sábado, 28 de abril de 2012

CRISES POLÍTICAS E ECONÔMICAS AFETAM OS PAÍSES CAPITALISTAS DE DIFERENTES MANEIRAS

murall.com.br
No começo do ano, mais especificamente no mês de janeiro, escrevi uma série de artigos que denominei CRÔNICA DE UM MUNDO EM TRANSE. Eles foram divididos em cinco partes, mais o final. Relendo cada um deles eu posso afirmar que modificaria pouca coisa. Tanto no comportamento de países que mundo adentro encontram-se em uma grave crise financeira, quanto na situação brasileira, que persiste com os mesmos temas mobilizando a política e a opinião pública. Mudam-se os personagens, mas mantém-se os mesmos motivos que deixam os países paralisados em meio às suas próprias contradições. Ou àquelas que são inerentes à própria estrutura do sistema capitalista. Como o acesso a essas postagens foi pequeno, até pela data em que elas foram inseridas no Blog, entre o final de 2011 e o começo de 2012, resolvi destacar partes e fazer uma nova postagem. Clicando nos links quem se interessar pode ir direto para uma das crônicas listadas.

A CRISE ECONÔMICA E AS REVOLTAS NO MUNDO – EUA, EUROPA E PAÍSES ÁRABES
Crises sempre acontecem em nossa vida, na sociedade, na natureza. Mas o capitalismo vive das crise. Aliás, ele depende das crises. Ele se retroalimenta delas, a expressão correta é essa, pois as crises são criadas pelas próprias e inevitáveis contradições do sistema, mas na maioria das vezes são nelas que são buscadas a sua salvação. Eu costumo citar muito o livro de uma jovem economista canadense, conhecida ativista contra as desigualdades sociais, chama-se Naomi Klein. O título é “A Doutrina do Choque – A ascensão do capitalismo de desastre”. Neste livro ela mostra como em determinadas circunstâncias a crise, que normalmente acontece no capitalismo, é potencializada para, a partir de determinada desgraça, ou um acontecimento muito complexo, as forças que agem no sistema, as grandes corporações e/ou os conglomerados financeiros, possam usufruir daquele desastre e obter dividendos financeiros e econômicos.
(...)
Assim devemos compreender os acontecimentos do mundo em 2011. Eles são parte de uma história de limites atingidos pela forma de funcionamento do sistema capitalista mundial. Não podem ser analisados isoladamente, estão todos enredados num processo gerado pelo auge de contradições motivadas pelas condições de uma escalada gananciosa de um mundo onde os donos do capital se deslumbraram com as facilidades de fabricarem dinheiro, não somente real, mas numa virtualidade de um jogo financeiro que não mede conseqüências. A usura os joga numa tarefa de produzirem ganhos cada vez mais ambiciosos, à custa do sacrifício da maioria população cada vez mais excluída do sistema, embora em algumas partes ainda seduzidas pelo vírus do consumismo e do estilo de vida construído pela ambição capitalista. Mas nada disso esconde a concentração absurda da riqueza e deixa a cada dia mais claro a impossibilidade de essa lógica representar a perspectiva do futuro da humanidade.
O BRASIL, EM MEIO À CRISE ECONÔMICA MUNDIAL
Vimos na primeira parte desse artigo, como a crise econômica tem afetado os países centrais da economia capitalista, como conseqüência dos fracassos causados por um sistema financeiro que atingiu seu limite especulativo e ganancioso. Mas, na contramão dessa situação, países cujas economias emergiram na última década se deparam com situações diferentes, e atingem níveis satisfatórios de crescimento.
Vamos analisar a situação do Brasil, ela está equilibrada do ponto de vista econômico. Nos últimos anos, por questões relacionadas a programas sociais, bolsa família, e até mesmo pelo aumento do salário mínimo (cujo salto foi de uma média de 56 dólares no último ano do governo FHC, para 345 dólares atualmente, e,pasmem, a economia não quebrou, como se atemorizava na época), uma série de ações do Estado, de incentivo que tem sido concedido objetivando transferir rendas, elevou algumas pessoas das camadas sociais mais de baixo e as inseriu acima da linha da pobreza, com capacidade de consumo.
UM MUNDO DOMINADO PELAS CORPORAÇÕES
As Corporações nos dias de hoje comandam o capitalismo, em todo o mundo. Então, aquilo que nós chamávamos antes de multinacionais, hoje com aquisições e fusões de todos os tipos o que existem são megas corporações, ou conglomerados que ainda envolvem bancos. E são tão poderosas que algumas delas possuem riquezas maiores do que o PIB da grande maioria dos países. Assim, quando elas entram em um determinado país e investem alto, torna difícil para esse país depois agir, se tiver interesse em ver-se livre delas ou caso queiram impor algum tipo de restrições, porque passa a depender dos seus lucros para sua arrecadação.
(...)
Essa onda de indignação com a corrupção pode terminar na legalização dos lobbies Já existe projeto no Congresso Nacional à espera de ser votado no plenário, e é aí que os honestos terão dificuldades de atuar. Não vai beneficiar a honestidade, nem os governos mais sérios, eles se tornarão reféns dos lobbies. Vai favorecer os mais conservadores, pois impedirá que se veja o que de fato acontece. É diferente, porque hoje o país tem uma controladoria, que fiscaliza, e uma mídia que é livre e que mostra, aliás, mais do que devia, porque age como um partido político. O que pode acontecer é piorar, porque os lobbies agem não somente no Congresso Nacional, mas em todas outras áreas em que eles precisam de apoio para satisfazer os interesses de suas corporações, inclusive na mídia e no judiciário.
Mas essa é uma característica do sistema, a maneira como ocorrem as eleições possibilita isso, e a própria estrutura do Estado e os interesses que existem seguindo a lógica gananciosa e usurária que fundamenta o capitalismo impele sempre isso para adiante. Ele muda sua forma, altera suas características, aplica um verniz de moralidade, como nos EUA e em países europeus, mas não a essência, e essa se baseia sempre na busca permanente pelo controle do poder, para dominar cada vez mais fortemente a economia e o sistema financeiro.
TERÁ O CAPITALISMO ATINGIDO O LIMITE DE SUAS CONTRADIÇÕES?
Nós sabemos que o corpo humano pode sobreviver por tempo indeterminado pela medicina, com a falência de seus órgãos, ligado a aparelhos que o mantém em estado vegetativo. Ou, na melhor das hipóteses, um coma profundo, do qual de alguma maneira poderá ser despertado. O capitalismo não morreu, está em crise, podemos até dizer que está em coma, tal qual um corpo humano, à beira do seu limite, mas do qual pode se recuperar. Ir, além disso, talvez seja um otimismo exagerado, para aqueles que a ele se opõem. Mas isso faz parte de sua própria condição existencial, conforme já abordei na primeira parte. Poderá – ou não – sucumbir a mais essa crise. E dentre as várias alternativas possíveis, sempre se poderá contar com a possibilidade de uma guerra de dimensão mundial. Não seria a primeira, nem a segunda vez que isso ocorreria. A guerra, sim, é uma saída, embora já não tanto como fora no século XX, em função de novas ordenações da geopolítica mundial. Mas, vamos analisar sob essa perspectiva.
(...)
Essa anarquia, e toda a confusão propiciada pela ganância que movimenta o sistema capitalista, é a própria geradora de todas as crises que acontecem, e que analisamos aqui, bem como também essa que o mundo está atravessando atualmente. A diferença desta das demais é que ela está atingindo muito fortemente todo o sistema financeiro, e assim afeta perigosamente a espinha dorsal do sistema. Porque ela foi gerada internamente e ele não encontra mecanismos de refinanciar os bancos que estão envolvidos. A situação difere de 2008, quando ela estourou. Porque naquele momento o Estado bancou os rombos dos bancos e seguradoras, obviamente ampliando seus endividamentos internos, já que necessariamente precisavam produzir créditos, “cash”, suficientes para evitar uma quebradeira que derrubaria todo o sistema financeiro mundial. 
UMA GUERRA SERIA O CAMINHO PARA TIRAR A ECONOMIA CAPITALISTA DA CRISE?

http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2012/01/cronica-de-um-mundo-em-transe-5-parte.html
A primeira coisa que devemos fazer quando avaliamos a perspectiva de uma guerra é olhar para um mapa, observar as fronteiras, ver com base nisso a diferença de tratamento que as grandes potências dão para determinados países, em detrimento de outros. Peguemos a situação da Líbia, e indaguemos porque o tratamento foi diferente do Iêmen (Só para recordar, Kadafi foi assassinado com o suporte da OTAN, acusado de cometer crimes contra sua população, levando a morte centenas de pessoas. No Iêmen o ditador, que precisou fugir para a Arábia Saudita, foi acusado dos mesmos crimes, mas obteve apoio da monarquia saudita, fez acordo com os Estados Unidos, obteve imunidade no parlamento iemista para não ser processado, e vai curtir um exílio nesse país). Foi nítida a diferença em relação ao Egito, onde aconteceu um golpe militar, já tratado aqui. E, porque a Arábia Saudita enviou tropas para conter as rebeliões no Bahrein? Porque existe ali uma enorme base militar dos EUA. Porque ainda não houve invasão á Síria?
UMA GUERRA SILENCIOSA: OS ESPIÕES ENTRAM EM AÇÃO
Considerando a gravidade de uma crise que toma uma proporção cada vez maior, conforme já analisado anteriormente, a decisão sobre o desencadeamento de uma guerra é muito difícil, por mais que na mídia e nos discursos haja uma forte radicalidade. Não que ela não possa acontecer, mas antes disso muito jogo de palavras, sanções econômicas e tentativas de acordos diplomáticos irá acontecer.
Enquanto isso se espalha pelo mundo um verdadeiro exército de espiões. É impossível afirmar com certeza, mas podemos deduzir que nunca houve tanta espionagem no mundo, nem mesmo durante a guerra fria. Tanto para atender interesses dos Estados, como também para desenvolver trabalhos que têm como objetivo coletar informações para empresas sobre as ações de suas concorrentes. A espionagem industrial cresceu muito também nos últimos anos, bem como aquela que busca obter informações privilegiadas sobre as condições de determinada empresa a fim de fazer uso no mercado financeiro, que possibilitam a um mega investidor ganhar milhões de dólares da noite para o dia. Ou agir para derrubar um concorrente
Encerro aqui a “Crônica de um mundo em transe”, mas o que abordei nessas cinco partes forma um mosaico de fatos e situações que não fecham um ciclo que acompanha a crise mundial. Como disse anteriormente, com base no que aprendi do marxismo, a economia é o grande condutor da política, seja local, nacional ou mundial. Se a economia vai bem, não há tantos percalços políticos, por mais que aqueles que fazem oposição desejem que as coisas piorem, como condição para conquistarem o poder. Mas se há uma crise econômica grave, seguramente os distúrbios serão inevitáveis e os desequilíbrios financeiros afetam a ordem política. E quando é constatado que essa crise tem um caráter mundial, é inevitável que as nações que detém hegemonia na ordem geopolítica mundial procurem mecanismos, nem sempre éticos, para garantirem a manutenção do poder em suas mãos.
Então, se o presente é incerto, o que se dirá do futuro, que ainda deverá ser construído sobre os escombros de uma crise estrutural, de um sistema que tem por essência enfrentar permanentemente o dilema de viver das crises e de sobreviver a elas?
Seguimos otimistas, apesar de tudo, e dos interesses gananciosos da burguesia e dos que se aliam a ela, acreditando que o mundo será sempre melhor

sábado, 21 de abril de 2012

ESTADO, PODER E VIOLÊNCIA NO NORTE DO BRASIL

Passados 40 anos do maior movimento guerrilheiro que aconteceu em nosso país, a Guerrilha do Araguaia, continuamos acompanhando a situação da região onde se desenrolou o conflito.  Prossigo atento ao que acontece numa região que se tornou emblemática, e se mantém assim, pela importância histórica adquirida e porquanto durar as buscas para identificar restos mortais dos guerrilheiros que ali foram mortos. Bem como enquanto se repetir por ali as mesmas injustiças que há décadas impedem que as grandes riquezas ali existentes sejam distribuídas para o povo pobre e humilde que ali habita.
Vivemos tempos diferentes. Nosso país tem passado por transformações importantes, embora lentas, mas que são visíveis aos olhos daqueles que estão atentos às mudanças e que focam esses olhares ao seu redor, ao invés de fazer uma visão meramente introspectiva.
Mas que mudanças são essas?
Saímos nas quatro últimas décadas de uma ditadura militar para um processo, ainda lento, de transformações democráticas.  Obviamente que não são mudanças revolucionárias. Elas acontecem seguindo a mesma lógica sistêmica, contudo por meio de um regime político aonde as liberdades democráticas permitem a livre participação de todos nos movimentos sociais e nas dezenas de partidos políticos que existem com diferenciadas matizes.
Mas, ao contrário do que se possa imaginar, embora os conflitos sejam atenuados em suas gravidades, em termos de confrontos com a estrutura do Estado é na democracia que as contradições afloram com muito mais clareza, e em algumas vezes assume um grau elevado de radicalidade, como o ocorrido no massacre em Eldorado do Carajás, ocorrido há 16 anos, sem que até hoje os responsáveis tenham sido devidamente punidos.
Muito embora o próprio Estado utilize da democracia, através de mecanismos variados (cooptação de lideranças populares, manipulação da informação, atendimentos parciais das demandas sociais, naquilo que não afeta a lógica do sistema, etc.) com o claro objetivo de reduzir o grau dessas revoltas e jogar para os parlamentos as principais batalhas que envolvem essas contradições.
Ocorre que no âmbito da democracia, se o movimento popular não estiver forte e organizado, e ciente de que a luta se enquadra como confronto de classes sociais antagônicas e inconciliáveis, prevalecerá sempre o poder do mais forte. E a defesa da democracia passa a ser assumida por quem não possui autoridade moral para tal, a classe dominante que detém a riqueza e procura expandi-la cada vez mais, à custa da exploração e da violência contra a população pobre. Ela mantém sempre uma maioria parlamentar, e controla a estrutura judiciária.
Nessas quatro últimas décadas não foi somente o Brasil que mudou. O mundo no geral passou por transformações muito aceleradas. Perdemos por certo tempo, a bandeira do socialismo, como principal instrumento a se contrapor ao capitalismo, e com isso a convicção de que a luta coletiva é determinante para resolver os problemas sociais do povo em geral. E a partir de então a lógica que passou a movimentar o mundo foi a da visão de progresso e desenvolvimento fortalecida internacionalmente no processo de globalização através de políticas neoliberais.
Isso veio como uma ideologia do sucesso individual e a condição para que cada um, individualmente, se sagrasse vitorioso em um mundo marcado por uma ferrenha competição. Esse passou a ser o tom dado inclusive por governos à esquerda. Países como o Brasil e China, assumiram a vanguarda dessas novas transformações, após o retumbante fracasso da globalização neoliberal.
Mas, apesar de políticas progressistas, paradoxalmente permaneceram resquícios neoliberal na macro economia. Assim como na manutenção e fortalecimento de certas estruturas patrimonialistas, desta feita embaladas com fortes investimentos em tecnologia. Embora uma inegável verdade, os mecanismos que passaram a ser utilizados para isso, mesmo com uma forte concentração do poder do Estado, desconsiderou a necessidade de que a única maneira de se efetivar mudanças que sejam estruturais e consolidadas é atacar com coragem mecanismos arcaicos de controle da propriedade e o modelo concentrador de riqueza e renda.
Em não sendo isso feito, no âmbito da política e da democracia, prevalecem os interesses dos mais fortes, naquilo que o Padre e professor da UFRJ, Ricardo Rezende de Figueira, denominou de A Justiça do Lobo. Agora sem a ditadura militar, mas contando com os mecanismos institucionais e jurídicos do Estado, enquanto um instrumento de controle de uma classe social, como bem determinou Engels no livro a Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Ou, como na abordagem de Michel Foucaul, em “O Olho do poder”.
Assim, pelos mecanismos democráticos impõe-se às camadas mais frágeis da sociedade a lógica de desenvolvimento capitalista e a noção de progresso, passando-se a uma aceitação dos mecanismos de controle e concentradores de renda.
Em uma região historicamente marcada pela presença de grandes grupos econômicos nacionais e internacionais, da grilagem sistemática de terras, do grande latifúndio como modelo de propriedade e pelo abuso do poder determinado pelos canos fumegantes das armas de pistoleiros e policiais corruptos, as transformações vêm muito mais fortemente marcadas pelas contradições a que me referi.
Os programas sociais, bem intencionados não restam dúvidas, e até mesmo necessários, penso eu, para minimizar a gravidade de uma situação de extrema pobreza, terminam em outro extremo conformando as pessoas diante de sua pobreza e criando expectativas de melhorias de vida a partir desse mecanismo. Apesar de ser um passo para dar a essas pessoas cidadania e melhorar suas autoestimas retira-as do eito da luta e reforçam a fé de transformações sociais através da noção de progresso vinculada à da melhoria da economia. O movimento camponês se ressente disso.
Assim, diante dessa nova realidade, pela qual, aliás, nós sempre lutamos, de garantir a democracia, a insistência dos movimentos sociais em perseguir a luta cotidiana e ativa passa a ser tratada como ações criminosas. Claro que isso não chega a ser novidade, haja vista que os militantes comunistas que chegaram à região do Araguaia para ali combater a ditadura, eram chamados de terroristas e subversivos. Bem como a atuação de padres e missionários, a partir da leitura dos evangelhos como uma opção preferencial pelos pobres, no que se tornou a Teologia da Libertação, era combatida como ações de comunistas e também de subversivos.
Só que agora, embora a luta seja a mesma, o direito a terra e o combate à grilagem e ao poder do grande latifúndio em uma região marcada por uma intensa pobreza, a bandeira da democracia assume outra conotação e inverte-se os papéis. Sob a direção ultraconservadora da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, que assim substitui a UDR – União Democrática Ruralista (que ironicamente carrega o nome democracia em sua sigla), esse setor escora-se na forte influência que detém no poder judiciário e age rapidamente, contando com a repercussão de uma mídia fortemente conservadora, com ações que visam transmitir à opinião pública uma imagem criminalizada dos movimentos sociais no campo.
Por trás desse forte embate, encontram-se os interesses de grandes grupos, corporações gigantescas nacionais e multinacionais. No final de 2010 a CPT do Pará distribuiu nota sobre os problemas fundiários naquele Estado, denunciando a empresa mineradora VALE, uma das maiores do mundo, e citando inclusive o banqueiro Daniel Dantas, que nos últimos anos adquiriu, segundo a nota, mais de 50 fazendas, somando-se mais de 600 mil hectares de terras a um patrimônio suspeito de ter sido adquirido mediante lavagem de dinheiro com as privatizações de empresas estatais. Contudo, esse bandoleiro, cujos crimes foram fartamente identificados na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, livrou-se das acusações mediante uma forte influência no aparato judiciário, desde bancas fortíssimas de advogados, até o Supremo Tribunal Federal, conforme denunciado pela revista Carta Capital.
Pode-se ver que o deslocamento de pessoas por toda essa região, uma imensidão de terras que margeia dois dos principais rios brasileiros (o Araguaia e o Tocantins), não se reduziu nas últimas décadas. Mas assume outras formas. Uma grande quantidade delas que vem reforçar a mão de obra agora em fazendas, principalmente de criação de gado (algumas ainda utilizando o trabalho escravo), e um enorme número de pessoas que são deslocadas da área rural para as cidades, ampliando um cinturão de pobreza que potencializa outros tipos de violências e degradações humanas. Uma parte dela é absorvida em projetos infraestruturais importantes, como a Ferrovia Norte-Sul, que será ela mais um paradoxo, pois expandirá a fronteira agrícola como consequência de melhoria no escoamento da produção e elevará os investimentos do grande agronegócio. Algo que já está acontecendo, inclusive com aquisição de terras por grupos estrangeiros.
O que a paisagem nos indica, na linha dessa visão de progresso e desenvolvimento, e é o que a economia com seus dados estatísticos também vai nos mostrar, é que essa região está passando por grandes transformações. Como de resto todo o país.
Eu diria que essa é uma meia verdade. Porque, ao não romper com o modelo de desenvolvimento, concentrador de rendas e baseado na grande propriedade de monocultura e latifundiária, mantém-se no país as enormes desigualdades sociais. Embora melhore as condições daqueles que vivem em situação de pobreza, aumenta despudoradamente a concentração de riquezas nas mãos de uma minoria, seguindo a lógica e a essência que aprofundam as contradições do capitalismo. Não se alterou substancialmente aquilo que existia na época da guerrilha, cujas análises contidas nos documentos da União para a Liberdade e os Direitos do Povo (ULDP) se mantém em muitos aspectos.
Contudo, faz-se necessário, não nos deixarmos levar pelo comodismo nem com as migalhas que esse padrão de desenvolvimento impõe, porque cresce o fosso entre ricos e pobres e o sentido de democracia pelo qual tanto lutamos é exatamente a inversão dessa lógica. E não deixar que caia no esquecimento as lutas que são travadas todos os dias por centenas de milhares de famílias expulsas de suas terras, bem como daquelas que marcaram a nossa história. É nossa responsabilidade impedir que o Estado brasileiro, pelo qual lutamos para se tornar democrático, continue a servir aos interesses de uma minoria de sanguessugas - corruptos e corruptores - detentores de imensas fortunas e cujas riquezas foram construídas escoradas nas costas do povo pobre desse país.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Ato pelos 40 anos da Guerrilha reafirma necessidade da luta pela verdade

Realizada no Memorial da Resistência – sediado no antigo Deops, no centro da capital paulista – a atividade reuniu mais de 200 pessoas. As exposições foram feitas pelo secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão Pires Jr., pelo procurador da República em Ribeirão Preto e membro do Grupo Direito à Memória e à Verdade do MPF, Andrey Borges Mendonça, e pelo professor Campos Filho.
 “Temos muito orgulho de sermos de esquerda, de termos nos insurgido. O que a esquerda fez naqueles tempos não é motivo de vergonha, mas de muito orgulho”, disse Ivan Seixas, do Núcleo de Preservação da Memória Política, na abertura dos trabalhos. “Aquelas pessoas que estiveram presas, que foram torturadas, como Dilma Rousseff e tantos outros, estão aí, contribuindo para melhorar o Brasil. E que contribuição deram aqueles que prenderam, que mataram?”, questionou.
Prof. Romualdo Pessoa, autor do livro
Logo após a exibição de um breve vídeo em que todos os mais de 60 guerrilheiros foram lembrados, Romualdo Pessoa Campos Filho falou sobre o seu livro. Emocionado, dedicou a obra – cuja primeira edição foi lançada em 1997 – à sua filha Ana Carolina, vítima de leucemia em 2007 aos dez anos.
Ao relatar a trajetória que o levou a escrever o livro, lembrou que o impulso principal era a necessidade de contribuir para que a Guerrilha do Araguaia fosse inserida na história brasileira. “E este episódio ainda é uma história inacabada”, disse, em referência às muitas informações ainda não tornadas públicas sobre o ataque das Forças Armadas e o paradeiro dos corpos. Até hoje, apenas dois militantes, Maria Lúcia Petit e Bergson Gurjão Farias, tiveram seus restos mortais encontrados, identificados e sepultados.
Campos Filho recordou que o movimento de resistência “foi dizimado devido à grande truculência usada pelos agentes”. E lamentou que “muitas pessoas que viveram aquele período ignorem a Guerrilha ou desqualifiquem aqueles que deram sua vida pela democracia partindo de uma análise anacrônica dos fatos”.
Evento reuniu mais de 200 pessoas
Baseado especialmente na narrativa dos camponeses que testemunharam as ações da ditadura, o livro de Campos Filho é um importante documento de resgate histórico sob a óptica do povo mais simples da região do Araguaia, condenado ao sofrimento e à miséria por ter ajudado os comunistas. “Muita gente desinformada diz que os camponeses contam histórias para poderem receber indenização. Mas, vou à região desde 1992, quando iniciei minha pesquisa, e já naquele momento eles contavam o que viram, mesmo sem nenhuma perspectiva de reparação”.
Por fim, disse que contar essa história era um compromisso “com os camponeses, com os familiares que lutam até hoje para descobrir a verdade e com a nossa história. A história se constrói com fatos concretos. Pode-se esconder a verdade por um tempo, mas não para sempre”.
Resquícios autoritários em tempos democráticos
 O procurador Andrey Mendonça abriu sua exposição dizendo que “a democracia brasileira tem muito mais enclaves do autoritarismo do que podemos imaginar. Um exemplo é o desinteresse de boa parte da população pelas lutas políticas e sociais. Isso foi construído na ditadura porque quem tem acesso à informação, quem sabe, não se deixa enganar”. Segundo ele, “não se imputa às Forças Armadas a responsabilidade que tiveram [nos crimes cometidos]. A cultura da impunidade ainda é muito forte”. Como herança do período, citou também o alto grau de militarização das políticas de segurança pública e as constantes violações aos direitos humanos.
Procurador Andrey Borges
De acordo com o procurador, superar essa herança depende de uma depuração, que deve ser feita a partir da justiça de transição. Ele citou como principais alicerces desse processo a busca da verdade; a reparação não apenas econômica, mas também simbólica; a reforma da justiça e do Código Penal e a justiça. “Por mais de 30 anos, o MP não fez nada, o judiciário não fez nada”, denunciou.

Mendonça explicou que a decisão do STF sobre a validade da Lei da Anistia não é incompatível com a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Brasil pelas mortes no Araguaia. “O país deve cumprir a sentença”, declarou. “Enquanto os corpos não forem encontrados, continua sendo cometido o crime de sequestro. Os parentes das vítimas têm o direito de enterrar seus corpos. Ninguém pode privá-los disso”.
O Estado pedindo perdão
 Ao longo de sua gestão à frente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior teve uma difícil, porém nobre missão: pedir perdão, em nome do Estado brasileiro, aos que foram perseguidos, presos e torturados pelos agentes da ditadura. Depois de tantas sessões da Caravana da Anistia, ele avalia que o julgamento que concedeu reparação aos camponeses do Araguaia – cuja audiência foi realizada em praça pública na cidade de São Domingos do Araguaia (PA) em 18 de junho de 2009, diante de dezenas de pessoas – foi o mais emblemático de todos.  “A Guerrilha do Araguaia é um patrimônio da sociedade brasileira”, enfatizou.
Secretário de Justiça Paulo Abrão Jr.
Pires Júnior lembrou que em muitos momentos o pagamento das indenizações foi menosprezado. “A reparação é um dos pilares da justiça de transição; não é nenhum demérito, mas tentaram transformá-lo numa espécie de ‘cala-boca’. Pelos processos de reparação, as vítimas tiveram visibilidade e a sociedade pôde conhecer melhor sua própria história”. De acordo com Pires Júnior, esta é uma ferramenta importante para “se enfrentar o negacionismo, o esquecimento”.
Ele salientou que assim foi possível desmascarar “a falácia da ‘ditabranda’, como se uma ditadura fosse medida pelo tamanho da pilha de corpos que faz e não pelos traumas que causa por anos e anos na sociedade”. 
O secretário de Justiça lembrou ainda que é preciso reformular o conceito do brasileiro como homem cordial. “Há uma tarefa histórica nova: lutar para que os antropólogos descrevam os brasileiros como homem resistente”.
Segundo ele, nesse processo de resgate histórico, é necessário ainda “superar a falsa concepção de que é preciso abrir mão da justiça para se alcançar a verdade. Ambas são faces de uma mesma moeda”. Ele também aposta no que chamou de circularidade dos mecanismos, em que a reparação leva à verdade e a descoberta da verdade também leva a um maior número de reparações.
Para Paulo Abrão Pires Júnior, depois de a sociedade ter conquistado e efetivado a democracia, está na hora de buscar a concretização de um terceiro momento: o aprofundamento das relações democráticas, o que não pode ser feito sem que se conheça de fato o passado. “Ainda há muita exclusão, nossa elite ainda é colonizada. Mas, surgem novos atores sociais: a juventude está indo às ruas em nome dessa bandeira”. Portanto, concluiu, “a luta dos guerrilheiros ainda está viva”.
Homenagens
Zé da Onça, camponês, presidente
da Assoc. dos Torturados no Araguaia
O ato foi finalizado com uma homenagem aos que lutam e lutaram pela democracia: José Moraes Silva (o Zé da Onça), presidente da Associação dos Torturados do Araguaia, representando a resistência dos camponeses; José Dalmo Ribeiro Ribas, irmão do guerrilheiro Antonio Guilherme Ribeiro Ribas, representando a luta dos familiares pela verdade e a justiça e Andrey Mendonça, por denunciar na Justiça Federal de Marabá o coronel da reserva do Exército, Sebastião Curió Rodrigues de Moura pelo crime de sequestro qualificado de cinco pessoas na Guerrilha do Araguaia.
Durante a entrega das placas de homenagem, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, lembrou que a exemplo da Comuna de Paris, que Karl Marx classificou como “assalto aos céus”, a Guerrilha foi “um ato de audácia na busca por um novo mundo. Agora, temos de aprofundar a conquista democrática, ir além, como nossa juventude está fazendo”.
Romualdo autografa livro para
Renato Rebelo, pres. do PCdoB
Presente ao ato, o vereador Jamil Murad – que se tornou militante comunista em 1968 através de Dalmo Ribas – disse que “o futuro da nação depende da sua juventude. E os guerrilheiros, a maioria jovens, deu exemplos inesquecíveis de luta abnegada por uma pátria livre, soberana, justa e democrática. Mais dia, menos dia, esse novo país será conquistado”.
Segundo o historiador Augusto Buonicore, da direção da Fundação Maurício Grabois, uma das promotoras do ato, “eventos como este contribuem para levar, especialmente para a juventude, a importância de se resgatar a nossa história de resistência, de luta, contra a ditadura. Depois de quase 40 anos da Guerrilha e 48 anos do golpe, a juventude retoma as ruas para pedir justiça e o direito à verdade”.
Zezinho do Araguaia (ex-guerrilheiro),
Dalmo Ribas (Irmão do guerrilheiro Guilherme
Ribas e Renato Rebelo.
Estiveram também presentes ao ato Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, uma das promotoras do evento; Zezinho do Araguaia, um dos guerrilheiros; o assessor do Ministério da Defesa, José Genoíno; Clara Charf, viúva de Carlos Marighela; os presidentes estadual e municipal do PCdoB, Nádia Campeão e Wander Geraldo; o secretário sindical do PCdoB, Nivaldo Santana; o secretário especial de Articulação da Copa em São Paulo, Gilmar Tadeu Ribeiro Alves e o membro da Comissão de Anistia, Egmar José de Oliveira, entre outros.



Notícia publicada no portal da Fundação Maurício Grabois


segunda-feira, 16 de abril de 2012

A REVISTA VEJA, O BARÃO DE MUNCHAUSEN E A ANENCEFALIA

Peter Pan, da “terra do nunca”; Alice, do “país das maravilhas”; Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro da triste figura com o seu leal Sancho Pança e o fiel cavalo Rocinante. Desses quase todos nós temos um mínimo conhecimento, já que em algum momento de nossas infâncias esses personagens fizeram parte do universo juvenil. Mas o que dizer do exagerado Barão de Münchhausen? Poucos o conhecem, mas suas fantásticas aventuras seguramente encontram forte concorrência quando no final de semana buscamos jornais e revistas para nos informarmos. Registre-se que isso se torna cada vez mais difícil.
Para os que ainda não conhecem, Karl Hieronymus, um ex-oficial alemão, o famoso Barão de Münchhausen teve suas fantásticas aventuras, fantásticas e terrivelmente exageradas, retratadas por Rudolph Erich Raspe, e publicadas em Londres no ano de 1785. Também o cinema o imortalizou com o filme “As aventuras do Barão de Münchhausen”, por sinal uma comédia no estilo Monte Pyton, bastante divertida. Um de seus feitos mais hilários, e escandalosamente mentiroso, contados sempre a partir dos relatos de suas aventuras, se deu quando ele inadvertidamente se viu, juntamente com o seu cavalo, preso a um banco de areia movediça; sem se desesperar, apesar de estar afundando lentamente e sem perspectiva de ajuda próxima, só lhe restou um aguçado estado de espírito bastante equilibrado e uma esperteza inédita. Sem vacilar, quando já próximo de ser coberto pela areia, trançou suas pernas na barriga do cavalo, ergueu as mãos sobre a cabeça, puxou o cabelo em forma de trança para cima, e usou de toda a sua força, para não se sabe como, ir sendo içado lentamente até se ver livre do infortúnio movediço.
Seguramente não dá para acreditar, mas o famoso Barão fez um enorme sucesso entre o público juvenil contando essas suas histórias. Claro, uma platéia sempre receptiva às fantasias, sendo uma época de nossas vidas que imaginamos uma vastidão de mundos, todos construídos virtualmente. Ninguém pretendia investigar as lorotas do Barão, mas ouvi-las era um divertimento.
Ao ver a capa da revista Veja desta semana veio-me a mente as lembranças das fantasias espetaculares do Barão. Mas, é claro que se podíamos enxergar em suas divertidas histórias contos desprovidos de más intenções, mas somente divertimentos, não podemos dizer o mesmo em relação a essa publicação. Porta-voz do que há de mais reacionário na sociedade brasileira, essa revista se escora no fato de contar com leitores assíduos gente em sua maioria oriunda das classes médias altas e da elite, cujo comportamento é marcado por um discurso moralista e hipócrita, que esconde uma prática oposta, como no caso Cachoeira-Demosthenes Torres.
As escutas da Operação Monte Carlo denunciaram uma articulação entre o chefe da sucursal da Veja em Brasília e Carlinhos Cachoeira, mostrando que praticamente todas as denúncias apontadas por essa revista nos últimos anos teve nesse mafioso a principal fonte. Percebia-se que o objetivo era desestabilizar o governo federal, mas não somente este, como outros governos vinculados a partidos de esquerda. Como no caso de Goiânia, cujas articulações demonstram que era Cachoeira o grande artífice das denúncias de supostas irregularidades no Parque Mutirama. O que se pretendia, logicamente, era fragilizar esses governos e possibilitar a ascensão de políticos ligados a essa máfia.
É histórico, faz parte da memória política no Brasil, a maneira como o discurso moralista impregnou a política brasileira. É fato, contudo, que a corrupção está entranhada nas estruturas do Estado brasileiro, e na verdade é um componente da maneira de funcionamento de todos os estados, principalmente no capitalismo, onde a ganância é um fator estimulante para os desvios éticos e a desonestidade.
Aqui, em particular, origina-se no período colonial, naquilo que Darcy Ribeiro identificou como o compadrio, fortalecido com a maneira como no império o poder político foi dividido, e os interesses do Estado confundia-se com a influência do grande chefe político regional, para quem todos passavam a clamar por favores. Sempre resolvidos mediante a expropriação dos cofres públicos. O povo acostumava-se sempre a buscar esses favores, e entregar seus filhos para o apadrinhamento dos “coronéis”. Historicamente permanece uma cultura em que se procura obter benefícios mediante o assalto ao tesouro público, desviando-se verbas que deveriam ser devidamente aplicadas em áreas extremamente deficitárias, como saúde e educação.
Mas não se imagine que esse discurso moralista tem como objetivo acabar a corrupção. Essa é uma forma hipócrita da mídia conservadora e dos partidos as quais ela apoia enfraquecer seus adversários e atingir o poder, para fazer mais do mesmo. O discurso moralista sempre foi um instrumento de manipulação das massas. Essas despolitizadas, ou completamente alienadas quanto aos conteúdos ideológicos que movimentam a política, são extremamente sensíveis a essa defesa da moral, principalmente devido a formação religiosa. É comum ver algumas pessoas falarem que a sociedade depende da religião para manter os valores da honestidade. Ora, mas essas pessoas flagradas em corrupção e até mesmo em outros crimes mais hediondos têm, todas elas, suas crenças religiosas.
A questão não é essa, da formação da moral religiosa como alternativa, porque foi exatamente o protestantismo que abriu espaços para isso, na tentativa de expandir as possibilidades de enriquecimento que antes do capitalismo era uma espécie de concessão da igreja católica. Abriu-se a ganância mediante a crença de não ser pecado a busca pelo enriquecimento, e aí foi impossível controlar a usura e o oportunismo político para se atingir tal objetivo.
Logicamente os setores reacionários sempre serão beneficiados, na medida em que os partidos políticos são rejeitados, a exemplo de uma frase exposta em uma faixa na manifestação que pedia o afastamento do governador de Goiás: “o povo unido, não precisa de partido”. Aparentemente pode ser visto como anarquismo, mas na essência constitui-se em um comportamento que historicamente possibilitou, no acirramento das crises, condições para o surgimento de regimes totalitários, pois aumentam o desânimo das pessoas. Afinal, os partidos políticos compõem a essência da democracia ocidental, e não parece que, mesmo diante de fatos graves de corrupção endêmica, existam modelos alternativos que possam garantir liberdades individuais e coletivas à população. Sequer há a possibilidade de acontecerem mudanças que não tenham nos partidos políticos o protagonismo necessário. Assim são facilmente iludidas e transformam a política em um ambiente que iguala a todos, mas deixa caminho aberto para a fascistização da sociedade .
Exatamente por isso revistas como a Veja apostam na espetacularização dessas notícias, e utilizam, como a resgatar o velho “lacerdismo”, essas denúncias como fator de desestabilização política. Mais do que isso, no entanto, usa de farsas e das estruturas mafiosas para confundir a opinião pública. O que se vê na matéria da revista é a complementação de uma estratégia que já estava explícita em outros órgãos da mídia conservadora, como o Estadão e O Globo. Uma tentativa de estabelecer uma relação entre o julgamento das denúncias do Caixa 2, apelidado por essa mesma mídia como “mensalão”. Denúncias que, aliás, começaram com uma gravação feita pelo próprio Carlinhos Cachoeira, demonstrando que há anos essa figura passeia fantasmagoricamente pelo submundo da política.
Mas qual a razão, verdadeiramente da estratégia aparentemente ofensiva da Veja? Ora, o fato de o chefe da sucursal de Brasília ter sido flagrado nas conversas com Carlinhos Cachoeira, pois ele era a principal fonte dos “escândalos”, muitos deles fabricados para atender interesses escusos.
Mas se percorrermos os jornais, grandes e micros, dessa última semana, ver-se-á uma reação semelhante. Ocorre que boa parte das “fontes” desses órgãos são, quase todas, suspeitas. A maioria repassam informações porque ou estão sendo investigados, ou porque foram menosprezados em alguma transação política. Alguns são elementos completamente comprometidos com o submundo da política e do crime, como no caso citado. De certa forma agem como fazem os “alcaguetes” da polícia, marginais infiltrados na própria marginalidade. A diferença é que no caso das fontes policiais o marginal sabe que não pode enganar (embora isso aconteça) e a polícia tem dados e provas que podem checar a informação.
No caso de uma mídia mal intencionada, cujo intuito é “detonar” adversários, a “fonte”, omitida sempre, passa a se constituir em personagens insuspeitas, pelo fato de escondê-las sob o argumento de “sigilo da fonte”. A priori ela é “honesta”. Às vezes, mentiras deslavadas, em situações que pequenas informações transformam-se em acusações escandalosas, tornam-se manchetes bombásticas, que após cair no senso comum espalha-se tal qual rastilho de provas, e as deduções assumem forma de provas incontestes. Como nas caças às bruxas, a histeria coletiva assume a proporção de ato condenatório e dissemina-se de maneira descontrolada, saindo de especificidades – em casos em que verdadeiramente há crimes – para condenações não mais dos políticos envolvidos, mas de todos os políticos, e, o que é pior, da própria política. Paradoxalmente, torna-se uma arma política.
A generalização cria uma crescente aversão à atividade política e deixa um vazio que não pode ser preenchido, causando uma situação que abre a possibilidade de ascensão de governos cada vez mais reacionários, “caçadores de marajás”, e indivíduos que se escondem por trás de um discurso que foi construído pela estratégia da desilusão. O povo, revoltado, sai da situação de agente de transformação progressista e constitui-se em massa de manobra, contribuindo para o aparecimento de regimes totalitários e fascistas. O discurso hipócrita pode, dessa forma, sagrar-se vitorioso, muito embora não o seja a população.
Tudo isso é devidamente planejado e tem um objetivo definido, a construção de um país que atenda aos interesses corporativos midiáticos e de uma estrutura de poder conservadora que represente a ganância de grandes corporações, principalmente aquelas vinculadas principalmente aos Estados Unidos. Por isso, sempre, a difusão de um permanente provincianismo, de eterna valorização do estrangeiro e de desmoralização dos valores nacionais.
A capa da revista Veja desta semana representa, em essência, essa calhordice dos trópicos e o saudosismo de épocas de trevas políticas e de falta de democracia. Na medida em que histrionicamente busca confundir a opinião pública, com o intuito de ver-se livre das investigações que a colocam na mesma cachoeira de lamas que há um mês foi descoberta pela Polícia Federal. É sintomático o fato de essa ter sido uma investigação que não foi antecipada pela mídia, simplesmente porque quem estava sendo investigado era sua própria fonte, e ela própria, essa mídia pode se constituir em ré no processo, na medida em que estabelecia uma relação imoral, amoral, antiético e cúmplice, em um esquema mafioso que se apresenta com tentáculos surpreendentes. E, creiam, não atinge somente a Veja.
Mas as lorotas da Veja deixariam, caso vivesse nos dias de hoje, o nosso personagem citado no início do texto, o Barão de Munchausen, como um reles contador de histórias. Ele próprio, talvez não se desse mais ao ânimo de prosseguir com seus contos fantásticos, se envergonharia de ver como a concorrência se beneficiava de certa falta de massa encefálica em leitores descerebrados e alienados, mas que juram serem dotados de capacidades midiáticas investigativas. Fica a dúvida: será que daqui em diante, com a decisão do STF em permitir o aborto nos casos de anencefalia, diminuirá o número daqueles que acreditam nas lorotas da Veja?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

IMPERTINÊNCIAS!!!

***
Meu "espírito" ateu não se contém, e ri desabridamente quando vejo algumas frases religiosas expostas em veículos que circulam nas ruas. Alguns bem caros e sofisticados. “Este foi Jesus quem deu", ou: “foi deus quem me deu”. Não imagino até que ponto as pessoas são ingênuas, ou que tipo de mensagem tentam transmitir. São coisas bobas para mim, quem sabe importante para outros. Mas que importância teria isso? Pode ser uma tentativa de demonstrar ser um “escolhido”, ou “predestinado”, algo como para se enganar. Pode ser também uma forma de “desapego”, quem sabe? Seria aquilo um objeto de propriedade divina?
Mas deixemos para lá essas frases engraçadas, e vamos refletir sobre coisas mais sérias. Por exemplo, sobre a necessidade de transformar esse mundo.
Então vamos prá luta, se queremos mudar. Ou nos tornamos monges e monjas, e aí nos limitamos a uma vida contemplativa e reflexiva... E dane-se o mundo.
Quero refletir sobre esse mundo danado, sobre esses hábitos escabrosos, sobre essa cultura mudana, sexista e hipócrita. Sobre como nos traímos até mesmo quando tentamos uma contracultura (e aí vem o mercado e... crau!, transforma a cultracultura em mercadoria), Então não há saída? Claro que sim, várias. Esse é o problema. Até fumar uma maconhazinha, ou cheirar uma pedra de crack é uma saída... Mas ao mesmo tempo a entrada em outros mundos. Quem tá dentro pensa que é o paraíso, quem tá fora vê naquilo um inferno.
Não gosto desta palavra “descarrego”. Lembra-me essas igrejas fundamentalistas, neopentecostais, que se aproveitam das desgraças, dilemas e fragilidade do ser humano para enriquecer alguns oportunistas.
Também não gosto da palavra ÉTICA. Tornou-se suja na boca de uma mídia enlameada, interesseira, conservadora e hipócrita. E dos seus sequazes, falsos, moralistas de araques. Embora seja preciso sempre retornar ao seu valor ontológico. Coisa para os filósofos.
No tempo de meu pai, que recusou um Cartório oferecido por um governador da Bahia para que ele mudasse de partido (ele foi vereador por 16 anos), a palavra que eu me acostumei a ouvir dele era HONESTIDADE. E essa é a palavra. Ele morreu pobre, mas criou seus seis filhos honestamente. Cheio de defeitos, claro, e com muitas virtudes. Mas, acima de tudo: HONESTO. Já minha mãe, tão honesta quanto ele. Mas com mais virtudes. E somente a religião a lhe embalar os sonhos, as crenças, que ajudou no meu caráter. SUA crença, SUA fé, SEUS valores, moldaram nosso caráter. Isso está no coração, mas se apreende desde cedo. É assim mesmo, APREENDE, pois não basta aprender, é preciso assimilar e carregar esses valores no fundo do coração, a sete chaves.
Honestidade que, para mim, não diz respeito somente ao lidar com o patrimônio, com o dinheiro, porque é somente nisso que pensamos. Mas em sermos coerentes, sinceros, justos em nossos julgamentos, desprovidos de vaidades e veleidades.
***
Uma luz por dentro é uma pedra de césio que foi engolida por um pobre indivíduo desinformado. A luz brilha por dentro, mas impede de iluminar a escuridão que nos cega por fora.
Não sei o que acontece. Mas às vezes acordo meio "amargo". Não são pelas lembranças e saudades, essas sempre vêm quando me deito. Talvez porque logo cedo fico a ouvir as notícias... Mas prefiro ouvir, me indignar, ser chato nessas palavras, a ficar alienado. Afinal, tão estressante quanto ouvir essas notícias é ter que ouvir as músicas chatas desses cantores midiáticos. Sertanejos, axés, gospels, funks...
Fecham-se as cortinas...
***
Prossigo tendo em mente uma dupla direção... absorto, me imagino entregue aos meus pensamentos, negociando com meus botões o que fazer num fim de tarde modorrento, na sequidão do cerrado. Ou, como nos mês de março, nas enxurradas “capitais”.
O que fazer diante de uma encruzilhada?
Para um lado segue um caminho que me leva à sofisticação dos barzinhos e lanchonetes da moda, às livrarias donde posso degustar uma leitura livremente, tomando um café expresso, em um clima ambientalizado por um ar condicionado gostoso. De pessoas benfazejas, em sua maioria, mas vaidosas e egoístas. Estas vivem suas vidas mundanas, mas satisfazem-se sentindo que o mundo é aquele onde ela está e ali se encontra a plena felicidade.
No outro caminho a direção tomada nos leva a uma favela. De palafitas, suponhamos, pode ser uma Brasília Teimosa, por exemplo. De lugares lúgubres, sujos, fétidos, onde mesmo assim as crianças alegres brincam em meio aos restos de bostas e carcaças de animais, carniças jogadas ali há tempos pelas mesmas pessoas que ali habitam. As barriguinhas dos moleques carregam uma multidão de vermes que não os deixarão crescer. Muitos morrerão antes de completarem cinco anos. Mas também, se crescerem, boa parte morrerão antes dos 25 anos. E se passarem disto terão vividos em função de um mundo real de cuja realidade eles não gostariam jamais de ter frequentado. Mas sonham o tempo todo com outro mundo. E se apegam às imagens divinas para que algum dia as coisas possam mudar. Ou quem sabe, outra vida... depois da morte... E são felizes, pelo que acreditam, e pela crença de que em outra vida serão recompensados... e deles será o reino do céu.
À minha frente um mundo diferente. Situado entre um e outro mundo. Um mundo que nos mostra como são os mundos. Ali, entre muros invisíveis, aprendemos a entender esses mundos, seus mecanismos de funcionamento, suas desigualdades, e em que elas estão fundamentadas. E percebemos que nada acontece por acaso nem por obra de um criador. Aliás, o criador é a própria criatura. Ou, mesmo percebendo tudo isso, nos tornamos diletantes, e sentimos a felicidade nos invadir por sermos capazes de nos tornarmos tão sensíveis, mas ao mesmo tempo carregados de uma brutal insensibilidade. Tornamos-nos invisíveis, mas aparecemos para nós mesmos. E somos felizes por isso.
Este mundo, de saberes visíveis e invisíveis nos coloca para fora mais cedo ou mais tarde. Inevitavelmente. Para o mundo real.

***
De volta à encruzilhada. Que caminho seguimos? Onde está a felicidade? Quem é mais ou menos feliz? O que é ser feliz? Seguimos cada um de nós para a beira do rio, pescar, e ver o tempo passar... Prosseguimos nossa vida de diletantismo, de reflexões sobre a beleza das estrelas, cantamos a música de Louis Armstrong e enfatizamos para nós mesmos que este é um mundo maravilhoso... Passamos na livraria com ar condicionado ou nas novas temakerias para reforçar nossa vaidade intelectual... Ou vamos meter o pé na merda para saber como o povo lida com "aquela felicidade"?
Quem é mais ou menos felizes nesse mundo de tantos deuses injustos que insistem em manter o mundo desigual?
Às vezes alguns me chamam de católico enrustido, ou de ateu prá inglês ver. Vou falar claramente, e sei que muitos dos que lêem, “crêem”! Não consigo acreditar em algo que não seja perceptível, visível, real. O nome que se dá a isso é ATEU. Mas o fato de ser ateu, cristão, muçulmano, budista, adventista, macumbeiro... e etc, etc, etc, não tem nada a ver com caráter, sensibilidade, bondade... o que seja. Cada um pode ser o que é à sua maneira, o que vai definir seu caráter é o caminho que escolher. Gosto muito desta frase, do filósofo Heráclito de Éfeso: o caminho de um indivíduo é o seu caráter. Ela transmite um sentido dúbio.
E não há somente as pessoas de bom caráter e as de mau caráter. A não ser que sejamos maniqueus, e não consigamos enxergar outras possibilidades para definir a maneira como nos portamos diante do mundo. Porque nós erramos e acertamos permanentemente. Somos capazes de gestos de enorme grandeza moral, mas podemos também cometer canalhices. Orar, rezar, não apaga o que fizemos, só nos deixa tranquilos para “pecar” novamente.
Não é bem o mundo que é metafísico. O mundo tal como existe foi criado pelo ser humano e está impregnado de visões metafísicas, pois esta é a melhor condição para deixar as pessoas inertes, passivas, dominadas, entregues às fantasias que elas imaginam ser delas, mas que são oferecidas por aqueles que constroem este mundo seguindo seus objetivos. Sim, porque este mundo, que não é metafísico, é real, adquiriu esta condição por ter sido arquitetado e edificado segundo determinados interesses.
O que se constrói daí, metafisicamente ou não, decorre de tudo isso. Fantasias, sonhos, deuses, demônios, mitos, celebridades. Nossa formação está umbilicalmente ligada a tudo isso. A um mundo que incorpora as suas próprias contradições e as transformam em mercadorias.
***
paisagismobiodinâmico.blogspot
Falemos do prazer bucólico. Isso que é a felicidade para alguns, quem já a viveu, e para mim, que mesmo interiorano nunca fui roceiro, infelizmente. Todo esse prazer, que queremos ter algum dia, essa fantasia de nos reencontrarmos com a natureza, também virou negócio. O que antes era natural virou artificial. E nós, daqui, nos especializamos também nisso. Como dizia Milton Santos, não há mais natureza natural.
Quanto às certezas, não as temos. Embora tentemos sempre transmitir a impressão de que o que falamos é o definitivo. É o definitivo... até que alguém prove o contrário. E isso, inevitavelmente, sempre termina acontecendo. Porque o que dizemos, o que sentimos, é condicionado pelo momento, o lugar e as circunstâncias. Quando me refiro à noção de felicidade quero dizer exatamente isso, cada um vai se sentir feliz sob determinada circunstâncias, mas sabemos que isso não é definitivo. Sabemos dos ditos populares que falam: "depois da tempestade vem a bonança", ou de que "quando a coisa tá boa demais é sinal de que alguma desgraça vai acontecer". Ou seja, as condições objetivas de cada momento é que vão definir o que significa sentir-se feliz, está satisfeito com a condição dada pelo mundo não somente para si, mas para sua família.
Eu não sou feliz. Sou uma pessoa alegre, animada, enturmada, às vezes mal humorada, já sofri na vida dores profundas, mas não mais do que milhares de outras pessoas. Amo as pessoas que me amam, ignoro as que não gostam de mim. Sei que devo aproveitar, sempre, o momento que nós vivemos da melhor maneira possível (carpe diem!), mas não sou egoísta. Meus momentos alegres são entrecortados com visões terríveis das condições em que vivem milhares de pessoas. Olhando para elas posso me considerar uma pessoa feliz? Mas não vou fazer voto de pobreza, e deixar de sonhar com meu sitiozinho confortável, com internet e wireless para ler o que eu quiser deitado numa rede. Algum dia materializo isso.
Isso não são certezas. São convicções. E o meu amargor vem da impossibilidade, como D. Quixote de La Mancha, de encontrar mecanismos verdadeiramente adequados para lutar por tudo isso, ou contra tudo isso. Daí, às vezes a amargura, a angústia... mas sei que nada do que está aí é eterno. Ou, como diz o poeta, “é eterno enquanto dure”. Inclusive nós mesmos.
Carol, com 8 anos de idade. Saudades!
Cabe a cada um a iniciativa de buscar esses caminhos, ou seguir com a construção adequada aos vários significados que vamos dando, de acordo com a escolha de vida que fazemos, ou das direções que na encruzilhada optamos por seguir. Ou – o que não é uma escolha – como lidamos com as tragédias que o acaso produz e determinam que, independente dos caminhos que existam à nossa frente, superar as adversidades é parte do cotidiano da vida. Assim é o que acontece, vivemos para superar adversidades.
É verdade. Temos deus dentro de nós. Ele está no coração de cada um. Ou melhor, pode estar. É dele que emanam todos os sentimentos. Então, o que temos não nos foi dado, foi conquistado. Ou, às vezes, tomado, arrancado.
E o coração pulsa, acelera seus batimentos no ritmo da intensidade emotiva: ódio, amor, inveja, raiva... saudades! “Bate, bate, coração, dentro desse velho peito, você já está acostumado a ser maltratado a não ter direito”.
Na vida são muitas as impertinências. Mas ser impertinente é meio chato. Entendam como um desabafo, uma contrariedade com a vida e na aversão a como os deuses que criamos constroem um mundo desigual e acomodado. E de como nos desiludimos no caminhar dessa vida com as perdas que arrancam pedaços no coração. É nele que se encontra o poder da divindade, o sentimento do mundo, a frustração da dor, a angústia da impotência humana diante da irreversibilidade da morte. É dele que em alguns momentos extraímos um pouco da nossa impertinência.
“Mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção, o que importa é ouvir a voz que vem do coração”!
É ele quem comanda nosso cérebro.
“As águas deságuam para o mar, meus olhos vivem cheios d´água, chorando, molhando o meu rosto de tanto desgosto, me causando mágoa. Mas meu coração só tem amor, e amor tivera mesmo pra valer, por isso a gente pena, sofre e chora coração... E morre todo dia sem saber.”
Às vezes, em alguns momentos, cada um de nós se torna um pouco (ou muito) impertinente.
Esse é o meu momento. Mas...
“Bate, bate, bate coração, não ligue deixe quem quiser falar. Porque o que se leva dessa vida coração, é o amor que a gente tem pra dar”


Músicas citadas nessa crônica: