Algumas questões
têm me chamado muito a atenção durante essa crise que afeta o mundo todo. Não é
deste ano que me dedico a analisar todos esses processos históricos, e os do
tempo presente, que nos envolvem diretamente nesses tempos em que vivemos. A
função de historiador é exatamente essa, remexer o passado, investigar fatos e
circunstâncias que levaram a transformações que marcaram épocas, seja por meio
de revoluções ou sucessivas crises estruturais ou conjunturais. Com a Geografia,
e por meio da Geopolítica, ampliei esse meu olhar.
Mas a sucessão de
eventos, principalmente nessas duas últimas décadas, tomam nosso fôlego, e nos
consomem em indagações e perplexidades, quando começamos a estudar a celeridade
das mudanças que se seguiram na contraposição da Globalização, mas
paradoxalmente, acontecidos exatamente por causa dela, decorrente da intensa
integração e aceleração do mundo contemporâneo, mas sobretudo da corrida
ambiciosa nas disputas hegemônicas pelo controle do poder militar e do mercado
mundial.
Inclui-se nessa
lista de eventos do monumental ataque terrorista às torres gêmeas, o World
Trade Center, nos EUA, e as guerras que lhe sucederam, até essa terrível
pandemia gerado pelo vírus, até agora invencível, “Sars Cov-2”, passando pela
grave crise econômica que explodiu em 2008 e todos os conflitos que se
espalharam pelo mundo, potencializados, ou estimulados, pela guerra híbrida e
pela nova modalidade de desnorteamento e propagação do ódio, na esteira das
crises: as fake news.
Tão rápido e
intenso quanto se deu a globalização, cuja característica marcante em seu DNA
foi justamente a rapidez e a celeridade das transformações, técnicas,
científicas e informacionais, nos deparamos com o transbordamento do que se
pretendeu construir nesse mundo movido por uma ambiciosa etapa da revolução
industrial do capitalismo. Eu prefiro não me referir a esse processo como sendo
uma “terceira revolução industrial”.[1]
Uma sucessão de
crises, que já impactava o capitalismo desde os anos 1970, levou a
desestruturação do socialismo real quando este se abria para o mercado mundial,
e possibilitou uma reviravolta impressionante nos rumos da humanidade, desde o
final da década de 1980, acelerando nos anos 1990 e atingindo seu ápice na
primeira década desde século. (HOBSBAWM, 1995, pp. 465-479) Até que em 2008 a
“bolha” estourou, desnudando um sistema que passara a ser caracterizado pela
frivolidade das relações humanas, que se tornaram coisificadas, desprovidas de
sentimentos humanitários e solidários, salvo os momentos em que isso servia a
interesses marqueteiros, e pela obsessão muito mais nítida e desavergonhada
pela busca e ostentação da riqueza.
A ganância
tornou-se parte da condição meritocrática, um valor intrínseco à lógica
perversa e individualista da ascensão social a todo e qualquer custo.
Naturalmente que esse caminho levaria a sociedades dominada por valores
perversos e insensíveis diante das fragilidades humanas, que se ampliavam à
medida em que as estruturas globalizantes (bancos, corporações, bolsas de
valores, organismos mundiais, mecanismos de controles etc.) se fortaleciam e
concentravam as riquezas no topo da pirâmide. (HARVEY, 2018, pp. 203-205)
Indubitavelmente o
mundo passou por uma acelerada transformação. O capitalismo chegou a ser
considerado como a última etapa da humanidade e o “mercado”, o deus todo
poderoso da ganância, seria o balizador das competências individuais, ou nas
relações entre os estados-nações. A aceleração tecnológica atingiu patamares
surpreendentes, e o tempo em que se descobrem inovações se encurtava
rapidamente. (HARVEY, 2016, PP. 11-12)
Entramos na era da
robotização com a inteligência artificial, algo adiantado pela ficção
cinematográfica desde os anos 1980, mas bem antes pela literatura, a partir de
meados do século XX, com a obra de Isac Asimov, “Eu Robô”. Uma série de contos
que estimulou realmente muitos estudiosos e cientistas, e inspirou um filme
produzido em 2004.[2]
O mundo projetado no filme é 2035, mas a realidade tem se intensificado mais
rapidamente do que a ficção. O que deve se acelerar no pós-, pandemia.
Mas o caráter absolutamente
expansivo do capitalismo, e a forma como o mundo entrou numa desesperada
competição, seja entre as pessoas, e principalmente entre os países,
notadamente os mais ricos, levou ao limite das relações políticas, e o que se
dissemina atualmente é ódio, preconceito e xenofobia. E uma forte disputa entre
as duas maiores potências mundiais: EUA e China.
O mundo tornou-se
pequeno para os desejos de grandiosidade, de inventividade e de necessidade de
se produzir em escala crescente para abastecer mercados cada vez mais fluídos,
e poucas décadas após se encerrar o ciclo bipolar que prevaleceu no pós-guerra
e termos entrado nessa fase denominada globalização (ou mundialização, como
gostam de se referir os franceses), esse curto espaço de tempo histórico de
três décadas, politicamente dirigido pelas ideias neoliberais e em meio ao
deslumbramento da globalização, chegamos ao fim de uma época que passou da
unipolaridade para a multipolaridade, e, parece, retornar à bipolaridade.
Encontremos um réquiem para a globalização.
OS ORGANISMOS
MULTILATERAIS E A GEOPOLÍTICA GLOBAL
Antes de entrarmos
nesse ponto, cabe esclarecer que os organismos multilaterais, que tiveram um
papel importantíssimo na globalização, não foram criados a partir desses
processos de integração mundial pós-guerra fria. A seguir apresento um quadro
com o ano de fundação e o objetivo de cada um deles, para que possamos
acompanhar o raciocínio sobre para o que eles vieram, o papel que cumpriram
durante todos esses anos e o que está acontecendo nesse momento em que a
globalização se esfumaça.
Essas instituições foram criadas, sempre, em períodos de crises, na maioria das vezes em pós-guerras, e, principalmente depois da segunda grande guerra mundial. (HOBSBAWM, 1995, p. 419) O advento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) acentuou essa necessidade. Portanto, para além das dificuldades geradas por essas guerras, uma outra se tornaria mais importante, e se faria necessário a criação de organismos multilaterais que, a princípio, servisse para reforçar os interesses dos países ocidentais, no âmbito de uma luta que se tornaria crucial para os destinos da humanidade: a guerra fria.
Evidente que
alguns desses órgãos cumpriram a importante função de estabelecer alguns
limites ao belicismo, e em determinados momentos foi crucial no equilíbrio
necessário entre esses dois mundos que se armavam perigosamente, inclusive com enormes
arsenais nucleares. E, muito embora para manter esse equilíbrio algumas regras
impostas tenham sido estranhas nas relações com a maioria dos estados-nações,
como por exemplo deixar a critério de cinco grandes potências a capacidade de
decidir os destinos do mundo. Eram, e são ainda hoje, as únicas com poder de
veto no Conselho de Segurança. O que, pelas regras da Organização das Nações
Unidas, implica na necessidade de haver consenso entre esses cinco países para
que quaisquer sanções possam ser executadas.
Poucas vezes isso
ocorreu nas últimas décadas, e em uma dessas vezes, por manobras embutidas nas
entrelinhas de uma resolução, possibilitou que os EUA e aliados da OTAN
perpetrasse atos arbitrários contra a Líbia, influenciando vergonhosamente no
assassinato do presidente de uma Nação soberana, por interesses escusos, embora
possíveis de serem entendidos. O resultado disso é que até hoje a Líbia se
encontra em um intenso conflito e tornou-se mais um dos estados párias na
constelação das nações impactadas por decisões que interessavam ao poder
imperial dos Estados Unidos da América. (BANDEIRA, 2013, pp. 287-303)
Pouco a pouco
desnudou-se o poder exercido pelos EUA e seus aliados, por trás desses
organismos multilaterais. Jamais houve verdadeira independência, ou, quando
muito, algumas decisões questionáveis não pela isenção, mas pela dúvida de não
atender inteiramente os interesses estadunidenses, ou se porventura fosse
complacente com algum dos países por este Estado considerados inimigos, como no
caso emblemático da pequenina Cuba, por mais de cinco décadas sofrendo todos os
tipos de bloqueios, muito embora sendo apoiada pela absoluta maioria dos países
membros da ONU em suas assembleias gerais.
Mas os EUA sempre
fizeram valer o poder de veto, nesses e em outros casos de países cujos
governos lhes contrariassem. Por outro lado, quatro outros países também tinham
esse poder: Rússia (URSS), China, França e Reino Unido. Ou seja, os principais
países que se sagraram vitoriosos na aliança construída para derrotar o
nazi-fascismo. Um equilíbrio forçado para evitar que desequilíbrios levassem a
uma nova grande guerra, que vigorou por todo o período do pós-guerra,
denominado de Guerra Fria, e que passou a cumprir um papel importante na
construção do mundo globalizado.
Apesar de todos os
porém, esses organismos multilaterais assumiram um papel preponderante no
processo da globalização. Claro, quase sempre pressionados pelos EUA, e na
maioria das vezes atendendo aos seus interesses e de seus aliados. O GATT (Acordo
Geral de Tarifas e Comércio) foi o único que passou por transformação em sua
nomeclatura, mudou de denominação e veio a se constituir no organismo mais
importante para a Globalização, a Organização Mundial do Comércio (OMC). (SILVA,
2004, pp. 628-630) A desregulação do comércio mundial, a partir principalmente
da abertura das fronteiras comerciais e dos processos de desnacionalização de
inúmeras empresas estatais, necessitava de um organismo que pudesse gerenciar
esse processo e estabelecer as regras que deveriam ser seguidas a partir de
então.
Os países que não
obedecessem as normas da OMC tornavam-se párias e encontrariam dificuldades
para lidar com o comércio mundial. Impunha-se dessa forma os mecanismo de
aceitação das regras neoliberais, assim como se fazia também através do Fundo
Monetário Internacional (FMI), como condição para concessão de empréstimos aos
países menos desenvolvidos, quase sempre endividados e com suas riquezas sendo
expropriadas pela elite corrupta, tornada parte do poder político. A partir dos
anos 1990 do século passado, a própria elite passou a disputar as eleições, e
não mais deixar a cargo de seus apaniguados, testas-de-ferro, como se fez
historicamente no Brasil e na maioria dos países latino-americanos.
Como essas
transformações se intensificaram muita rapidamente a partir dos anos 1980, era
preciso estabelecer parâmetros que identificassem as mudanças na direção dos
interesses definidos pelos países centrais, dentro da lógica política que se
impunha, o neoliberalismo. Ou, uma nova forma de liberalismo, sempre focado
como em seus princípios, tendo o mercado como elemento mais importante, a
despeito do poder dos Estados, mas retirando deste aspectos importantes na
condução da economia, que passou a ser celeremente controlada por grandes
corporações financeiras, industriais, comerciais e das recém criadas corporações
que passaram a se expandir e controlar o poder crescente das novas tecnologias.
As conhecidas
empresas “.com”, que obtiveram um crescimento acelerado no final dos anos 1990,
a ponto de gerar uma das primeiras crises da globalização, em função da bolha
que se criou com preços supervalorizado de ações de empresas que surgiam,
quando se popularizava a “world wide web”. Ficou conhecida como a “bolha da
internet”, e levou a uma intensa insegurança nos mercados financeiros e a um
efeito cascata de desvalorização de empresas cujo valor era infinitamente maior
do que efetivamente elas valiam. Algo que se tornou, de certa forma, muito
comum nos tempos da globalização financeira.
A ganância foi um
fator fundamental para gerar uma cegueira obsessiva nos que se extasiavam com a
facilidade gerada por investimentos fáceis, e que levavam gradativamente alguns
setores a forçar o endividamento das pessoas para levá-las ao consumo fácil,
algo bem possível devido ao deslumbramento pelas novas tecnologias. (SANTOS, 1999,
pp. 10-20) O capitalismo se intensificava, o dinheiro virtual se disseminava
pelo mundo e crescia o número de bilionários. Embora fosse muito maior a
quantidade de pobres e miseráveis que se espalhavam pela maioria dos países, e
em muitos casos os conflitos regionais, as guerras, o sectarismo religioso e a
escassez hídrica, as populações, sem escolhas, se deslocaram em massa, aos
milhões, por suas fronteiras próximas ou em direção aos países mais ricos, na
Europa e na América do Norte.
A crise de 2009
despertou dos sonhos, ou transformou em pesadelo, o que se imaginava ser um
eterno paraíso de ganhos fáceis gerados pela globalização. Mais uma bolha
explodiu, agora a hipotecária e no coração financeiro do mundo, os EUA.[3] Daquele momento em diante
a globalização desandou. Evidente que não se pode atribuir a somente esse fato
a acentuação de uma crise sistêmica que se estende desde o final dos anos 1970,
cambaleando por vários momentos e se reerguendo de forma impressionante. Mas as
fissuras permaneciam, e por elas as estruturas do sistema foram se
fragilizando.
“Ma non tropo”. Alguns
países souberam se aproveitar bem das transformações e atraíam para seus
territórios uma infinidade de empresas, que na busca por lucrar mais, com mão
de obra mais baratas e menos problemas gerados por leis trabalhistas que se
tornavam alvos dessas corporações e eram abominadas pelo ideário neoliberal,
eram deslocadas de seus países de origem, onde a organização dos trabalhadores
era mais forte. Esses países não somente se preocuparam em atrair essas
empresas, mas se debruçaram sobre as mercadorias que ali eram montadas, e em
pouco tempo tinham copias perfeitas daqueles produtos. Com os ganhos
conseguidos nesse processo investiram em educação e no desenvolvimento
tecnológico. Das cópias feitas nas linhas de produção, à produção de
tecnologias que passaram a superar muitos dos produtos ocidentais, não se passaram
três décadas.
Foi muito rápido o
passar do tempo para que alguns países antes encarregados de abrigar empresas
montadoras de peças fabricadas fora, passassem eles mesmos a produzirem, e com
novas tecnologias. Ao passo que os países asiáticos se despontavam por esse
caminho, principalmente a China, o Japão já estava envolvido nesses avanços
desde antes, mas também a Coréia do Sul, a Tailândia, o Vietnam... a Rússia se
recuperava do desastre causado pelo governo desastroso de Bóris Ieltsin, e retomava gradativamente o seu
protagonismo.
Enquanto desde o
começo do século XX os EUA se deparava com um inimigo invisível, a quem
declarara guerra depois de um atentado que assassinou mais de três mil pessoas
naquele país, em 2001, e deslocava todo o seu aparato bélico e suas atenções
para o Oriente Médio e o Afeganistão, alguns países emergentes numa espécie de
segunda onda da globalização, se uniam para criar um novo polo hegemônico, com
a intenção de pelo menos romper com qualquer possível unipolaridade que se
pensava construir com a globalização. Os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul, surgiu e fez despontar um novo bloco forte política e
economicamente, e a partir daí estabeleceu-se uma nova polarização, que crescia
ao mesmo tempo em que mecanismos que visavam destruir essa força eram postos em
ação. A guerra híbrida, que funcionara no Oriente Médio, em especial na Líbia,
Egito, Iêmen, e Síria, passou ser
aplicada nas fronteiras da Rússia (principalmente na Ucrânia), China, região do
Tibete, (BANDEIRA, 2013, pp. 119-132) e no Brasil a partir de 2013. (HARVEY, 2018,
pp. 190-192)
Os conflitos se
espalham por todo o mundo, e as tensões retornam em larga escala ameaçando fazer explodir novas guerras. Acordos
são rompidos e os EUA, com a eleição de Donald Trum, e sua política “América
First” passa a romper diversos acordos e a atacar abertamente aqueles países
que ameaçavam a hegemonia estadunidense, e que ele via como ameaça para o
próprio desenvolvimento nacional.
Os organismos
multilaterais tornam-se alvos da política de Trump e os ataques sistematicamente
acontece revezando-se qual deles será o próximo a ser atacado. Primeiro a OTAN,
cujos parceiros são acusados de não investirem recursos necessários para armar
a organização e a fragilizar diante dos avanços do poder russo;[4] depois a OMC, vista como
uma ameaça aos interesses dos EUA, passando a ser pressionada para que as
decisões favorece seus interesses. Essa pressão sobre a OMC terminou por fazer
o brasileiro Roberto Azevedo, diretor geral da instituição, decidir abandonar o
cargo a partir do segundo semestre deste ano de 2020.[5]
No começo deste
ano a Pandemia do Covid19 concentrou o protagonismo das ações nas mãos da OMS,
e foi o próximo desses organismos a sofrer intensos ataques do presidente
estadunidense, a ponto de ameaçar retirar todo o apoio financeiro e a acusando
de beneficiar a China. O quadro que se constituía a partir dessas pressões com
a nova política isolacionista adotada pelo presidente dos Estados Unidos, foi
agravado pela disseminação dessa doença. O vírus (Sars Cov-2) avançou
implacavelmente sobre todos países gerando centenas de milhares de mortes, sem
que houvesse uma vacina para contê-lo, e transformando os Estados Unidos no epicentro
da doença, e atingindo o terrível número de 100 mil mortos, só podendo ter essa
marca atingida pelo Brasil, cujos número de mortes sequem crescendo.
Os EUA, com sua
política de ataque aos blocos econômicos, e de identificação de inimigos a quem
lhes ameaçassem em sua hegemonia, definiu seus objetivos centrados nos
interesses internos, e estava se recuperando às custas de um forte isolamento e
distanciamento até mesmo de seus parceiros tradicionais. A China substituiu a
antiga União Soviética, no imaginário persecutório de Trump, que passou a usar
um discurso nacionalista e, como sempre é comum aos EUA, de defesa da segurança
e dos interesses nacionais.
Em meio a uma
forte recessão e à beira de uma inevitável depressão, como consequência do
agravamento da crise em decorrência da Covid19, o discurso de Donald Trump sobe
o tom, e se eleva mais à medida que se aproxima das eleições presidenciais
marcadas para dezembro deste ano.[6]
Inevitavelmente o cenário
pós-covid19 não será de um mundo globalizado. Os organismos multilaterais
sofrerão uma pressão maior do que está acontecendo neste momento e deverão
passar por transformações estruturais, se não estarão fadadas a desaparecerem.
A tendência é termos um mundo marcado por fortes disputas econômicas e ameaças
bélicas, com forte possibilidade de termos um grande conflito que se estenda
por todo o mundo. Uma ameaça de guerra nuclear não pode ser destacada,
dependendo do quadro a ser definido nas eleições estadunidenses e as
consequências que após essa pandemia.
A desglobalização
se concretizará, na eminência do enfraquecimento dessas estruturas, o que não
irá significar o desaparecimento de blocos regionais. Esses também serão
refeitos, e haverá um forte crescimento da influência chinesa em países asiáticos
e europeus, seguindo o curso do projeto da nova rota da seda.(GEROMEL, 2019, pp.
116-123) As tensões se intensificarão no Oceano Pacífico e envolverão os países
latino americanos. O Brasil, na postura de isolamento ao lado dos EUA, será
mais um pária no contexto da política mundial, ao contrário do protagonismo
construído no começo do século, auge da globalização.
A incógnita que
permanecerá é se de fato teremos algo parecido com a guerra fria, onde dois
gigantes bem armados se temiam e se respeitavam, em alguns momentos vivendo
tensões que os fizeram se aproximar do confronto aberto, como no caso da crise
dos mísseis soviéticos que seriam enviados a Cuba, mas sempre salvos pela diplomacia.
A posição de Donald Trump, de romper acordos, atacar adversários e ameaçar
aliados, elevará as tensões ao limite do suportável. Mas esse limite pode ser
muito frágil, ou estar não muito distante, a depender das condições econômicas
que afetarem os países, e principalmente os EUA. E, diferente dos anos pós 2ª
guerra, quando a economia estadunidense ajudou a reerguer a Europa, agora a
situação poderá ser inversa, acuando um forte poder imperial que será mais
perigoso ainda caso o povo daquele país insista no erro de mais uma vez elegê-lo.
A desglobalização,
nos parece, já está em curso, e se efetivará. Para o bem, ou para o mal. Pode
renascer com a China com nova protagonista em seu comando, mas isso só o tempo
dirá. E aos trabalhadores de todo o mundo resta ouvir o clamor da Associação
Internacional dos Trabalhadores, de meados do Séculos XIX: “Uni-vos”!
[1]
Não vejo como
sendo uma “terceira revolução industrial”. Visto que desde quando acontece o
processo inicial do desenvolvimento capitalista, e a manufatura foi substituída
pela maquinofatura, e tivemos início às linhas de montagens das fábricas, o que
vemos é um processo crescente de transformações técnico-científicas na direção
de ampliar e fortalecer a lógica sistêmica contida no modelo de produção
capitalista. Não havendo, portanto, nesses três últimos séculos uma
substituição dessa formação econômico-social, mas sempre uma sequência de novas
invenções e adaptações tecnológicas com o mesmo objetivo moldado pelo sistema
capitalista. Não há revoluções no capitalismo, as que houveram aconteceram para
propiciar sua substituição, mas fracassaram no seu intento final. Pelo menos
até os dias atuais, à exceção da China, o que é absolutamente relevante, e
está, digamos, numa situação de transitoriedade, a poucos passos da hegemonia
do controle do mercado mundial. Em um novo patamar, agora identificado como
“socialismo de mercado”, apesar das controvérsias.
[2] https://www.tecmundo.com.br/da-ficcao-para-a-realidade/6226-da-ficcao-para-a-realidade-eu-robo.htm
Acesso em 27 de maio de 2020.
[3]
Em 2014 ofereci um mini-curso no IESA/UFG, para analisar a crise econômica, e
me inspirei em alguns filmes e documentários, utilizados durante o curso como
ferramenta importante. Dentre eles TRABALHO INTERNO: “O documentário TRABALHO
INTERNO, premiado no Oscar de 2010, expõe de forma crua todas as responsabilidades
de políticos, CEOs, e até mesmo de professores de economia de importantes
universidades estadunidenses, na implementação de medidas que fizeram ampliar a
crise e o endividamento dos Estados”. (https://gramaticadomundo.blogspot.com/search?q=trabalho+interno)
[4] https://www.dw.com/pt-br/trump-critica-europeus-na-v%C3%A9spera-de-c%C3%BApula-da-otan/a-44604618
Acesso em 27 de maio de 2020
[6] https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/05/25/trump-bloqueia-brasileiro-na-corte-de-apelacao-e-enfraquece-ainda-mais-omc.htm
Acesso em 28 de maio de 2020.
- https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/05/29/trump-anuncia-rompimento-dos-eua-com-a-oms-por-atuacao-durante-pandemia.htm
- https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/05/29/trump-anuncia-rompimento-dos-eua-com-a-oms-por-atuacao-durante-pandemia.htm
REFERÊNCIAS:
BANDEIRA, Luiz Alberto Muniz. A segunda guerra fria. Rio
de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2013
HARVEY, David. 17 Contradições e o fim do capitalismo.
São Paulo: Ed. Boitempo, 2016
____________. A loucura da razão econômica: Marx e o
capital no século XXI. São Paulo: Ed. Boitempo, 2018
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos – O breve século XX
(1914-1991). São Paulo: Ed. Cia. das Letras
GEROMEL, Ricardo. O poder da China. São Paulo: Editora
Gente, 2019.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. São Paulo: Ed.
Record, 2000.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Enciclopédia de
Guerras e Revoluções no Século XX: As grandes transformações no mundo contemporâneo.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
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