domingo, 29 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE UM MUNDO EM TRANSE – FINAL

UMA GUERRA SILENCIOSA: OS ESPIÕES ENTRAM EM AÇÃO

As condições para uma guerra hoje são extremamente difíceis, muito embora os motivos estejam bem visíveis. Afinal, não basta ter vontade, ou motivos, para fazer uma guerra, não estamos tratando de um jogo de vídeo game. Eu diria que no caso do Irã, a Geografia está a seu favor. Claro que ele não é um país intransponível, mas as dificuldades para atingir o seu território são reais pela complexidade de suas fronteiras. Vejam o atoleiro em que as tropas ocidentais estão metidas no Afeganistão que só tem a seu favor, exclusivamente, a Geografia.  Mas no caso do Irã as condições militares para reagir são infinitamente superiores às desse pequeno, pobre e frágil país.
Mas não é a primeira vez que um grande império se complica nos montes e cavernas afegãos. No século XIX o império britânico passou por situação semelhante, e teve que retirar seus soldados sem atingir seus objetivos. Já no século XX foi a vez da União Soviética, que também permaneceu nesse território por certo tempo, mas abandonou, no momento em que sucumbia todo o seu império. Foi derrotado pelo mesmo Talibã, com o apoio dos Estados Unidos. Desta vez, no século XXI, tem sido a vez dos EUA e das tropas da OTAN.
Considerando a gravidade de uma crise que toma uma proporção cada vez maior, conforme já analisado anteriormente, a decisão sobre o desencadeamento de uma guerra é muito difícil, por mais que na mídia e nos discursos haja uma forte radicalidade. Não que ela não possa acontecer, mas antes disso muito jogo de palavras, sanções econômicas e tentativas de acordos diplomáticos irá acontecer.
Enquanto isso se espalha pelo mundo um verdadeiro exército de espiões. É impossível afirmar com certeza, mas podemos deduzir que nunca houve tanta espionagem no mundo, nem mesmo durante a guerra fria. Tanto para atender interesses dos Estados, como também para desenvolver trabalhos que têm como objetivo coletar informações para empresas sobre as ações de suas concorrentes. A espionagem industrial cresceu muito também nos últimos anos, bem como aquela que busca obter informações privilegiadas sobre as condições de determinada empresa a fim de fazer uso no mercado financeiro, que possibilitam a um mega investidor ganhar milhões de dólares da noite para o dia. Ou agir para derrubar um concorrente.
As tecnologias são instrumentos que garantem uma enorme facilidade para as ações desses espiões. Mas a maior eficácia tem sido através do mais absoluto sigilo de identidade. Personagens múltiplos, que parecem sair dos filmes, mas que na verdade são eles que dão vida real às histórias que nos fazem ver que de fato eles existem. Há uma infinidade de literatura que relatam a vida desses personagens, alguns fictícios, como James Bond (dos filmes de 007), ou Jason Bourne (da trilogia Bourne, cujo quarto filme já está sendo finalizado e será lançado ainda este ano). Personagens cujas histórias são recheadas de disputas políticas, envolvendo altos escalões de seus governos. John Le Carré é um especialista na composição dessas histórias e personagens, foi ele próprio um agente secreto do M16, cuja carreira foi encerrada por ter seu nome divulgado em uma lista de espiões, anunciada por um agente britânico duplo, também a serviço da KGB. Isso pode ser visto no cinema atualmente, com a adaptação de um de seus livros mais antigos, num filme lançado em 2011. “O Espião que sabia demais” traz em seu enredo situações que são vistas como autobiográficas.
Em se tratando de filmes, que nos possibilitam ter uma dimensão do mundo da espionagem, e da capacidade destruidora de suas ações, um que tem sua história baseada em fatos reais mostra a caçada que se seguiu a um dos maiores atentados envolvendo países que são inimigos. “Munique”, de Steven Spielberg, narra todo o processo de caça aos terroristas palestinos, do grupo Setembro Negro, que assassinaram atletas israelenses durante as Olimpíadas de Munique, em 1972. Agentes do Mossad (serviço secreto israelense, um dos mais eficientes), com autorização expressa da então presidenta Golda Meir, iniciaram uma verdadeira caçada por vários países até encontrar e eliminar, um a um, aqueles que participaram desse atentado.
Esses filmes nos ajudam a entender o complexo mundo da espionagem, mas embora dêem um aspecto de espetacularização, o nível de sofisticação tecnológica, de preparação dos grupos e de crueldade na concretização de seus atos, eles são bem mais complicados no mundo real. Somente temos a verdadeira dimensão disso tudo quando alguns desses personagens, que vivem no submundo da espionagem, resolvem abandonar seus afazeres e denunciar essas atividades. Mas elas são por demais tão maquiavélicas e perversas que muitas são vistas como exageradas, até porque aqueles que as denunciam são postos pela mídia, a serviço dos interesses dos Estados, como fontes suspeitas ou desacreditados.
Um exemplo disso é a sequência de livros escritos por John Perkins – “Confissões de um Assassino Econômico” e “A história secreta do império americano” – ex-agente da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, cuja atividade, segundo ele narra, era desconhecida pela própria CIA. Os objetivos de suas atividades era criar dificuldades econômicas para países que não seguissem as orientações dos EUA, se falhasse nesse intuito entravam em ação os “falcões”, cuja função era então eliminar alvos importantes, chefes de Estados, principalmente, que fossem hostis à política estadunidense.
Aliando-se esse exército de espiões que agem sorrateiramente por todo o mundo, com as novas tecnologias e um espetacular esquadrão de satélites de última geração que estão prestes a causar um congestionamento no espaço, torna-se praticamente impossível dizer que alguém está imune ou protegido qualquer que seja o local onde esteja. Um retrato bem feito disso pode ser visto no filme “Inimigo do Estado”, que mostra como a ficção pode nos ajudar a compreender uma realidade que para nós, simples mortais, passa completamente despercebida.
Ainda buscando no cinema os exemplos dessas ações, o filme “Syriana” dá uma demonstração da possibilidade de eliminação de um governante desafeto dos interesses do império. Quando o provável sucessor ao comando de um país rico em petróleo, que se recusava a aceitar as imposições dos interesses corporativos estadunidense, é eliminado a partir dessas sofisticações tecnológicas. Um simples apertar de botão, em um comando situado a milhares de quilômetros de distância, nas instalações de suas agências, permite atingir um inimigo, com o auxílio de satélites, em ações que são vistas ou como acidentais ou atribuídas a grupos terroristas. Também nessas circunstâncias, vale o escrito por Yves Lacoste, “a geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra”. As coordenadas, latitude, longitude, bem como o geoprocessamento e também o georeferenciamento, constituem-se em informações geográficas importantes, pelas quais é possível acertar um alvo com “precisão cirúrgica”, a milhares de quilômetros de distância.
Voltemos à situação beligerante em relação ao Irã. Diante das dificuldades aqui abordadas, seja em função da geografia, da crise econômica ou dos problemas existentes nas outras frentes de guerra, tem sido exatamente essas ações de espionagem que estão sendo utilizadas para impedir que o Irã possa construir armas nucleares. Desde 2010 quatro cientistas iranianos foram assassinados, dentre eles Majid Shahriari, fundador da sociedade nuclear do Irã, morto em 29 de novembro de 2010, por uma bomba magnética colocada em seu automóvel, e, mais recentemente, o cientista Mustafá Roshan, vice-diretor da usina de Natanz, que morreu em situação semelhante no começo deste ano, em 11 de janeiro.

A GUERRA DOS DRONES E A CYBERWAR (GUERRA CIBERNÉTICA).

Além dessas ações de agentes espiões, a tecnologia tem sido aperfeiçoada para contornar situações que eliminem a possibilidade de uma guerra. Os assassinatos seletivos, seja de suspeitos de terrorismo ou de pessoas que possuem importância estratégica em programas nucleares, são antecedidos do uso de equipamentos sofisticados, cada vez mais criados para agir sem serem notados. O intuito desses avanços na tecnologia é colocar cada vez menos soldados ou agentes em condições de serem descobertos, eliminados ou servirem como moedas de troca em situações que podem deixar o império desmoralizado.
Assim, podemos dizer que já há uma guerra em curso. Tanto pelos assassinatos que ocorrem em várias partes do mundo (e foi dessa forma que Osama Bin Laden foi eliminado), como pela ação de aviões cuja tecnologia os tornam praticamente invisíveis. Os “drones”(*), como estão sendo conhecidos, já se constituem não somente num instrumento poderoso, e marginal, de atingir alvos em territórios inimigos, como também estão se tornando o mais novo investimento bilionário da indústria de aviação, mas cuja maioria está envolvida em projetos militares.
Segundo a revista Exame, a Força Aérea dos Estados Unidos estima que ao final desta década o mercado dos drones alcance 55 bilhões de dólares, sendo que 77% dele dominado por aquele país (Revista Exame, 10.12.2012). Esses mais novos objetos de desejo da indústria militar são pequenos aviões não-tripulados,  também utilizados na agricultura para lançamentos de agrotóxicos, mas tem se constituído em uma importante arma para dar localizações precisas aos poderosos satélites, bem como alguns deles são capazes de carregar mísseis suficientes para eliminar suspeitos em qualquer parte do mundo. Uma das características mais importantes desses aparelhos é que não podem ser detectados pelos radares atualmente existentes. Mas, claro, ocorrem de serem localizados eventualmente, como aconteceu no começo deste ano. Um drone, RQ-170 Sentinel, cuja função é o reconhecimento realizado em alta altitude, foi derrubado ao violar o espaço aéreo iraniano. Capturado pelo Irã, certamente esse será desmontado possibilitando assim o conhecimento de sua tecnologia, permitindo a esse país também obter brevemente um aparelho desse porte.
Além dessas duas possibilidades de guerra silenciosa, uma outra estratégia tem buscado na internet condições para desencadear uma verdadeira batalha cibernética. Invasões de sites importantes, como já aconteceu no caso do programa nuclear iraniano, ação atribuída aos Estados Unidos e Israel, também está se constituindo em arma para sabotar projetos importantes de nações inimigas. De outro lado os hackers se reproduzem e agem contra empresas estratégicas, corporações e centrais de espionagem, como FMI e CIA. Em seu discurso de começo de ano, nos EUA, Barack Obama anunciou a redução de investimentos militares, nada que tire esse país do topo da lista dos que mais investem nessa área. Mas o que chamou a atenção foi a manutenção dos gastos, e até em alguns casos ampliação, em setores como a cibernética e as tropas especiais.
Assim, o mundo contemporâneo traz a marca da espionagem, da sabotagem e da cópia em escala planetária. A sofisticação tecnológica criada pela internet tem possibilitado tudo isso, fazendo com que uma enorme indústria de bisbilhotagem seja estruturada para capturar informações importantes e piratear conhecimentos e pesquisas relevantes, principalmente aquelas que possam ser usadas no campo da grande economia e na indústria da guerra. A privacidade dos indivíduos desaparece num enorme big brother planetário. Muitos olham para o céu quando se refere a seu Deus, pois deviam saber que lá do alto somos todos observados pelos olhares cínicos dos satélites. Mas quem nos observam não são deuses, mas tem o poder de vigiar e controlar nossas vidas.
É importante dar ênfase a eminência de uma guerra virtual, talvez já em curso, que envolve o controle da informação através da internet, e de dados sigilosos ou conhecimentos que são considerados de segurança nacional pelos Estados Unidos e outras nações. Mas o controle atualmente da internet encontra-se em mãos estadunidenses, algo que já deveria de há muito tempo ter sido questionado, mas somente agora algumas vozes se levantam, dentre elas o Brasil, para impedir que um país consiga exercer o controle e vigilância sobre o que circula no mundo pelas redes sociais. Recentemente isso se radicalizou, com a tentativa do Congresso dos Estados Unidos aprovar uma lei que impõe um rígido controle sobre a internet, com o pretexto de preservar direitos autorais de interesses das grandes corporações da indústria cultural.
As ações contra o wikileaks, com a prisão de seu fundador e a disputa judicial para extraditá-lo para os Esados Unidos, e mais recentemente a prisão dos criadores do megaupload, numa ação que envolveu a polícia da Nova Zelândia e o FBI, são uma demonstração de que uma cyber-guerra se aproxima. Como resposta vários hackers invadiram alguns sites de governos e personalidades por todo o mundo, inclusive no Brasil, e também do próprio FBI, a polícia federal estadunidense.
Em 2011, um vírus potente, denominado stuxnet, prejudicou o programa nuclear iraniano, e foi denunciado por um grupo de especialistas russos como sendo parte de um pacote de cinco armas cibernéticas, criadas por Israel e os Estados Unidos. Outro vírus, o cavalo de tróia Duqu, conectado ao stuxnet, tem o potencial de causar um enorme estrago afetando programas e roubando dados de pesquisas. Seriam essas algumas das armas conhecidas, mas que já estariam ultrapassadas, uma vez que teriam sido criadas em 2007. Atualmente outras já poderiam ter sido desenvolvidas, com muito mais poder de penetração em programas ultra-secretos.
Tudo isso nos dá uma pequena visão do que teremos pela frente no momento em que as grandes potências se depararem com um fosso cada vez mais profundo, por causa de uma crise sem perspectivas de solução em curto tempo. A eminência de perder espaço para outras nações e deixarem de controlar regiões que possuem importâncias estratégicas fundamentais para a manutenção de hegemonias econômicas e militares, deverão fazer com que mecanismos mais sofisticados sejam também utilizados, com o intuito de praticarem sabotagens e desestabilizarem governos.
Por ironia da vida, mas resultado das contradições que nos cercam e apresentam resultados que nem sempre esperamos, mas que são criadas pelas próprias condições geradas pela maneira como se constroem alternativas para fazer do mundo um lugar cada vez mais lucrativo, a globalização trouxe surpresas desagradáveis para os países centrais da economia capitalista. E o que se vê nessa segunda década do século XXI é o inverso do que se pretendia com o deslumbramento que tomou conta do mundo a partir do final da década de 1980. Países considerados de terceiro mundo, ou subdesenvolvidos, ou na melhor das alternativas, em desenvolvimento, deram um salto significativo, apoiando-se nos investimentos estatais e nas necessidades de abastecer o mundo com alimentos e um comércio diversificado de objetos essenciais no cotidiano da vida das pessoas. A Globalização destruiu a capacidade dos países ricos de geraram empregos para suas populações, na medida em que eliminaram boa parte de suas indústrias com o objetivo de ganhar dinheiro fácil explorando mão de obra nos países mais pobres. Um tiro no pé, e como já disse aqui em outro artigo, usando em seu título a frase de uma música de Geraldo Vandré: “é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dá!” (http://www.gramaticadomundo.com/2011/10/volta-do-cipo-de-aroeira-no-lombo-de.html)
Encerro aqui a “Crônica de um mundo em transe”, mas o que abordei nessas cinco partes forma um mosaico de fatos e situações que não fecham um ciclo que acompanha a crise mundial. Como disse anteriormente, com base no que aprendi do marxismo, a economia é o grande condutor da política, seja local, nacional ou mundial. Se a economia vai bem, não há tantos percalços políticos, por mais que aqueles que fazem oposição desejem que as coisas piorem, como condição para conquistarem o poder. Mas se há uma crise econômica grave, seguramente os distúrbios serão inevitáveis e os desequilíbrios financeiros afetam a ordem política. E quando é constatado que essa crise tem um caráter mundial, é inevitável que as nações que detém hegemonia na ordem geopolítica mundial procurem mecanismos, nem sempre éticos, para garantirem a manutenção do poder em suas mãos.
Então, se o presente é incerto, o que se dirá do futuro, que ainda deverá ser construído sobre os escombros de uma crise estrutural, de um sistema que tem por essência enfrentar permanentemente o dilema de viver das crises e de sobreviver a elas?
Seguimos otimistas, apesar de tudo, e dos interesses gananciosos da burguesia e dos que se aliam a ela, acreditando que o mundo será sempre melhor.



(*) Atualizando: mais um suspeito de pertencer a Al Qaeda foi eliminado por um drone em 09 de fevereiro, no Paquistão: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2012/02/09/aviao-teleguiado-mata-lider-da-al-qaeda-no-paquistao.htm.

http://www.cartacapital.com.br/internacional/porque-os-eua-continuarao-usando-drones/

* 16 pessoas são mortas no Paquistão, em agosto de 2012: http://5dias.net/2012/08/20/avioes-nao-tripulados-drones/

* No Iêmen, dois indivíduos suspeitos de pertencerem a Al Qaeda são assassinados por avião não tripulado, em agosto de 2012 (Drone): http://www.passeiaki.com/noticias/drone-americano-mata-dois-supostos-terroristas-no-iemen

* Em setembro de 2012, cinco suspeitos de pertencerem à Al Qaeda são assassinados por aviões não tripulados: http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2012/09/ataque-no-iemen-mata-5-membros-da-rede-terrorista-da-al-qaeda.html


FILMES CITADOS:
(FONTE: ADOROCINEMA.COM)

1. MUNIQUE

Título original: (Munich)
Lançamento: 2005 (EUA)
Direção: Steven Spielberg
Atores: Eric BanaDaniel Craig, Ciarán Hinds, Mathieu Kassovitz.
Duração: 164 min
Gênero: Drama

Sinopse:
Em setembro de 1972, em meio às Olimpíadas de Munique, um ataque terrorista sem precedentes foi transmitido ao vivo para 900 milhões de pessoas. Um grupo palestino denominado Setembro Negro invadiu a Vila Olímpica, matou 2 integrantes da equipe olímpica israelense e manteve outros 9 como reféns. 21 horas depois o ataque chegou ao fim, com todos sendo mortos. Pouco depois Avner (Eric Bana), um jovem israelense revoltado com o ocorrido, recebe de um oficial do Mossad uma ordem sem precedentes: abandonar sua esposa grávida e sua identidade para caçar e matar os 11 homens apontados pela inteligência de Israel como tendo planejado o atentado. Avner aceita a ordem e passa a liderar uma equipe de apenas 4 integrantes, extremamente talentosos. Eles passam então a viajar pelo mundo em total sigilo, na pista de cada um dos nomes de uma lista muito bem guardada.

2. SIRIANA

Título original: (Syriana)
Lançamento: 2005 (EUA)
Direção: Stephen Gaghan
Atores: George ClooneyMatt DamonAmanda Peet, Nicholas Art.
Duração: 126 min
Gênero: Drama

Sinopse:
Há 21 anos Robert Baer (George Clooney) trabalha para a CIA investigando terroristas ao redor do planeta. À medida que os atos terroristas se tornaram mais constantes, Robert nota que a ação da CIA passa a ser deixada de lado de forma a favorecer a politicagem. Com isso vários sinais de ataque foram ignorados, devido à falta de tato dos políticos para lidar com terroristas.

3. INIMIGO DO ESTADO

Título original: (Enemy Of The State)
Lançamento: 1998 (EUA)
Direção: Tony Scott
Duração: 132 min
Gênero: Ação

Sinopse:
O congressista Phillip Hammersley assassinado por um órgão do governo, logo após ter se declarado radicalmente contra uma lei que, em nome da segurança nacional, permitiria que houvesse uma total invasão de privacidade, pois na prática qualquer pessoa poderia ser monitorada pelo governo. Mas, acidentalmente, o crime filmado e o dono da gravação, vendo-se ameaçado, coloca a prova do crime na sacola de compras de Robert Clayton Dean (Will Smith), um advogado que era seu conhecido. Ele ainda tenta escapar, mas na fuga morre atropelado. Sem ter a menor noção do que está acontecendo, Robert vai para casa com a gravação e deste momento em diante sua vida se transforma em um verdadeiro inferno, pois, sem que saiba, suas roupas e objetos pessoais têm escutas, logo ele perde o emprego e todos seus cartões de crédito são cancelados. Vendo-se ameaçado, ele tenta entender tudo e continuar vivo, mas suas chances são poucas, pois está envolvido em uma trama inimaginável.

sábado, 28 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE UM MUNDO EM TRANSE – 5ª PARTE

UMA GUERRA SERIA O CAMINHO PARA TIRAR A ECONOMIA CAPITALISTA DA CRISE?

Qual a alternativa o mundo encontrará para a falência múltipla dos órgãos do sistema capitalista, sua espinha dorsal, a estrutura financeira? Como visto na parte 4ª parte em outros momentos a saída terminou sendo guerras que afetaram todos os continentes, numa dimensão mundial. Poderá ser a guerra a saída para essa crise?
Opera Mundi - Charge:Latuff
Vamos analisar essa possibilidade. Que também pode não acontecer, por suas próprias dificuldades e pelas novas ordenações geopolíticas, com o deslocamento do eixo de importância para Ásia e América do Sul. Pelo menos uma guerra no sentido convencional.
A primeira coisa que devemos fazer quando avaliamos a perspectiva de uma guerra é olhar para um mapa, observar as fronteiras, ver com base nisso a diferença de tratamento que as grandes potências dão para determinados países, em detrimento de outros. Peguemos a situação da Líbia, e indaguemos porque o tratamento foi diferente do Iêmen (Só para recordar, Kadafi foi assassinado com o suporte da OTAN, acusado de cometer crimes contra sua população, levando a morte centenas de pessoas. No Iêmen o ditador, que precisou fugir para a Arábia Saudita, foi acusado dos mesmos crimes, mas obteve apoio da monarquia saudita, fez acordo com os Estados Unidos, obteve imunidade no parlamento iemista para não ser processado, e vai curtir um exílio nesse país). Foi nítida a diferença em relação ao Egito, onde aconteceu um golpe militar, já tratado aqui. E, porque a Arábia Saudita enviou tropas para conter as rebeliões no Bahrein? Porque existe ali uma enorme base militar dos EUA. Porque ainda não houve invasão á Síria?
Há uma série de interesses geopolíticos, que extrapolam em muito os problemas locais. Na Síria, por exemplo, há uma resistência da China e, principalmente, da Rússia em concordar com sanções contra aquele país, que mantém em seu território uma base militar russa, a única que lhe dá acesso ao Mediterrâneo. Há também uma forte influência do Irã e relações estreitas com o Hamaz (palestino) e com o Hesbollah (libanês). Existe, então, toda uma situação complexa ali, mas é exatamente toda essa complexidade que pode gerar uma guerra de repercussão mundial.
Por exemplo, houve no final do ano um contencioso entre EUA e Rússia, com declarações fortes de ambas as partes, logo após o resultado das eleições nesse país. Mas por trás dessa discussão existem outras razões para esse embate. De um lado a influência da Rússia tanto na Síria, como no apoio ao projeto nuclear iraniano, de outro as instalações de sistemas anti-mísseis que os EUA se preparavam para instalar em regiões próximas às fronteiras russas, perto dos Montes Urais, cordilheira que separa a Europa da Ásia, com o objetivo claro de se preparar para um eventual conflito com o Irã, mas que a Rússia entende como ameaça às suas fronteiras. Os russos não somente se contrapõem às instalações dessas bases, como já ameaçaram atacá-las, caso seja concretizada essa intenção.
Ou seja, já existe todo um discurso belicista, e apesar de a diplomacia por enquanto estar contendo os ânimos mais exaltados, tudo isso poderá se agravar com a continuidade e ampliação da crise econômica. Caso ela prossiga por mais um ano, sem perspectiva de saída, a hipótese de uma guerra vai se tornando cada vez mais provável.
Não acredito, contudo, que a dimensão dessa guerra seja suficiente para causar grandes transtornos ao Brasil. Pelo menos no que se refere à ações militares. Claro que uma guerra mexe com a economia mundial, e nesse aspecto o Brasil, como os demais países fora do eixo central do conflito, seriam afetados.
Mas ela deve se concentrar nessa área que é a mais atingida atualmente por diversos conflitos, desde lutas internas como de ocupações por outras nações. Eu diria que ela pode acontecer em territórios asiáticos e no Oriente Médio, em partes da África, e, a depender, atingir a Europa. O Irã, Afeganistão, Paquistão, Síria, Egito, certamente envolvendo também Israel, e, caso a Rússia se envolva em um conflito desse porte, com ações com pudessem atingir a Eurásia, então dificilmente poderíamos prever as conseqüências.

QUAL É O MAIOR PESADELO DOS EUA?

O Irã hoje não é o maior problema dos Estados Unidos, nem a Coréia do Norte (com quem o governo dos EUA tentam uma solução pacífica, negociando apoio econômico em troca de eliminação do potencial nuclear). O grande pesadelo dos EUA, em minha opinião, não é o Irã, sem querer diminuir toda a disputa geopolítica, com o intuito de impedir que esse país detenha hegemonia naquela região. Entendo que o Paquistão é a peça que pode atrapalhar um possível xeque-mate nesse jogo de xadrez que significa uma guerra. Há uma aliança tênue, entre esses dois países, mas a desconfiança é mútua, os paquistaneses não confiam nos estadunidenses, mas o oposto também é verdadeiro. 
Mas essa é uma situação conflituosa que deverá se manter sob controle por algum tempo, mas não tenho dúvidas que em algum momento vai explodir. Por enquanto o alvo é o Irã. Mas caso ocorra uma guerra de maior dimensão, certamente o Paquistão Irá se envolver. Mas não podemos prever o que acontecerá. Porque esse é um dos países que possuem armas nucleares e com uma fronteira completamente instável, com atuações de grupos guerrilheiros talibãs afegãos, mas também aliados paquistaneses desse grupo. E por outro lado uma outra fronteira com parte em litígio, com a Índia, com quem disputa o controle da Caxemira há décadas, inclusive já tendo ocorrido vários conflitos entre os dois exércitos.
Mas nesse momento o que está em jogo é a necessidade de impor limites ao Irã,  a fim de evitar que haja naquela região um país com forte hegemonismo a rivalizar com Israel, eterno aliado dos EUA. Principalmente por se tratar também de um país riquíssimo em petróleo e com um histórico cultural que já o acompanha há milênios, desde o Império Persa, podendo complicar a influência que os estadunidenses sempre tiveram por ali, contando com seu velho aliado, a Arábia Saudita.
Um olhar bem focado em movimentações de guerra, seguindo os interesses de cada país, e forçando uma imaginação com base em estudos de geopolítica e de estratégias, podemos decifrar boa parte dos movimentos que vão acontecendo seguindo-se aos acontecimentos da chamada “Primavera Árabe” (cuja denominação já critiquei aqui na primeira parte).
Vamos listar primeiro as pedras que foram movidas, mas sem serem deslocadas dos lugares. Egito, Baherein, Iemen. Embora com problemas comuns aos demais países, inclusive  tratando-se também de ditaduras as reações populares não foram suficientes para alterar, até agora, o jogo do poder. Manteve-se, de certa maneira, a influência da Arábia Saudita, principal porta-voz dos EUA naquela região. Mas, se olharmos bem as riquezas de todos os países e de suas fronteiras, conseguiremos decifrar alguns enigmas que se escondem por trás dos discursos de combate às ditaduras. A retirada do Kadafi do poder cumpria o objetivo de garantir um mercado de petróleo confiável, na eminência de uma guerra contra o Irã. As medidas adotadas pela Comunidade Européia nesta semana confirma isso. Jamais a Europa tomaria uma decisão de boicotar o petróleo iraniano se o mercado de petróleo líbio não tivesse sob seu controle.
Imagem: orbum.org
Uma primeira peça do xadrez foi movida. A outra é a Síria. Também aliada de Teerã, e com fronteiras com o Iraque, a Síria garante acesso ao Irã, através do Iraque pelo Mediterrâneo, o que permitiria um cerco, fechando-se pelo outro lado por território Saudita e o Golfo Pérsico. Restaria ao Irã somente o fechamento do Estreito de Ormuz, mas a outra ponta desse istmo, no entanto, está sob controle de aliados sauditas, os Emirados Árabes e Omã. Nos últimos dias noticiou-se a intenção dos Estados Unidos em criar uma grande base militar marítima no Golfo Pérsico, aliás, é bom que se diga que não foram cortados recursos financeiros para esses investimentos militares. Há que se considerar também o fato de boa parte do contingente que atua nessa e em outras bases e ações militares estadunidense, ser de empresas militares privadas, uma característica que tem se acentuado nos últimos anos, embora tenha havido também um pequeno corte orçamentário para esse setor.
Portanto, enquanto o povo grita e luta, com toda razão e justamente, na ruas, nos bastidores do tabuleiro geopolítico as peças que são mexidas tem como objetivo a preparação de uma guerra, enfim, do controle do grande Poder.
Assim, a probabilidade de ocorrer uma guerra de dimensão mundial é por ali, pelo Oriente Médio. E o objetivo é conter a crescente influência iraniana, e impedir que esse país adquira capacidade de produzir armas nuclear. Sua influência já envolve Síria, Líbano (Hesbolah), Palestina (Hamaz) e até mesmo o Iraque, que possui uma maioria xiita, embora sem ser seguidora dos Ayotalahs, mas que pode sob determinadas circunstâncias ampliar o circulo de interesses iranianos dentro de seus objetivos de tornar-se uma potência hegemônica no Oriente Médio, disputando essa condição com a Turquia que também tem ampliado sua influência naquela região.
É claro que pelas circunstâncias atuais, de um país destruído por uma guerra absurda e fragilizado em sua capacidade de defesa, o Iraque tenderá inicialmente a permanecer neutro. Mas será submetido a fortes pressões dos EUA para garantir que tropas aliadas cruzem seu território para atingir a fronteira iraniana. Embora essa pressão, e mesmo com o velho sentimento nacionalista que provavelmente seja a única herança de Sadam Hussein, uma parte de seu governo e da população tenderá a apoiar o Irã por suas vinculações religiosas. Não podemos esquecer que o Iraque hoje é um país mais dividido do que era quando da invasão dos Estados Unidos, entre Xiitas, Sunitas e Curdos.
Outra fronteira complexa para se atingir o Irã é pelo lado do Afeganistão. Tem sido por ali que muitos combatentes talibãs fogem das tropas da OTAN e dos EUA, com a cumplicidade do governo iraniano, a fim de dificultar o combate contra os grupos guerrilheiros. Certamente, nas condições de ainda existir uma guerra em curso em território afegão, essa é uma situação extremamente complicada. Os EUA teria que primeiramente estabelecer um acordo de paz com os talibãs, algo que já está ocorrendo sorrateiramente, e em segundo lugar, forçar um outro acordo para que suas tropas possam chegar àquela fronteira. Algo atualmente absolutamente improvável.
Restaria, além da fronteira marítima, através do Golfo Pérsico, o acesso pelo Turcomenistão. Um país que já fez parte da antiga União Soviética, cuja população tem, em sua maioria, adeptos da religião muçulmana. O país se abriu pouco para o Ocidente, e também seria pouco provável que ele pudesse abrir suas fronteiras para dar acesso a tropas ocidentais com intuito de atacar o Irã. Dificilmente a Turquia permitiria que um ataque fosse preparado a partir de seu território, até porque esse país tem também sérios problemas com os curdos, povos apátridas divididos entre seu território e o Iraque. E de outro lado ainda existe uma fronteira complexa para os turcos, com a Síria, à beira de uma guerra civil. Compõe-se assim um quadro de dificuldade para se estabelecer um cerco militar ao Irã.
No meio de tudo isso, fazendo fronteira com a Síria, está o Estado de Israel. Que vive uma situação muito delicada, apesar de possuir um potencial bélico enorme, detendo armas nucleares, mas a cada ampliação das revoltas árabes e das possibilidades de mudanças que ocorrem naquela região, deixam Israel cada vez mais isolado. Isso só aumentou com a decisão da Unesco em aceitar o Estado da Palestina entre seus membros. O que motivou retaliação por parte dos Estados Unidos, com cortes de recursos, e também de Israel e Grã-Bretanha. Isso vai levar a determinada situação para Israel que a melhor saída também seria uma guerra, que pudesse redefinir o quadro geopolítico na região.
Existe nessa região, um verdadeiro arsenal de problemas, confusões e contradições. E do ponto de vista de uma situação de crise, que afeta inclusive as grandes potências, é um teatro, um palco armado, para que aconteça uma guerra e dê uma reoxigenada no sistema capitalista mundial... ou empurrá-lo de vez para o abismo.
Continua...


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE UM MUNDO EM TRANSE – 4ª PARTE

TERÁ O CAPITALISMO ATINGIDO O LIMITE DE SUAS CONTRADIÇÕES?

Nós sabemos que o corpo humano pode sobreviver por tempo indeterminado pela medicina, com a falência de seus órgãos, ligado a aparelhos que o mantém em estado vegetativo. Ou, na melhor das hipóteses, um coma profundo, do qual de alguma maneira poderá ser despertado. O capitalismo não morreu, está em crise, podemos até dizer que está em coma, tal qual um corpo humano, à beira do seu limite, mas do qual pode se recuperar. Ir, além disso, talvez seja um otimismo exagerado, para aqueles que a ele se opõem. Mas isso faz parte de sua própria condição existencial, conforme já abordei na primeira parte. Poderá – ou não – sucumbir a mais essa crise. E dentre as várias alternativas possíveis, sempre se poderá contar com a possibilidade de uma guerra de dimensão mundial. Não seria a primeira, nem a segunda vez que isso ocorreria. A guerra, sim, é uma saída, embora já não tanto como fora no século XX, em função de novas ordenações da geopolítica mundial. Mas, vamos analisar sob essa perspectiva.
Embora historiador, com as atenções voltadas para o passado, mas com os olhos atentos para o presente, não temos, nem ninguém, nenhuma capacidade de prevermos o que pode acontecer. Mas, como estudioso da geopolítica, utilizando conhecimentos de história e geografia, e navegando ligeiramente pela economia, principalmente a partir de bases marxistas e focando nessa relação tempo-espaço, o que identificamos é com base na experiência, naquilo que os fatos históricos nos ensinam. Façamos então uma rápida viagem pela história para assim tentarmos compreender quais as saídas que o capitalismo pode encontrar.
O mundo passou por uma grande crise no final do século XIX, em função da necessidade de uma repartição do mercado mundial, dominado por grandes impérios, mas sendo ameaçado pela influência de novos Estados-nações que sugiram, se fortaleceram e se colocaram como concorrentes na disputa pelo controle colonial. Isso gerou a primeira grande guerra mundial, o fim dos impérios, novas divisões territoriais com a criação de novos países. O acerto final foi conseqüência do resultado da guerra, logicamente beneficiando mais um dos lados, aquele que saiu vitorioso. Deixou mágoas e marcas profundas.
Houve um impulso na economia, logo após o final da guerra. Os EUA surgiram como uma nova potência econômica, e se tornou o grande financiador e comprador, ao mesmo tempo, do mundo. A economia capitalista mundial passou a ter nos Estados Unidos a sua grande força impulsionadora. Até que no final da década de 1920 e por duas décadas seguintes uma nova grande crise colocou o mundo novamente em pé de guerra. A ganância nesse período ganhou um grande impulso e o que se produzia ia muito além das necessidades de consumo, travando a economia mundial.
Quando ocorreu esse travamento, naquilo que ficou conhecido como o grande crack da bolsa de Nova Iorque, numa fatídica quinta-feira do mês de outubro de 1929,  sem perspectiva de saída – a não ser o socialismo, já que a crise não atingiu a União Soviética, fora da economia de mercado – a alternativa foi mesclar o liberalismo econômico com o planejamento estatal, a partir das teorias econômicas keynesianas, de John Maynard Keynes.
Mas em algumas situações, sob determinadas circunstâncias, a crise tomou um rumo inesperado e fez surgir uma liderança inusitada, um país que tinha sido humilhado ao final da primeira guerra mundial. A Alemanha era reféns de créditos dos Estados Unidos, empréstimos, para ao final depender da sua economia, adquirindo produtos com os próprios empréstimos que conseguia. Algo que aconteceu também depois da segunda guerra mundial.
Quando aconteceu a grande depressão econômica, quebrou a economia dos Estados Unidos, e a Alemanha ficou à míngua. Nessa situação ou o país se submetia à influência soviética, ou a burguesia precisaria encontrar uma saída, uma liderança, que pudesse tirá-la das mãos do comunismo. E o poder, diante desse dilema, foi entregue nas mãos de Hitler. As condições que estavam criadas ali não apontavam nenhuma outra alternativa. E diante desse quadro, de uma crise mundial, o que foi feito na Alemanha foi um forte investimento interno, protagonizado pelo Estado. E isso foi possível, em boa parte, seqüestrando o dinheiro dos judeus, direcionando esses investimentos para gerar uma demanda por crescimento, garantindo emprego, além de aplicar fortemente em infra-estrutura, criando uma forte indústria de guerra. Sem dar muita importância para a crise que afetava os demais países. Ou seja, Alemanha nazista, com Hitler à frente, utilizou da mesma receita keynesiana, excedendo-se somente no controle fortemente centralizado do Estado, em todos os sentidos.
A economia alemã foi recuperada, com forte investimento militar, isso tem que ser ressaltado, construindo as condições para torná-la uma potência com um forte sentimento nacionalista, acirrando ressentimentos que permaneciam ainda como conseqüência dos tratados que impuseram humilhação ao país depois da primeira guerra mundial. Esse período, de crescimento do poder da Alemanha paralelo à crise que afetava a economia mundial, passou a ser conhecido na história como o da “paz armada”. Os países, mesmo em crise, procuravam se armar, cientes da eminência de uma nova guerra.
Aí veio a segunda guerra mundial, e as conseqüências disso são sobejamente conhecidas. Como decorrência houve uma forte expansão da influência comunista, com a União Soviética à frente, mas foi preciso dar uma maquiada no capitalismo, mudando sua feição, alterando o liberalismo clássico e inserindo uma forte participação do Estado, como forma de garantir a recuperação dos países e promover pleno emprego para a população. A guerra fria, que surge também como conseqüência do resultado dessa guerra, levou a planos econômicos cujo objetivo era não somente recuperar a Europa, devastada pela guerra, mas também se contrapor ao socialismo.
Isso se deu com um investimento estatal muito forte, baseando-se nas teorias de Keynes, fazendo com que o capitalismo adquirisse uma feição menos individualista, amenizando os problemas sociais e dando garantias de emprego às pessoas. Planos sociais, seguros desempregos, aposentadorias, tudo isso passou a se constituir o que ficou conhecido como “welfare state”, ou “estado de bem-estar social”.
Uma nova crise, contudo, sacudiu o mundo na década de 1970, e aí as razões foram várias. Houve inicialmente uma mudança na forma como se comercializava a principal fonte de energia no mundo, o petróleo, através da criação da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que passou a controlar o fluxo desse produto garantindo-se um controle entre oferta e demanda, a fim de ter os preços elevados no mercado internacional.
Por outro lado, a estrutura capitalista criada com o keynesianismo, ou o estado de bem-estar social, era incompatível com a lógica de funcionamento do capitalismo, que se baseia na permanente busca pelo lucro, cujo motor é acionado pela ganância e a usura. Alógica do capitalismo não é distribuir riqueza, mas concentrá-la, numa disputa louca pelo controle da economia mediante a centralização dos meios de produção. Esse foi outra razão que começou a fazer a economia travar mais uma vez. Pois aliava-se a crise do petróleo, que atingiu as economias do terceiro mundo, principalmente, e impediu que as grandes empresas sediadas na Europa continuassem extraindo enormes lucros nos países de economias dependentes e de fracos parques industriais. Consequência do controle que era exercido pelas multinacionais.
Diante de uma nova crise que ameaçava o capitalismo era necessário encontrar uma nova saída. Os altos salários, o pleno emprego, os gastos sociais estatais, se tornaram empecilhos para as grandes corporações continuarem ampliando seus lucros. A economia de mercado capitalista emperrada, encontrou na falência dos modelos socialistas o pretexto para realizar transformações profundas, omitindo a natureza real de sua crise, e apontando para o fracasso do modelo socialista, baseado no planejamento estatal e no controle da economia.

A GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL – QUANDO A GANÂNCIA E A USURA TORNAM-SE UMA OBSESSÃO

Com a crise dos países socialistas, e o efeito cascata que foi derrubando uma a uma todas aquelas estruturas, até atingir a União Soviética, abriu-se um enorme mercado e uma louca corrida por parte de grandes empresas, com o intuito de controlarem a economia desses países e de uma estrutura baseada no forte domínio do Estado. Empresas estatais, que controlavam setores estratégicos, passaram a ser privatizadas, transformadas em economias mistas, inicialmente, para em seguida ficarem sob o pleno domínio de grandes corporações dos Estados Unidos e Europa. O nome dado a tudo isso foi, desregulamentação da economia.
Não só novos mercados, mas a privatização de empresas de enorme potenciais estratégicos, com garantias de crescimento diante de uma economia travada pela impossibilidade de liberdade econômica, em virtude do controle que os Estados impunham. Setores como  o petrolífero, de siderurgia, de energia, das telecomunicações, passaram para as mãos de grandes corporações, aliadas a setores internos desses países, muitos dos quais tornaram-se testas-de-ferro na medida em que no começo as mudanças nas legislações não permitiam maioria das ações nas mãos das multinacionais. Isso se tornou uma febre na União Soviética e Leste europeu, mas também seguiu celeremente o rumo das economias dos países do chamado terceiro mundo, criando uma onda que passou a ser conhecida, dentro de um discurso ideológico, como “globalização”.
Mas isso não aconteceu na China, e vemos hoje que essa foi uma das razões pelo elevado impulso da economia chinesa. Que, ao não abrir mão dos investimentos estatais, começou o século XXI como a grande beneficiária pelo descontrole da economia que se seguiu à essa onda e às políticas neoliberais de abertura escancaradas dos mercados, com a redução cada vez maior do controle pelos Estados-nações.
Ocorre que o capitalismo é incontrolável. A obsessão que esse sistema gera pelo consumo cada vez mais intenso de mercadorias, e a ganância que leva a usura aos patamares de uma verdadeira sociopatia, carrega, inevitavelmente, esse mercado caótico para a beira do abismo. Marx dizia que o capitalismo é um sistema anárquico, ele não combina com o planejamento, porque as ações dos que controlam os meios de produção é de sempre criar produtos que sejam garantias de lucros, independente das necessidades reais.
Essa anarquia na produção capitalista, gera um descontrole, porque a ganância fala mais alto. Até que, diante da facilidade de deslocamento do dinheiro pelo mundo, os capitalistas perceberam que podiam ganhar mais dinheiro apostando. Investindo em bolsas de valores nos quatros cantos do planeta, aproveitando-se das novas tecnologias, principalmente da internet, mas também dos meios de comunicação em geral e dos transportes. E qual o tipo de jogo vai ser jogado? Principalmente com o controle da informação, no domínio dos meios de comunicação e nas boatarias e notícias fabricadas com o intuito de derrubar ou elevar preços de ações.
Os preços das ações nos mercados financeiros acompanham os boatos que circulam nas grandes empresas de investimentos. Quando uma grande corporação começa a enfrentar dificuldades e não consegue segurar a notícia de seus problemas de caixa, de imediato suas ações caem de preço, elas se desvalorizam e vão aos níveis mais baixos possíveis. Essa situação decorre do fato de não haver procura por elas, seguindo a lógica natural do sistema.
Peguemos um exemplo atual. No mês de dezembro noticiou-se uma crise pré-falimentar de uma das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, a América Airlines. Acompanhando as notícias pudemos perceber que suas ações tão logo estouraram essas notícias, caíram 84% em relação ao seu valor de mercado. É o momento em que investidores gananciosos, especuladores, adquirem essas ações quando elas atingem seu grau mais baixo. Ninguém em sã consciência vai investir em empresas que não lhe dará lucro. Nessas situações quem ganham são os mega-investidores, que as compram a preços de banana, dividem-a em áreas de negócios diferentes, reduz o número de empregados com demissão em massa de trabalhadores e realizam um processo de recuperação ganhando lucros absurdos nesse processo.
Existem equipes de recursos humanos especializadas nessas ondas de demissões, enquanto outras retomam o controle da empresa e recompõem seu valor de mercado agora a partir do fortalecimento em áreas diversificadas, jogam mais uma vez com a manipulação da informação, e fazem aparecer em jornais econômicos a plena recuperação dessas “novas empresas”, e lucram absurdos em cima dessas estratégias. Tudo isso, aliás, muito bem mostrado no filme Wall Street – Poder e Cobiça, de Oliver Stone.
O sistema financeiro mundial criou artifícios de valorização mediante várias estratégias que tornam difícil a compreensão sobre o real valor das ações. Além desse artifício citado anteriormente, toda essa engenharia financeira feita para ganhar dinheiro fácil à custa de falências e especulação, o mercado financeiro adota outros, quase todos eles bem distantes da realidade. O valor da maior parte das empresas que existem atualmente comercializando ações nas bolsas de valores do mundo todo é fruto de especulação, é um valor fictício. A maioria dela usa o artifício de apresentar possibilidades de ganhos futuros, e bom base nisso vêem seus valores acionários elevar-se. É um investimento de risco, mas é com esses capitais que as empresas expandem seu poder de mercado, ampliam seus negócios e produzem novos lucros. Mas nem sempre isso acontece, e o tombo além de muito grande, cria um efeito cascata, porque por trás da maioria desses investimentos existem muitos bancos envolvidos e outras empresas, que desejam controlar parte de suas concorrentes e adquirem ações muitas vezes utilizando de testas-de-ferro. Hoje mais conhecidos como “laranjas”.
Essa anarquia, e toda a confusão propiciada pela ganância que movimenta o sistema capitalista, é a própria geradora de todas as crises que acontecem, e que analisamos aqui, bem como também essa que o mundo está atravessando atualmente. A diferença desta das demais é que ela está atingindo muito fortemente todo o sistema financeiro, e assim afeta perigosamente a espinha dorsal do sistema. Porque ela foi gerada internamente e ele não encontra mecanismos de refinanciar os bancos que estão envolvidos. A situação difere de 2008, quando ela estourou. Porque naquele momento o Estado bancou os rombos dos bancos e seguradoras, obviamente ampliando seus endividamentos internos, já que necessariamente precisavam produzir créditos, “cash”, suficientes para evitar uma quebradeira que derrubaria todo o sistema financeiro mundial. 
Como essas medidas não foram suficientes para conter a crise a situação de insolvência dos bancos, agravada com o endividamento das pessoas, impossibilitou que a economia pudesse se recompor, dificultando ao Estado arrecadar recursos suficientes para reequilibrar a economia. Chegou-se assim ao fim da linha, pois quem poderá salvar o Estado? Restaram para isso medidas impopulares, arrocho salarial, desemprego, redução de investimentos em obras públicas e em setores sociais. Dessa maneira ampliam-se mais ainda as dificuldades porque causam impactos mais negativos na economia, na medida em que se reduz a capacidade de consumo da população e surte um efeito contrário àquelas medidas adotadas para retirar o mundo da crise durante a grande depressão da década de 1930.
Diante de tudo que analisamos até aqui, e, como disse anteriormente, baseando-me na experiência do passado, do que a história nos conta como transcorreram os dois últimos séculos, é que podemos acreditar na hipótese de que é possível, sim, estourar mais uma grande guerra de âmbito mundial, como conseqüência da crise e como alternativa ao sistema para contornar o seu mais sério dilema. Acredito que essa guerra já está sendo preparada e o alvo do momento, sem nenhuma dúvida, é o Irã.
Continua...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE UM MUNDO EM TRANSE – 3ª PARTE

UM MUNDO DOMINADO PELAS CORPORAÇÕES

As Corporações nos dias de hoje comandam o capitalismo, em todo o mundo. Então, aquilo que nós chamávamos antes de multinacionais, hoje com aquisições e fusões de todos os tipos o que existem são megas corporações, ou conglomerados que ainda envolvem bancos. E são tão poderosas que algumas delas possuem riquezas maiores do que o PIB da grande maioria dos países. Assim, quando elas entram em um determinado país e investem alto, torna difícil para esse país depois agir, se tiver interesse em ver-se livre delas ou caso queiram impor algum tipo de restrições, porque passa a depender dos seus lucros para sua arrecadação.
Cria-se uma dependência já que existe a necessidade de atrair investimentos. O capitalismo funciona dessa forma: as pessoas estão desempregadas, precisam de emprego, e quem pode oferecer? O Estado não tem condições de garantir emprego para todos, então que medida ele adota? Ele cria mecanismos para atrair empresas, benefícios como isenções fiscais ou garantia de infra-estruturas para as instalações de suas dependências, para que elas possam gerar empregos, fazer a roda da economia girar. Claro que isso cria dependência. Vamos pegar um exemplo menor, da relação de um município ou uma região com uma grande empresa. Veja o caso da Perdigão, em Rio Verde, Goiás. Muito embora seja uma cidade que já atingiu um grau de desenvolvimento de padrão médio, mesmo assim, o impacto de uma saída da Perdigão é muito forte, com grandes conseqüências para a economia da região. Foi o que aconteceu na cidade de Santa Helena, quando a Parmalat abriu concordata e fechou uma unidade de beneficiamento de leite naquela cidade. Gerou uma crise muito grande e um elevado índice de desemprego na cidade. Bom, isso hoje já foi resolvido, mas o impacto foi real.
Ou seja, atrair grandes empresas para esses municípios, garante emprego, reforça suas economias e ainda  ajuda na eleição, mas se é uma grande empresa cria-se essa dependência. A não ser que haja um gestor público ousado, criativo, esperto e inteligente, e ele passa a atuar no sentido de ativar as outras atividades econômicas que são características do lugar, buscando parcerias com o Estado e com o Governo Federal. Se existe um potencial de produzir melancias, devem-se garantir as condições para isso, mesmo se tem uma empresa como a Perdigão, então que se busque incentivar os pequenos agricultores a produzir condimentos, para que eles possam ser adquiridos ali no município, ao invés de serem comprados em São Paulo, por exemplo. Assim, dessa maneira, reforça a economia por outros meios, fecha toda a cadeia produtiva de um determinado produto.
Embrapa
Tudo isso cabe ao gestor público, prefeitos e todo o seu staff. Se ele consegue fechar a cadeia produtiva investindo em pequenos agricultores, agricultura familiar, em produzir aquilo que o município tenha capacidade de oferecer, que seja de sua vocação – para usar um termo bem popular – ele consegue diminuir a dependência do lugar a essas grandes empresas. E inverte uma tendência, o município passa a ser objeto de disputa por aquelas empresas que atuam nesse setor, na medida em que a sua fixação ali reduzirá custos, já que os produtos que são necessários para fabricar uma determinada mercadoria estão bem ali, próximos, diminuindo gastos com transportes.
Se nós pegarmos alguns desses municípios que seguiram por esse caminho, vamos ver o quanto eles se tornaram atrativos para essas empresas. Eu estou começando a fazer uma pesquisa sobre Cristalina, e esse município goiano vive hoje um “boom” na produção para agroindústria aqui em nosso Estado. Surpreendeu-me uma informação, o IBGE divulgou recentemente o Censo Agropecuário, que identificou municípios com maiores PIBs, e o maior de Goiás é o de Cristalina, superando Rio Verde, Itumbiara, Jataí. E é o segundo maior do Brasil, perdendo apenas para São Desidério no Oeste da Bahia.
Por que isso? Há ali uma topografia favorável, uma característica hidrológica que beneficia e facilita a capacidade de irrigação, e isso tem atraído uma série de empresas, inclusive estrangeiras, grandes corporações, como a Boundelle, francesa. E com uma produção, ao contrário das características do agronegócio no centro-oeste brasileiro, completamente diversificada. Produz milho, algodão, alho, soja, ervilha, tomate, leite, ou seja uma produção diversa porque tem água em abundância. As propriedades são em sua maioria grandes fazendas, mas fora do perfil dos grandes latifúndios de monocultura. E agora, por todo esse potencial, vai se destacando e essas propriedades vão se tornando maiores pelos investimentos que passa a ser feito por grandes produtores. 
Mas isso é natural numa economia capitalista, principalmente nos tempos atuais marcado pela concentração e pelo monopólio nas mãos de grandes corporações, como já discutimos anteriormente. Mas sempre se consegue manter forte, se houver interesse do gestor público, uma economia propriamente do lugar, para não se criar uma dependência inversa. E eu acho que isso está sendo feito em Cristalina, muito embora a preocupação maior, e é o que eu pretendo me aprofundar na pesquisa, seja com a capacidade desses recursos hídricos suportar uma aceleração da produção, de acordo com o aumento das empresas que se dirigem para aquele lugar, bem como outros efeito sobre o ambiente, tal como possível desertificação futura como conseqüência do excesso de salinização do solo, e os problemas que são gerados pela penetração de resíduos químicos no lençol freático, causado pelo excesso de uso dos agrotóxicos.
É preciso dizer, também, que o Estado de Goiás está sendo alvo de uma enorme especulação imobiliária rural, principalmente por investidores de outros países. Isso está acontecendo no Cerrado como um todo, e vai avançando pelo Tocantins em direção ao Piauí e o Maranhão. Isso sem contar que o Oeste baiano já praticamente atingiu o auge, com grandes empresas multinacionais ampliando o controle sobre a produção agrícola naquela região. Isso trás um enorme desenvolvimento, modifica a paisagem, enriquece os municípios, mas à custa de uma enorme degradação ambiental, de destruição da biodiversidade desse bioma e das mudanças climáticas que podem afetar profundamente a nossa capacidade hídrica, que faz do cerrado um dos biomas com maior quantidade de nascentes de rios que abastecem as principais bacias hidrográficas brasileiras.
Tudo isso, claro, acompanha a lógica de funcionamento do sistema capitalista. Ele criou um modelo de funcionamento que se baseia no monopólio e na crescente concentração da riqueza. Isso faz com que um pequeno setor controle a economia, o mercado, estabeleça regras, fixe preços, aí não há dúvidas, de fato o Estado termina por ficar refém dessas grandes corporações. E com esse aumento de poder, fica muito difícil combatê-las, porque elas possuem muita força política, uma capacidade por causa disso de formar lobbies poderosíssimos e ter sempre em suas mãos um grupo forte de políticos que atendem seus interesses, principalmente porque nosso sistema político garante essa possibilidade com um financiamento aberto de campanha que faz das eleições o maior negócio para quem tem dinheiro. E tornam esse processo extremamente caro, por onde nasce a corrupção e cria uma cultura que faz com que os candidatos lucrem com esses financiamentos através dos mecanismos de utilização de dinheiro não contabilizado, os chamados Caixas 2. Que, em tempos de baixa inflação, inflam os colchões ou recheiam as paredes de grandes mansões.
Abordemos, então, esse assunto. O país vive um momento de mobilizações, ainda pequenas e motivadas por interesses da mídia, contra a corrupção. Ela só irá acabar, ou melhor, diminuir – porque dificilmente acabaria dentro do sistema capitalista – se houver financiamento público de campanha. Porque pelo sistema atual, o indivíduo que quer ser candidato precisa fazer “caixa” prá campanha e começa a ceder aos “incentivos” que passam a ser dados pelas empresas e por aí se constrói um duto de corrupção. Elas retornam após as eleições para buscar a fatura. E isso se tornou comum no sistema político brasileiro, e não mudou com as transformações políticas que o país passou, trazendo a esquerda para o poder.
Também isso não faz do Brasil o único país onde essa corrupção seja sistêmica, e endêmica. Podemos usar os EUA como exemplo. Ali a corrupção é institucionalizada, e obedece determinadas regras, o lobbie é permitido e legalizado, portanto as representações dessas corporações atuam livremente no parlamento daquele país. (Quem puder assista ao filme “O Superlobbista”, com Kefin Spacey, baseado em uma história real). A eleição de Barack Obama é um claro exemplo disso. Ele surgiu como uma esperança de transformação de uma potência em grave crise financeira, causada pela ganância crescente dos grandes bancos. Sua arrecadação não encontra paralelo em nenhuma outra eleição, embora boa parte, segundo se diz, oriunda de pequenas doações feitas pela internet. Mas o resultado de quem tem poder nesse mundo de financiamento de campanhas se vê após sua posse. Grandes executivos de bancos responsáveis pela crise no sistema financeiro, iniciada no ano de 2008 e que já tratamos no artigo anterior, tornaram-se peças chaves na área de finanças da sua administração. Isso está demonstrado no excelente documentário “Inside Job”, que eu já comentei aqui no Blog (http://www.gramaticadomundo.com/2011/03/inside-job-perversao-do-capitalismo.html) Embora Obama e o Partido Democrata, tenham ensaiado apoio às manifestações dos “Indignados”, que foram às ruas protestarem contra o sistema, eles também são reféns dessas corporações, desses conglomerados financeiros. E agora mais ainda, à medida que se aproxima uma nova eleição, em 2012.
Essa onda de indignação com a corrupção pode terminar na legalização dos lobbies Já existe projeto no Congresso Nacional à espera de ser votado no plenário, e é aí que os honestos terão dificuldades de atuar. Não vai beneficiar a honestidade, nem os governos mais sérios, eles se tornarão reféns dos lobbies. Vai favorecer os mais conservadores, pois impedirá que se veja o que de fato acontece. É diferente, porque hoje o país tem uma controladoria, que fiscaliza, e uma mídia que é livre e que mostra, aliás, mais do que devia, porque age como um partido político. O que pode acontecer é piorar, porque os lobbies agem não somente no Congresso Nacional, mas em todas outras áreas em que eles precisam de apoio para satisfazer os interesses de suas corporações, inclusive na mídia e no judiciário.
Mas essa é uma característica do sistema, a maneira como ocorrem as eleições possibilita isso, e a própria estrutura do Estado e os interesses que existem seguindo a lógica gananciosa e usurária que fundamenta o capitalismo impele sempre isso para adiante. Ele muda sua forma, altera suas características, aplica um verniz de moralidade, como nos EUA e em países europeus, mas não a essência, e essa se baseia sempre na busca permanente pelo controle do poder, para dominar cada vez mais fortemente a economia e o sistema financeiro.
Claro que o financiamento público de campanha não será suficiente para eliminar toda essa podridão, ele só põe um freio e dificulta, mas o sistema sempre deixa as brechas para que essas corporações burlem as legislações. Como no caso citado dos EUA. Este é um Estado totalmente dominado pelas corporações. Assistimos a toda aquela euforia com as eleições de Obama, um candidato que tinha um bom discurso, oriundo de classe média baixa, de cor negra, de origem africana, então se criou toda uma expectativa em torno de sua eleição. Mas quem é Barack Obama diante do poder dessas grandes corporações? Qual a saída? Nenhuma, a não ser colocar Wall Street para comandar seu governo. E ainda formaram um enorme círculo dentro da economia, criando uma escola que formou quadros que hoje estão à frente do poder em vários países europeus. Entregaram o galinheiro para as raposas tomarem conta. Isso é o poder dos lobbies corporativos.
Voltemos à ação dos indignados. Qual tem sido o resultado? A Espanha, por exemplo, que caminho trilhou? Elegeu um governo conservador. E a Itália?  Claro que é difícil se dizer que alguém consiga ser pior do que Berlusconi, mas quem assumiu o poder lá segue essa mesma linha, é um governo do Goldman Sachs, ou seja da mesma escola responsável por levar a economia mundial para o abismo. Na Grécia, da mesma maneira, e os que estão à frente do Banco Central Europeu seguem a mesma cartilha de quem comanda o sistema financeiro nos EUA. E qual o remédio que eles aplicam? Arrocho e recessão sobre os trabalhadores, redução dos investimentos do Estado, para poder equilibrar suas finanças simplesmente para cobrir os rombos criminosos de uma estrutura financeira gananciosa e usurária, que causou toda essa crise que ameaça todo o mundo.
Então não houve, por conta da indignação, transformações na política que possam mudar essa situação em todo o mundo. Muito pelo contrário, eles estão fazendo mudanças políticas para salvar o sistema financeiro e não para resolver os problemas das pessoas.
Continua...
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