segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DEPOIS DE UMA TRAGÉDIA COMO CONTER A DESTEMPERANÇA E O MESSIANISMO?

O messianismo
acompanha o fatídico.
A mídia incensa.
Quero acrescentar algo a essa nebulosa conjuntura política brasileira. Ultimamente o discurso dos defensores do governo tem sido de resgatar as conquistas, comparando-as com o período do governo FHC. Mas há um problema. São 12 anos desde o fim daquele fatídico. O que significa dizer que o jovem que irá dar o seu primeiro voto tinha naquela época 4 anos de idade. Mesmo que esse jovem tivesse dez anos então, e hoje tem 22, pouco ou quase nada se inteirou da realidade social brasileira. Primeiro porque é característica da juventude, se alienar priorizando seus momentos de lazer; segundo porque a história, enquanto currículo escolar, abdica de analisar os fatos contemporâneos, focando quase exclusivamente no passado distante; e em terceiro, porque a grande mídia tem nos últimos anos oferecido uma overdose de más notícias em relação ao país, mesmo sendo na maioria dos casos manipulação das informações, escondendo, inclusive a grave crise que afeta todo o mundo, levando países europeus (inclusive a Alemanha) a terem resultados de PIBs abaixo de zero. E a uma estagnação da economia dos EUA, que não consegue se recuperar dos desastres de suas guerras. 
Por tudo isso, uma faixa da população não consegue estabelecer parâmetros de comparação entre governos do PT e do PSDB, porque para esse setor a comparação é entre o governo Lula e o governo Dilma. E esta, conviveu muito mais com o agravamento da crise econômica mundial para os países fora do eixo central (europa, Japão e EUA), afetando nos últimos anos os BRICs. Apesar desses manterem um crescimento acima da média mundial, esses resultados tem sido menosprezados pela grande mídia, dominada pelos setores conservadores, que desejam dar um novo rumo ao país e refazer as alianças geopolíticas internacionais.
O sonho deve vir acompanhado da crença
de que é possível mudar. A ilusão não
pode prevalecer
Outro fator tem sido as alianças programáticas, e pragmáticas, necessárias para a dita governabilidade. Os setores conservadores, aliados de momento, bandearão de lado na primeira oportunidade. E suas companhias amarram o governo, impedindo um discurso mais à esquerda. Já os que fazem oposição, embora igualmente (ou piores) conservadores, se apresentam como novidades e usam no discurso uma radicalidade artificial, visto que seus projetos apresentam um retrocesso diante do que o país conquistou na última década e das relações que construiu no âmbito das relações internacionais.
O que faltou, portanto, ao governo brasileiro foi apresentar para a população, e à juventude, durante todos esses anos, principalmente depois das jornadas populares de junho de 2013, as distinções entre os projetos políticos que estão em disputa. E encarar com mais determinação as contradições que lhes cercam. Temo que isso sendo feito agora possa dar a impressão de que é devido à disputa eleitoral.
Poema de Brecht usado nas manifestações.
Como fazer a juventude acreditar
que as mudanças estão em curso?
Ademais, como já tenho inserido em alguns artigos, mesmo com um ímpeto oposicionista, tentando algo mais à esquerda do que o governo atual, essa juventude se encaminha para uma armadilha, na escolha de uma, ou duas, candidaturas que escondem seus objetivos, definidos seja pelas opções liberais, ou pelo fundamentalismo religioso conservador. A ilusão do discurso eleitoral, a ânsia de transformação por não conseguir enxergar a continuidade das mudanças, ou porque ficaram refratários a elas pela massificação ideológica midiática, fará com que essa juventude, e aqueles que se encontravam na posição de indefinição, seja levado pela comoção de um trágico acidente, pela ineficiência da propaganda governamental e pelo discurso messiânico. Situação que seja aqui no Brasil, seja em qualquer parte do mundo, sempre trás futuros dissabores quando da descoberta da fraude eleitoral (como foi no caso Collor; ou no Egito recente), causando crises de proporções desconhecidas, levando o país ao caos e ao retrocesso econômico. Nessas condições, as camadas mais pobres, percentual maior da população, e principal beneficiada pelas conquistas dos últimos 12 anos, será a mais afetada, retroagindo aos tempos em que a política brasileira privilegiava somente medidas do agrado das elites econômicas das camadas sociais abastadas.
O discurso não pode se parecer com
demagogia.
O país tem dois meses para se recompor de uma tragédia que pode ter consequências desagradáveis para a sociedade brasileira, de forma a que a racionalidade se imponha sobre o messianismo e a destemperança. E, impõe aos setores progressistas a necessária clarividência de que as condições conjunturais desse momento são bem mais difíceis do que há duas semanas, e requer muito mais do que palavras de ordem e comparações com o trágico legado do governo FHC. É preciso argumentos convincentes, dados relevantes e uma forte dose de coragem ideológica, para estabelecer as diferenças que possam fazer com que a população, principalmente a juventude, consiga separar o joio do trigo.

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