O messianismo acompanha o fatídico. A mídia incensa. |
Quero acrescentar algo a essa
nebulosa conjuntura política brasileira. Ultimamente o discurso dos defensores
do governo tem sido de resgatar as conquistas, comparando-as com o período do
governo FHC. Mas há um problema. São 12 anos desde o fim daquele fatídico. O
que significa dizer que o jovem que irá dar o seu primeiro voto tinha naquela
época 4 anos de idade. Mesmo que esse jovem tivesse dez anos então, e hoje tem
22, pouco ou quase nada se inteirou da realidade social brasileira. Primeiro
porque é característica da juventude, se alienar priorizando seus momentos de
lazer; segundo porque a história, enquanto currículo escolar, abdica de
analisar os fatos contemporâneos, focando quase exclusivamente no passado
distante; e em terceiro, porque a grande mídia tem nos últimos anos oferecido
uma overdose de más notícias em relação ao país, mesmo sendo na maioria dos
casos manipulação das informações, escondendo, inclusive a grave crise que afeta
todo o mundo, levando países europeus (inclusive a Alemanha) a terem resultados
de PIBs abaixo de zero. E a uma estagnação da economia dos EUA, que não
consegue se recuperar dos desastres de suas guerras.
Por tudo isso, uma faixa da
população não consegue estabelecer parâmetros de comparação entre governos do
PT e do PSDB, porque para esse setor a comparação é entre o governo Lula e o
governo Dilma. E esta, conviveu muito mais com o agravamento da crise econômica
mundial para os países fora do eixo central (europa, Japão e EUA), afetando nos
últimos anos os BRICs. Apesar desses manterem um crescimento acima da média
mundial, esses resultados tem sido menosprezados pela grande mídia, dominada
pelos setores conservadores, que desejam dar um novo rumo ao país e refazer as
alianças geopolíticas internacionais.
O sonho deve vir acompanhado da crença de que é possível mudar. A ilusão não pode prevalecer |
Outro fator tem sido as alianças
programáticas, e pragmáticas, necessárias para a dita governabilidade. Os
setores conservadores, aliados de momento, bandearão de lado na primeira
oportunidade. E suas companhias amarram o governo, impedindo um discurso mais à
esquerda. Já os que fazem oposição, embora igualmente (ou piores) conservadores,
se apresentam como novidades e usam no discurso uma radicalidade artificial,
visto que seus projetos apresentam um retrocesso diante do que o país
conquistou na última década e das relações que construiu no âmbito das relações
internacionais.
O que faltou, portanto, ao governo brasileiro foi apresentar para a população, e à juventude, durante todos esses anos,
principalmente depois das jornadas populares de junho de 2013, as distinções
entre os projetos políticos que estão em disputa. E encarar com mais
determinação as contradições que lhes cercam. Temo que isso sendo feito agora
possa dar a impressão de que é devido à disputa eleitoral.
Poema de Brecht usado nas manifestações. Como fazer a juventude acreditar que as mudanças estão em curso? |
Ademais, como já tenho inserido em
alguns artigos, mesmo com um ímpeto oposicionista, tentando algo mais à
esquerda do que o governo atual, essa juventude se encaminha para uma
armadilha, na escolha de uma, ou duas, candidaturas que escondem seus
objetivos, definidos seja pelas opções liberais, ou pelo fundamentalismo
religioso conservador. A ilusão do discurso eleitoral, a ânsia de transformação
por não conseguir enxergar a continuidade das mudanças, ou porque ficaram
refratários a elas pela massificação ideológica midiática, fará com que essa
juventude, e aqueles que se encontravam na posição de indefinição, seja levado
pela comoção de um trágico acidente, pela ineficiência da propaganda
governamental e pelo discurso messiânico. Situação que seja aqui no Brasil,
seja em qualquer parte do mundo, sempre trás futuros dissabores quando da
descoberta da fraude eleitoral (como foi no caso Collor; ou no Egito recente),
causando crises de proporções desconhecidas, levando o país ao caos e ao
retrocesso econômico. Nessas condições, as camadas mais pobres, percentual
maior da população, e principal beneficiada pelas conquistas dos últimos 12 anos, será a mais afetada, retroagindo aos tempos em que a política brasileira
privilegiava somente medidas do agrado das elites econômicas das camadas
sociais abastadas.
O discurso não pode se parecer com demagogia. |
O país tem dois meses para se
recompor de uma tragédia que pode ter consequências desagradáveis para a
sociedade brasileira, de forma a que a racionalidade se imponha sobre o
messianismo e a destemperança. E, impõe aos setores progressistas a necessária
clarividência de que as condições conjunturais desse momento são bem mais
difíceis do que há duas semanas, e requer muito mais do que palavras de ordem e
comparações com o trágico legado do governo FHC. É preciso argumentos
convincentes, dados relevantes e uma forte dose de coragem ideológica, para
estabelecer as diferenças que possam fazer com que a população, principalmente
a juventude, consiga separar o joio do trigo.
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