terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O STF DEVE SER O GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO, E NÃO SE SOBREPOR A ELA

Foto: site brasil247.com
O STF, em plena ditadura militar, no ano de 1974 cassou o mandato do deputado federal Chico Pinto, por ele ter feito críticas contundentes ao ditador chileno o General Pinochet, levando-o a ser preso por seis meses. Trata-se de situações diferentes da que está sendo julgada atualmente. Mas o dispositivo constitucional que protege os parlamentares das ingerências de outros poderes foi inserido na Constituição Brasileira para se evitar arbitrariedades e atos ditatoriais. Dessa forma, garante-se a independência dos poderes, basilar em qualquer regime democrático. O ato de cassação de mandatos parlamentares nesse momento é uma brecha que se abre para práticas semelhantes ao que já aconteceu em outros países da América Latina. O STF deveria, em ato de ofício, recomendar à Câmara a cassação dos mandatos, a ser efetivada conforme reza a Constitiuição e a autonomia dos poderes.
O STF antecipou-se a uma decisão que deveria ser tomada caso a Câmara dos Deputados não implementasse nenhuma providência quanto às condenações dos parlamentares. Agiu cometendo ingerência no que deveria ser decisão de outro poder soberano. Sob pressão da mídia conservadora fabricou uma crise inter-institucional que pode abalar a frágil democracia brasileira. A perda de mandato poderia ser automática, na medida em que a prisão dos parlamentares condenados os tornariam ausentes, o que pelo regimento, e contando-se os dias regimentalmente permitido para faltas, seriam declarados vagos os seus mandatos, com os suplentes sendo chamados a assumirem. Isso na possibilidade remota de a Câmara não colocar em votação a perda dos mandatos. De afogadilho, e com discursos reacionários, demonstrando um claro caráter de exceção ao julgamento, o STF pecou por excesso. Algo inaceitável em um órgão da importância que ele detém na república e na democracia.
O “discurso” do ministro decano, que proferiu o último voto, foi eminentemente político, para agradar um público sequioso não de justiça, mas para atender interesses outros, dos setores conservadores midiáticos que visam amedrontar os setores de esquerda e se prevenirem de medidas que lhes tolham do poder corporativo e manipulatório que caracterizam a grande imprensa brasileira. O ministro deu exemplos de como não deve se tomar uma decisão judicial. Jamais um juiz pode julgar em cima de pressupostos, do que poderá acontecer, do que o presidente da Câmara irá fazer, mas sim, baseando-se em fatos, e reagindo aqueles, quando solicitado, se porventura agrida a Constituição Federal, ou mesmo as próprias decisões do Supremo.
Sugiro essa leitura.
Link abaixo.
A meu ver, houve clara demonstração de que esse julgamento, embora atendendo-se a acusações do Ministério Público, transcorreu carregado de características típicas de um julgamento de exceção. Os discursos, por vários momentos proferidos por alguns dos ministros do Supremo, e que estão gravados, são a demonstração clara do caráter político que o cercou. A ameaça final do ministro decano, é a gota d’água de um comportamento autoritário que visa colocar o Supremo acima dos demais poderes, quando o país passa um momento de consolidação de uma linha política que confronta os setores tradicionais do poder econômico brasileiro e de seus representantes, que, no âmbito da política perdem representatividade perante a população brasileira.
Que os setores democráticos fiquem atentos, e preocupem-se com o que já aconteceu em outros países, como Honduras, Paraguai, Equador e Bolívia, onde golpes, ou tentativas de golpes "legalizados" institucionalmente ameaçaram e depuseram presidentes eleitos legitimamente. Pode-se dizer que há um exagero nessa preocupação, mas a história política de nosso país e do Continente com um todo sempre deve nos deixar apreensivos e atentos para os impulsos golpistas e autoritários. A luta contra o poder midiático, em curso na Argentina, é visto com uma "espada de Dâmocles", que ameaça as corporações desse setor, e por isso mexe com esses instintos anti-democráticos a fim de manter velhos privilégios. 
O fantasma do autoritarismo continua a ameaçar a frágil democracia brasileira e latinoamericana.



QUEM MANDA NO MUNDO – Dossiê Le Monde Diplomatique:
http://www.diplomatique.org.br/edicoes_especiais_det.php?id=10



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

APRENDENDO A VIVER


Desenho de Sarah Ottoni
No dia 13 de dezembro, para nós de um fatídico ano, 2007, perdi uma parte de minha vida. Aos dez anos de idade, a nossa pequena Carol, Ana Carolina Oliveira Campos, deu seu último suspiro, após um breve sofrimento causado por hemorragias internas como consequência de um tipo raro de leucemia (leucemia mielomonocítica juvenil), tardiamente diagnosticada. Por cinco longos anos, tentei entender essa relação entre vida e morte, mas, principalmente, as dificuldades de aceitarmos a morte de um filho, ou filha. Por esse tempo, travei um monólogo silencioso comigo mesmo, e expus o resultado disso em crônicas, publicadas em um livro[1] lançado quando se completou um ano de sua morte.
Em algumas vezes os meus textos tinham o formato de uma carta, em que eu travava um impossível diálogo com minha querida filha. Pelas minhas concepções eu procurava falar direto ao meu coração, pois nele reside o amor e as emoções, transmitidas pelo cérebro em uma relação de causa e efeito. Elas convertem-se em ordens ao nosso corpo, e disso tudo emanam os comportamentos que adotamos no mundo real. Agora, seis anos depois, tento racionalizar melhor essa perda, muito embora o sentimento que trago dentro do meu peito, grudado em meu coração seja o mesmo.
O CÉTICO, O ESTOICISTA E O MATERIALISTA
Não sou pessimista, embora por um tempo me mantive cético. Mesmo com toda a mágoa da vida, pela perda de minha filha. Às vezes sinto raiva, exprimo alguns impropérios.  Palavrões mesmo. Sem direção, ao vento, como para me aliviar da dor. Por muito tempo, na condução do meu carro, sozinho, disparei gritos, berros, no limite da capacidade de meus pulmões, como forma de aliviar a revolta pela fatalidade perversa que nos atingiu. Carregarei esses sentimentos para o resto da vida. Mas tenho feito algumas reflexões desde que criei o meu blog, até com o objetivo de preencher o vazio, principalmente das tardes de sábado, quando eu mais ficava com minha filha.
De início, me vi envolvido pelos ensinamentos dos antigos filósofos estoicistas, quando fui a eles direcionado a partir da leitura de Luc Ferry, “Aprender a Viver”[2]. Fazia-me necessário, diante de momentos de absoluta perda de perspectiva da vida. Depois com a leitura de um filósofo antigo (estoicista), Sêneca, em seus pequenos opúsculos, tanto em “Sobre a brevidade da vida”[3], como, principalmente, em “Aprendendo a viver”[4], cujo título Ferry seguramente se inspirou, e a mim também.
Ferry (2006) procura trazer para os dias atuais o sentido de filosofias antigas que busque tanto se livrar dos apegos excessivos materiais quanto espirituais, de maneira que as pessoas possam se deparar mais tranquilamente com o seu destino, a morte. Isso dentro de um pressuposto de que é preciso aprender a viver, e que não é possível viver sem esperança. Mas ciente de que a vida é breve, e que “a acumulação de todos os bens materiais possíveis e imagináveis, por mais imprescindíveis que sejam, não resolve o essencial”. (FERRY, 2006:p63)
“Vivemos continuamente na dimensão do projeto, correndo atrás de objetivos propostos para o futuro, mais ou menos distante e pensamos, ilusão suprema, que nossa felicidade depende da realização completa de fins medíocres ou grandiosos, pouco importa, que estabelecemos para nós mesmos. (...) esquecemos que não há outra realidade além da que é vivida aqui e agora, e que essa estranha fuga para  adiante nos faz com certeza falhar. As dificuldades de viver e o trágico da condição humana não são modificados e, segundo a própria expressão de Sêneca, ‘enquanto se espera viver, a vida passa’”. (FERRY, 2006:pp62-63).
Mas, ao final de seu livro, ao ressaltar a “grandeza do estoicismo, do budismo, do spnozismo, de todas as filosofias que nos convidam ‘a esperar um pouco menos e amar um pouco mais’”, reconhece também a importância do materialismo: “Compreendi também o quanto o peso do passado e do futuro estraga o gosto do presente e até gostei mais de Nietzsche e de sua doutrina da inocência do devir. Nem por isso me tornei materialista, mas não posso mais dispensar o materialismo para descrever e pensar algumas experiências humanas”. (FERRY  2006:P300) E é com base nessa concepção materialista, e à luz do estoicismo, que tenho também procurado abordar os temas de meus textos. Os que se referem ao meu sofrimento, em particular, e ao turbilhão de contradições que atingem a sociedade.
ENTRE O SONHAR E O VIVER
Nessa dimensão entre o viver e o pensar construímos nossos sonhos. Nele cabe tudo, mas pouco pode se realizar. Insistimos em sonhar, porque é a condição de nossa força para podermos construir o que denominamos de futuro, o que virá depois que o hoje se encerra. Até acreditamos que o sonho coletivo é a possibilidade da sua realização, conforme cantado por Raul Seixas[5], em uma estranha música de uma única estrofe, mas com uma mensagem profundamente positiva. Pois assim a humanidade conseguiu atingir os patamares atuais, com todos os seus problemas e virtudes.
Celma e Carol na Praça Vinícius de
Morais, em Itapuan - Salvador/Ba
Mas esse sonhar não pode se materializar quando se desmaterializa a vida. Será eternamente um sonho. Ele nos ajuda, contudo, a acreditar que é importante continuar vivendo, quando perdemos uma parte de nós, em nosso caso, uma filha. As lembranças, às vezes doídas, porque reforçam as saudades, se constituem em instantes de realizações etéreas, que se confundem entre o profundamente abstrato, de uma realidade passada e a objetividade de um presente onde procuramos construir, pela imaginação, uma presença irrealizável.
Tudo isso só é possível porque temos um desejo em ebulição, correndo por nossas veias, comandado pelo nosso coração. É dele que saem todas as sensações e sentimentos, de amor e de ódio. Conforme construímos nossa história de vida, o coração vai moldando nosso caráter e definindo nosso caminho. Perdemos a condição de nos assenhorarmos do nosso destino em decorrência dos impactos causados em nossas vidas pelo ambiente no qual estamos inseridos, e pelo acaso que nos tolhe a possibilidade de fazermos nossas escolhas. Mas até onde é possível, nossa vontade segue comandada pelo coração, que direciona nossos atos e dá sentido às nossas emoções.
POR TODA A MINHA VIDA EU VOU TE AMAR
Não importa, contudo, se sonhar e se viver, quando os sentimentos que transbordam nossos corações estimulam um amor incontido, mesmo desmaterializado, configurado na imagem eterna de alguém que trouxe alegria e prazer às nossas vidas.
A presença passa a ser um desejo, um sonho impossível, mas a vida vivida demonstra uma vitalidade infinita. É uma sensação aprisionada no coração, transposta para a nossa memória que se prende, como água-viva.
O amor por minha filha é infinito. Ele permanecerá para sempre em meu coração alimentando minha memória com os momentos prazerosos que vivemos. Aprendi a viver com esse sentimento, por esses curtos cinco anos que dão a sensação de ser uma eternidade. Mas ao mesmo tempo transbordam lembranças como se ela estivesse permanentemente ao meu lado. E nesses momentos tento lutar incansavelmente para que as imagens que veem à minha cabeça não sejam de seus últimos dias, do sofrimento silencioso de uma unidade de terapia intensiva em meio a uma incontrolável hemorragia. Tento, mas não consigo. É difícil para mim, e para qualquer pai ou mãe que vê impotente uma filha, ou um filho, em um leito já praticamente com um diagnóstico que indica ali o fim de uma vida por nós gerada.
Mas mesmo diante da dor, do sofrimento por ver uma parte de si se esvaindo, da saudade que permanece nas lembranças doloridas desses momentos, o amor é o sentimento que nos conforta. Amamos nossa filha pelos dez anos que ela esteve conosco intensamente. Mas sabemos que o tamanho dessa intensidade é infinito, poderíamos tê-la amado mais, ter vivido mais ao seu lado. Como na belíssima música eternizada pelos Titãs, “devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr. Devia ter me importado menos, com problemas pequenos, ter morrido de amor...” [6].
 Por me sentir sempre podendo ter dado mais de mim para minha filha, é que tenho insistido em muitos textos que já escrevi, sobre a necessidade de se dar maior valor aos instantes em que nossos filhos estão aos nossos lados. Como qualquer outro ser presente na natureza, eles “criarão asas”, seguirão seus próprios caminhos. Não necessariamente significa um afastamento físico, ou um distanciamento nesse sentimento de amor, mas tudo passa a ser de forma diferente, e já dividimos isso com outros pelos quais eles se entregarão ao amor, à paixão.
São esses momentos, até a adolescência que nossos filhos mais precisam de nosso carinho e amor. Mas são exatamente os períodos em que a própria vida impõe, pela lógica do mundo em que vivemos, uma maior dedicação ao nosso trabalho, na ânsia de tentar construir o futuro onde imaginamos inserir nossos filhos. Então, vivemos para o futuro, e perdemos um tempo importante que poderia estar sendo melhor dividido com nossos filhos no presente. Sinto isso, mesmo com todo amor que dediquei a minha filha.
Carol, em outubro de 2007, em
apresentação na escola do Caiçara
Sempre fui obcecado pela ideia de ter filhos. E um desejo maior ainda de ter uma filha. Quando tive um casal me senti na maior das felicidades. Gostaria de ter tido três, pois creio ser esse o número ideal. Não tenho explicações porque disso. Mas o que não consigo entender é o fato de alguém ter sido gerado para o mundo e negar-se a aceitar aquela que é a lógica da perpetuação da nossa espécie. É bem verdade que isso se deve às contradições de um mundo em permanente transição, e em crise. A lógica da sociedade impõe às pessoas determinadas escolhas que estão relacionadas à necessidade que cada um tem de buscar um estilo de vida sofisticado, os filhos seriam um empecilho para tal objetivo. Mas a ausência deles representará também um vazio na velhice.
Mas não era preocupado com o futuro que sempre desejei ter filhos, mas em poder construir uma família, constituir uma herança genética e viver isso de maneira altruísta, viver a minha vida repartindo meus genes, dividindo meus sentimentos, compartilhando meu amor e gerando uma descendência que sempre ansiamos ser melhores do que nós mesmos. Embora sentimentos individuais, sempre transmiti para eles uma visão solidária e coletiva de mundo.
Uma das primeiras fotos
Quando minha filha nasceu o meu filho já tinha quatro anos. Foi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. Julguei, claro, que aquilo seria eterno, a realização de um sonho então completo: um filho, uma filha. Ainda hoje, quando passo em frente à maternidade em que ela nasceu olho demoradamente. “Ela” é o nome da maternidade. Ela, Ana Carolina Oliveira Campos, nossa pequena Carol, viria para definitivamente mudar por completo nossas vidas. Pelos dez anos que vivemos... Por todos os anos do resto de nossas vidas.
Quando recentemente conversamos, eu e minha companheira Celma Grace, sobre a necessidade de produzirmos camisetas para o Instituto Ana Carol, tive a ideia de que algumas fossem moldadas especialmente. Nelas inseri a frase de uma música pela qual sou apaixonado, e que sintetiza todo o sentimento que carrego dentro do meu coração: POR TODA A MINHA VIDA EU VOU TE AMAR.[7]
Por todos os anos que a minha vida se prolongar carregarei esse amor dentro do peito e a sua imagem bem viva na minha memória. Não posso negar que meu coração será, por isso, para sempre amargurado. Claro, gostaria de tê-la em vida. E assim, cada vez que lembrar-me dela, de sua meiguice, do seu carinho, de uma frase que jamais deixarei de ouvir e que era como uma senha para um beijo a seguir – “oi, pai!” – meu coração não poderá sentir alegria. Talvez eu consiga exprimir outro sentimento, resignação. Mas do fundo do meu coração, além do amor que terei por ela pelo resto de minha vida, ficará represado um sentimento expresso em uma das músicas mais belas que conheço, de autoria de Paulinho da Viola: “solidão, palavra cavada no coração, resignado e mudo no compasso da desilusão...”.[8]


NOTAS:
(*) Fiz pequenas alterações, já que estou reeditando esse texto um ano depois (Dezembro de 2013)
[1] DEPOIS QUE VOCÊ PARTIU, crônicas escritas no ano de 2008, um ano depois do falecimento de Ana Carolina.
[2] FERRY, Luc. Aprender a viver. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2007. Adquiri-o em 01.08.2008, e escrevi uma dedicatória a mim mesmo: “Para aprender a viver com a ausência da minha pequena Carol. E como sentir sua presença diante dos mistérios da vida e da morte. Seis meses e dezoito dias depois que Carol partiu”.
[3] SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. São Paulo: Editora LP&M, 2006.
[4] ______. Aprendendo a viver. São Paulo: Editora LP&M, 2008.
[5] “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Raul Seixas: Prelúdio.
[6] Titâs: Epitáfio. Música de Sérgio Brito.
[7] Vinicius de Morais e Antonio Carlos Jobim (Tom Jobim): Por toda a minha vida eu vou te amar.
[8] Paulinho da Viola: Dança da Solidão

sábado, 8 de dezembro de 2012

NÃO SEI PORQUE VOCÊ SE FOI...

 ...tantas saudades eu senti, e de tristeza vou vivendo, aquele adeus não pude dar...”. (TIM MAIA)


A música é uma das melhores maneiras de aplacarmos nossos sentimentos, de marcarmos nossas saudades, de chorarmos nossas perdas, tanto quanto nossas alegrias e felicidades. Infelizmente, nos lembramos aqui de uma enorme perda. Como diz Chico Buarque também em uma de suas músicas, um pedaço de nós que se foi.
Quando escrevemos em memória de alguém, queremos marcar para sempre, não somente em pensamentos, mas em mensagens, um pouco da imensidão do que essa pessoa representou para nós. A mensagem que escrevi da minha pequena Carol, lida em sua missa de sétimo dia, carrega um turbilhão de emoções, foi redigida aos poucos em meio a soluços convulsivos, diante do sentimento profundo de uma perda tão precoce. Escrita por mim, com a colaboração de sua mãe e do irmão, é também um desabafo. Procurei por trás de cada palavra transmitir não somente um sentimento de saudade, mas de revolta. Não é uma revolta direcionada contra quem quer que seja, já que falamos de fatalidade, mas por não podermos encontrar explicações para um acaso tão perverso. Afinal crianças não deveriam morrer, muito menos antes de seus pais.
É difícil dimensionar a crueldade da maneira como se morre, pois morrer é sempre uma verdade dolorida e por nós inaceitável, mas independente da forma, a crueldade está em vermos um filho ou filha morrer. Não importa como, e mesmo sabendo que na vida morremos sempre lentamente, perder um filho é ver morrer um pedaço de seu corpo, de sua vida. Precisamente aquela parte de você que carrega o futuro. Sim, nossos filhos representam para nós o futuro, a perpetuação de nossa ancestralidade, a riqueza de nossos genes. Quando os perdemos a sensação é de que o futuro deixa de ter sentido.
Não somos senhores absolutos de nossos destinos, e não podemos estabelecer prazos de existências para nossas vidas. Seguimos em frente, mas não mais como antes, nos entristecemos, perdemos parte importante de nossa vontade de viver olhando adiante e não nos conformamos. Não acho que devamos nos conformar com a morte. Aceitá-la, por sua inevitabilidade, sim, mas temos sentimentos, sensibilidades, e a busca etérea por uma justificativa que vise a aceitação conformista da perda de um ente querido não me satisfaz. Prefiro sofrer com a tristeza e a revolta da perda irreparável. Entendo a complexidade que é a vida, e a permanente presença da morte, mas do fundo da minha tristeza e emoção – e isso é o que nos diferencia na natureza como humanos – creio que não devemos “aceitar” a perda de pessoas queridas, muito menos de nossos filhos. Mesmo com a presença de meu filho e de minha esposa, aos quais tenho um amor imensurável, sinto em mim uma mudança muito grande como conseqüência da ausência da minha filha. E isso se traduz na redução da minha motivação, de meu ânimo, da minha alegria. Creio que isso vai me acompanhar para o resto de minha vida, muito embora a intensidade disso vá diminuindo. Mas jamais vai acabar. Dependendo das circunstâncias, e em determinadas datas, saudade e dor sempre reforçarão a angústia por tê-la ausente para sempre, embora presente nas lembranças.
A Carol foi vítima de uma doença cruel: Leucemia Mielomonocítica Juvenil. Mas seu diagnóstico definitivo só foi conhecido no dia em que ela não suportou o sofrimento na UTI e não sobreviveu a uma insuficiência respiratória causada por constantes sangramentos. Tendo sido internada três dias antes, seu quadro clínico complicou-se aceleradamente, tempo insuficiente para atender as respostas de uma bateria de exames exigidos para se conhecer as causas das debilidades sanguíneas que ela sofria. Em 13 de dezembro de 2007 nós perdemos para sempre a nossa querida filha.
Quatro meses antes (ela ficara internada por 10 dias), quando se constatou um quadro virótico, e a presença de dois vírus agindo em seus órgãos (vírus de Epstein-Barr - mononucleose infecciosa e parvovírus - parvovirose), não foi possível identificar a Leucemia. Soubemos depois tratar-se de um tipo raro de Leucemia, principalmente tratando-se da idade de Ana Carolina. As leituras que temos feito sobre essa doença indicam que encontraríamos muitas dificuldades no tratamento caso Carol houvesse sobrevivido. São poucos os casos dessa doença, e menor ainda o número daqueles pacientes que tiveram uma sobrevida superior a um ano.
Não sei se poderíamos ter corrigido o rumo de nossas ações até esse desfecho trágico. Sei que fizemos o possível para não perdermos nossa pequena, mas sempre fica a sensação de que poderia ter sido feito algo mais, ou de ter tido uma firmeza maior para questionar determinados procedimentos médicos que às vezes julgamos equivocados. Como por exemplo, o diagnóstico de pneumonia e o uso de antibiótico quando na verdade a doença Leucemia já se manifestava, na segunda internação. Ou, quando na primeira internação a identificação de vírus em seu organismo terminou por impedir a continuidade dos exames para identificar uma possível Leucemia. Talvez ela não sobrevivesse ao tratamento dessa doença, pois, como já disse, são raros os casos que não terminaram em morte, mesmo em alguns casos com transplante da medula, neste caso por rejeição. Mas, embora seja cruel também não pensar no sofrimento dela, preferiríamos ter lutado ao máximo de nossas forças e possibilidades e nos agarrarmos ao último fio de esperança que pudesse nos indicar uma salvação naquele momento para nossa filha. Entretanto, tenho evitado pensar muito nessas questões que acabo de manifestar, pois se trata do imponderável, e não podemos reverter o tempo e retornar ao passado, infelizmente. Aliás, tendo apagar até mesmo as últimas imagens dela na UTI, mesmo às vezes isso sendo inevitável. Lutamos por manter presente sua imagem alegre e sorridente.
Quaisquer que sejam as causas que levam à morte de nossos filhos, jamais aceitamos tamanha perda. Não importa se lentamente ou de forma fulminante a morte tira de nós entes queridos, e, se filhos, pedaços de nossos corpos, partes de nossas vidas. Se o futuro para nós já é uma incógnita, perder um filho, que para os pais representam a continuidade de suas riquezas genéticas, como bem pontuou Darwin, significa bloquear em nós a visão de futuro.
Como fazem os revolucionários, acreditamos que devemos sempre lutar até o limite de nossas possibilidades para alcançarmos nossos objetivos. Lutar, mesmo que com sofrimentos, nos dá a sensação de podermos alcançar o auge de nossas forças, conjuntamente, para tentarmos prorrogar aquilo que o destino inevitavelmente consumará um dia, pois tudo chega a um fim, mas certos de estarmos seguindo em cada momento um caminho que nos conduzirá a um futuro melhor. Não nos entregarmos à fatalidade nos anima mais a sermos protagonistas de nossos destinos, apesar de que algum dia a morte inevitavelmente se apresentará para ceifar nossas vidas.
Contudo, a perda repentina, nos deixa uma sensação de impotência. O que torna mais difícil a aceitação da morte como fatalidade, ao invés de vê-la como parte do ciclo da vida. Isso se agrava quando pais se debruçam sobre o corpo sem vida de uma filha. Mas, queiramos ou não a morte da pequena Carol foi uma fatalidade e dizer se aceitamos é irrelevante, pois nada irá trazê-la de volta. Assim, seguimos nosso caminho, reformulando nossa rotina e deixando na lembrança, alegres momentos de uma criança que parecia sentir que seu tempo era curto, porque procurou viver sempre intensamente, fazendo questão de marcar sua presença de maneira impositiva em nossas vidas.
Lembrarei sempre dela cotidianamente, mas de maneira especial quando ouvir uma música de Caetano Veloso, que desde o berço cantei para ela, e se tornou quase que o “hino da Carol”. Até ela própria dizia sempre que a ouvia: “pai, é a minha música”.  Para mim o que a música diz representava bem o seu jeito de ser: “Linda, e sabe viver, você é linda sim. Onda do mar do amor que bateu em mim...”.
Até breve, minha filha. Aguarde-me na eternidade, pois aqui em vida a terei para sempre em cada momento que me resta.

COMPARTILHANDO UMA ETERNA DOR


Ofereço essa leitura aos amigos e amigas, a fim de poder compartilhar um pouco das angústias, responsáveis pelas tristezas que afetaram nossas vidas desde 13 de dezembro de 2007. Por esse mês de dezembro irei postar alguns dos textos que escrevi para um livro que dediquei a Carol. São crônicas tristes, relatos de dor por uma perda inestimável e com algumas lembranças alegres. Escrever se tornou para mim uma terapia. E a maioria dos textos sempre diziam alguma coisa a respeito da Carol. Mas por um ano, entre 2007 e 2008, foi somente sobre ela que escrevi. Isso ficou registrado no livro "Depois que você partiu", publicado um ano depois de sua morte. Farei uma adaptação dessas crônicas, e a postarei aqui, nesse mês em que nos lembramos do quinto ano de sua morte. Parece que foi ontem, mas para nós é uma eternidade.
Embora sem a presença dela materializada, conversei, caminhei, passeei com ela muitas vezes, como faço ainda hoje em meus momentos solitários ou nas conversas e caminhadas com minha companheira. Observei em cada instante da nossa rotina, em cada objeto que lhe pertencia, em cada fotografia, o quanto Carolina era especial. Na pracinha do nosso bairro, no Conjunto Caiçara, ainda paro algumas vezes e olho o espaço no gramado aonde ela ia sempre, ao final da tarde, jogar badminton com seu primo Mateus. É como se eu a vesse lá, ainda hoje, gritando pelo meu nome quando eu passava fazendo caminhada, enquanto ela alegremente se divertia. Mal sabia que seu tempo seria tão curto em vida.
Creio ter envelhecido 10 anos a cada um que passava, pelo menos nos três anos logo depois de sua morte. O abatimento, desânimo, perda de perspectivas futuras, sintomas presente na depressão, passaram a fazer parte dos meus dias, muito embora eu procurasse sempre me convencer que tudo aquilo era fruto de uma tristeza profunda, de uma imensa dor. E assim ainda me sinto quando me debruço para escrever sobre ela. Somente a sala de aula – onde mesmo assim chorei várias vezes diante de meus alunos – me aliviava um pouco da tristeza. Talvez porque eu transmitisse a eles valores pelos quais eu gostaria de estar ensinando a minha filha.
Não quero contaminá-los pela tristeza. Ao escrever minhas crônicas sobre minha pequena Carol sempre tive em mente uma necessidade de desabafar, compartilhando minha dor com amigos, mas quis também apresentar uma experiência que, embora triste, pode servir de alguma maneira para estabelecermos uma relação melhor com nossos filhos.
Com isso não desejo incentivar as pessoas a ficarem a pensar obcecadamente na morte. Ao contrário, minhas crônicas, embora repletas de dor, tem por objetivo exatamente levar as pessoas a pensarem permanentemente na vida. A perceberem que muito mais importante do que vivermos das fantasias de um futuro que não sabemos se virá, ou como virá, o mais saudável é vivermos nossas vidas intensamente no presente, aproveitarmos da melhor maneira possível os momentos felizes e encontrarmos sempre, de forma ágil, as maneiras pelas quais possamos sair de eventuais infortúnios.
Procuro também relatar momentos prazerosos de uma relação amorosa com minha filha, destacando que esses momentos poderiam ter sido mais intensos. E assim, penso poder levá-los a refletir sobre o quanto nos apegamos a pequenas coisas, nos irritamos por futilidades e construímos uma vida estressante e chata, marcada por um estilo de vida que submete o sentimento, o amor, a tolerância, às imposições de um mundo onde prevalecem o egoísmo e a irracionalidade. Nesse mundo as crianças quase sempre são vítimas, seja da lógica consumista, massificada pela mídia a fim de criar novos consumidores, e por nós, adultos, que tentamos definir o que ela será no futuro e as aprisionamos quase sempre dentro da nossa forma de ver o mundo. Imaginamos estar fazendo o melhor para elas, quando contraditoriamente tiramos delas a liberdade de viver seus melhores momentos.
Isso quando elas não se transformam em instrumentos para conter as neuroses e desabafos de pais ou outros tipos de parentes, que por vezes descontam toda sua ira de momentos ruins seja no trabalho ou mesmo na relação familiar nos elementos mais frágeis. As crianças, impotentes diante da raiva de alguns adultos, tornam-se alvos e vítimas das agressividades e transtornos causados por uma sociedade à beira do colapso.
Mas os meus textos não visam fazer um mea culpa. Jamais dei uma surra em minha filha, embora a repreendesse algumas vezes com certa rigidez. Também sempre procurei viver em harmonia com meus filhos e minha companheira. Mas, sim, por certo tempo após a Carol ter partido, fiquei pensando em alguns exageros que cometi, e alguns controles excessivos, daqueles que fazemos imaginando querer sempre o bem de nossos filhos.  E até mesmo seu olhar, assustado com determinadas broncas estão sempre vivos em minha mente, e isso sempre me angustia.
Depois que perdi minha filha estabeleci para mim mesmo uma meta, que deveria sempre ser natural. Decidi que meu filho seria meu amigo, e creio que assim o fiz, sem em nenhum momento sufocá-lo em sua individualidade. Mas para mim era importante viver com ele cada momento, intensamente, viajarmos e passearmos, conversarmos e interagirmos, até que ele pudesse alcançar o instante em que seu caminho à sua frente dependeria de suas próprias decisões. Mas eu queria estar presente até esse momento, e não somente para substituir a ausência da Carol, mas pelo próprio aprendizado da rapidez com que a perdemos. Aprendi que a morte é inevitável, e não segue o curso natural da vida nem nossos desejos de felicidade futurística. Precisamos viver, cada momento, intensamente, com a responsabilidade e os desejos de harmonia e honestidade.
Espero, portanto, que essas crônicas contribuam pelo menos para pensarmos sobre a necessidade de lutarmos para construir um novo tipo de sociedade, sem o medo, a agressividade e a intolerância que tem marcado a atual. E que isso só será possível de ser feito pelas gerações futuras, dependendo, portanto, da maneira pela qual estabelecemos as relações com nossos filhos. O medo, assim, impede que possamos construir um ambiente mais saudável, prevalecendo uma lógica que impõe a todos ir à procura de seus destinos por caminhos isolados, individualistas. De viverem em meio a uma multidão, como se ela não existisse, tornando-se esse um dos sintomas do mundo contemporâneo: de como ser solitário cercado de gente por todos os lados.
O tempo que a Carol passou conosco foi marcado por momentos maravilhosos, embora sempre fique a sensação de que tudo poderia ser melhor. Mas ela fez com que esses momentos fossem assim. Sua partida tem nos deixados abalados, indiferentes ao futuro. O nosso desafio passou a ser como alterar isso e transformar tamanha perda em ensinamentos sobre como devemos viver nossas vidas. Vivemos por esses anos numa intensa ligação com a tragédia que nos atingiu, mas prosseguimos lutando para romper com certos paradigmas para tentar seguir vivendo como procurei traçar nas linhas dessas crônicas.
Quando escrevi originalmente essas crônicas, por todo o primeiro ano da morte de minha pequena as ideias foram brotando pelos sentimentos. Poucas coisas eu corrigi, certamente muitas outras não passariam pelo crivo de um bom revisor, mas são erros que fazem parte de nossas limitações, eu as assumi, mas quis que fosse assim. Tornava os textos mais autênticos, pois funcionavam como se eu estivesse falando, me comunicando verbalmente, e em alguns momentos me dirigindo a ela. Também preferi não datar as crônicas, elas ficaram no livro publicado em ordem cronológica da sua elaboração, e mostram como ao longo do tempo as coisas foram mudando para mim,
Carpe diem. Aproveitem o dia, confiando o menos possível no amanhã. Penso ser esse o lema ideal para podermos viver cada momento. Que cada minuto de nossas vidas seja aproveitado da melhor forma possível ao lado das pessoas que amamos principalmente nossos filhos. O passado passou, deve nos servir de exemplo, mas não podemos viver mais dele; o futuro não existe é apenas uma construção imaginária; é ao presente que devemos dedicar todo o sentido de nossas vidas.
Mas, se já é difícil desvincular o presente do passado, quando convivemos com uma tragédia isso se torna mais complicado. A morte de uma filha ou um filho é como se perdêssemos uma parte do nosso corpo, algo que sentiremos para sempre. Mas procuramos nesses anos construir em nossos corações o sentimento de que a Carol sempre está ao nosso lado, buscamos sentir a sua presença. Para isso criamos o Instituto Ana Carol, presidida por sua mãe, para homenageá-la, para tê-la sempre conosco em projetos que quando em vida ela já se identificava. Mas, certamente, passamos a ver em tudo o que fazemos que o futuro se encontra aqui.
Nas próximas postagens do blog GRAMÁTICA DO MUNDO incluirei os textos que escrevi para o livro que foi publicado depois de um ano da morte de Carol, e que denominei DEPOIS QUE VOCÊ PARTIU. Porque a segunda semana de dezembro, e a última da vida de minha filha, foram dias de sofrimentos, de tentar identificar uma doença que não era diagnosticada, de correria para médicos e hospitais, em especialidades diferentes a demonstrar a incapacidade da ciência de compreender a vida em sua totalidade.
Desde sua morte, em 2007, o mês de dezembro constitui-se para nós um período de saudades doloridas, e somente a companhia de amigos são capazes de sufocar o sofrimento por lembranças que se acentuam nessa época do ano. As alegrias geradas por uma festa criada para dar uma sensação de esperança, contrastam com um momento em que temos que nos lembrar de uma triste partida. Por isso, faço do meu blog um instrumento que nos ajude a compartilhar essa dor. Não queremos com isso transmitir tristeza, mas usufruir das alegrias que, desejamos, sejam diferentes e reais para a maioria dos que lerem esses textos repletos de nostalgias e saudades.
Seguimos, contudo, adotando uma frase que representa para nós esse sentimento: “Saudade, é o amor que fica”.

A SERVIDÃO AO CAPITAL, A ESCRAVIZAÇÃO AO TRABALHO E A DEPENDÊNCIA DO ÓPIO.

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”
“É a ambição de possuir, mais do que qualquer outra coisa, que impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre”.

Nas últimas postagens tenho procurado refletir sobre a epidemia que se espalha na sociedade e impõe uma brevidade da vida pela estupidez do não-viver. Neste artigo, mais longo, apresento uma espécie de conclusão aos anteriores e analiso as causas.
O vício às drogas: álcool, maconha, crack, oxi, desirré (craconha), heroína, cocaína, e uma infinidade de drogas sintéticas destroem a juventude e a deixa sem futuro algum, já que seu presente lhes é retirado. Pais que perdem seus filhos em vida e se sentem impotentes para livrá-los de uma doença causada pela ambição. Ambição de todos os tipos. Muito embora a procura por elas seja satisfazer o desejo do lúdico, do imponderado, da indecifrável "liberdade". O que na verdade pode representar uma artificialização da felicidade e a antecipação da morte.
Mas as causas que não se atacam estão no âmago da questão e somente um olhar materialista (e dialético) pode detalhar. O estilo de vida mundano, a ansiedade causada pela escravização ao trabalho e a obsessão pelo sucesso que instiga a individualidade e a competição. Numa luta em que se busca o sucesso a qualquer preço. Tudo gira em torno de ter dinheiro. Mas poucos atacam o sistema, como causador de tudo isso. Assim, tem-se um diagnóstico feito sem querer enfrentar a causa. Aqueles pais que perdem seus filhos para as drogas, sabem que as chances de resgatá-los com vida são mínimas. Embora não se deva desistir da recuperação jamais, muitos não conseguem suportar o infortúnio e os conflitos violentos que tal situação cria. Famílias esfumaçam-se como consequência disso, a rua torna-se abrigo de milhares de pessoas, dispersas pelas grandes e médias cidades. Entregues à barbárie de drogas pesadas, tornam-se mortos-vivos, extorquidos de suas dignidades e chacinados por grupos criminosos.
A mídia, que espetaculariza as desgraças, numa batalha entre concorrentes para obter maiores audiências, apresentam a doença sem indicar os germes que são causadores. Transformam a violência em banalidade e exploram o descontrole de uma juventude perdida para as drogas com o intuito somente de manter cada espectador inerte pelo medo em suas cadeiras, aprisionados em suas casas e reféns de um estilo de vida propagandeado a seguir por essa própria mídia. Em seus comerciais, nos filmes em que se glamouriza a violência, e em noticiários especialmente criados para explorarem as desgraças alheias, onde se humilham as pessoas e apresentadores pérfidos se acham no direito de desmoralizar os indivíduos, julgá-los e condená-los. Quanto mais pobres e feios, mais são achincalhados e tidos como escórias da raça humana, que já carregam da espécie o vírus de serem maus, pois equivocadamente  se acreditam que seja da essência do ser humano. Nada se aborda sobre as condições sociais e sobre o sistema causador de todas essas deformações. Algo bem expressado por Marx e Engels, quando disseram: “não é a consciência que determina a existência, mas a existência social que determina a consciência”. (MARX & ENGELS; A Ideologia Alemã).
A violência está fora de controle. Ela está latente e explode a qualquer momento, mesmo diante de circunstâncias completamente inesperadas e que envolvam cidadãos comuns que jamais se conheceram, mas que se odeiam por um simples gesto de intolerância, de impaciência, de olhares desafiadores. Isso decorre da pressão a que cada indivíduo está submetido, como consequência da cobrança a qual todos estão sujeitos, da eficiência, da competência, da capacidade de responder aos desejos do deus onipotente, onipresente e ganancioso: o mercado. Embora o neoliberalismo tenha fracassado, os germes que ele introduziu em um sistema que por essência já é injusto e desigual, permanecem e se reproduzem. E, seguindo-se essa lógica perversa, a competitividade, que se tornou uma essência do mercado disseminou-se como uma praga firmando-se como uma cultura, opondo um ao outro numa concorrência que passou da naturalidade do jeito do ser humano, quando disputava liderança dentro do grupo, para um embate estéril, impulsivo, violento, de sobrepor-se ao outro pela imposição da força e da desqualificação. A ditadura da riqueza se vê acompanhada pela do corpo, do belo, do etnicamente perfeito, da perfeição plástica no sentido etimológico dessa palavra.
A convivência nas cidades, que se constituiu na forma mais eficaz de realização do capitalismo, retirou das pessoas a característica mais importante da vida rural, aglutinação da família em torno da capacidade de produzir coletivamente. A simplicidade do vestir, do viver, da inexistência de vaidades, foi substituída pelo sentimento oposto, porque marcado pela competitividade artificializada pelos desejos impostos pelo consumo. O que antes se produzia coletivamente e manualmente, com os meios de produção que, embora primitivos, eram eficazes para garantir a sobrevivência, se tornam mercadorias não mais possíveis de serem produzidas como antes. Tudo passa a depender da existência do dinheiro. Sempre insuficiente para atender as fantasias construídas pelo “marketing”. Que nada mais é do que a maneira de induzir as pessoas a adquirirem uma determinada mercadoria. O campo foi entregue a grandes corporações e latifundiários ávidos por lucros e sedentos por destruir o que a natureza levou milênios para produzir. Máquinas e produtos químicos substituem as pessoas que foram empurradas para as periferias das cidades.
A servidão ao dinheiro, cujo mecanismo de aprisionamento é o trabalho, impôs às pessoas uma dependência do tempo. Ao invés de seguirmos o preceito de trabalharmos para viver, vimos a lógica ser invertida em viver para trabalhar. E na medida da necessidade de expandir e de ampliar rendas, a família como um todo passa a se dedicar à imposição de se qualificarem objetivando encontrar as condições adequadas para situar-se em um padrão de consumo que lhes possibilitem “ser feliz”. A felicidade passa a ser um objetivo alcançável somente àqueles que conseguem “vencer” na vida. Isso, logicamente, passa a se concretizar diante da nova realidade, na sobreposição e exploração sobre o outro, extraindo de sua força de trabalho a riqueza que construirá uma enorme desigualdade social.
No final da Idade Média, na fase de transição ao capitalismo, o poder absolutista impunha ás pessoas a submissão de leis que as obrigava, até pela punição de chicotadas, a necessidade de se qualificarem para terem condições de servirem à indústria urbana nascente. A vagabundagem, tida na época como crime, era punida de forma dura, com secção de orelhas, enforcamento ou a expulsão da cidade. Era preciso, pela força, alterar a cultura e a rotina das pessoas, cuja atividade produtiva até então não obedecia a regras rígidas, a não ser àquelas que a própria natureza exigia, mas que lhes possibilitavam trabalhar e produzir para viver sem a ânsia consumista que o novo sistema passava a exigir. Mesmo com toda exigência das relações feudais e, principalmente, da corveia, obrigação do servo de servir ao senhor em alguns dias da semana (MARX, O Capital, Livro I, Vol. 2, p. 851-859. Ed. Civilização Brasileira, 1980)
Contudo, a importância do dinheiro para adquirir mercadorias, já não mais possíveis de serem produzidas manualmente como antes, até porque os meios de produção lhes escapam do controle, modifica o tipo de servidão. A dependência a partir de então passa a ser da forçosa necessidade de adquirir trabalho que lhe possibilite ganhar um salário, e, enfim, transformar-se em consumidor. Antes citadino, o indivíduo passa a cidadão, pois além de viver nas cidades algumas obrigações vinham também acompanhadas de direitos. Com o tempo, mais importante do que o direito de ser cidadão destaca-se o fato de se ser consumidor. Não trabalhar, estar desempregado e não ter um salário que lhes permitam consumir torna as pessoas párias, pobres, e ultimamente, excluídos. O sistema flexibiliza-se de tal forma que nos dias de hoje é permitido ser pobre, já que se criou uma hierarquia onde produtos de qualidades inferiores são fabricados para inserir essa camada na lógica consumista do mercado. O excluído assume um sentido mais específico, que significa delimitar às claras as fronteiras que separam pobres e ricos, já que o sistema reparte-se em várias camadas, cada uma tendo acesso a nichos de um mercado que se diferenciam na qualidade e nas condições de viver, e viver bem.
Mas, as cidades que representaram uma mudança revolucionária nessas condições de vida, possibilitaram, mesmo que na lógica egoísta do mercantilismo, avanços significativos nos meios de produção, de trabalho e de consumo. Aceleradamente, revolucionando incessantemente os meios de produção, a classe dominante no sistema capitalista – ou, para evitar polêmica, a classe hegemonicamente dominante –, a burguesia, encontrou na revolução permanente das técnicas e das inovações tecnológicas o mecanismo ideal para reproduzir o capital de forma descontrolável, ampliando a ganância, a usura e o individualismo a níveis da insensibilidade com as condições desiguais das pessoas. Até porque é sobre essa desigualdade que os instrumentos que geram a obsessão pela riqueza efetivam essas diferenças. Não há riqueza que não seja construída mediante um processo de exploração do outro. E, absolutamente, isso não é desígnio concedido por divindade alguma, decorre do processo que opõem de um lado aqueles que possuem os meios de produção, e de outro, os que só possuem sua força de trabalho.
Mas as mudanças estruturais no funcionamento do sistema capitalista foram gradativamente criando oportunidade em atividades meio. Pela própria rotina imposta em função das condições de vida nas cidades, onde tudo tem preço, vira mercadoria, vão surgindo atividades em serviços que passam a requerer também uma capacidade específica, impondo mais uma vez, e sempre, novas necessidades de qualificação. Esses mecanismos, que geram essas novas atividades, reforçam nas pessoas o sentimento de que podem ascender socialmente. Entre as camadas mais pobres e a elite dominante, foi se constituindo uma classe intermediária, intitulada por Marx de pequena burguesia, e que ao longo do tempo, com a inserção de novas ideologias inseridas por intelectuais adeptos do novo sistema, passou a ser intitulada como classe média. Ou classes médias.
geraçãoai5.blogspot
Estabeleciam-se, assim, novos degraus que indicavam as pessoas serem possíveis atingir condições adequadas de vida. Rompendo com a cultura do mundo medieval, cismas religiosos acompanhavam a escalada da burguesia, e avalizavam como predestinação divina o que antes era tido como pecado capital. O protestantismo, e mais claramente, a corrente calvinista, abençoava aqueles enriquecidos, porque teriam esses, pela mão de Deus, e pelo trabalho, assegurado a construção do paraíso na terra. Nos tempos atuais, essa ideologia foi aperfeiçoada, ampliando a individualidade nos objetivos já carregados dessa condição, fazendo surgir, através do neopentecostalismo, a teoria da prosperidade. As igrejas, excetuando-se aquelas que mantinham as tradições antigas, tornavam-se verdadeiros templos financeiros (pelo que se vende e se lucra), onde se oferecem as bênçãos capazes de conduzir os fiéis de encontro aos seus paraísos terrenos.
A burguesia, com essas mudanças, conteve os ímpetos revolucionários. Conseguiu dessa forma disseminar outras vontades, que não somente a transformação de um sistema injusto e desigual, mas ampliar o desejo individual da maioria de fazer parte de uma parcela restrita daqueles que efetivamente poderiam atingir patamares superiores nos padrões consumistas. Embora o sistema permanecesse tal qual em sua lógica inicial, espalhava-se entre a população o sentimento de que era possível “subir mais”. A classe média, a antiga pequena burguesia, passou a assumir a frente da luta visando garantir e manter privilégios, aceitando as condições impostas pela burguesia e procurando distanciar-se ao máximo das camadas pobres. As condições desiguais e injustas consolidavam-se agora tendo a classe média como um gendarme da classe dominante. E assumiu a condução dos mecanismos criados para manter a ordem capitalista, inclusive o próprio poder político. A socialdemocracia surge, então, para ideologicamente conduzir esse processo.
O fracasso das estruturas dos países que haviam rompido com o sistema capitalista, impossibilitados de competir com a sedução neurastênica do modo de produção anarco-capitalista, e em dificuldades para garantir à sua população uma produção de alimentos que atendesse a uma demanda crescente, deu a indicação de um final da história capitalista. Puro engodo de um enredo de ficção. Enquanto existir ser humano e memória a história é infindável. E porquanto houver opressão nenhum sistema será infinito, nem o último da história da humanidade.
legio-victrix.blogspot
Mas é inegável que o deslumbramento passou a se constituir em uma das armas vitais, para as classes dominantes, nas sociedades modernas. As novas tecnologias, implementadas celeremente logo após a queda dos países socialistas, e mediante uma enfurecida jogada de marketing para ocupar os espaços confusos daqueles países e pressionar pela desregulamentação da economia nos países em desenvolvimento, possibilitou a difusão de uma ideia que se impôs além-fronteiras. Ao mundo só restava quedarse ao senso comum, da vitória capitalista, do livre mercado, da competição e da busca pelo sucesso individual.
Em menos de duas décadas o resultado de tudo isso criou uma geração de neuróticos, violentos e de crentes na teologia da prosperidade. Mas que deve ser entendida dentro de uma hierarquia social, pois se apresenta com nuances diferenciadas, como em toda sociedade hierarquizada socialmente. Os objetivos daqueles que se situam nas camadas mais pobres é de obter as mínimas condições de sobrevivência, ampliarem suas possibilidades de ascender socialmente e de terem acesso ao mercado de produtos sofisticados tecnologicamente. Além das duas aspirações principais, terem uma casa para morar e adquirir um carro que lhes deem maiores mobilidades. O automóvel, assim, se torna o termômetro da indústria capitalista moderna.
O individualismo, incorporado agressivamente na cultura das sociedades contemporâneas, e transformado em elemento ideológico a referendar as maiores ambições das classes dominantes e a estimular os desejos das camadas inferiores, se constituiu em uma espécie de bomba-relógio. Despertou as maiores ambições possíveis existentes nos indivíduos, viventes em ambientes que passaram a clamar pela ostentação do luxo e pelo êxtase em se situar na condição de vitorioso, independente dos efeitos colaterais que esses comportamentos geravam. Mas, como um bumerangue, não tardou a retornar ao ponto de partida, sem controle, e com uma violência desmedida.
Entregues à tarefa de consolidar seus objetivos gananciosos a classe dominante imaginou que, ao construir suas fortalezas, em condomínios fechados luxuosos, ou em mansões verticais em bairros apartados da pobreza, consolidariam um modo de vida livre das chagas da miséria sobre a qual esse luxo se impunha. Até porque, o comportamento de vida estressante impunha a jovens executivos aprisionados na teia criada pelo estilo neoliberal de ser, a busca por alguns mecanismos sedutores, que lhes pudesse aliviar o condicionamento escravizante da busca obsessiva pela liderança. As drogas se constituíam nesses instrumentos que lhes aliviavam das cobranças que impunham uma obrigação de a cada final de dia manter lucros cada vez mais acentuados.
Mas havia um preço social, além do custo econômico, a pagar por isso. A busca pela mercadoria que lhes aliviaria das tensões e pressões pela permanente superação e de vitórias continuadas só seria possível diante de ilicitudes. O ópio a que me refiro no título, é na verdade as drogas, que em algumas sociedades naturalmente são utilizadas dentro das circunstâncias que a natureza do local permite, ou até mesmo em decorrência das dificuldades de suportar os condicionantes dela – como na Bolívia, onde mascar folha de coca alivia os fatores da altitude –, passaram a se constituir em mercadorias proibidas pelo excesso criminoso de produtos químicos, à exceção da maconha. Mas mesmo neste caso a química já começa a alterar suas propriedades, até então tida como natural e menos prejudicial à saúde do que as demais, apesar de envolta em polêmica quanto a sua liberação. O que a torna também uma mercadoria ilícita. E o álcool, aceito e legalizado na sociedade, com uma indústria poderosa, mas com os mesmos efeitos colaterais na dissolução da família e na potencialização da violência.
Cocaína
A demanda crescente por essas drogas fez fortalecer um comércio ilegal e criminoso, incontrolável. Nas grandes cidades, a neurose propiciada pela pressão pelo sucesso profissional, pelo tempo desperdiçado no deslocamento entre os lugares, pelo transito massacrante e violento, pela disputa que marca o relacionamento cada vez mais individualista entre as pessoas e a disciplina cada vez mais rígida e exploradora na relação capital x trabalho, empurra-as em direção a esses mecanismos que se supõe aliviar o stress e garantem uma sensação de felicidade. E transforma o tráfico dos produtos utilizados para produzi-las em um negócio altamente rentável que impulsiona a criminalidade e a violência a níveis assustadores.
Uma trágica relação dialética impõe que uma parte daqueles que se tornam dependentes químicos também se constituam em mercadores, submetidos à escravização pelos comandantes desse comércio ilícito e macabro. Isso resulta em uma crescente ampliação de um exército poderoso, que se envolve por extensão no também lucrativo comércio de armas. Essa mistura, que tem de um lado consumidores ávidos por uma mercadoria que lhes põem em êxtase, e de outro, marginais dispostos a tudo para dominar um mercado lucrativo, nada mais é do que o resultado, ou a consequência, de como as sociedades contemporâneas se estruturaram, e da cultura criada a partir das deformações do sistema capitalista. E a violência gerada a partir dessas contradições, dissemina um medo que impõe às pessoas a necessidade de se protegerem, constituindo um novo mercado que surge desse processo: da segurança privada.
Ao Estado se exige um aparato repressivo sofisticado, para combater um exército irregular, composto por indivíduos que, parafraseando o que disse Marx no Manifesto Comunista, “já não tem mais nada a perder, a não ser suas cadeias”. E, retornando ao que abordei no artigo anterior, essas são condições piores do que a própria morte, algo reconhecido pelo próprio ministro da Justiça. Além de parecer um exército de zumbis, já que se reproduzem aceleradamente, por mais que se eliminem territórios por eles dominados. O deslocamento dessas quadrilhas para outros bairros periféricos, a corrupção policial e a permanente demanda, faz com que essas estruturas criminosas assemelhem-se a uma hidra, monstruosidade mítica com corpo de dragão e sete cabeças de serpentes, que se reconstituíam sempre que uma fosse decapitada. Para derrotá-la Hércules, outro personagem mitológico, teria que impedir sua reprodução cicatrizando rapidamente o local da cabeça decapitada.
Os tráficos de drogas, de armas, e de pessoas, jamais serão contidos, enquanto na sociedade persistir uma enorme demanda e consumidores desejosos de pagar por essas mercadorias. A condição efetiva de por fim a essa permanente reconstituição, como no combate à hidra, passa pelo fim das estruturas que lhes possibilitam ser esse um mercado altamente lucrativo. Mas isso não será possível diante das circunstâncias atuais, já que o condicionante nisso tudo se refere ao funcionamento do sistema capitalista, e não é possível extrair isso de sua essência, a não ser que signifique a sua própria destruição.
Ecstasy
Assim, por mais que se tente discipliná-lo, já que não se pode usar o termo civilizar como se fazia antes, pela própria selvageria imposta pelo jeito de se viver nas grandes cidades, novas cabeças de hidras se reproduzirão. As alternativas apresentadas, no âmbito das religiões, não conseguem conter – e isso pode ser observado historicamente – o sentido que está por trás dessa lógica: a usura, a ganância, a individualidade, e tudo que é gerado a partir daí, e que faz do nosso comportamento e de nossa cultura instrumentos que se voltam contra nós próprios e dificultam qualquer mudança. Ambição, egoísmo, vaidade, atitudes mesquinhas, são vírus presentes putridus in corpus.
Assim, somos impulsionados a entorpecer nosso corpo, ou nossa mente, para suportarmos a tirania que nos impõe uma lógica massacrante de submissão ao trabalho, e ao mercado, para saciá-lo de lucro.
Creio, contudo, como disse Marx, que o ser humano jamais se depara com problemas que ele próprio não possa resolver. Mas para isso é preciso, como ele mesmo acreditava, que se encontrem formas de organização que garantam as mudanças que nos livrem da barbárie. Qualquer alteração no estilo de vida a que estamos submetidos só será possível com uma transformação radical no próprio sistema. Extrair a sua essência. E isso significa que ele precisa ser destruído e substituído por outro, em que os valores sejam baseados na cooperação entre as pessoas visando um bem estar comum, onde os meios de produção e as novas tecnologias não estejam a serviço de uma minoria, e que o trabalho não significa algo escravizante, mas prazeroso, dentro de um limite que nos garanta usufruir o tempo curto que representa a nossa vida.
E, se o futuro é uma utopia, mas que mesmo assim insistimos em alcançá-lo, é no presente que ele deve ser construído. Então, não resta tempo a perder. Já que, como dizia o poeta Vinicius de Morais, “a essência do ser humano é a liberdade”.