quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

QUE SEJAM FELIZES OS DIAS QUE VIRÃO. VAMOS INVENTAR UM 2012 COM SOLIDARIEDADE, AMIZADE E AMOR


Não sei o que dizer do que será. Resta-me analisar o que se foi. Assim, na reconstrução do passado, que me pode dar a compreensão dos erros e acertos do tempo que se foi, posso melhor inventar o meu futuro. 2012, e o que mais vier. Repito aqui, os mesmos desejos do ano passado, pois eles são permanentes, apenas envelhecemos um ano a mais.
Seguramente uma das coisas boas em minha vida nesses dois últimos anos foi a força para criar e consolidar este Blog. Gramática do Mundo, como já disse, um nome quase emprestado de Fernand Braudel que criou sua Gramática das Civilizações, representou para mim muito mais do que uma catarse como eu pretendia que se fosse inicialmente. Transformou-se em um fórum de debate bem provocativo, como sempre fui, e sou, em minha peculiaridade.
Mas, claro que ele foi também aquilo para o que se propôs, fazer com que eu pudesse libertar do fundo da minha intimidade todos as angústias motivadas pela perda de minha filha, Ana Carolina. Através do Gramática do Mundo, e tentando ainda fragilmente seguir o lema da filosofia antiga, exposta inicialmente em um poema de Horácio, no século I, antes da Era Cristã, com a expressão Carpe Diem, não me preocupo em viver obcecado com o futuro, mas buscar a compreensão do presente, de forma a vivê-lo em toda a sua intensidade.
Por isso minha mensagem de transição entre dois momentos simbólicos (2011-2012), construídos seguindo uma lógica que interessa ao consumismo capitalista, mas que inegavelmente também se constitui em um momento de confraternização, e de expiação de todos os nossos problemas, eu quis fazê-lo aqui. Transformo, assim, todos os meus seguidores e eventuais leitores, em personagens de minha vida, com os quais estabeleço abertamente, por essa ferramenta espetacular que é a internet, momentos de franca discussão ideológica e intelectual, bem como compartilho todos os meus sentimentos pela perda irreparável que me consumiu e me consumirá pelo resto da minha vida. 
Recebi, principalmente nas postagens mais sofridas, nas datas que mais me lembram da Carol, mensagens de amigos, e até mesmos de pessoas anônimas para mim, que só conheço pela internet, e foram e têm sido fundamentais para a recomposição de meu caminho. São, seguramente, estímulos para a superação das adversidades e me ajudam a viver a vida como expressado na filosofia antiga, nessa loucura do mundo moderno. E nos dão também a convicção de que a solidariedade só precisa ser praticada, porque muito embora nos seja vendida uma imagem de um mundo cruel, as pessoas, em sua maioria, tem sim, sensibilidade e expressam ainda isso de várias formas. O velho altruísmo que nos salvou em épocas primitivas, permanece, ainda que hibernado pelos tempos individualistas, resquícios do neoliberalismo. Em certo momento ele se manifesta e desperta o lado sensível dos indivíduos, homens e mulheres.
2011 não foi o ano que eu esperava. Mas segui repensando uma série de comportamentos que me acompanharam por vários anos, e que somente um choque em nossas vidas é capaz de nos fazer refletir. Sigo sendo eu mesmo, com a minha “ranzizesse” privada, que diz respeito aos defeitos que cada um de nós possui e compõe a nossa personalidade. Mas adquiri uma capacidade maior de compreender os dramas e fragilidades da vida humana.
Não sou partidário de princípios doutrinários, segundo os quais o sacrifício é um fator essencial para que o sentimento humano se realize. Não temos que, necessariamente, buscarmos o sofrimento a fim de termos nossos “pecados” expiados. Mas é inegável que ele nos trás um choque de uma realidade da qual não esperamos experimentar. Construímos nossos mundos (assim como nossos deuses) de acordo com o que queremos, e esquecemos que não podemos querer aquilo que é inusitado, ocasional. O inevitável pode nos trazer surpresas para as quais não nos preparamos, e da fragilidade de uma vida aparentemente perfeita, desfazem-se sonhos e ilusões de futuros construídos quase que moldados por fantasias que nos são impostas por mecanismos exteriores à nossa vontade.
Converso com minha companheira, Celma, sob óticas diferentes de ver a vida. Ela, sempre otimista, construiu toda a sua resistência à tragédia que nos abateu, buscando espiritualmente forças que traduzisse sentimentos de solidariedade e de um pensar positivo que vê ao longe, além do momento em que estamos, e constrói positivamente um futuro de esperança. Assim ela vai lidando com os programas que o Instituto Ana Carol tem construído e, mais do que um projeto, a realidade que é a Bordana, Cooperativa de Bordadeiras a consolidar essas certezas construídas com o olhar para adiante.
Não tento desconstruir os sonhos, mas parto de outra perspectiva. A de que o que imaginamos ser a construção de um futuro nada mais é do que a realização do presente. Dialeticamente, ele vai sendo tecido, e termina por concretizar algo que foi pensado. Mas o que seria desse “futuro” se no presente não tivéssemos construído as bases das mudanças? Ademais, não há futuro, pois o que idealizamos como sendo isso, ao imaginarmos tê-lo construído, ele já se torna presente. E, como o tempo não pára, em frações de segundos já se torna passado.
Digo isso para afirmar que são as realizações do presente que possibilitam aos nossos pensamentos se concretizar. Contudo, nada do que se constrói hoje, ou do que se imagina construir, está livre do acaso. Mas, como não podemos ficar pensando no acaso, assim como não faz sentido a obsessão pela morte, devemos pensar sempre em viver toda a intensidade do presente. Abstraindo o egoísmo e o individualismo, logicamente. Afinal, a nossa vida não se realiza isoladamente.
Assim, 2012 se construirá a cada dia. Por isso, a mensagem que quero passar é a de que cada ano novo só se completa em seu final, até lá ele simplesmente é a somatória de dias, semanas e meses. E cada um de seus dias, deve ser vivido em seu tempo, na duração que lhe foi dada por essa espetacular e indecifrável condição que adjetivamos como vida.
Então, não nos basta pensar no ano de 2012. E sim na construção dele, a partir da vivência ativa e intensiva de cada dia, individualmente. Viver um dia por vez, ao invés de nos perdermos em angústias e desesperos do que fazer depois de amanhã. Isso parece óbvio, mas estranhamente não é visto dessa maneira.
Mas alguns dirão que isso é utopia. Que é ilusão se imaginar preso apenas ao que acontecerá a cada dia, na medida em que isso acarreta um efeito em sequência e, seguindo a própria lógica da vida, impõe naturalmente o pensamento no que se seguirá.
Isso também é verdade. Mas aí reside a beleza, a incógnita e o segredo da dialética. A vida em sua mais perfeita contradição. Pela qual não conseguimos jamais compreendê-la por completo, nem vivê-la a cada momento. Pois que ela nada mais é do que uma tridimensionalidade que nos cerca: vivemos o presente, a partir de coisas que construímos do passado e que seguiremos levando adiante, naquilo que se traduz como o futuro.
Que 2012 seja assim, então, para cada um de nós. Cheio de saúde, alegria, amor e fraternidade. Que a solidariedade jamais deixe de estar conosco cotidianamente, por mais que tenhamos em nossas ideologias o sentimento de que tudo que está aí deve ser mudado na construção de um mundo novo.
Tudo bem. Mas as pessoas que vivem a sofrer, por uma condição de sujeição à lógica irracional do mundo, têm direito a superar seus sofrimentos. Não devemos esperar as pessoas morrerem na miséria para tomar isso como exemplo de que o sistema é injusto. Devemos condená-lo, mas salvando as pessoas... e não somente as matas, as árvores, os animais. “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” (Che).
Que 2012 inspire solidariedade, amizade e amor. Que construamos um novo mundo a partir de nossos próprios exemplos. Que não nos limitemos à crítica, pela crítica, mas que apresentemos alternativas concretas para realizarmos o sonho das pessoas viverem seus presentes com dignidade. E façamos isso também com nós mesmos. Que consigamos viver intensamente cada dia, cada momento, e nos coloquemos um desafio: de a cada dia que superarmos, conseguirmos aumentar o número de amigos que nos cercam.
Quem sabe assim atingiremos nosso objetivo de inventar um 2012 que corresponda ao que desejamos para cada um de nós em particular, e para todos coletivamente.
E o façamos tornar-se realidade.

Carpe diem!
“Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati. seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam, quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare Tyrrhenum: sapias, vina liques et spatio brevi spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem quam minimum credula postero”.

“Tu não procures - não é lícito saber - qual sorte a mim qual a ti os deuses tenham dado, Leuconoe, e as cabalas babiloneses não investigues. Quão melhor é viver aquilo que será, sejam muitos os invernos que Júpiter te atribuiu, ou seja o último este, que contra a rocha extenua o Tirreno: sê sábia, filtra o vinho e encurta a esperança, pois a vida é breve. Enquanto falamos, terá fugido ávido o tempo: Colhe o instante, sem confiar no amanhã”.
 "Odes" (I,, 11.8) do poeta romano Horácio (65 - 8 AC) 

IMAGENS:


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

“AMIGO(A) É COISA PRÁ SE GUARDAR, NO LADO ESQUERDO DO PEITO”

Amigos e amigas
Agradeço de todo o coração as manifestações de solidariedade e carinho que recebi e que foram fundamentais para me ajudar a passar pelos angustiantes dias que me trazem tristes recordações. Aprendemos, na medida em que nos humanizamos, a conviver com as lembranças. Passamos a lidar com nossas memórias, com os fatos passados que se organizam em nosso cérebro e que ali ficam permanentemente. Mas lidamos de maneiras diferentes com eles. 
Algumas de nossas experiências ficam retidas em algum lugar do nosso cérebro, reaparecem apenas esporadicamente. Há outras, contudo, pelo que elas representam em nossas vidas, que não só não as controlamos por inteiro, como em certas ocasiões fazemos questão de trazê-las de volta. E se não fazemos isso carregamos um sentimento de culpa e não nos perdoamos por um possível esquecimento. Esse é um eterno dilema, condicionado pelo sentimento por uma falta que nos faz alguém a quem dedicamos tanto amor.
As tragédias e situações tristes são aquelas que mais nos fazem retroceder no tempo, e nos tornam prisioneiros dessas lembranças. Quando perdemos um filho, ou filha, isso dura para sempre, só acaba quando for nossa vez de partir. É aí que entra essa corrente de solidariedade, as manifestações amigas, e o resultado que isso causa em nossa auto-estima, fator fundamental para que possamos enfrentar esses momentos adversos. São manifestações que atuam em nossa cabeça como elementos fortificantes, tonificadores, e servem para que possamos avaliar a importância da vida e de como podemos aprender a viver, apesar das perdas que retiram de dentro de nós algumas substâncias que nos fazem falta. Ou até mesmo, nos sentimos como se tivéssemos perdido um pedaço de nós mesmos. Na verdade é isso mesmo que ocorre quando se perde um filho.
Mas é também verdade que nossas vidas continuam, e, assim como por outro tipo de fatalidade algum indivíduo perde parte de seu corpo e luta para sobreviver com o que lhe resta, também nós que perdemos entes queridos sabemos que devemos seguir adiante, superando essas perdas. Embora jamais as esqueceremos, sempre nos lembraremos e nunca nos faltarão lágrimas para vertermos por suas lembranças.
Mas, caros amigos e amigas – os que eu conheço pessoalmente, e os que a rede social me possibilitou conhecer de longe – tenham certeza que o fortificante para suportarmos isso vem das manifestações de carinho, apreço e solidariedade. Por isso, dedico a todas as pessoas queridas que me enviaram suas mensagens, pelo facebook, por email, ou por telefone (e aquelas que se irmanam comigo no pensamento, que são e sempre serão minhas amigas), três músicas que considero especiais:

1. Canção da América, de Milton Nascimento: http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/27700/
2. Recado para um amigo solitário, de Paulinho Pedra Azul: http://letras.terra.com.br/paulinho-pedra-azul/1064537/
3. A Lista, de Osvaldo Montenegro: http://letras.terra.com.br/oswaldo-montenegro/65521/

E... para seguir me lembrando de minha filha:

1. Pedaço de Mim, de Chico Buarque (com Zizi Possi): http://letras.terra.com.br/zizi-possi/181270/
2. Gostava Tanto de Você, de Edson Trintade (com Tim Maia): http://letras.terra.com.br/tim-maia/48925/ 
Vou terminar esse texto de agradecimento, com uma frase retirada de uma mensagem que postei no blog no final do ano passado (que estou reeditando para publicá-la na próxima semana).
“Não sei o que dizer do que será. Resta-me analisar o que se foi. Assim, na reconstrução do passado, que me pode dar a compreensão dos erros e acertos do tempo que se foi, posso melhor inventar o meu futuro. 2012, e o que mais vier".
Mas, "nada do que foi será do jeito que já foi um dia" (Lulu Santos).
Um grande beijo no coração de cada um e de cada uma, amigos e amigas.
Carpe Diem!


Obs: Na próxima postagem farei um balanço geopolítico do que aconteceu no mundo em 2011.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

UM BREVE SILÊNCIO!

AOS AMIGOS E AMIGAS, EM ESPECIAL AOS DA COMUNIDADE VIRTUAL DO FACEBOOK.

Amigos e amigas, 2011 vai se encerrando. Já estamos em dezembro e este é um mês em que minhas angústias se acentuam. A saudade de minha filha aumenta, tanto mais quanto se aproxima o dia de sua partida: 13 de dezembro. E as datas e festas que se sucedem já não têm, para mim, a mesma alegria de outrora.
Este foi o ano em que me tornei mais um membro da comunidade virtual. Com muita satisfação, em pouco tempo ultrapassei mil amigos nesse ambiente de polêmica, discussões acaloradas e futilidades. Aqui provoquei e fui provocado sobre vários temas, mas o que mais me manifestei foi sobre aquilo que muito me animou neste ano. O futebol, uma paixão que carrego por 40 anos, o amor pelo Clube de Regatas Vasco da Gama. Esta foi minha grande alegria.
Isso me leva a lembrar do tempo em que minha filhinha corria a me abraçar todas as vezes que eu vibrava com um gol do Vasco. Mas ela, que também se dizia vascaína, não me perdoava quando eu xingava em excessos durante a empolgação exagerada dos jogos. Isso eu ainda me lembro, sempre, quando estou no calor das partidas, e algum palavrão sai inesperadamente. De imediato olho para o seu retrato, que fica postado ao lado do aparelho de televisão. Tento me controlar, mas é impossível, e o meu olhar lhe implora perdão. Afinal, tem sido o futebol que preenche os vazios dos finais de semana sem sua presença.
Divertimento que buscamos a fim de completar nossa vida cotidiana, rotineira e entremeada de altos e baixos, de alegrias e tristezas. Posso somar a isso uma feliz convivência com a família, minha esposa Celma e meu filho Iago. Além de minha mãe, irmã, irmãos e outros parentes, próximos ou distantes, que buscamos sempre reencontrar. Alegria também por ver meu filho se tornar estudante de História, na UFG, e também por vê-lo se incorporar à nação vascaína, naturalmente.
Este foi um ano de muitos problemas de saúde e de mais uma perda na família, meu irmão Kleber faleceu no mês de setembro, ampliando o trauma pelo desaparecimento de alguém querido. Um botafoguense fanático, que mesmo em seus últimos momentos, no leito do hospital, se alegrava e sofria com seu time. Sobre isso ainda pudemos conversar em nosso último contato por telefone, alguns dias antes de sua morte. No ano passado, ele esteve conosco nesse período de festas. Mais uma lembrança a nos entristecer, em uma época que é marcada por alegrias e esperanças.
Nos próximos dias, pretendo restringir minha participação no Facebook. Entrego-me após isso ao silêncio das minhas lembranças e a me dedicar a “brincar” com as imagens que me acompanham permanentemente, do jeitinho alegre e faceiro de minha querida Carol. Na terça-feira (13/12), quando se completarem quatro anos de sua morte, verterei, seguramente, mais lágrimas, que irão irrigar de amor a terra onde está seu corpinho (que hoje teria 14 anos), sepultado ao lado do seu avô, meu pai. Seguindo uma rotina que fazemos pelo menos três vezes por ano – no dia de seu aniversário, no dia de finados e na data de sua morte – cumprirei um ritual simbólico, embora eu carregue sua lembrança, permanentemente, cotidianamente, todos os dias, em minha memória, no meu coração, onde eu estiver.
Eu, que não professo nenhuma religião, carrego comigo outros elementos simbólicos, alguns deles construídos desde a minha infância, outros reforçados pelo jeito curioso e carinhoso da Carol. Dentre esses, algo que é marcante nos finais de ano: a árvore de natal. Tornou-se para mim uma obrigação vê-la montada no mesmo lugar em que ela se habituou a colocá-la, desde quando seu avô era vivo, e ela o acompanhava nessa empreitada. Em todos os dezembros faço questão de vê-la montada. A mesma árvore, os mesmos enfeites, com suas luzinhas piscando, e cada uma delas indicando que ali está presente minha bela pequena. 
Carol, na praia de Itapoã (BA), 2006
Minha “belinha”, como eu a chamava, para em seguida cantar a música de Caetano Veloso: “você é linda, mais que demais, você é linda, sim... onda do mar, do amor, que bateu em mim”. Algo que eu repetia desde que ela era bem pequena, de tal forma que ela se acostumou a dizer, sempre que a ouvia: “olhe pai, a minha música”.
Os dezembros, os natais, as passagens de ano, já não trazem as mesmas alegrias de antes. Seguimos com o prazer de viver pelos que aqui estão, por aqueles que amamos, e que nos amam. Mas, sem a Carol, os dias jamais serão os mesmos. Nessa época, os dias tornam-se tristes e sombrios, vazios, permeados de sentimentos que se contrapõem à explosão de esperança que toma conta da sociedade. Não consigo mais sentir alegria nessa época, e não sei por quanto tempo isso vai durar.
Quando sentir a necessidade de fazer explodir meus sentimentos e abrandar minhas angústias retornarei à rotina divertida e provocante, que tornou-se para mim uma catarse, de navegar pelo facebook e provocar e ser provocado pelos amigos.
O meu blog seguirá, enquanto eu conseguir atualizá-lo, pois ele é movido por esse sentimento, de perda, de saudades da minha filha e ânsia de poder ajudar, de alguma forma, a entender o mundo e contribuir para sua transformação. Mas sem o ânimo que marcou a minha vida por trinta anos de militância política. A morte de minha filha tornou para mim o futuro mais incerto do que normalmente ele é. Uso então o blog como instrumento a suprir esse retraimento a que me impus na luta política.
Mas estarei sempre atento ao que está acontecendo com os amigos, e pelo menos um dia na semana lerei as mensagens, e os que quiserem se comunicar comigo de outra forma, é só olhar o email no meu perfil. Fiquem á vontade para enviar mensagens, terei prazer em recebê-las e responder.
Enquanto isso tento finalizar a revisão do meu livro (no que aproveito para fazer uma divulgação) sobre a Guerrilha do Araguaia, que estarei relançando no próximo ano, quando se completam 40 anos do início do movimento guerrilheiro. A primeira edição foi publicada no ano em que a Carol nasceu, 1997. Será para ela a primeira dedicatória dessa nova edição. Em sua memória, em sua lembrança: “Ana Carolina Oliveira Campos: uma parte de mim que faltava... uma parte de mim que se foi”.
“SAUDADE, É O AMOR QUE FICA!”

Leia mais em:



BOAS FESTAS, UM FINAL DE ANO CALMO, TRANQUILO E FELIZ PARA TODOS (AS).
CARPE DIEM!
Até breve.

domingo, 4 de dezembro de 2011

SOBRE A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL E A MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Nessa postagem seleciono também os artigos que escrevi sobre a crise econômica e as manifestações dos “indignados” por vários países, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Não tenho dúvidas de que essa crise é estrutural, ela é conseqüência da maneira como funciona o sistema capitalista. A usura e a ganância são os combustíveis que fazem girar a economia capitalista, mas elas não tem limites, o que é uma característica do sistema. Falsificam-se tudo, desde balancetes de grandes corporações, às movimentações do sistema financeiro, o funcionamento das bolsas de valores, até os números de seus endividamentos. Espalham-se boatarias para fazer cair e subir ações, artificializando o valor de empresas de forma a ampliar a concentração de riquezas. Uma realidade virtual, que enriquece poucos, mas destrói uma economia real e impõe a milhões de pessoas o desemprego e a desestruturação familiar.
As manifestações da população, seguindo-se ao aumento das desesperanças e da falta de emprego, de forma aleatória e desorganizada, só ampliam o sentimento de frustração e revolta, mas não trazem resultados concretos. As mudanças que estão ocorrendo nesses países apontam na direção contrária de tudo aquilo por que se batem os indignados. Economistas das mesmas escolas responsáveis pela hecatombe econômica nos EUA, e políticos mais conservadores, assumem o poder seguindo-se a velha máxima, de se querer mudar tudo, mas que tudo possa continuar como está.
O resultado final disso, se olharmos para a história, e vermos como no passado as saídas para situações parecidas se deram às custas do sacrifício dos mais pobres, será mais uma guerra de proporções mundiais. Há poucas saídas possíveis para a enorme quebradeira desses países. Antes, falávamos de um efeito dominó nos países árabes, com a queda em sequência de seus ditadores. Agora, podemos utilizar essa expressão para analisar a maneira como a crise econômica está se espalhando, desde os EUA em 2008 até a zona do euro, e daí em diante.
Como o sistema, cada vez mais funciona como uma enorme rede mundial, facilitada pela novas tecnologias de comunicação, a especulação e ganância são planetárias. Os especuladores não se limitam a atuar apenas em seus países, circulam dinheiro (em boa parte virtual) por todo o planeta. A necessidade de reposicioná-lo, para cobrir perdas existentes em tal lugar, forçará a uma imediata desvalorização nas moedas dos países onde ocorrem essas aplicações, ou a uma valorização artificial, afetando suas econômicas e expondo toda a teia na qual está configurado o mecanismo de funcionamento do sistema. Seu poder, mas contraditoriamente, sua vulnerabilidade, se nutre de um vírus que impede que o seu organismo volte a ter vitalidade.
O que se diz na mídia tradicional sobre a crise econômica, assim como o que está por trás das revoltas árabes, não merece crédito. Receba-a apenas como uma manchete, e busque informações disponíveis em vários sites na internet, e procure conhecer a realidade de cada país, econômica, política e a sua situação continental. Não se esqueça, sempre, de se municiar de um mapa histórico e geográfico, que indique as principais riquezas daquele país, sua localização e as suas fronteiras.
Por isso, faço da frase de Guimarães Rosa um lema: “Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa”.
Eis os links para os artigos.
SOBRE A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL (EUROPA E EUA)

sábado, 3 de dezembro de 2011

REVOLTAS NOS PAÍSES ÁRABES – CRISE NO ORIENTE MÉDIO (UM BREVE RESUMO)

Por um tempo terei que reduzir minha capacidade de acompanhar os acontecimentos e produzir textos para o blog. Estou empenhado em finalizar no prazo exigido pela editora, as correções e atualizações em meu livro sobre a Guerrilha do Araguaia, que terá sua 2ª edição lançada no começo do próximo ano, quando se completam 40 anos do início desse movimento guerrilheiro, ocorrido aqui no Brasil, no Sul do Pará e Norte do Tocantins.
Resolvi, então, fazer uma seleção dos artigos que escrevi ao longo desse ano, sobre as crises nos países árabes, e também sobre a crise econômica. Em minha opinião, como vocês poderão ler em alguns artigos, uma decorre da outra e, portanto, podem ser vistas a partir da visão de uma crise que já vem se arrastando desde 2008. Ou mesmo de alguns anos antes disso.
Não mudei nada nos textos. Acredito que no geral as análises se mantêm atualizadas com as motivações que geraram essas revoltas. Os interesses das potencias ocidentais são visíveis, em função das diferenças de tratamento entre os países. Pode-se comparar, por exemplo, as ações da OTAN na Líbia, e as diferenças de tratamento em relação ao Iêmen; assim como a pusilanimidade no caso do Egito, onde ocorreu um golpe militar silencioso, sob os auspícios dos países europeus e EUA. Já no tratamento da Síria, diferente de como estão tratando das repressões recentes no Egito, o que se deseja é uma imediata ação militar. Até então bloqueada pelos BRICs, tendo à frente Rússia e China.
É evidente a tentativa de se tomar iniciativas em determinadas situações (na Líbia, pelo petróleo, e na Síria pela posição estratégia e por suas fronteiras com Israel), e em outras se recorre até mesmo à  Arábia Saudita (caso do Iêmen e do Bahrein). Péssimo interlocutor, quando a questão é a democracia, pois se sabe do poder autocrático e ditatorial que emerge da Casa de Saud, há décadas, sucessivamente, acompanhando a transmissão de poder hereditariamente naquele país.
Não se pretende negar o grau de autoritarismo que prevalece há muitos anos nesses países. A luta por democracia e liberdades políticas seguramente são mais do que justas e de uma necessidade de mudança eminente naquela região. Mas, as hipocrisias reinam na mídia e nos pronunciamentos de porta-vozes das autoridades ocidentais, ou até mesmo em seus próprios depoimentos. Há, em verdade, uma ferrenha disputa geopolítica pelo controle de uma das regiões mais estratégicas do mundo. Os discursos em defesa da democracia que embalam esses depoimentos não passam de tergiversações, para justificar ações que garantam elevar ao poder governos que mantenham sintonia com os interesses das potências ocidentais.
Contudo, corre-se o risco de o tiro sair pela culatra. Frase usada para explicar quando uma estratégia fracassa e ocorre uma ação inversa aos objetivos iniciais. No caso do Egito, já se tem os resultados eleitorais que garantem à Irmandade Muçulmana, através do Partido da Liberdade e Justiça ampla maioria entre os eleitos. Na Líbia e na Tunísia, provavelmente o governo seguirá a Sharia, código baseado nas leis islâmicas. No Marrocos, embora fora da rota das revoltas, as eleições também garantiram vitória ao partido islâmico, mesmo sem maioria, sendo que isso ocorre pela primeira vez. Esse será o mesmo caminho da Síria, com a provável queda de Bashar Al-Assad.
Isso significa que, embora alimentando muitas dessas revoltas, as potências ocidentais em breve se depararão com o mesmo tipo de problema que estão enfrentando na relação com o Irã. Ressalte-se que nos últimos anos, a maioria dos governos que foram depostos eram ditaduras que mantinham governos com participação de cristãos (como no caso do Iraque), ou que não seguiam a Sharia (como no caso da Líbia), e da mesma forma pode-se dizer em relação a Síria.
O que se depreende de toda essa crise, e do cerco que se forma em torno do Irã, com o objetivo de isolá-lo, é a eminência de uma guerra de proporções imprevisíveis. Espero que esses textos contribuam para colocar um pouco de verdade em um noticiário profundamente tendencioso. O maniqueísmo e a demonização, até mesmo de antigos aliados ocidentais, escondem interesses mesquinhos e geopolíticos, com a população desses países constituindo-se em meros instrumentos nas mãos sequiosas de poder e riqueza de muitos dos países que se encontram envolvidos e até o pescoço com uma enorme crise econômica.
Não há, portanto, o mínimo sentido se usar a expressão “primavera árabe”, em comparação com o que ocorreu na Europa a partir da década de 1940 (século XIX) e que foi chamada de “primavera dos povos”. O que se viu no século XIX, foi uma série de movimentos revolucionários por vários países europeus e a derrota do poder absolutista, renascido com a Santa Aliança. Depois desses movimentos a burguesia assume definitivamente a condição de classe dominante, e começa a consolidar o sistema capitalista. Não há parâmetros de comparação entre as duas situações, portanto o uso dessa expressão é enganador, e mais um arranjo midiático para confundir a opinião das pessoas.
Eis os links para os artigos.
AS REVOLTAS ÁRABES E CRISE NO ORIENTE MÉDIO