O objetivo desse artigo é fazer duas
comparações, entre uma situação crítica porque passa a economia mundial,
notadamente na Europa e Estados Unidos, e, mais uma vez, como no Brasil as
denúncias de corrupção afloram um discurso moralista e de denuncismo
exacerbado, que se antecipa às ações judiciais e condena indiscriminadamente,
de lado a lado, desafetos políticos. Nos dois casos, por meios diferentes, a
desesperança e a perda da razão pela revolta das circunstâncias, atinge
duramente a política, os políticos e leva à escolha das massas pelos
comportamentos e atitudes mais radicais. As consequências disso são sobejamente
conhecidas na história, e não foram favoráveis ao bem-estar e à vida humana.
Na maior crise econômica do
pós-guerra, a Europa se vê no meio de um longo labirinto. Agora unificada e com
a maioria de seus países utilizando uma moeda única, o Euro, o chamado velho
continente não consegue vislumbrar uma saída para a forte decadência de sua
economia, e se perde em meio a esse labirinto criado pelos próprios Estados,
quando insistiram em cobrir rombos de grandes instituições financeiras afetadas
pela crise que estourou em 2008 nos Estados Unidos e contaminou todo o sistema
financeiro mundial.
A multidão indignada |
O impasse em meio a alternativas
para mudar os rumos da crise tem levado a população às ruas, e na sequência das
agendas institucionais o povo tem escolhido votar em partidos extremistas, à
direita e à esquerda, à semelhança (guardando-se as devidas proporções)
do que ocorreu durante a crise que antecedeu a instalação de regimes
totalitários no século XX (Alemanha, Itália e Espanha). Mas, as diferenças estão nas
escolhas democráticas da população, e não mais na concessão do poder à tirania
de um só indivíduo. A situação da Espanha foi diferente, pois a ascensão do
franquismo se deu após uma guerra civil, que terminou por contar com o apoio
externo de Hitler e Mussolini.
Contudo, as razões para a aceitação
dos discursos mais radicais são as mesmas, dificuldades profundas na economia,
desemprego em alta e adoção de medidas antipopulares, em que se preserva a
riqueza e impõe aos trabalhadores os maiores ônus, de uma crise que não foi
causada por eles. A xenofobia, ou a escolha de culpas em meio às pessoas de
origens estrangeiras, e a intolerância, marcada por uma situação que tolhe a
todos a possibilidade de exercer o consumismo, a “religião” principal do
sistema capitalista, cegam as massas e as impedem de racionalizar a maneira
como se dissemina facilmente o oportunismo político. Tornando-as reféns de suas
próprias escolhas.
A zona do Euro sob risco de desintegração |
Vê-se o resultado disso na Grécia,
com um impasse gerado pela formação de um governo que seja antípoda às medidas
de restrições aos gastos e de forte arrocho salarial. Isso porque dois partidos
de extrema-esquerda e de extrema-direita se destacaram nas eleições e
conseguiram uma bancada parlamentar como nunca tinha acontecido. Mas não
conseguem formar um governo, já que se diferenciam em seus objetivos, apesar de
se unirem na proposta de retirar aquele país da zona do Euro.
Nessas eleições o Partido
Neo-Nazista conseguiu um feito inédito, eleger uma banca de 21 parlamentares,
agindo abertamente com o comportamento típico desses setores. A ponto de em uma
entrevista com o líder partidário, os jornalistas terem sido obrigados a se
levantarem no momento em que ele adentrou o recinto, sob os olhares agressivos
de “trogloditas” tatuados com suas marcas tradicionais.
Na França, a extrema-direita obteve
sua maior votação em toda a história francesa, também com o discurso
maniqueísta e tendo como alvos prioritários cidadãos de origens estrangeiras.
Na Holanda, Espanha, Itália e outros países europeus, a crise segue derrubando
governos e possibilitando a eleição de partidos cujos discursos são carregados
de sentimentos nacionalistas e intolerantes, na medida em que aqueles que
estiveram na condução dos governos de seus países foram inoperantes e
incompetentes para solucionar problemas que estão perigosamente tornando
aquelas sociedades deprimidas, impacientes e à beira de aceitarem lideranças
cujos discursos reacendam mesmo que uma pequena luz de esperança de encontrarem
uma saída do labirinto capitalista.
O público x privado |
Mas no Brasil, muito embora a crise
econômica traga preocupações, já que diante de uma economia global as
consequências sejam inevitáveis, o que tem afetado a população e criado
constrangimentos nos meios políticos é a eterna relação promíscua entre os
interesses privados e republicanos. A estrutura do Estado, tradicionalmente
usurpada por mecanismos corruptores, parece ter levado ao limite a paciência de
uma população que já percebe com clareza que os ralos por onde escorrem
recursos públicos abrem-se também para consumir parte de seus salários, que
vão, assim, carregados pelo banditismo de grupos organizados que desfilam até
então impunemente pelas altas rodas da sociedade, enriquecendo-se à custa de
assaltos milionários e mediante a utilização de uma rede sofisticada que envolve
representantes de todos os setores que compõem a organização do Estado:
executivo, legislativo e judiciário. Confunde-se, vergonhosamente, o público e
o privado.
É inegável que os constantes casos
descobertos demonstram que nos últimos tempos tem aumentado o grau de
fiscalização dos órgãos responsáveis por isso na mesma estrutura do Estado.
Isso feito tanto pela Controladoria da União como pela Polícia Federal, e mesmo
pelo Ministério Público, muito embora essas duas últimas instituições tenham
que cortar em sua própria carne, em função do envolvimento de membros dessas duas
corporações em casos de ilícitos, como demonstrado na Operação Las Vegas. A
quantidade de operações feitas por esses órgãos não tem similar na história do
país, principalmente envolvendo políticos de destaques, no parlamento e no
executivo em seus vários níveis, e até mesmo membros do primeiro escalão dos
governos estaduais e federal.
Isso demonstra que o país,
republicanamente, tem buscado soluções através de seus órgãos investigativos,
em que pese a forma como a mídia trata a questão, dando a impressão para a
população que esse é o momento da história com maior grau de corrupção. Quando
na verdade estamos diante de um momento inédito, já que nunca se investigou
tanto como agora. Isso é o que dá a sensação de aumento da corrupção.
Combater a cultura da corrupção |
Mas os que conhecem a história do
Brasil, desde suas origens e de como a grande política era disputada por grupos
rivais regionalmente, sabem perfeitamente que as relações espúrias, o compadrio
e a apropriação privada dos recursos públicos sempre ocorreram em nosso país.
Mas quase nunca investigado, e quase sempre aceito pela população, que cruzava
os braços aos poderes coronelistas e buscavam se beneficiar com o
apadrinhamento dos poderosos políticos para resolverem suas situações
particulares.
Isso gerou uma cultura da corrupção
em vários níveis, da famosa filosofia oportunista do “rouba, mas faz”, e do
famoso “jeitinho” que o povo encontrava de se beneficiar das ilicitudes
transmitidas pelos que detinham o poder. Tornou-se uma cumplicidade consentida.
Isso é visível mesmo nos dias atuais de crescente indignação e se espalha pelo
cotidiano da vida na sociedade, desde atos pequenos como separar-se em filas
diferentes para ver qual a que anda mais rápido; das filas duplas nos
sinaleiros; das desordenadas entradas em ônibus para se sagrarem vitoriosos
sentando-se nas primeiras cadeiras; da privatização dos espaços em vias
públicas, e de tantos outros males culturais.
Aparentemente inofensivos esses
atos são essenciais para criar uma cultura de aceitação de ilícitos maiores,
dentre eles o que mais se destaca e que a sociedade finge que não existe, o
famoso “Caixa 2” das campanhas políticas. Origem da maioria das quadrilhas
formadas para usurpar o patrimônio público, desde as que conseguem cair nas
malhas da justiça e da ira popular, como a do contraventor Carlos Cachoeira,
até aquelas que envolvem maiores recursos e gente da “mais alta estirpe”,
grandes empresários e banqueiros, como provado na Operação Satiagraha, que
indiciou o banqueiro Daniel Dantas, salvo por duas liminares relâmpagos
concedidas por um juiz do Supremo que houvera sido advogado da união na época
em que os rombos aos cofres públicos ocorreram.
Veja fala de um grampo e de um áudio que nunca foi mostrado |
É bom acrescentar que essa operação
foi abortada espetacularmente. Primeiro pela apreensão “perpétua” do disco
rígido de um dos computadores do contraventor-banqueiro, que permaneceu em
posse de uma ex-ministra do Supremo até que a Satiagraha fosse defenestrada. E
isso aconteceu com a participação de um outro ministro do supremo, já citado,
aliado ao “mosqueteiro da ética” Demóstenes Torres e ao principal instrumento
que essa quadrilha utilizou, as páginas de uma das revistas mais vendidas no
Brasil, não tanto por suas qualidades, a Veja. A denúncia sobre suposto grampos
a ouvir conversas dessas duas autoridades serviu de pretexto para defenestrar o
então principal nome da Polícia Federal, Delegado Paulo Lacerda, que havia
apoiado a Operação Satiagraha, contra o banqueiro Daniel Dantas. Jogo sujo,
pesado, a limpar a barra de um dos maiores esquemas de apropriação de dinheiro
público do país.
Esta operação sabe-se lá por quais
razões, talvez somente um apego espiritual para nos fazer entender, foi
arquivada e o investigador tornou-se investigado. Todas as provas, com perdão
da redundância, que comprovavam o roubo de recursos públicos no processo de
privatização de grandes empresas e outras falcatruas, foram simplesmente
consideradas nulas, pois teriam sido obtidas de forma ilegais. Ora, mas elas
não provavam que o roubo acontecera?
No entanto, apesar de tudo ter sido
provado, a nulidade do processo não teve na opinião pública nenhuma reação.
Muito embora os valores envolvidos sejam infinitamente superiores ao que leva
agora ao banco dos réus mais de uma dezena de suspeitos em vários crimes
comandado por um contraventor do jogo do bicho, fachada para toda a roubalheira
investigada. Para conter a indignação popular, tal qual ocorre no momento, teve
papel fundamental as capas da revista citada, que se descobre agora ter uma
estreita relação com os dois chefões investigados.
A operação Satiagraha não foi adiante como a Monte Carlo. Porquê? |
Talvez seja crível dizer que somente
Freud possa explicar o comportamento distinto das pessoas em situações que são
semelhantes. Mas a explicação aí deve ser mais política do que psicanalista,
além da sabida manipulação midiática. Tanto essas, quanto a maioria das denúncias,
infelizmente, transformam-se muito mais em instrumentos nas mãos de desafetos
políticos, a exercerem suas vinganças não conseguidas pelo voto. Percebe-se
muito mais a vontade de derrubar o oponente político, do que se buscar
mecanismo de punição e de contenção de uma prática que está impregnada na
estrutura do Estado brasileiro. Praticada, aliás, pela maioria dos que se
dedicam a candidatar-se a um processo eleitoral, em disputas milionárias que
envolvem contribuições de campanhas com boa parte delas não contabilizadas,
constituindo-se no bem conhecido, mas fragilmente combatido, Caixa 2. É visível
os gastos milionários nas campanhas políticas, quando o que se investe em um
determinado candidato é centenas de vezes além daquilo que ele conseguirá
ganhar honestamente com o seu mandato. Evidente, pela lógica de funcionamento
do sistema, a conta da fatura virá depois, e será bancada por esses meios
ilícitos que essas operações policiais estão a comprovar.
Aí entra outro elemento que se
evita referir, pois que não há a intenção de romper com essa estrutura que
garante privilégios aos que detém o poder. A evidência, clara, de que toda essa
sujeira, jogada no final das contas para debaixo dos tapetes, corresponde a um
vício de origem da forma como funcionam as estruturas do sistema capitalista.
São problemas sistêmicos, possíveis somente de serem corrigidos com a própria
superação de uma lógica política cotidiana que tem como objetivo beneficiar
aqueles que detém as riquezas e controlam os meios de produção e o sistema
financeiro.
As razões da crise econômica, política e ética devem ser buscadas nas estruturas do sistema capitalista |
Mas não se vê, em meio aos
indignados que se espalham ao sabor da maneira como as notícias são difundidas
e ao tamanho do ódio que comportam por seus adversários políticos, nenhuma
frase, faixa ou manifestações onde se aponte de forma certeira o sistema
capitalista como sendo o mal de onde se originam todos esses pecados. E,
muitos, de forma alienada, julgam ser esse um mal do nosso país, quando se
sabe, por exemplo, que nunca foi tão grande o envolvimento em corrupção de
políticos, empresários e banqueiros, nos Estados Unidos e em muitos outros
países, sejam desenvolvidos ou em desenvolvimentos.
Por fim, mas não para finalizar, já
que essa história seguirá despertando ódios, rancores, decepções e
frustrações,há também o oportunismo que desponta em meio a essas denúncias. Junto
à onda de indignação que, compreensivamente, tomada conta das pessoas,
esconde-se alguns oportunistas, individualmente ou em grupelhos, que visam
atacar não as causas, ou os próprios envolvidos, mas buscam manipular o
sentimento da população para atacar até mesmo setores que não estão envolvidos
nas falcatruas.
Como a tentarem se apropriar da
bandeira da ética, como, aliás, fez espertamente o senador Demóstenes Torres,
se julgam no direito de atacarem indistintamente todos aqueles que estão
envolvidos na política. Trata-se não simplesmente de pessoas simples do povo,
cuja desesperança afasta-as naturalmente da política. Mas de grupos (muitas
vezes organizados politicamente, mas que assim não se assumem) que se escondem
em meio à multidão e nas sombras das redes sociais, para alimentarem o ódio
pela política e a tal qual se deu na década de 20 do século passado, instigar a
intolerância, a caça às bruxas e a generalizar as acusações.
Filme que mostra como surge o fascismo |
Esses grupelhos, que não aparecem
de forma organizada, ou alguns se assumem como adeptos do anarquismo, mas não
da forma como os teóricos dessa tendência se preocuparam em combater os
sistemas econômicos, e não somente a política, terminam por agirem da mesma maneira
como procederam, principalmente na Itália, os grupos fascistas que levaram
Mussolini ao poder. Seus alvos, além da política e dos partidos generalizadamente,
são também os comunistas. E apostam na despolitização das massas para tentarem
criar um ambiente que possibilite, a partir das desesperanças, levarem-nas a apoiarem
qualquer aventureiro cujo discurso ultra-radical contemple suas frustrações.
Quase sempre esses grupos se apresentam com um discurso de extrema-esquerda, e
não obtém sucessos no âmbito das disputas democráticas.
Vivemos, assim, um momento de
profundas contradições. Crise econômica nos Estados Unidos e Europa que
potencializa situações em que a intolerância desperta as frustrações e o
desespero pela falta de emprego e de perspectivas futuras, e aqui no Brasil,
onde economicamente passamos por um período de expansão e crescimento, mas cujas
deliquências políticas, tradicionalmente ainda vigorando, nos mantém tensos e
incertos quanto ao nosso futuro. Ou a dúvida sobre quem será beneficiado com
todo esse crescimento.
Documentário com imagens que mostram as mudanças no mundo no século XX |
E, no meio de tudo isso, a
necessidade de estarmos vigilante, principalmente aqueles que conhecem o
processo histórico e os exemplos de situações parecidas que levaram a
humanidade para rumos indigestos, e buscarmos o convencimento das pessoas de
que não é banindo a política que esses problemas serão corrigidos.
Só haverá saída no âmbito da
própria política. E é sempre assim, mesmo que no advento de um processo
revolucionário. Sair dele será também um exercício de apaziguamento das
diferenças e de acordos selados pela política. O que as pessoas não podem
abdicar é da capacidade de discernir o joio do trigo na escolha de quem irá lhe
representar nos parlamentos ou na condução das administrações públicas.
Recusar-se a essas escolhas,
motivado pela desesperança e incentivados por quem queira se aproveitar desse
momento em aventuras abstratas, só irá beneficiar quem tem a riqueza, afasta
mais ainda os trabalhadores da vida política e nos mantém reféns de nossos
próprios vícios.
Ao mesmo tempo, é essencial
compreender que a solução definitiva para esses males passa necessariamente
pelo combate a um sistema que tem na ganância e na usura a base de suas
transformações. Enquanto a cultura que prevalecer na sociedade for aquela onde
o consumismo é o motor a motivar as pessoas, a individualmente buscarem formas
de serem felizes tentando alcançar um estilo de vida individualista, egoísta e
que sempre exige o esforço em busca de cada vez mais dinheiro, dificilmente
poderemos acreditar que as gerações futuras terão um ambiente mais saudável e
honesto para viverem.
Jornal da época repercutem o golme militar de 1964 |
O problema maior da sociedade
contemporânea, e que se espalha pelo mundo desde os condomínios fechados
luxuosos às mais modestas habitações, é a vontade de ampliar sua riqueza ou de enriquecer,
fortalecendo a lógica que nos impõe essa busca desenfreada por mecanismos
lícitos e ilícitos de acumular dinheiro. As crises políticas são consequências
e não as causas de todos esses crimes e tentativas de burlarem os mecanismos –
frágeis – do aparato jurídico do próprio sistema.
O desafio é saber como combater, em
meio não somente à frustração popular, mas ao oportunismo político que
desponta, quando certos acusadores escondem entre seus desejos a vontade de
ocupar o lugar daquele acusado. O discurso moralista, ou a tentativa de apontar
a era do caos, aumentando o medo e a desesperança nas pessoas, também deve ser
visto cuidadosamente, pois pode induzir a multidão a cometer injustiças com
acusações fabricadas, ou potencializar a ascensão de lideranças fascistas cuja
prática distancia-se da democracia e visa impor a centralização de um poder
conservador, ditatorial com base na intolerância política.
Enfim, o discurso moralista, anticorrupção
sempre foi instrumentalizado e o povo manipulado, vide o golpe militar de 1964.
É fundamental nos indignarmos com os desmandos na política, e principalmente
com a perversidade da lógica sistêmica capitalista, mas é essencial mantermos
nossa memória viva, e não esquecermos o que aconteceu no passado, porque ele
nos ensina.
Percebo que a crise a que experimentamos é a crise de identidade dos partidos políticos do Brasil. Não tenho a menor dúvida disso, fica evidente pela própria resistência dos segmentos partidários em proceder expurgos e as depurações éticas, internamente. Pena, pois até agora o único que nacionalmente respondeu a alternativa brilhante da democracia brasileira tenha sido o DEM. Isto é paradoxal! Eu não vejo isso como bom sinal. A frente popular no Brasil tem dificuldade, salta aos olhos, de enfrentar a ética pública internamente. Ainda olham como se ela fosse um artigo de luxo, e coisa de elite! A continuar assim, certamente resultará em esvaziamento do campo político partidário no Brasil. Muito prejudicial, a médio e longo prazo! Fico pensando, no paradoxo deixado por Sócrates que está no “Primeiro livro” da República de Platão, contra Trasímaco: “Parece, pois, que a justiça, segundo a tua opinião, segundo a de Homero e a de Simónides, é uma espécie de arte de furtar, mas para a vantagem de amigos e danos de inimigos. Não era isso que dizias?” (334a/c). Vejamos até onde vai esta insensatez político-partidária contra a ética pública!
ResponderExcluirProfessor Wilame, se me permite discordar, essa história de "crise de identidade dos partidos políticos" no Brasil nunca me convenceu. Aos meus olhos, parece mais uma estratégia suja de desmobilização do povo através do descrédito na política. Dizer que os partidos não têm identidade é dizer que não existe direita nem esquerda, que são todos iguais. Pelo contrário, acredito eu numa multiplicidade de identidades partidárias no Brasil como em nenhum outro país do mundo! É verdade que essa "pulverização" ideológica prejudica a formação de frentes políticas mais amplas, mas isso é uma característica que demonstra que nossa democracia segue firme, alheia às medidas restritivas como a famosa "cláusula de barreira". Não podemos dizer que um partido como PT sejam igual (ou mesmo parecido) com um partido como o DEM. Essa diferença está exatamente na identidade partidária, que se mantém e reforça no dia-a-dia da luta política. Quando ao "expurgos" e as "depurações éticas", não vejo nisso nada além de um falso moralismo barato, uma forma de livrar a imagem do partido frente à opinião pública individualizando o erro tornado público. Ou vai me dizer que o DEM é o partido da ética? Que casos como o do ex-governador José Roberto Arruda e do Senador Demóstenes Torres são isolados? O partido pune exemplarmente todos os delizes cometidos por seus filiados ou só aqueles que chegam ao conhecimento da opinião pública? Devemos ter cuidado com esse discurso moralista! Afinal, vivemos sob a sociedade capitalista, e a moral a qual estamos submetidos é nada mais que a moral burguesa, como tal, a serviço da classe dominante.
ResponderExcluirQuase me esqueço. Professor Romualdo, parabéns por mais um belo texto!
ResponderExcluirObrigado Paulo Victor. Suas observações são bastante pertinentes, concordo com elas. O professor Wilame faz uma observação tendo como princípio a ética, que é válida, mas não podemos esquecer como a política é exercida. Você tem razão, as medidas adotadas pelo DEM são apenas verniz, se escondem em um moralismo de ocasião cientes de que terão como apoio a grande mídia a individualizar a corrupção quando lhe convém, para aliviar a barra daqueles partidos que se encaixam em suas afinidades ideológicas. Pura hipocrisia, reflexo da moral burguesa.
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