Poucos artigos que eu escrevi neste blog foram alvos
de modificações depois de publicados. Neste caso especificamente decidi
atualizá-lo em função da crise que vivemos, com a disseminação do novo corona
vírus, ou a doença gerada por ele, identificado pela OMS como Covid19. A intenção
de, mais do que republicá-lo e atualizá-lo, é aproveitar o sentido dado a essa
frase por Marx e depois tornada título de um livro por Marshall Berman, que representa
a maneira como as coisas não são definitivas e estão sujeitas a transformações
permanentemente. As crises, mesmo que sendo de origens diferente, mas que
impactam as estruturas econômicas e sociais, e o nosso estilo de vida, impõem
mudanças inevitáveis e fazem jogar por terras certezas e convicções, e,
principalmente, as negações sobre o que é real, concreto e se transmuta,
dialeticamente, seguindo a dinâmica da vida, em seu sentido geral.
Após essas crises, e dependendo da sua dimensão,
tudo passa a seguir em um rumo distinto, diferente, alheio aos desejos dos que
se julgam responsáveis pelos destinos do mundo, sustentados por riqueza e o
Poder que advém daí. Deus, qualquer que seja Ele de quaisquer religião, não
consegue impedir isso, e também não é capaz de conter essas mudanças, ou de nos
fazer entender suas origens e para onde seguiremos, porque ele é a
representação que fazemos de nós mesmos com poderes que idealizamos para nos
salvar de nossos próprios erros. Mas há os incautos, que se mantém na
ignorância, e se apegam às crenças para além da realidade terrena, e do que a
ciência pode nos ensinar, se escondem em um mundo fictício, irreal, onde a
ignorância não os permite compreender a dimensão do que está acontecendo.
Voltemos um pouco no tempo, quando se iniciava a
velocidade das transformações que impunham ao mundo certezas alimentadas pela
força da ideologia neoliberal e do poder da comunicação em uma escala mundial.
O advento da globalização, expressão usada para se opor ao controle que alguns Estados
Nacionais faziam à defesa de suas riquezas, mas cujo objetivo era acelerar a
disseminação da ganância e usura capitalista por todo o mundo, e,
principalmente em territórios cujas fronteiras eram até então difíceis de serem
exploradas, procurou derrubar os valores de um mundo movido pela defesa do estado
do bem estar social, e com a preocupação em conter desigualdades cruéis, internas
e entre nações. Junto com isso, velhos valores foram tidos como ultrapassados,
e novas crenças no poder do dinheiro, do neopentecostalismo individualista e da
afirmação da ganância como algo bom e produtivo, terminou por impor nas mentes
das pessoas uma realidade absolutamente distante de seus mundos, mas aceita
pela força da ideologia e do novo mantra que dizia ser o capitalismo a última
etapa da história humana. O mundo saiu da modernidade para a pós-modernidade. E
esta durou menos que o instante em que um traque explode.
E, embora as forças reacionárias tentem atingir os
estudos das ciências humanas, é fundamental nos aventurarmos pela história e
pela filosofia, procurando fazer uma análise das mudanças pelas quais passou a
sociedade moderna. “Pós-pós-moderna”, diriam alguns. Essa onda do pós, que
pautou as discussões filosóficas na última década do século XX, felizmente
foi-se junto com os vários tsunamis que varreram muitos lugares, inclusive
aquelas duas torres chamadas de “World Trade Center”. Ou após os “subprimes”
nos Estados Unidos transformarem-se em poeiras e ter jogado a economia
capitalista em uma das maiores crises de sua história, perdendo apenas para o
“Crash” da bolsa de Nova Iorque em 1929. Pós-alguma coisa, só no sentido
figurativo.
Então, o que virou o mundo nestas duas décadas do
século XXI? Bom, seria muita pretensão querer dar resposta a isso, até porque
precisaríamos de muitas respostas e creio ser difícil nos aventurarmos em
tamanha complexidade. Podemos dar palpites, isso podemos fazer. Mas, vejam, falamos
antes em “ciências humanas”. Portanto, dar palpites, estar bem informado, não
necessariamente expressa um conhecimento científico, e isso é importante termos
bem claro.
O mundo
das comunicações fáceis difundiu em volta do planeta várias teorias e criou
vários expertises nos mais diversificados assuntos. As
comunidades virtuais, chamadas redes sociais, espalharam pelo globo uma multidão
de experts em entender da realidade social e geopolítica. Alimentados por meios
de comunicação que replicavam análises que interessavam às grandes corporações,
e aos poderes hegemônicos. As redes sociais são instrumentos de divulgação de
idéias e opiniões, não podem ser convertidas em objetos responsáveis pela
construção de conceitos, filosofias, teorias etc. Mas foram fundamentais para
difundir esses novos valores, advindos com esse mundo “globalizado” e de idéias
neoliberalizantes, conservadoras, que procuravam justificar as desigualdades
sociais como decorrentes da luta meritocrática ou pelo tamanho da fé. Por isso
elas foram se constituindo em importantes instrumentos de difusão acelerada
dessas ideias que se libertaram da “Caixa de Pandora” com o fim da
pós-modernidade (ou o que se dizia ser isso) e viraram o mundo de ponta-cabeça
nas duas últimas décadas. Junto a isso, as lutas fragmentárias esgrimidas pelas
esquerdas, perdidas em um mundo bipolar, que muitas vezes fugiam ao seu
entendimento, pelo deslumbramento das técnicas e da velocidade das
transformações. Melhor então do que a luta geral, antissistema, foi constituir
lutas fragmentadas, onde cada grupo social descriminado lutava para se inserir
na mesma lógica que as tornaram “minorias”. Uma situação contraditória, mas
posta diante de uma encruzilhada, porque essa luta tornava-se necessária. No
entanto, ela não podia estar descolada da luta mais geral, pela transformação
sistêmica e uma alteração radical na sociedade.
UM MUNDO
EM CRISE
É difícil afirmar qual o momento em que uma crise
de grandes proporções não tenha afetado o mundo. Melhor seria dizer que nos
dois últimos séculos ele está permanentemente em crise, com picos de
agravamento em ação cíclica. Primeiro é bom lembrar que o sentido desta palavra
vai mudando ao longo da história humana, sendo que etimologicamente,
originando-se do grego Krinein ou krisis, tinha o sentido de “julgar, avaliar,
decidir, separar”, transmutando-se por todo esse tempo, até ser usado na época
moderna pela medicina, passando a representar um momento decisivo de uma
situação de doença grave entre a cura e a morte (cf. dicionário Houaiss da
Lingua Portuguesa).
Na abordagem econômica essa palavra ganha a
conotação de um sentido semelhante, demonstrando o auge de contradições que
impõe uma “enfermidade” em uma formação econômico-social, forçando mudanças
substanciais e até mesmo substituição de formas de produção. Segue-se, como
decorrência, as alterações dos valores que são construídos sobre os pilares das
estruturas econômicas, a substituição de hábitos, costumes, tradições. A
cultura, enfim, transforma-se fazendo surgir novos elementos que darão à
sociedade uma nova feição, acompanhando, sempre, a forma como está estruturada
as suas bases, seu jeito de produzir. E outras idéias, impostas pelas novas
classes dominantes, substituirão as antigas no controle ideológico da
sociedade.
Nossa percepção de mudanças acompanha as situações
peculiares, particulares. Observamos o nosso redor, aquilo que nos diz respeito
especificamente, o dimensionamos à totalidade, e identificamos no cotidiano
elementos que gradativamente vão substituindo comportamentos antigos. Quando
novas atitudes passam a se impor – às vezes de forma imperceptível – é um sinal
de que os valores existentes até então enfraqueceram-se. Isso quase sempre
acontece quando, pelas formas econômicas, os relacionamentos vão se
deteriorando e forçando as mudanças.
O período em que os antigos costumes começam a se
chocar com essas novidades que vêem surgindo, acompanhando os estremecimentos
na base econômica, passou a ser denominado como crítico, ou de crises na
sociedade. As forças do novo quase sempre se impõem, mas não antes de criar a
sensação de que estamos em meio a um caos. A História irá nos mostrar que esse
período é na verdade uma transição entre o velho e o novo, alterando estruturas
sociais e formulando novos valores culturais.
Nesse aspecto uma importante referência é a
produção intelectual de Milton Santos, falecido em 2001. Esse intelectual
baiano, doutor em Geografia, e premiado internacionalmente, falava
frequentemente que estamos vivendo uma época de transição, naquilo que ele
caracterizou como período técnico-científico-informacional. E acrescentava, que
os que vivem em meio à essas transformações não conseguem perceber que estão em
meio à uma transição sistêmica, que é longa e traz consigo mudanças
superestruturais. As idéias, a cultura, vão sendo pouco a pouco afetadas por
essas transformações e geram um conflito, um caos, que representa exatamente o
início da crise que definirá os novos rumos da sociedade. Isso sempre se dá
localizadamente, depois se expandindo para outros lugares, até atingir
praticamente toda a humanidade.
ALÉM DO
BEM E DO MAL
“Nesses pontos limiares da história exibem-se –
justapostos quando não emaranhados um no outro – uma espécie de tempo tropical
de rivalidade e desenvolvimento, magnífico, multiforme, crescendo e lutando
como uma floresta selvagem, e, de outro lado, um poderoso impulso de destruição
e autodestruição, resultante de egoísmos violentamente opostos, que explodem e
batalham por sol e luz, incapazes de encontrar qualquer limitação, qualquer
empecilho, qualquer consideração dentro da moralidade ao seu dispor”. Isso é
Nietzsche (1882), citado por Marshall Berman, no livro do qual se originou o
título deste texto (embora a frase seja originalmente de Marx). E a discussão
que o motivou, e da qual Berman procura analisar, é a respeito das
transformações que aconteciam no século XIX e a crise que possibilitou o
advento da modernidade burguesa.
As relações de produção capitalista já tinham se
iniciado alguns séculos antes, e explodia na sociedade européia as mudanças culturais
que precisavam se impor, acompanhando as transformações econômicas. O choque
entre valores antagônicos, de uma época que se desfazia e de outra que
despontava. O velho e carcomido pensamento medieval se via sob um fogo cruzado
das idéias burguesas que se impunha e já do seu contrário, as teorias
socialistas que refutavam a burguesia ainda no processo de consolidação de seu
poder político.
Já naquela época vamos encontrar situações
parecidas com as que vivenciamos nos dias atuais, compreendendo bem, para não
cairmos no anacronismo, que estamos falando de momentos bem distintos da
história da humanidade. Contudo, as características pertinentes a uma crise de
choques de contradições geradas por mudanças sócio-econômicas, são bastante parecidas.
E segue-se mais uma citação de Berman, extraída da obra de Nietzsche:
“Nada a não ser novos ‘porquês’, nenhuma fórmula
comunitária; um novo conluio de incompreensão e desrespeito mútuo; decadência,
vício, e os mais superiores desejos atracados uns aos outros, de forma
horrenda, o gênio da raça jorrando solto sobre a cornucópia do bem e do mal;
uma fatídica simultaneidade de primavera e outono”.
Impactava-se, assim, numa época de espetaculares
transformações, de espírito revolucionário, um rico choque de contradições, mas
também de esfumaçamento de certezas que se chocam e colidem com novidades que
ainda não estavam definitivamente provadas. Em meio a uma dialética
incontrolável, a meu ver transparecendo o óbvio, explodiam ódios, rancores,
expectativas, anarquia, luta de classes... a modernidade despontava entremeada
com a esperança de superação de um horror que ficava para trás, e de
desconfiança pelo que poderia repetir, diante de um vazio de proposições fúteis
e individualistas.
MAIS DO
MESMO
Vivemos agora algo parecido. Sem desconsiderarmos o
fato de estarmos em uma época completamente distinta, mais de um século depois
do advento da modernidade, continuamos nos deparando com situações parecidas.
Talvez com uma novidade, analisando-se um pouco superficialmente as duas
épocas. É provável que mais do que nunca em uma época se ignore tanto a
História (assim como as ciências de uma maneira geral) como agora. Digo a
História como processo, não esse fragmento de fatos estudados isoladamente,
como se as coisas acontecessem desconectadas e fosse possível analisar casos do
cotidiano sem a compreensão de suas origens e de como as contradições forçam as
mudanças.
A geração que inicia o século XXI na adolescência,
e acredito pela maneira como aprendem as coisas, imaginam estarem vivendo em um
mundo que começou agora. Desconhecem todas as contradições que nos movem,
erguem palavras de ordem completamente anacrônicas, acreditam piamente que os
problemas do mundo é fruto do conflito entre o bem e o mal, e assumem defesa de
causas conservadoras como se as mesmas fossem revolucionárias. Isso foi impulsionado
ideologicamente pelos meios de comunicação, e adequados pelas novas tecnologias
que nos faziam sucumbir aos espetáculos da nova onda cibernética que os tiravam
do mundo real e os fixavam na virtualidade da matrix.
Como a incorporarem, mesmo que ingenuamente, o
discurso neopentecostal, tem o olhar fixado no futuro, desprendidos do
presente, e na perspectiva de alcançarem conquistas por reivindicações
singelas, aparentemente radicais. São elementos que compõem a própria maneira
como o sistema se retroalimenta. Drogas, marginalidade, alienação, apoliticismo
(que não necessariamente é alienação), religiosidade, obsessiva vontade de
enriquecer a qualquer custo, preconceito, liberalismo sexual, frustrações com o
fracasso... tudo são questões que mantém o sistema seguindo em sua lógica
normal. E convivendo com isso há mais de um século. Mas mudando no formato e
adequando-se por esse novo meio técnico-científico-informacional.
A aparente ebulição da sociedade, expressa de
várias formas e potencializadas pelas redes sociais, não carrega em si nada de
novo, a não ser no uso dessas novas tecnologias e do cyberworld. Mas, ao
contrário da época em que a modernidade desponta, compreendendo isso no sentido
filosófico do termo, nos dias atuais há uma completa indiferença em relação à
existência de classes sociais distintas, e à luta que é travada entre elas. No
momento silenciosa, mas com o aprofundamento das crises, a exemplo do que
acontece em alguns países árabes e europeus, e na observância das soluções que
se apresentam para elas, vai claramente sendo definido os campos em disputas.
As medidas radicais tomadas para superar os problemas e impedir o agravamento
dessas crises, são sempre para proteger os meios de produção, a riqueza dos
grandes investidores e o patrimônio real ou virtual (porque o dinheiro passou a
se fundamentar na opacidade) dos grandes banqueiros e especuladores.
Enquanto isso se marcha contra tudo, menos contra
aquilo que é, em essência, responsável pelas condições que tornam a sociedade
insegura e refém de seus medos e individualidades. Muito embora todo um aparato
repressivo seja mobilizado para conter isso, por uma necessidade de não se
perder o controle do Poder bem como para se impor a autoridade, não são essas
as formas de lutas, nem o conteúdo que as movem, que irão fazer com que a
burguesia perca o seu sono.
O que dizia Marx, no século XIX, mas com um
conteúdo extremamente atual, e irônico em relação às lutas e combates
ideológicos travados pela burguesia, se aplica a movimentos que se
apresentam com idéias avançadas, mas de conteúdos conservadores, que nos dias
atuais imaginam travarem uma luta revolucionária:
“Todas as
relações fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade e veneráveis
preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas relações se tornam
antiquadas antes de chegarem a ossificar. Tudo
o que é sólido desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado, e os
homens finalmente são levados a enfrentar (...) as verdadeiras condições de
suas vidas e suas relações com seus companheiros humanos”
(Manifesto Comunista, 1848. Citado por Berman, Marshal. Tudo que é sólido
desmancha no ar – A aventura da Modernidade. Cia das Letras, 1993, p. 20).
O CORONA VÍRUS E A NOVA CRISE NO
CAPITALISMO
O desafio é o que fazer agora, numa circunstância
de agravamento da crise capitalista por um vírus de uma letalidade relativa,
mas de uma aceleração de contágio aceleradíssima, o que tem feito com que praticamente
toda a estrutura do sistema produtivo capitalista esteja travada? A ganância,
bem descrita no filme “Wall Street, poder e cobiça”, no discurso de Gordon
Greco a acionistas de uma empresa que ele acabara de adquirir para fracioná-la
e vendê-la, na lógica marcante que se tornou uma marca dessas transformações no
capitalismo neste século, independente da destruição de milhares de empregos,
bem como a maneira como se passou a ganhar dinheiro no cassino global das
bolsas de valores, interligadas em tempo real, tornou-se a face real e perversa
de uma época marcada pela aceleração contemporânea.
O novo corona vírus forçou um cavalo de pau no
capitalismo. Isso é como se uma peça importante da engrenagem tivesse se
soltado de uma Ferrari, ou de uma Mercedes, a 300 quilômetros por hora numa
corrida de Fórmula 1. E a seguir essa máquina tivesse ficado presa na “zebra” da
pista, impossibilitada de se deslocar sozinha, senão com um impulsionamento
externo. Apesar de uma comparação meio grosseira, o que tento apontar é a absoluta
impossibilidade de o capitalismo conseguir se livrar dessa crise sem a
utilização do principal mecanismo que o tornou um sistema mundial: o Estado.
Demonizado em época de neoliberalismo, e tornado mínimo pela destruição de seus
mecanismos de aparato social, constituído por décadas pós-segunda guerra como
necessidade para disciplinar a concentração de riqueza e o aumento das
desigualdades sociais.
Apesar disso, da extrema necessidade de intervenção
do Estado para evitar falências em larga escala de um considerável número de empresas,
a demissão em massa de trabalhadores e trabalhadoras e atendimento às camadas
que se situam abaixo da linha de pobreza, a recessão, e quiçá uma forte depressão
econômica que afetaria todo o mundo é um forte possibilidade. Assim, se
confirma o que iniciamos colocando nesse artigo, das mudanças que
necessariamente acontecem em tempos de crise. Confirmando a máxima no título desse
artigo, na exploração já dita de uma frase extraída do Manifesto Comunista,
elaborado por Karl Marx e Friederich Engels, a solidez do capitalismo
neoliberal se esfumaça e ameaça valores consideráveis em sua lógica perversa, o
individualismo, a usura, o egoísmo... E fortalece, pelas próprias consequências
do que virá após o combate a esse vírus, a necessidade de se construir novas
relações, fundadas na solidariedade, cooperação e sensibilidade social. Caso
contrário as sociedades se depararão com revoltas sociais em larga escala,
tensões violentas com depredações e saques, por quem necessita viver e não
medirão esforços para buscar seus direitos.
O que vimos nos últimos anos, de ascensão de
governos insensíveis socialmente, muitos escorados em comportamentos estúpidos
e de viés autoritários, de extrema-direita, como no caso brasileiro, certamente
não seguirá adiante nas próximas escolhas eleitorais. Essa crise perversa será
um caminho para que nos livremos da perversão de governos inconsequentes, com
nítidos desprezos pela vida humana e somente preocupados em servir ao capital,
à grande burguesia urbana e rural, e as corporações industriais, comerciais
e/ou financeiras.
Apesar de tudo isso, e de termos que nos
prepararmos até mesmo psicologicamente para as mudanças que virão dessa
pandemia, nos resta neste momento cuidarmos da vida ameaçada pela celeridade do
contágio desse vírus. O isolamento é uma necessidade, mas certamente nos
despertaremos dessa quarentena cientes de que é preciso mudar o protagonismo
nas sociedades. Tirarmos das mãos dos ricos, insensíveis com a miséria e
desigualdades sociais, e transferirmos para comunidades onde as pessoas possam
agir em comum união, respeitando-se mutuamente, e confiando na afirmação do
solidarismo e do cooperativismo com forma de nos unir e nos prepararmos para
tempos muito difíceis, com participação efetiva de um estado que vise o bem
estar social. A ganância, usura e o individualismo devem ser combatidos, e que
os valores perversos neoliberais se desmanchem esfumaçados pela força da
resistência do povo e da afirmação da humanidade.
(*) Publicado originalmente em 2011,
atualizado e ampliado em 28 de março de 2020, segunda semana de quarentena em
função da pandemia do Covid19.
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