ESTAVA ESCRITO NAS ESTRELAS
A
mudança radical na política brasileira, que nos jogou em uma crise profunda, com
a ascensão de personagens políticos que imaginávamos sepultados com o fim da ditadura
militar e pela “Nova República”, não se deu repentinamente. Ela se seguiu a uma
série de mudanças que já vinham acontecendo por diversas partes do mundo. Os movimentos
dos “Indignados”, “Occupy”, e aqui no Brasil com as “Não é por 20 Cents” e “Não
vai ter copa” refletiam os rumos de uma crise que já acontecia desde a virada
do século XX para o XXI, atingindo o seu ápice com a chamada crise econômica em
2008, que se prolonga até os dias atuais, entre altos e baixos da economia
mundial.
A
mudança de estratégia dos EUA, para combater seus desafetos, com a eliminação seletiva
via uso de drones para assassinar suspeitos de serem terroristas; e o advento
das “guerras híbridas”, como táticas desconcertantes de desequilíbrios
geopolíticos e intervenção indireta nas políticas de determinados países, a fim
de derrubar governos que fossem considerados ameaças aos interesses do império,
mantiveram o mundo sob tensão, até explodir em guerras como na Síria e na
Ucrânia.
Resgato
aqui, com links para acesso a artigos publicados no Blog Gramática do Mundo, os
vários momentos em que, acompanhando pela geopolítica todas essas
transformações, procurei indicar as crises que nos cercavam, e até mesmo
arriscar em projeções sobre os rumos que estavam tomando o mundo, e, em
especial, no nosso país. Posso dizer, com tranquilidade, que acertei no vaticínio
sobre algumas das consequências que estavam por vir.
É
dessa maneira que me manifesto nesse 13 de junho de 2023, quando se completam
dez anos das JORNADAS DE JUNHO. Acrescento que a ascensão da extrema-direita se
deu muito mais por negligência e extremo sectarismo e esquerdismo da esquerda e
da chamada esquerda radical, do que pela competência de personagens e grupos até
aquele momento invisibilizados.
A
onda que se seguiu às manifestações de junho de 2023, foi também impulsionada
pela cobertura midiática não meramente contemplativa, mas bastante ativa e a
partir de 2014 praticamente protagonista na frente de propaganda, a fim de
ampliar o poder da multidão com o intuito de derrubar o governo de Dilma
Rousseff, alçando a condição de lideranças personagens saídos dos subterrâneos da
política, outsiders, ou políticos inexpressivos, mas porta-vozes dos
indignados, ressentidos, frustrados e alienados, cuja cultura política se
expressa pelo seguidismo expresso nos votos de currais e na influência de púlpitos
de igrejas que os transformam em rebanhos servis e ignorantes da realidade e do
mundo objetivo.
Mas
o resultado não foi como o planejado. A tentativa de impor um derrotado na condução
do país, a partir de 2015, que culminou no impeachment de uma presidenta legitimamente
eleita e sem culpa grave que a condenasse, no que se constituiu em um golpe
institucional, falhou. E, após um governo desastrado de um vice golpista, a
ascensão da extrema-direita fugiu de todos os roteiros planejados pela
centro-direita com forte apoio midiático: o tiro saiu pela culatra. Mas os
derrotados fomos todos nós, brasileiros e brasileiras, que amargamos dez anos
de uma crise fabricada a fim de retirar o Brasil de uma rota que era diferente
daquela que tradicionalmente o país vinha seguindo desde os seus primórdios.
Embora tendo retornado Lula á presidência, depois de situações inusitadas e de
idas e vindas, perdemos um tempo considerável em meio a destruição de toda uma
estrutura de estado que favorecia às camadas mais fragilizadas da sociedade.
Reconstruir tudo isso não será fácil, porque se criou uma polarização política
nefasta, e os embates se dão com base em mentiras e ataques mesquinhos e
perversos, dividindo de forma sectária a sociedade brasileira.
Mas
a história está aí, para não deixar esquecer por quais caminhos trilhamos e por
quais erros nos guiamos até chegarmos aos dias atuais. Precisamos lembrar,
sempre, do nosso passado, para evitar repetir erros que são cruciais para
nossas vidas.
INDIGNADOS! PARA QUAL
DIREÇÃO SEGUEM AS MUDANÇAS?
Novembro de 2011
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2011/11/indignados-para-qual-direcao-seguem-as.html
Infelizmente, a revolta
das pessoas decorrente de situações reais, de dificuldades que lhes afetam
diretamente, ao não se traduzir em transformações imediatas (o que é
praticamente impossível), criam desesperanças e jogam nas ruas milhares de
pessoas sem a verdadeira percepção de como as estruturas do Estado funcionam. (...)
Mas há um reverso nessa
história, e talvez seja o pior resultado. A possibilidade de esse
descontentamento ser absorvido por grupos e partidos conservadores, à espreita
do crescimento da desesperança que se seguirá à frustração inevitável daqueles
que se entregam aos protestos, ao não verem resultados concretos nas suas
revoltas.
INFORMAÇÕES ABSTRATAS
CONSTROEM REALIDADES VIRTUAIS
Novembro de 2011
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2011/11/informacoes-abstratas-constroem.html
Tenho
repetido sempre, seguindo o mestre Milton Santos, que a informação é carregada
de ideologia e nos tempos atuais cumprem mais o objetivo de desinformar, do que
propriamente criar uma consciência a respeito de sua complexidade, de forma a
levar o indivíduo a refletir e a pensar, construindo hipóteses, dúvidas, que o
levem a um questionamento capaz de construir novas ideias que possam mudar o
mundo positivamente.
Infelizmente,
a Universidade nos últimos anos somente replicou a lógica demandada pela dita
globalização, ou mundialização como querem os franceses. Seguindo-se aos
interesses do mercado, numa pressa espetacular para garantir mão de obra nas
novas conformações do trabalho criadas mundo adentro, fragmentou-se em uma
infinidade de especializações, reduzindo a capacidade da juventude (já
representada nos dias de hoje nos profissionais que assumiram seus postos, em
muitos casos inexistentes há pouco mais de uma década) de pensar, criar, que
não fosse dentro da lógica capitalista da ampliação de seus ganhos.
Empobrecido
nessa capacidade inventiva, não de construir novos caminhos da lógica
capitalista, mas de novas ideias que possam tornar o mundo mais racional e
humano, cede-se o espaço para uma perigosa situação. Num mundo de acesso fácil
à informação, pouco assimilada, mas imediatamente incorporada à sua visão de
mundo, cada indivíduo julga-se, ou melhor julga pelo que recebe de informações,
capaz de opinar sobre tudo e a estabelecer juízos de valores sobre fatos que se
apresentam de maneira abstrata, ou que são construídos para tornarem-se
instrumentais ideológicos capazes de tornar-se uma verdade absoluta. Nada de
mais, pelo contrário, se esse conhecimento não fosse construído de maneira
superficial.
As
redes sociais potencializam isso e transformam-se, elas também, em instrumentos
que aceleram o processo, devido à rapidez com que essas informações circulam
para milhares de pessoas em um curto espaço de tempo. Mal recebe a informação e
ela é imediatamente repassada, sem processá-la e analisá-la, mas por envolver
muitas vezes temas que são facilmente aceitos, ou pela polêmica que carregam,
ou por situar-se no âmbito dos agrados ou desagrados que marcam o cotidiano
daquela pessoa.
E
assim, num mundo de verdades virtuais e de informações abstratas, muitas vezes
falsas, ou construídas em uma versão ideológica, do interesse de quem as produz
e as difunde nos submetemos a uma espécie de tribunal tridimensional, onde
fato, verdade e versão, se confundem e transformam nossas vidas em uma mera
ficção hollywoodiana.
Abre-se
dessa forma, no vazio de ideias consistentes e inovadoras, um largo caminho
para a fascistização da sociedade, com a ampliação de situações que demonstram
acentuado grau de intolerância com o outro, com as diferenças, com os limites
que existem nas relações em sociedade, de respeito mútuo e de aceitação das
contradições como elementos que são somatórios na diversidade que constituem
nossa humanidade.
AS ORIGENS DA
INTOLERÂNCIA E O FASCISMO MODERNO
Março de 2012
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/03/as-origens-da-intolerancia-e-o-fascismo.html
O fascismo moderno,
enfim, não aparece espontaneamente na cabeça de jovens. É fruto de teorias
preconceituosas e de instrumentos sociais que criam e reforçam valores que se
baseiam na intolerância, na não aceitação das diferenças, e na liberdade de as
pessoas definirem suas opções sexuais. Como na atitude bizonha e estúpida de um
deputado pastor que pretende criar medidas que desfaçam a opção sexual de gays.
Tudo isso faz parte de
dogmas que permanecem sendo instigados de forma instrumental em templos,
tabernáculos, igrejas e mesquitas de todo o mundo, muito embora não se
constitua em regra geral nem tenha relação com a fé individual, de cada pessoa,
com sua legítima crença e liberdade de acreditar no que lhe convier.
São teorias também que
fundamentam programas partidários que representam setores econômicos dominantes
e a classe média alta, mas que pelo reforço ideológico religioso dissemina-se
indistintamente por todas as demais classes sociais, apontam para perigosos
caminhos, e se refletem de forma mais agressivas em alguns países, mas tendem a
se expandir na medida do crescimento da crise econômica.
AS CRISES E A
DESCONSTRUÇÃO DA POLÍTICA
Maio de 2012
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/05/as-crises-e-desconstrucao-da-politica.html
Vivemos,
assim, um momento de profundas contradições. Crise econômica nos Estados Unidos
e Europa que potencializa situações em que a intolerância desperta as frustrações
e o desespero pela falta de emprego e de perspectivas futuras, e aqui no
Brasil, onde economicamente passamos por um período de expansão e crescimento,
mas cujas delinquências políticas, tradicionalmente ainda vigorando, nos mantém
tensos e incertos quanto ao nosso futuro. Ou a dúvida sobre quem será
beneficiado com todo esse crescimento.
E,
no meio de tudo isso, a necessidade de estarmos vigilante, principalmente
aqueles que conhecem o processo histórico e os exemplos de situações parecidas
que levaram a humanidade para rumos indigestos, e buscarmos o convencimento das
pessoas de que não é banindo a política que esses problemas serão corrigidos.
Só
haverá saída no âmbito da própria política. E é sempre assim, mesmo que no
advento de um processo revolucionário. Sair dele será também um exercício de
apaziguamento das diferenças e de acordos selados pela política. O que as
pessoas não podem abdicar é da capacidade de discernir o joio do trigo na
escolha de quem irá lhe representar nos parlamentos ou na condução das administrações
públicas.
Recusar-se
a essas escolhas, motivado pela desesperança e incentivados por quem queira se
aproveitar desse momento em aventuras abstratas, só irá beneficiar quem tem a
riqueza, afasta mais ainda os trabalhadores da vida política e nos mantém
reféns de nossos próprios vícios.
Ao
mesmo tempo, é essencial compreender que a solução definitiva para esses males
passa necessariamente pelo combate a um sistema que tem na ganância e na usura
a base de suas transformações. Enquanto a cultura que prevalecer na sociedade
for aquela onde o consumismo é o motor a motivar as pessoas, a individualmente
buscarem formas de serem felizes tentando alcançar um estilo de vida
individualista, egoísta e que sempre exige o esforço em busca de cada vez mais
dinheiro, dificilmente poderemos acreditar que as gerações futuras terão um
ambiente mais saudável e honesto para viverem.
O OVO DA SERPENTE – A
pós-política e o perigo dos três efes: fakes, farsantes e fascistas
Julho de 2012
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2012/07/o-ovo-da-serpente.html
Mas o que me viria a me
surpreender, por todo esse tempo de virtualidade digital seria a virulência dos
embates, oriundos principalmente de pessoas identificadas com grupos
aparentemente de esquerda. Além dos inconformados conservadores, contrariados
com as recentes mudanças políticas no Brasil.
Passei a observar tais
comportamentos, e até mesmo em algumas situações o grau de agressividade e de
ofensas destiladas atingiu níveis preocupantes, me alertando para buscar explicações
em uma nova realidade que teve início em conflitos que marcaram um novo estilo
de luta da juventude por vários países, denominado “indignai-vos”. Na esteira
da crise capitalista que se estende desde quando as torres gêmeas foram postas
ao chão, em 2001, cujo epicentro se deu em 2008 com a quebra de inúmeras
instituições financeiras na sequência de uma grave crise no mercado imobiliário
estadunidense, até o momento atual, com uma crise imprevisível na Europa e do
capitalismo de uma maneira geral.
A partir de uma situação
concreta, particular, e as observações que as minhas aulas de geopolítica me
impunham, fui construindo algumas ideias a respeito dos tempos atuais. Na
junção das lembranças das elaborações de Milton Santos, das leituras dos
últimos textos de Eric Hobsbawm, e, obviamente, da dialética marxista, fui me
convencendo que vivemos uma época de transição, de um possível esgotamento do
sistema capitalista. Mas, como já alertava Gramsci, o perigo está quando o novo
demora em chegar e o velho resiste em desaparecer. Se não há a perspectiva de
saídas revolucionárias, que possam dar um novo rumo à sociedade mediante a
existência de uma vanguarda devidamente organizada, outros mecanismos
certamente despontarão, a exemplo de como se deu o surgimento do nazi-fascismo,
nas décadas de 1930-40, e prolongarão a agonia sistêmica.
***
Além
disso, por não possuírem elementos ideológicos que lhes garanta organicidade,
alguns desses movimentos não somente atacam os partidos políticos, mas escolhem
aqueles que são forjados ideologicamente, e destilam injustos ódios que com o
tempo transformam-se em comportamentos intolerantes. Parece haver uma
necessidade de se destruir as ideologias dos que as têm. Mas como não há
espaços para discussões, pela ausência delas diante de um pragmatismo
imediatista, a agressividade passa a se constituir na arma aparentemente eficaz
para fazer valer seus objetivos.
Ocorre
que na sequência de comportamentos que vão se tornando cada vez mais
intolerantes, amplia-se a virulência das agressões, e o que se vê é a repetição
de atos que nos fazem lembrar a maneira como o nazismo e o fascismo despontaram
logo na sequência da crise econômica da terceira década do século passado.
A
alienação de uma juventude forjada em tempos de uma globalização neoliberal, a
destruição dos laços familiares, a individualidade crescente, a busca egoística
pelo sucesso a qualquer custo, e a ampliação de valores teológicos que
substanciam tudo isso, denominada teoria da prosperidade, compõem um conjunto
de circunstâncias que explicam os tempos de negação da ideologia. Mas não
somente isso. Agregue-se, contraditoriamente, a falta de informação em um tempo
em que as ferramentas tecnológicas facilitam a aproximação com o que acontece
em todas as partes do mundo. Mas são essas mesmas ferramentas, que explicam,
para o bem e para o mal, o distanciamento de leituras mais complexas,
filosóficas, optando-se por um cartesianismo vulgar, porque fruto de toda a confusão
gerada pela sociedade midiática neoliberal, e pela informação deformada,
apolítica e baseada na espetacularização do medo. O que os empurram para
leituras alienantes, bizarras e de auto-ajuda.
A
radicalidade de alguns desses comportamentos foram potencializados pelas redes
sociais, criando uma coragem peculiar a alguns jovens, situação que não
aconteceria em plano real, pela absoluta falta de backgrounds,
consequência do distanciamento teórico e da ausência de fundamentos a lhes
garantir segurança para um embate ideológico.
O
que se vê, então, é o destilar de ódios a todos aqueles que porventura pensem
diferentes, discordem e confrontem seus pensamentos e práticas. Semelhante ao
que aconteceu na ascensão do fascismo tradicional, aquele que no período de
crise sistêmica parecida com a que vivemos nos dias atuais, despontou a partir
de comportamentos críticos, de suportes garantidos pelas insatisfações e
indignação de populações que viviam momentos de dificuldades econômicas graves.
Também naquele momento, os jovens tornaram-se alvos potenciais de lideranças
emergentes, pela insatisfação com uma época que não lhes ofereciam
perspectivas. E alimentados pela intolerância, visaram também os comunistas,
que ameaçavam ideologicamente a elite dominante, fracassada desde o final da primeira
guerra mundial. A negação da política instrumentalizou uma reação conservadora.
Alguns
daqueles que usam das redes sociais para agirem de maneira desrespeitosa não o
fazem de maneira explícita, mas escondem-se em perfis falsos, prática criminosa
que tem se tornado comum, principalmente no Facebook. Ou senão, omitem de seus
perfis informações que possam identificá-los e apresentam desenhos, ou charges,
em lugares de fotos que os reconheçam.
Não
é essa uma prática somente desses grupos, mas pude identificá-las também sendo
utilizada por jornalistas de blogs conservadores, de jornais, tabloides e
revistas, que postam suas matérias para serem repercutidas, e que, ao serem
criticados acionam seus fakes, que agem agressivamente, ofendem o
interlocutor e tentam desqualificá-lo. Assim como fazem alguns desses
farsantes, anonimamente, em comentários agressivos nos blogs que tem defendidos
os últimos governos no Brasil e teçam criticas aos partidos conservadores.
Ao
fim de tudo, esses comportamentos tornaram-se bem visíveis no desencadear da
greve na universidade. Comportamentos sectários, violentos e intolerantes,
traduzem um sentimento comum à época do fascismo, de não aceitação das
diferenças, de negação do pensamento oposto e da reação intempestiva e agressiva
na imposição de um pensamento ou de uma determinada prática. Não sei se
surpreende, mas é lamentável, o fato de juntarem-se a esse coro intolerante
alguns professores, que obviamente se desqualificam enquanto educadores. Mas
suas posturas indicam que eles pouco se importam com isso, a inconsequência é
uma marca que lhes acompanham e a intolerância um traço de caráter.
E,
não surpreendente, grupelhos de extrema-esquerda, setores anárquicos
despolitizados e contumazes direitistas, se irmanaram no mesmo comportamento.
Mas tudo isso deve servir de alerta aos que defendem uma sociedade baseada na
tolerância, no respeito às diversidades e na aceitação de ideias que se
contraponham. Considerando-se o momento de crise econômica mundial, do
xenofobismo e da intolerância religiosa, vivemos circunstâncias bastante
parecidas com o que ocorreu no século XX. O fascismo e o nazismo ascenderam
mediante a insatisfação popular, e se consolidaram com um discurso baseado no
moralismo hipócrita, no anticomunismo e na descrença com as organizações
políticas.
A
FÚRIA: O DESPERTAR DA MULTIDÃO, OU A REVOLTA DE UM INCONSCIENTE COLETIVO?
FRAGMENTOS
DE UM OLHAR SOBRE A MULTIDÃO
Junho
de 2013
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2013/06/fragmentosde-um-olhar-sobre-multidao-eu_22.html
Eu
acompanho essas manifestações há mais de dez anos. Claro, ao longe, como
estudioso de geopolítica. A maior delas, ou uma das mais importantes, foi em
1999, durante uma reunião da OMC e gerou um filme chamado "A batalha de
Seattle". Já escrevi sobre isso no meu blog (http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2011/11/indignados-para-qual-direcao-seguem-as.html).
Há diversas demandas, revoltas represadas, reivindicações justas. Mas nada
disso será possível de ser mudado sem organização. As vozes das ruas, da
multidão, criam motivações, e até mesmo uma empolgação exagerada,
principalmente na juventude, cuja adrenalina explode e os empurra com força
para o embate. É natural e importante que isso aconteça. Mas o que virá depois
disso depende da política (ou da guerra, quando fracassa a política, mas aí
sabemos as consequências). A multidão tem sido protagonista desde o final do
século XX, com grandes protestos antiglobalização, e depois, com a
intensificação da crise, na chamada “primavera Árabe”. Os resultados de tudo isso
ainda está por vir, mas nos países onde ocorreram houve retrocesso na condução
política.
SOBRE MÁSCARAS,
VIOLÊNCIAS E O DIREITO DE SE MANIFESTAR
Fevereiro de 2014
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/02/nihil-humani-me-alienum-puto.html
Ao
não desejarem participar de organizações de caráter político, e abominarem os
partidos políticos, mesmo os que se intitulam revolucionários e socialistas ou
comunistas, esses manifestantes deixam de analisar a conjuntura política com
base em fatos concretos e na realidade objetiva. Novas "realidades"
são perversamente construídas por outros setores da política, que se beneficiam
com esses comportamentos, o que leva a fortalecer a indústria do medo, e a
exigência de governos fortes, militarizados e com uma base de parlamentares
mais conservadores.
Não
há dúvidas de que há infiltração nessas manifestações. Tanto por organizações
políticas, que temem se apresentar abertamente por medo das reações dos “Black
blocs” e visam também “recrutar” novos militantes entre aquela juventude, como
por setores fascistas, tipos provocadores que desde aquele momento por mim
citado anteriormente, na década de 1980, já se infiltravam em nosso meio.
Policiais ou não. Por motivos diferentes esses setores objetivam criar os confrontos
para gerar desgaste nos governos, de tal forma que os possam debilitar. O uso
da violência, no caso, como mecanismo de se contrapor à repressão policial
assume um verniz diferente nos dois casos, mas o resultado é desastroso de
qualquer jeito. Principalmente quando o personagem culpado desse tipo de ato
não é um indivíduo vinculado às forças repressoras, porventura infiltrado. O
que dá margem para a mídia conservadora enfatizar no seu discurso de um
ambiente dominado pela insegurança e anarquia.
Não
tenham dúvidas de que o principal discurso nas próximas campanhas eleitorais
será esse. Dominados pelo medo, que cotidianamente entra em suas casas pelos
canais de TV, ou pela própria realidade que as cercam, as pessoas tendem a
sucumbir à repetição constante desse discurso, e corremos o risco de ver a
eleição de um parlamento muito mais conservador do que o atual.
Esse
poderá ser o resultado de atos inconsequentes e irresponsáveis, movidos por um
voluntarismo tolo, e a demonstração de atos de estupidez como se fossem
atitudes libertárias e revolucionárias. Em um novo tipo de ludismo pós-moderno
que está mais para os atos de cegueira atestado por José Saramago.
As
máscaras que assumem as frentes dessas manifestações escondem jovens
desprovidos de capacidade política para entender os mecanismos que movem a
sociedade. Ou meros provocadores desejosos de reeditar aqui no Brasil os mesmos
gestos fascistas de 50 anos atrás, quando um golpe militar foi dado com o
argumento de pôr fim à baderna, à desordem e a comunização do país
FAKES, FALSÁRIOS E
FASCISTAS: COMO DESPERTAR O LADO SOMBRIO DAS PESSOAS
Maio de 2014
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/05/fakes-falsarios-e-fascistas-como.html
A
desinformação, a preguiça de ir atrás da veracidade daquilo que está sendo
divulgado, aliado à alienação peculiar, facilita a adoção desses mecanismos
manipuladores, que repetidos à exaustão assume ares de verdades insofismáveis.
Quando, em verdade, e realmente, são situações determinadas e localizadas, sem
representar, como se apregoa, o declínio da civilização contemporânea, ou algo
que o valha. Prato cheio para oportunistas, fascistas e para aqueles que
desejam convencer as pessoas a ingressarem no mundo da ficção religiosa, de
seitas que se deleitam com a desesperança e com o medo das pessoas.
Repercuti
em minha página pessoal no Facebook essa percepção, e aqui a reproduzo.
Estou
impressionado com a quantidade de pessoas que estão compartilhando postagens
produzidas por páginas organizadas por "fakes". Matérias falsas, ou
propagandas subliminares, são repercutidas sem que haja um mínimo de
averiguação sobre a origem das notícias, em sua maioria, falsas. Algumas são
boatos, e boa parte deturpações de notícias antigas. E o que é pior, muitos que
repercutem isso estão na universidade ou tem curso superior. Por causa desse
comportamento uma dona de casa foi linchada e assassinada em Guarujá, SP. Fico
em dúvida se é desinformação, alienação, oportunismo ou má fé mesmo.
Vivemos,
um tempo, de potencialidades de práticas antigas, mescladas com ares de
modernidade tecnológica. O boato se dissemina virtualmente, e organiza em
júbilo antros de acusadores odiosos, mas seu prólogo acontece nas formas
tradicionais, da violência estúpida em grupo, nos justiceiros que assumem o
papel de juízes, júri e carrascos. Sob os argumentos de ausências de
autoridades, mas diante de situações que são reais, como o descontrole do
aparato repressivo e a agressividade de um setor cada vez mais sob pressão: as
polícias militares. Sob o medo, seduzido por ele e manipulado por outros, a
multidão torna-se instrumento daqueles interesses que não se apresentam
perceptivelmente.
Nas
sombras, escondem-se os reais interesses, de grupos que disputam avidamente o
poder político e desejam concentrar cada vez mais o poder econômico. Instigam e
aproveitam-se dessas situações, para afinal dar o bote sobre as carcaças de uma
sociedade onde as pessoas não se veem nela, mas apenas os outros. Nesse momento
surgem os reformadores do caos, os mesmos, aqueles que por décadas e séculos
controlam as riquezas, concentram rendas e constroem mundos partidos,
sectarizados, mas que vivem protegidos em muralhas repetindo-se, sob novas
conformações, mundos antigos e medievais. E as massas, como sempre,
cumprem bem o papel de massa de manobra. Com o perdão da redundância.
DEPOIS DE UMA TRAGÉDIA
COMO CONTER A DESTEMPERANÇA E O MESSIANISMO?
Agosto de 2014
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/08/depois-de-uma-tragedia-como-conter.html
O
que faltou, portanto, ao governo brasileiro foi apresentar para a população, e
à juventude, durante todos esses anos, principalmente depois das jornadas
populares de junho de 2013, as distinções entre os projetos políticos que estão
em disputa. E encarar com mais determinação as contradições que lhes cercam.
Temo que isso sendo feito agora possa dar a impressão de que é devido à disputa
eleitoral.
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