quarta-feira, 9 de maio de 2012

AS CRISES E A DESCONSTRUÇÃO DA POLÍTICA


O objetivo desse artigo é fazer duas comparações, entre uma situação crítica porque passa a economia mundial, notadamente na Europa e Estados Unidos, e, mais uma vez, como no Brasil as denúncias de corrupção afloram um discurso moralista e de denuncismo exacerbado, que se antecipa às ações judiciais e condena indiscriminadamente, de lado a lado, desafetos políticos. Nos dois casos, por meios diferentes, a desesperança e a perda da razão pela revolta das circunstâncias, atinge duramente a política, os políticos e leva à escolha das massas pelos comportamentos e atitudes mais radicais. As consequências disso são sobejamente conhecidas na história, e não foram favoráveis ao bem-estar e à vida humana.
Na maior crise econômica do pós-guerra, a Europa se vê no meio de um longo labirinto. Agora unificada e com a maioria de seus países utilizando uma moeda única, o Euro, o chamado velho continente não consegue vislumbrar uma saída para a forte decadência de sua economia, e se perde em meio a esse labirinto criado pelos próprios Estados, quando insistiram em cobrir rombos de grandes instituições financeiras afetadas pela crise que estourou em 2008 nos Estados Unidos e contaminou todo o sistema financeiro mundial.
A multidão indignada
O impasse em meio a alternativas para mudar os rumos da crise tem levado a população às ruas, e na sequência das agendas institucionais o povo tem escolhido votar em partidos extremistas, à direita e à esquerda, à semelhança (guardando-se as devidas proporções) do que ocorreu durante a crise que antecedeu a instalação de regimes totalitários no século XX (Alemanha, Itália e Espanha). Mas, as diferenças estão nas escolhas democráticas da população, e não mais na concessão do poder à tirania de um só indivíduo. A situação da Espanha foi diferente, pois a ascensão do franquismo se deu após uma guerra civil, que terminou por contar com o apoio externo de Hitler e Mussolini.
Contudo, as razões para a aceitação dos discursos mais radicais são as mesmas, dificuldades profundas na economia, desemprego em alta e adoção de medidas antipopulares, em que se preserva a riqueza e impõe aos trabalhadores os maiores ônus, de uma crise que não foi causada por eles. A xenofobia, ou a escolha de culpas em meio às pessoas de origens estrangeiras, e a intolerância, marcada por uma situação que tolhe a todos a possibilidade de exercer o consumismo, a “religião” principal do sistema capitalista, cegam as massas e as impedem de racionalizar a maneira como se dissemina facilmente o oportunismo político. Tornando-as reféns de suas próprias escolhas.
A zona do Euro sob risco
de desintegração
Vê-se o resultado disso na Grécia, com um impasse gerado pela formação de um governo que seja antípoda às medidas de restrições aos gastos e de forte arrocho salarial. Isso porque dois partidos de extrema-esquerda e de extrema-direita se destacaram nas eleições e conseguiram uma bancada parlamentar como nunca tinha acontecido. Mas não conseguem formar um governo, já que se diferenciam em seus objetivos, apesar de se unirem na proposta de retirar aquele país da zona do Euro.
Nessas eleições o Partido Neo-Nazista conseguiu um feito inédito, eleger uma banca de 21 parlamentares, agindo abertamente com o comportamento típico desses setores. A ponto de em uma entrevista com o líder partidário, os jornalistas terem sido obrigados a se levantarem no momento em que ele adentrou o recinto, sob os olhares agressivos de “trogloditas” tatuados com suas marcas tradicionais.
Na França, a extrema-direita obteve sua maior votação em toda a história francesa, também com o discurso maniqueísta e tendo como alvos prioritários cidadãos de origens estrangeiras. Na Holanda, Espanha, Itália e outros países europeus, a crise segue derrubando governos e possibilitando a eleição de partidos cujos discursos são carregados de sentimentos nacionalistas e intolerantes, na medida em que aqueles que estiveram na condução dos governos de seus países foram inoperantes e incompetentes para solucionar problemas que estão perigosamente tornando aquelas sociedades deprimidas, impacientes e à beira de aceitarem lideranças cujos discursos reacendam mesmo que uma pequena luz de esperança de encontrarem uma saída do labirinto capitalista.
O público x privado
Mas no Brasil, muito embora a crise econômica traga preocupações, já que diante de uma economia global as consequências sejam inevitáveis, o que tem afetado a população e criado constrangimentos nos meios políticos é a eterna relação promíscua entre os interesses privados e republicanos. A estrutura do Estado, tradicionalmente usurpada por mecanismos corruptores, parece ter levado ao limite a paciência de uma população que já percebe com clareza que os ralos por onde escorrem recursos públicos abrem-se também para consumir parte de seus salários, que vão, assim, carregados pelo banditismo de grupos organizados que desfilam até então impunemente pelas altas rodas da sociedade, enriquecendo-se à custa de assaltos milionários e mediante a utilização de uma rede sofisticada que envolve representantes de todos os setores que compõem a organização do Estado: executivo, legislativo e judiciário. Confunde-se, vergonhosamente, o público e o privado.
É inegável que os constantes casos descobertos demonstram que nos últimos tempos tem aumentado o grau de fiscalização dos órgãos responsáveis por isso na mesma estrutura do Estado. Isso feito tanto pela Controladoria da União como pela Polícia Federal, e mesmo pelo Ministério Público, muito embora essas duas últimas instituições tenham que cortar em sua própria carne, em função do envolvimento de membros dessas duas corporações em casos de ilícitos, como demonstrado na Operação Las Vegas. A quantidade de operações feitas por esses órgãos não tem similar na história do país, principalmente envolvendo políticos de destaques, no parlamento e no executivo em seus vários níveis, e até mesmo membros do primeiro escalão dos governos estaduais e federal.
Isso demonstra que o país, republicanamente, tem buscado soluções através de seus órgãos investigativos, em que pese a forma como a mídia trata a questão, dando a impressão para a população que esse é o momento da história com maior grau de corrupção. Quando na verdade estamos diante de um momento inédito, já que nunca se investigou tanto como agora. Isso é o que dá a sensação de aumento da corrupção.
Combater a cultura da corrupção
Mas os que conhecem a história do Brasil, desde suas origens e de como a grande política era disputada por grupos rivais regionalmente, sabem perfeitamente que as relações espúrias, o compadrio e a apropriação privada dos recursos públicos sempre ocorreram em nosso país. Mas quase nunca investigado, e quase sempre aceito pela população, que cruzava os braços aos poderes coronelistas e buscavam se beneficiar com o apadrinhamento dos poderosos políticos para resolverem suas situações particulares.
Isso gerou uma cultura da corrupção em vários níveis, da famosa filosofia oportunista do “rouba, mas faz”, e do famoso “jeitinho” que o povo encontrava de se beneficiar das ilicitudes transmitidas pelos que detinham o poder. Tornou-se uma cumplicidade consentida. Isso é visível mesmo nos dias atuais de crescente indignação e se espalha pelo cotidiano da vida na sociedade, desde atos pequenos como separar-se em filas diferentes para ver qual a que anda mais rápido; das filas duplas nos sinaleiros; das desordenadas entradas em ônibus para se sagrarem vitoriosos sentando-se nas primeiras cadeiras; da privatização dos espaços em vias públicas, e de tantos outros males culturais.
Aparentemente inofensivos esses atos são essenciais para criar uma cultura de aceitação de ilícitos maiores, dentre eles o que mais se destaca e que a sociedade finge que não existe, o famoso “Caixa 2” das campanhas políticas. Origem da maioria das quadrilhas formadas para usurpar o patrimônio público, desde as que conseguem cair nas malhas da justiça e da ira popular, como a do contraventor Carlos Cachoeira, até aquelas que envolvem maiores recursos e gente da “mais alta estirpe”, grandes empresários e banqueiros, como provado na Operação Satiagraha, que indiciou o banqueiro Daniel Dantas, salvo por duas liminares relâmpagos concedidas por um juiz do Supremo que houvera sido advogado da união na época em que os rombos aos cofres públicos ocorreram.
Veja fala de um grampo
e de um áudio que nunca foi
mostrado
É bom acrescentar que essa operação foi abortada espetacularmente. Primeiro pela apreensão “perpétua” do disco rígido de um dos computadores do contraventor-banqueiro, que permaneceu em posse de uma ex-ministra do Supremo até que a Satiagraha fosse defenestrada. E isso aconteceu com a participação de um outro ministro do supremo, já citado, aliado ao “mosqueteiro da ética” Demóstenes Torres e ao principal instrumento que essa quadrilha utilizou, as páginas de uma das revistas mais vendidas no Brasil, não tanto por suas qualidades, a Veja. A denúncia sobre suposto grampos a ouvir conversas dessas duas autoridades serviu de pretexto para defenestrar o então principal nome da Polícia Federal, Delegado Paulo Lacerda, que havia apoiado a Operação Satiagraha, contra o banqueiro Daniel Dantas. Jogo sujo, pesado, a limpar a barra de um dos maiores esquemas de apropriação de dinheiro público do país.
Esta operação sabe-se lá por quais razões, talvez somente um apego espiritual para nos fazer entender, foi arquivada e o investigador tornou-se investigado. Todas as provas, com perdão da redundância, que comprovavam o roubo de recursos públicos no processo de privatização de grandes empresas e outras falcatruas, foram simplesmente consideradas nulas, pois teriam sido obtidas de forma ilegais. Ora, mas elas não provavam que o roubo acontecera?
No entanto, apesar de tudo ter sido provado, a nulidade do processo não teve na opinião pública nenhuma reação. Muito embora os valores envolvidos sejam infinitamente superiores ao que leva agora ao banco dos réus mais de uma dezena de suspeitos em vários crimes comandado por um contraventor do jogo do bicho, fachada para toda a roubalheira investigada. Para conter a indignação popular, tal qual ocorre no momento, teve papel fundamental as capas da revista citada, que se descobre agora ter uma estreita relação com os dois chefões investigados.
A operação Satiagraha não foi adiante
como a Monte Carlo. Porquê?
Talvez seja crível dizer que somente Freud possa explicar o comportamento distinto das pessoas em situações que são semelhantes. Mas a explicação aí deve ser mais política do que psicanalista, além da sabida manipulação midiática. Tanto essas, quanto a maioria das denúncias, infelizmente, transformam-se muito mais em instrumentos nas mãos de desafetos políticos, a exercerem suas vinganças não conseguidas pelo voto. Percebe-se muito mais a vontade de derrubar o oponente político, do que se buscar mecanismo de punição e de contenção de uma prática que está impregnada na estrutura do Estado brasileiro. Praticada, aliás, pela maioria dos que se dedicam a candidatar-se a um processo eleitoral, em disputas milionárias que envolvem contribuições de campanhas com boa parte delas não contabilizadas, constituindo-se no bem conhecido, mas fragilmente combatido, Caixa 2. É visível os gastos milionários nas campanhas políticas, quando o que se investe em um determinado candidato é centenas de vezes além daquilo que ele conseguirá ganhar honestamente com o seu mandato. Evidente, pela lógica de funcionamento do sistema, a conta da fatura virá depois, e será bancada por esses meios ilícitos que essas operações policiais estão a comprovar.
Aí entra outro elemento que se evita referir, pois que não há a intenção de romper com essa estrutura que garante privilégios aos que detém o poder. A evidência, clara, de que toda essa sujeira, jogada no final das contas para debaixo dos tapetes, corresponde a um vício de origem da forma como funcionam as estruturas do sistema capitalista. São problemas sistêmicos, possíveis somente de serem corrigidos com a própria superação de uma lógica política cotidiana que tem como objetivo beneficiar aqueles que detém as riquezas e controlam os meios de produção e o sistema financeiro.
As razões da crise econômica, política
e ética devem ser buscadas nas
estruturas do sistema capitalista
Mas não se vê, em meio aos indignados que se espalham ao sabor da maneira como as notícias são difundidas e ao tamanho do ódio que comportam por seus adversários políticos, nenhuma frase, faixa ou manifestações onde se aponte de forma certeira o sistema capitalista como sendo o mal de onde se originam todos esses pecados. E, muitos, de forma alienada, julgam ser esse um mal do nosso país, quando se sabe, por exemplo, que nunca foi tão grande o envolvimento em corrupção de políticos, empresários e banqueiros, nos Estados Unidos e em muitos outros países, sejam desenvolvidos ou em desenvolvimentos.
Por fim, mas não para finalizar, já que essa história seguirá despertando ódios, rancores, decepções e frustrações,há também o oportunismo que desponta em meio a essas denúncias. Junto à onda de indignação que, compreensivamente, tomada conta das pessoas, esconde-se alguns oportunistas, individualmente ou em grupelhos, que visam atacar não as causas, ou os próprios envolvidos, mas buscam manipular o sentimento da população para atacar até mesmo setores que não estão envolvidos nas falcatruas.
Como a tentarem se apropriar da bandeira da ética, como, aliás, fez espertamente o senador Demóstenes Torres, se julgam no direito de atacarem indistintamente todos aqueles que estão envolvidos na política. Trata-se não simplesmente de pessoas simples do povo, cuja desesperança afasta-as naturalmente da política. Mas de grupos (muitas vezes organizados politicamente, mas que assim não se assumem) que se escondem em meio à multidão e nas sombras das redes sociais, para alimentarem o ódio pela política e a tal qual se deu na década de 20 do século passado, instigar a intolerância, a caça às bruxas e a generalizar as acusações.
Filme que mostra como
surge o fascismo
Esses grupelhos, que não aparecem de forma organizada, ou alguns se assumem como adeptos do anarquismo, mas não da forma como os teóricos dessa tendência se preocuparam em combater os sistemas econômicos, e não somente a política, terminam por agirem da mesma maneira como procederam, principalmente na Itália, os grupos fascistas que levaram Mussolini ao poder. Seus alvos, além da política e dos partidos generalizadamente, são também os comunistas. E apostam na despolitização das massas para tentarem criar um ambiente que possibilite, a partir das desesperanças, levarem-nas a apoiarem qualquer aventureiro cujo discurso ultra-radical contemple suas frustrações. Quase sempre esses grupos se apresentam com um discurso de extrema-esquerda, e não obtém sucessos no âmbito das disputas democráticas.
Vivemos, assim, um momento de profundas contradições. Crise econômica nos Estados Unidos e Europa que potencializa situações em que a intolerância desperta as frustrações e o desespero pela falta de emprego e de perspectivas futuras, e aqui no Brasil, onde economicamente passamos por um período de expansão e crescimento, mas cujas deliquências políticas, tradicionalmente ainda vigorando, nos mantém tensos e incertos quanto ao nosso futuro. Ou a dúvida sobre quem será beneficiado com todo esse crescimento.
Documentário com imagens
que mostram as mudanças
no mundo no século XX
E, no meio de tudo isso, a necessidade de estarmos vigilante, principalmente aqueles que conhecem o processo histórico e os exemplos de situações parecidas que levaram a humanidade para rumos indigestos, e buscarmos o convencimento das pessoas de que não é banindo a política que esses problemas serão corrigidos.
Só haverá saída no âmbito da própria política. E é sempre assim, mesmo que no advento de um processo revolucionário. Sair dele será também um exercício de apaziguamento das diferenças e de acordos selados pela política. O que as pessoas não podem abdicar é da capacidade de discernir o joio do trigo na escolha de quem irá lhe representar nos parlamentos ou na condução das administrações públicas.
Recusar-se a essas escolhas, motivado pela desesperança e incentivados por quem queira se aproveitar desse momento em aventuras abstratas, só irá beneficiar quem tem a riqueza, afasta mais ainda os trabalhadores da vida política e nos mantém reféns de nossos próprios vícios.
Ao mesmo tempo, é essencial compreender que a solução definitiva para esses males passa necessariamente pelo combate a um sistema que tem na ganância e na usura a base de suas transformações. Enquanto a cultura que prevalecer na sociedade for aquela onde o consumismo é o motor a motivar as pessoas, a individualmente buscarem formas de serem felizes tentando alcançar um estilo de vida individualista, egoísta e que sempre exige o esforço em busca de cada vez mais dinheiro, dificilmente poderemos acreditar que as gerações futuras terão um ambiente mais saudável e honesto para viverem.
Jornal da época repercutem
o golme militar de 1964
O problema maior da sociedade contemporânea, e que se espalha pelo mundo desde os condomínios fechados luxuosos às mais modestas habitações, é a vontade de ampliar sua riqueza ou de enriquecer, fortalecendo a lógica que nos impõe essa busca desenfreada por mecanismos lícitos e ilícitos de acumular dinheiro. As crises políticas são consequências e não as causas de todos esses crimes e tentativas de burlarem os mecanismos – frágeis – do aparato jurídico do próprio sistema.
O desafio é saber como combater, em meio não somente à frustração popular, mas ao oportunismo político que desponta, quando certos acusadores escondem entre seus desejos a vontade de ocupar o lugar daquele acusado. O discurso moralista, ou a tentativa de apontar a era do caos, aumentando o medo e a desesperança nas pessoas, também deve ser visto cuidadosamente, pois pode induzir a multidão a cometer injustiças com acusações fabricadas, ou potencializar a ascensão de lideranças fascistas cuja prática distancia-se da democracia e visa impor a centralização de um poder conservador, ditatorial com base na intolerância política.
Enfim, o discurso moralista, anticorrupção sempre foi instrumentalizado e o povo manipulado, vide o golpe militar de 1964. É fundamental nos indignarmos com os desmandos na política, e principalmente com a perversidade da lógica sistêmica capitalista, mas é essencial mantermos nossa memória viva, e não esquecermos o que aconteceu no passado, porque ele nos ensina.

4 comentários:

  1. Percebo que a crise a que experimentamos é a crise de identidade dos partidos políticos do Brasil. Não tenho a menor dúvida disso, fica evidente pela própria resistência dos segmentos partidários em proceder expurgos e as depurações éticas, internamente. Pena, pois até agora o único que nacionalmente respondeu a alternativa brilhante da democracia brasileira tenha sido o DEM. Isto é paradoxal! Eu não vejo isso como bom sinal. A frente popular no Brasil tem dificuldade, salta aos olhos, de enfrentar a ética pública internamente. Ainda olham como se ela fosse um artigo de luxo, e coisa de elite! A continuar assim, certamente resultará em esvaziamento do campo político partidário no Brasil. Muito prejudicial, a médio e longo prazo! Fico pensando, no paradoxo deixado por Sócrates que está no “Primeiro livro” da República de Platão, contra Trasímaco: “Parece, pois, que a justiça, segundo a tua opinião, segundo a de Homero e a de Simónides, é uma espécie de arte de furtar, mas para a vantagem de amigos e danos de inimigos. Não era isso que dizias?” (334a/c). Vejamos até onde vai esta insensatez político-partidária contra a ética pública!

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  2. Professor Wilame, se me permite discordar, essa história de "crise de identidade dos partidos políticos" no Brasil nunca me convenceu. Aos meus olhos, parece mais uma estratégia suja de desmobilização do povo através do descrédito na política. Dizer que os partidos não têm identidade é dizer que não existe direita nem esquerda, que são todos iguais. Pelo contrário, acredito eu numa multiplicidade de identidades partidárias no Brasil como em nenhum outro país do mundo! É verdade que essa "pulverização" ideológica prejudica a formação de frentes políticas mais amplas, mas isso é uma característica que demonstra que nossa democracia segue firme, alheia às medidas restritivas como a famosa "cláusula de barreira". Não podemos dizer que um partido como PT sejam igual (ou mesmo parecido) com um partido como o DEM. Essa diferença está exatamente na identidade partidária, que se mantém e reforça no dia-a-dia da luta política. Quando ao "expurgos" e as "depurações éticas", não vejo nisso nada além de um falso moralismo barato, uma forma de livrar a imagem do partido frente à opinião pública individualizando o erro tornado público. Ou vai me dizer que o DEM é o partido da ética? Que casos como o do ex-governador José Roberto Arruda e do Senador Demóstenes Torres são isolados? O partido pune exemplarmente todos os delizes cometidos por seus filiados ou só aqueles que chegam ao conhecimento da opinião pública? Devemos ter cuidado com esse discurso moralista! Afinal, vivemos sob a sociedade capitalista, e a moral a qual estamos submetidos é nada mais que a moral burguesa, como tal, a serviço da classe dominante.

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  3. Quase me esqueço. Professor Romualdo, parabéns por mais um belo texto!

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  4. Obrigado Paulo Victor. Suas observações são bastante pertinentes, concordo com elas. O professor Wilame faz uma observação tendo como princípio a ética, que é válida, mas não podemos esquecer como a política é exercida. Você tem razão, as medidas adotadas pelo DEM são apenas verniz, se escondem em um moralismo de ocasião cientes de que terão como apoio a grande mídia a individualizar a corrupção quando lhe convém, para aliviar a barra daqueles partidos que se encaixam em suas afinidades ideológicas. Pura hipocrisia, reflexo da moral burguesa.

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