Imagem: Fenafar |
O momento que
atingimos, em termos do desenvolvimento humano, e de ações antrópicas sobre a
natureza, pode ter chegado a um ponto da curva de difícil retorno, a depender
do tempo para reação. A aceleração marcante das inovações e transformações
geradas por um novo ciclo do capitalismo, na virada do século XX para o XXI,
indicam uma destruição imponderável do nosso ecossistema. Saímos, séculos atrás,
da situação em vivermos numa sociedade contemplativa, teocêntrica, e avançamos rapidamente
para um novo mundo onde a criatura humana se tornou ela própria deus de si
mesma, e justificou o mito da religião ocidental, da representação divina como
correspondente a figura humana. Mas o “homo-deus”, na expressão de Yuval
Harari, suplantou qualquer poder divino, porque este é abstrato. Na concretude
de seus atos, e do racionalismo que imperou na lógica antropocêntrica, cada vez
mais, nos deparamos com uma rapidez estonteante nas técnicas, nas ciências, no
desenvolvimento tecnológico e na facilidade de comunicação. Tornamos o tempo refém
de nossos desejos, mas foi preciso nos acelerarmos pela imensidão de objetos
que criamos e precisamos nos adaptar. E buscamos criar inteligências
artificiais que podem nos superar em capacidade de construção de novos meios e
formas de “vida”. Caminhamos para fazer de nós mesmos seres obsoletos, em
essência.
Esse destino que tem
sido construído a partir da obsessão por ganhos financeiros e pavimentou uma
lógica sistêmica que sobrepõe a busca pelo lucro incessante, desvalorizando a
vida e impondo pela ganância, que mecanismos de governanças determinem os
custos da vida humana pelos padrões dos gráficos e algoritmos que dominam os mercados
financeiros e o viés neoliberal da economia. A guerra, a disputa ao extremo
pela riqueza, as estratégicas frias e calculistas para se obter ganhos a qualquer
custo, tornou um dos clássicos da estratégia, o livro “A Arte da Guerra”, de
Sun Tsu, escrito há mais de dois mil anos, como dos mais consumidos por
administradores, CEOs de grandes empresas e os que lidam com grandes negócios.
É um livro que se encontra mais nas prateleiras dessas áreas, do que no interesse
dos estudiosos de História e Geopolítica, onde ele deveria estar.
Assim, atentos a
esses processos, torna-se mais fácil entender as perigosas escolhas feitas pelos
governantes em suas políticas e em quais setores estratégicos se investem mais,
ou menos. As consequências batem à nossa porta, às vezes em forma de
microrganismos difíceis de serem identificados e, principalmente, combatidos.
Chega a hora, então, de escolher quem dentre os humanos serão sacrificados. A
análise, pura e simples, dos mecanismos de funcionamento do sistema
capitalista, nos dá facilmente essa resposta.
Imagem: Irgur.com |
As decisões políticas
de um governo sobre ações, por exemplo, que afete a nossa biodiversidade de maneira
extrema, sucumbindo à aceitação da devastação da natureza, por omissão ou por
política deliberada, causa, inevitavelmente, reflexos e consequências
devastadoras por toda uma cadeia de relacionamentos que nos conectam em fluxos
complexos mas que estão umbilicalmente ligados. Há um equilíbrio natural que
comanda a vida em nosso planeta, nos mais diversos biomas e ambientes
diversificados que se espalham pelo globo terrestre. Qualquer quebra nesse
equilíbrio afeta em um efeito dominó sequencialmente uma diversidade enorme, de
seres vivos que se completam até mesmo nas suas incompatibilidades.
Para não discorrer
muito nessa direção, basta citar o mal que se faz atualmente o uso descontrolado
de agrotóxicos com alto poder de destruição sobre diversas espécimes, que tem
afetado abelhas e, por consequência, impactado fortemente no processo de polinização
de plantas, levando a ocorrência de desaparecimento da flora, e a própria
dizimação das abelhas. Isso é indescritível para compreensão da dimensão que
atinge esses processos danosos e devastadores. Imaginemos o quão destruidor é o
desmatamento de matas e florestas, de destruição de biomas, e os desequilíbrios
causados pela ausência de populações mais variadas de seres vivos, desde microrganismos
até animais e árvores de grande portes. Deixamos de ser o que sempre fomos e
construímos um mundo esgotado em termos de biodiversidade, de descontrole
socioambiental e onde a ausência de predadores naturais de diversas espécies
podem levar, e estão levando, a um ambiente totalmente descontrolado.
As cidades, por
seus entornos destruídos, empurram espécies silvestres para convivência com
seres humanos já debilitados em termos de capacidade imunológica, pelo
afastamento com a natureza e pela vida em um ambiente disseminador de doenças
pela absoluta ausência de estruturas adequadas de saneamento. A água, fonte da
vida, torna-se um importante vetor de transmissão de doenças e geração de
organismos destruidores, que afetam com destaque crianças e os mais velhos, mas
não deixa ninguém imune. Principalmente os mais pobres, que representam a
maioria da população mundial, e em alguns países correspondem a dois terços de
suas populações.
Ter a dimensão
dessa realidade é fundamental para compreendermos as decisões sobre os
investimentos estatais, e para onde eles serão alocados. O que temos vistos nos
últimos anos, embora tenha crescido muito fortemente as pressões sobre governos
e governanças mundiais e nacionais, é uma negligência de atores principais,
porque administram grandes nações ou aquelas mais poderosas economicamente. Uma
absoluta falta de consenso sobre o que deve ser prioritário, e a necessidade de
preservar o que ainda resta de uma natureza terrivelmente atingida pelas ações gananciosas
de grupos insensíveis e insensatos, mas com objetivos claros e definidos na
linha especificada anteriormente.
Imagem: Câmera Record |
Entro aqui no elemento
principal, objeto desse artigo: a saúde. Sabemos, e já abordamos isso em textos
anteriores, que a cidade se tornou o polo atrativo no interesse do desenvolvimento
de um sistema produtor de mercadorias. E essas se realizam, são produzidas, e
circulam majoritariamente nas cidades. Os mercados consumidores
exponencialmente cresceram a partir do desenvolvimento acelerado das cidades.
As condições de vida, no entanto, não acompanharam o processo de urbanização. A
utilização da mão de obra assalariada, cada vez mais disponível à medida em que
as pessoas deslocavam-se do campo para cidade, beneficiava os proprietários dos
meios de produção, e os baixos salários pagos se refletiam no crescimento de
periferias, e nessas de bairros desprovidos de infraestruturas adequadas,
principalmente sanitárias, com falta de água, higiene e saneamento básico. A
pobreza se tornou uma doença, que potencializava a disseminação de outras
doenças crônicas transmissíveis ou não-transmissíveis, endêmicas, epidêmicas, metabólicas
etc. Seja ligada ao estilo de vida urbano ou às condições sanitárias inadequadas.
Mas como o Estado passou a lidar com essa situação, de uma população
fragilizada pela miséria, e que aumentava junto com as cidades, de forma desordenada
e descontrolada?
O século XX, já vimos,
passou por momentos cruciais, que exigiram do Estado a intervenção necessária
para conter surtos epidêmicos ou crises econômicas graves, depressivas. Em cada
um desses momentos o desafio principal foi como lidar com um número muito
elevado de pessoas que viviam em condições de vida miseráveis. Foi preciso uma
forte intervenção estatal para recompor empregos e ganhos salariais que
garantisse a essa população consumir numa escala que viesse a tirar o sistema
da crise, em função de paralisação da economia, nos dois cenários citados. A
Europa agiu acertadamente, com base na aplicação de políticas keynesianas e com
forte incremento financeiro a partir do Plano Marshall. Instituiu-se, assim, o
que ficou conhecido como “Welfare State”, ou Estado de Bem-Estar Social. Naturalmente
existia o interesse do bloco capitalista em demonstrar que havia também em seus
interesses uma preocupação com as questões sociais, a fim de se contrapor no
âmbito da guerra fria, ao socialismo representado pela União Soviética.
A Globalização, ou
Mundialização, traria outras concepções, a partir da crise dos países
socialistas, e da subjacente crise do sistema capitalista. Intensificou-se um
outro viés na economia e uma inversão na maneira como o Estado até então agia,
no sentido de manter a economia sob controle a partir da necessidade de
garantir aos cidadãos o pleno emprego e níveis salariais que tornassem seus
estilos de vida compatíveis com segurança social, saúde e educação.
A partir de então
tornou-se mantra o discurso de retirar as amarras que os estados impunham as
empresas. A desregulamentação da economia tornou-se o novo objetivo a ser
alcançado, para limpar o caminho de controles que continham as possibilidades
de ganhos, e, consequentemente impediam que as empresas pudessem crescer e
oferecer melhores oportunidades àqueles trabalhadores mais capacitados, num
mundo marcado pela necessária especialização em setores importantes que surgiam
e se tornavam motores do crescimento. Um novo processo da revolução tecnológica
capitalista se impôs, agora alimentando mais fortemente a ganância, erigida ao
patamar de quase divindade, e apregoada como algo essencial para o
desenvolvimento.
Essa nova valorização
da ganância se tornou marcante em um filme clássico no final dos anos 1980,
época em que começava a se desconstruir o estado de bem estar social na Europa
e EUA: Wall Street – Poder e Cobiça, no discurso expressado pelo personagem
central, um megainvestidor Gordon Gekko:
“A questão é,
senhoras e senhores, que a ganância — na falta de uma palavra melhor — é boa.
Ter ganância é certo. Ter ganância funciona. A ganância esclarece, separa e
captura a essência do espírito evolucionário. A ganância, em todas as suas
formas — ganância pela vida, pelo dinheiro, pelo amor, pelo conhecimento —
marcou a evolução da humanidade. E a ganância — lembrem-se de minhas palavras —
irá salvar não apenas a Teldar Paper, mas aquela outra empresa chamada Estados
Unidos da América. Obrigado.”[1]
Essa redução da
influência do papel do Estado na economia abriu caminho para um mais forte
protagonismo das empresas, grandes corporações, em atividades antes controladas
e, cujo objetivo, era garantir as condições básicas para que as pessoas fossem
respeitadas em seus direitos de cidadania. Naturalmente o foco dessas empresas
seriam aqueles setores caráter estratégico, e com maior demanda no mercado e
potencial de crescimento pela incorporação de novas tecnologias.
Um desses setores,
que pela própria característica da urbanidade teria um forte potencial de
investimento e retorno lucrativo, era a indústria da saúde, principalmente a
farmacêutica. Alguns países, pela própria característica de suas democracias,
com uma maior e mais efetiva participação da população em reivindicações e na
garantia de seus direitos, foram forçados a manterem muitos mecanismos
conquistados no Walfare State, e a garantir proteção à saúde das pessoas, por
meio de seguros ou planos bancados pelo Estado de forma universal. Evidente que
com o tempo e as transformações geradas pela economia muitos desses serviços
foram terceirizados, embora pleno e quase gratuito, eram administrados por
empresas que recebiam do Estado para isso. Os modelos foram se diferenciando,
mas em muitos países europeus se manteve o atendimento às pessoas à saúde como
direito de cidadania.
Mas nos EUA isso
se deu de forma diferente. A radicalidade gerada pela guerra fria opunha
qualquer mecanismo de atendimento à população que pudesse ser caracterizado
como controle do Estado. As vozes ultra-conservadoras elevavam o tom de seus
discursos e atacavam essas propostas como sendo de caráter socializante. Evidente
que por trás disso estavam interesses de grandes corporações farmacêuticas, de
empresas que começavam a despontar com força na administração hospitalar e que
aliavam essa atividade com a venda de planos de saúde, apresentadas como eficientes
na proteção da vida.
Esse forte poder, que
emergiu com muita força e se impôs, escondia uma perversidade que traria fortes
consequências. O interesse econômico e a ganância presente na forma como esses
planos de saúde se estruturavam desrespeitavam, assim como continuam fazendo
até nos dias de hoje, a condição dos indivíduos em momentos em que suas vidas
estavam necessitando urgentemente de internações hospitalares ou de
acompanhamento de doenças crônicas. Isso foi muito bem abordado pelo cineasta estadunidense
Michael Moore, no documentário premiado em 2008 com o Oscar, “Sicko – SOS Saúde”.[2]
Moore usa uma linguagem
bem típica em seus documentários, onde mescla a crítica ferina ao estilo de
vida “americano” (american way of live) com fortes ironias. Mas ele consegue
construir bem a crítica ao sistema de saúde naquele país, e o forte discurso
conservador que se impunha e se impõe, por meio de lobbies no Congresso e de
uma política agressiva das corporações farmacêuticas. Em trechos onde percorre
outros países, cujos sistemas de saúde são mais abrangentes, protecionistas e
gratuitos, como Canadá, Reino Unido (cujo modelo em parte foi copiado para a
constituição do Sistema Único de Saúde – SUS – no Brasil) e França na Europa; e
Cuba, na América Central. Neste último, a exposição de como os prisioneiros da
prisão de Guantánamo eram atendidos, com maior proteção e atenção que os
estadunidenses que haviam participado dos resgate de corpos no Wall Trade
Center, e não conseguiam ter um cuidado em suas saúdes protegidos pelo Estado,
pode ser questionado pela forma como Moore se manifesta, mas o objetivo, creio,
era demonstrar uma incoerência com a maneira como o governo de seu país tratava
o seu povo. Em Cuba, Moore mostra um sistema de saúde com outro viés, não
curativo, mas preventivo, e oferecido de forma universal e gratuita para a população.
Mas em relação à
Europa alguns elementos de como isso passou a funcionar após a década de 1980,
principalmente na segunda década do século XXI, não foram abordados, como o crescente
processo de terceirização. E, até pela data em que o documentário foi
produzido, não estão contempladas as mudanças que se tornaram constantes em
diversos países, reduzindo os direitos de atendimento à saúde, previdenciários
e de aposentadorias. Essas tem sido as principais batalhas que têm levado às
ruas centenas de milhares de pessoas, principalmente na França, só contidas
pela disseminação da Covid19.
As propostas dos
governos tem sido de reduzir os impactos causados pelo que eles consideram “gastos”
excessivos e rombos gerados por um desequilíbrio devido a um envelhecimento da população
e à estagnação do crescimento demográfico. Esses são argumentos usados
praticamente em todos os países que, após a crise de 2008 tiveram que lidar com
forte déficit causado pelo custo de ter que intervir naquele momento para salvar
os bancos e o sistema financeiro da bancarrota. Ao fim, e ao cabo, a corda
quebra para o lado mais fraco, a não ser naqueles países que conseguiram
realizar grandes manifestações populares e greves nacionais.
Nos EUA, em nenhum
momento se consolidou um modelo padrão de atendimento à saúde que fosse
universal e gratuito. Apesar de alguns programas voltados para atendimentos
básicos às camadas mais pobres, isso não atingia o acompanhamento a doenças de
alta complexidade. Aliás, algo que também terminava não ocorrendo em grande
parte dos que possuíam planos de saúdes, que lá funciona de forma diferente. O
paciente precisa ser atendido e depois os seus gastos serão restituídos pelas
empresas, na maioria dos casos. Às vezes isso não acontece, porque determinadas
enfermidades não são identificadas como incluídas nos contratos, levando a
situações de falências pessoais ou de necessidade em se desfazer de algum bem
para cobrir os custos hospitalares ou dos altos custos dos medicamentos.
Mais recentemente,
após proposta de Barack Obama, em 2010, em criar um sistema de saúde que
possibilitasse a todos um atendimento amplo e de caráter estatal, uma vez que
cerca de 40 milhões de pessoas não possuem nenhum tipo de atendimento médico,
gerou uma forte disputa com os setores conservadores, resgatando comportamentos
radicais semelhantes aos que existiam durante a guerra fria, com acusações de
ser um projeto estatizante e socializante. Obama passou a ser visto como
defensor do Socialismo, em função dessas propostas. Apesar de aprovado o “Obama
Care” como ficou conhecido, ou “Affordable care act” (Lei de Assistência Acessível)
se tornou foco de uma forte disputa entre democrata e republicanos, até ser
deformado por ação da justiça. Com a eleição de Trump o “Obama Care” foi mais
ainda atacado, o que já estava acontecendo mesmo durante a campanha, e sua
derrota se tornou uma das principais bandeiras do governo Trump.
Na essência, e de
forma cruel, o que identificamos é a mais clara mercantilização da vida. O que,
em verdade, tem acontecido nas últimas décadas, no âmbito de uma globalização
perversa, é a ganância em sua forma mais acentuada, e, após a desregulamentação
da economia a partir da década de 1990, uma transformação radical com
praticamente todos os setores, inclusive aqueles onde o Estado ainda dava
alguma cobertura social, sendo objeto de cobiça de grandes corporações. O
adoecimento se espalhava celeremente em uma sociedade onde a cobrança por
resultados e competências se davam de forma agressiva. O stress e a angustia
potencializavam os sintomas de diversas outras doenças e elevava os riscos nas
vidas das pessoas, impondo a elas o uso de alguma forma de droga, ou
medicamento, que as fizessem lidar com as cobranças em um mundo onde o
desemprego se acentuava e a meritocracia se impunha acentuando os
desequilíbrios sociais.
No entanto, o
outro lado dessa moeda, se fazia transparecer de forma mais nítida. A pobreza
enfraquecia uma enorme população, desprovida de atendimentos básicos à saúde e
vivendo em condições insalubres e miseráveis. Nesses ambientes a disseminação
das doenças se alastrava rapidamente, ceifando vidas de crianças recém-nascidas
e reduzindo o tempo de vida. Embora essas condições gerassem também altos
custos ao Estado, a insensibilidade e a frieza daqueles que controlam a riqueza,
termina por fazer surgir uma nova nomenclatura na abordagem e entendimento da
política que negligencia a vida dessas pessoas pobres, malnutridas, idosas e
que possuem doenças crônicas: a necropolítica. Afinal, suas mortes não seriam
mais do que estatísticas em uma conjuntura que retirava dessas pessoas as
mínimas condições de sobrevivência, por meio da exclusão de seus direitos a
viver com dignidade e na velhice.
De dois modos o
mundo se transformou e nos levou para situações como de pandemias como vivemos
nos dias de hoje. Por um lado, a destruição dos biomas e de suas biodiversidades
causou um forte impacto no equilíbrio ecológico, fazendo com que animais
silvestres invadissem as cidades em busca de recolhimento e alimentação, e
dessa forma trouxessem consigo vírus e bactérias potentes, com nossos
anticorpos sendo incapazes de contê-los. Dentre outras coisas que são
agravantes nessa nossa relação com a natureza, em parte citada no início desse
texto.
Por outro lado as
condições de vida nas cidades, com uma alta taxa demográfica e populações concentradas
em cinturões de misérias em megalópoles com milhões de pessoas, em sua maioria
vivendo em condições precárias e em meio a todo o tipo de podridão causada pela
ausência de proteção do Estado e planejamento que ordenasse suas habitações e
garantisse um mínimo de saneamento básico e água tratada.
Muito se diz atualmente
que o mundo não será o mesmo depois dessa pandemia. É na verdade um sofisma.
Porque “tudo muda o tempo todo, no mundo” (Lulu Santos). Vivemos em uma
escalada de transformações e de mudanças, que nos dias atuais assume uma
aceleração gerada pelos avanços tecnológicos, mas que determinam um novo tempo,
marcado por fortes ações antrópicas, que serão determinantes no que alguns
estudiosos já falam da “sexta extinção”, com o desaparecimento de uma quantidade
muito grande de espécies, da fauna e da flora, que nos afetará sobremaneira, a
partir do que já se evidencia nos grandes eventos climáticos extremos.
As transformações
só advirão no sentido desejado àqueles que tem juízo e desejam a manutenção da
harmonia ser humano-natureza, se houver uma mudança na lógica como o mundo está
sendo governado. As desigualdades sociais, as diferenças existentes nas cidades
e a destruição do ecossistema são os pontos cruciais que precisam ser atacados com
políticas que sejam absolutamente contrárias àquelas que estão sendo implementadas
por governantes de países que até então se constituem em empecilhos para a
construção de um futuro mais harmônico e de respeito à vida humana.
O Covid19, por si
só, e mesmo com a imensidão de mortes que ela carrega, não significará nenhuma
postura sensível, ou de virada na política desses países e do conservadorismo
que os conduzem. Será necessário muito protagonismo das pessoas que se guiam
pela ciência, pelo sentimento de solidariedade e pelo desejo de construir um
outro mundo, onde a cobiça e a ganância sejam substituídas pela resiliência e
cooperação.
[2] Sicko – SOS Saúde. Dirigido por Michael
Moore, 2007.
REFERÊNCIAS:
Ciência, saúde e doenças emergentes: uma história sem
fim
SiCKO – SOS Saúde e a mercantilização da vida
Entenda a reforma no sistema de saúde dos EUA
A desindustrialização também colapsou a Saúde
''Se não mudarmos nosso estilo de vida, seremos
vítimas de monstros ainda mais violentos que este coronavírus''
O discurso de Gordon Gekko, no filme Wall Street
(1987)
Coronavírus não vai mudar a crença de que é possível
vencer a morte, diz Harari
Nenhum comentário:
Postar um comentário