleo em seus limites. Fui rever Alagoinhas, de onde saí, salvo engano com uma idade de 12 ou 13 anos, no final dos anos 60.

Câmara de Alagoinhas

Meu objetivo principal, além de registrar os lugares onde vivemos (claro, em termos de localização, porque a paisagem é completamente diferente), foi também buscar informações sobre os mandatos de vereador, exercidos por meu pai. Ali ele exerceu a vereança por quatro legislaturas, sendo por duas vezes secretário da mesa diretora da Câmara Municipal. Nesse ponto fomos felizes, porque encontramos os registros que precisávamos, que nos foram compartilhados de forma atenciosa pelos servidores daquela Casa. Meu pai, também Romualdo, foi preso em 1964 e ficou por trinta dias aprisionado no complexo do Forte Monte Serrat em Salvador, transformado em prisão dos que eram considerados suspeitos de serem “subversivos”, ou ligados ao partido de João Goulart, como era o caso dele. Esses detalhes deixarei para relatar no Memorial. A Câmara, naturalmente, está em outro local e em um prédio próprio, bem amplo. Mas conseguimos registro de onde funcionou a antiga sede, ao lado da prefeitura. E ali próximo, não muito distante, o local onde vivemos quando crianças.

Prefeitura e Antiga Câmara

Depois que meu pai retornou da prisão, fato que ele pouco comentou conosco, teve o seu mandato cassado. Tornou-se funcionário do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, DNER (transformado depois em DNIT, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso) e pouco tempo depois se transferiu para a cidade de Serrinha, a cerca de 70 quilômetros de distância de Feira de Santana (onde morava meu avô e minha avó), e 180km de Salvador.

Fernando e Neusa, primo e prima.
Em Alagoinhas mais uma vez tive o enorme prazer de rever meu primo Fernando, sua esposa Jane e sua sogra, e minha prima Neusa. Por ser entre o Natal e o ano novo, não foi possível reencontrar a todos, mas não foi a primeira vez que lá estive com eles, sendo sempre bem recebido. Foi uma satisfação poder conversar sobre diversos assuntos, que diziam respeito ao nosso passado, mas também sobre as condições atuais de nossas vidas e do nosso país. Sempre tendo o prazer de saber que há sintonia em nossos pensamentos e ideias.

De lá, voltamos a Salvador, para dois dias depois seguirmos para Serrinha. Um pouco mais distante, mas ainda relativamente perto de Salvador. Situada no Nordeste baiano, Serrinha é uma cidade de porte médio, com pouco mais de 80.000 habitantes. Bem servida pela malha rodoviária, e por uma ferrovia, tem pouco destaque na economia regional, mas um pujante movimento decorrente de atividades agropecuárias e no setor mineral. Tradicionalmente foi festejada pela qualidade de sua água, tida como milagrosa e tendo sido até mesmo tema de música.

Ginásio Estadual Rubem Nogueira

Ali vivi poucos bons anos de minha infância e começo da adolescência. Moramos inicialmente num sítio, logo na entrada da cidade, hoje transformado em um condomínio de casas, e depois mudamos para uma outra residência na mesma rua, sempre perto do DNER, onde meu pai trabalhava. A poucas quadras dali ainda existe o Ginásio Estadual Rubem Nogueira, onde entrei pelo processo de admissão, que havia naquela época, início dos anos 1970. Se não estou enganado fazia o segundo ano do ginasial quando saímos de lá. O terceiro e último ano e o colegial eu fiz na cidade de Morrinhos (GO), para onde mudamos em 1974.

Antiga residência em Serrinha

Como historiador rever o passado é algo que faz parte da minha trajetória como profissional estudioso dos processos históricos, e naturalmente isso também se aplica à minha vida. Mas é uma sensação diferente, muito agradável, retornar a esses lugares e fazer essa viagem também no tempo, e depois estar de volta para o futuro. Sim, porque para mim o futuro se conta a cada minuto que está logo ali, à frente, no presente.

Centro de Serrinha - BA

Ali em Serrinha comecei meu primeiro emprego, numa farmácia, no centro da cidade e próximo à feira que acontecia aos sábados. Eu trabalhava somente nesses dias, que era quando o movimento aumentava como decorrência da feira. O prédio da farmácia estava lá ainda e pude fotografá-lo no tempo certo, porque pelas informações ele será reformado neste começo de ano.

Voltei radiante desse contato com pedaços do meu passado, que contam minha vida. Tanto de Serrinha, como de Alagoinhas. E feliz por ver, mesmo que meio a chuvas intensas que estavam assustando, e causando estragos em boa parte da Bahia, a vegetação da caatinga verdejante. Por todo esse tempo em que viajo para o Nordeste nunca vi a caatinga tão verde, o que dá a dimensão da felicidade do sertanejo, do morador do sertão profundo, no agreste baiano e nordestino.

Forte de Monte Serrat

Retornei à Salvador e fui fazer uma visita à Ponta de Humaitá, onde se localiza o Forte de Monte Serrat, local para onde meu pai foi levado, acusado de ser comunista sem nunca ter sido. Mas, naturalmente, era um vereador combativo e ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Curtume de Alagoinhas. Como Romualdo Pessoa também, filho, assumi a condição pela qual o acusaram, com muito orgulho e para lutar contra a opressão e as desigualdades sociais.

O restante da minha viagem pelo Nordeste, em direção à João Pessoa, na Paraíba, foi mais para tornar a sentir a brisa sagrada que sopra do litoral nordestino, e eu, como bom sertanejo, sei bem apreciar.

Em breve contarei esse história por inteiro, no meu Memorial: UMA VIDA EM TRÊS TEMPOS.

Até lá espero que tenham apreciado este relato, e os outros dois artigos que já escrevi, cujos links estão aí abaixo.

PS: Retorno ao texto para uma correção necessária. O agradecimento à minha irmã, poetisa, Ana Cristina, pela acolhida e hospitalidade em Salvador, sempre agradável. Ela está na foto 2, ao meu lado.

(*) Para acessar suas poesias copie o link: https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=135213



[1] https://gramaticadomundo.blogspot.com/2019/12/a-experiencia-de-um-sertanejo.html

[2] https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/06/minha-vida-e-andar-por-esse-pais-pra_10.html