terça-feira, 4 de dezembro de 2012

LIBERDADE, LIBERDADE! A SERVIDÃO AO CAPITAL, A ESCRAVIZAÇÃO AO TRABALHO E A DEPENDÊNCIA DO ÓPIO.


“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”

“É a ambição de possuir, mais do que qualquer outra coisa, que impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre”.

Nas últimas postagens tenho procurado refletir sobre a epidemia que se espalha na sociedade e impõe uma brevidade da vida pela estupidez do não-viver. Neste artigo, mais longo, apresento uma espécie de conclusão aos anteriores e analiso as causas.
O vício às drogas: álcool, maconha, crack, oxi, desirré (craconha), heroína, cocaína, e uma infinidade de drogas sintéticas destroem a juventude e a deixa sem futuro algum, já que seu presente lhes é retirado. Pais que perdem seus filhos em vida e se sentem impotentes para livrá-los de uma doença causada pela ambição. Ambição de todos os tipos. Muito embora a procura por elas seja satisfazer o desejo do lúdico, do imponderado, da indecifrável "liberdade". O que na verdade pode representar uma artificialização da felicidade e a antecipação da morte.
Mas as causas que não se atacam estão no âmago da questão e somente um olhar materialista (e dialético) pode detalhar. O estilo de vida mundano, a ansiedade causada pela escravização ao trabalho e a obsessão pelo sucesso que instiga a individualidade e a competição. Numa luta em que se busca o sucesso a qualquer preço. Tudo gira em torno de ter dinheiro. Mas poucos atacam o sistema, como causador de tudo isso. Assim, tem-se um diagnóstico feito sem querer enfrentar a causa. Aqueles pais que perdem seus filhos para as drogas, sabem que as chances de resgatá-los com vida são mínimas. Embora não se deva desistir da recuperação jamais, muitos não conseguem suportar o infortúnio e os conflitos violentos que tal situação cria. Famílias esfumaçam-se como consequência disso, a rua torna-se abrigo de milhares de pessoas, dispersas pelas grandes e médias cidades. Entregues à barbárie de drogas pesadas, tornam-se mortos-vivos, extorquidos de suas dignidades e chacinados por grupos criminosos.
A mídia, que espetaculariza as desgraças, numa batalha entre concorrentes para obter maiores audiências, apresentam a doença sem indicar os germes que são causadores. Transformam a violência em banalidade e exploram o descontrole de uma juventude perdida para as drogas com o intuito somente de manter cada espectador inerte pelo medo em suas cadeiras, aprisionados em suas casas e reféns de um estilo de vida propagandeado a seguir por essa própria mídia. Em seus comerciais, nos filmes em que se glamouriza a violência, e em noticiários especialmente criados para explorarem as desgraças alheias, onde se humilham as pessoas e apresentadores pérfidos se acham no direito de desmoralizar os indivíduos, julgá-los e condená-los. Quanto mais pobres e feios, mais são achincalhados e tidos como escórias da raça humana, que já carregam da espécie o vírus de serem maus, pois equivocadamente  se acreditam que seja da essência do ser humano. Nada se aborda sobre as condições sociais e sobre o sistema causador de todas essas deformações. Algo bem expressado por Marx e Engels, quando disseram: “não é a consciência que determina a existência, mas a existência social que determina a consciência”. (MARX & ENGELS; A Ideologia Alemã).
A violência está fora de controle. Ela está latente e explode a qualquer momento, mesmo diante de circunstâncias completamente inesperadas e que envolvam cidadãos comuns que jamais se conheceram, mas que se odeiam por um simples gesto de intolerância, de impaciência, de olhares desafiadores. Isso decorre da pressão a que cada indivíduo está submetido, como consequência da cobrança a qual todos estão sujeitos, da eficiência, da competência, da capacidade de responder aos desejos do deus onipotente, onipresente e ganancioso: o mercado. Embora o neoliberalismo tenha fracassado, os germes que ele introduziu em um sistema que por essência já é injusto e desigual, permanecem e se reproduzem. E, seguindo-se essa lógica perversa, a competitividade, que se tornou uma essência do mercado disseminou-se como uma praga firmando-se como uma cultura, opondo um ao outro numa concorrência que passou da naturalidade do jeito do ser humano, quando disputava liderança dentro do grupo, para um embate estéril, impulsivo, violento, de sobrepor-se ao outro pela imposição da força e da desqualificação. A ditadura da riqueza se vê acompanhada pela do corpo, do belo, do etnicamente perfeito, da perfeição plástica no sentido etimológico dessa palavra.
A convivência nas cidades, que se constituiu na forma mais eficaz de realização do capitalismo, retirou das pessoas a característica mais importante da vida rural, aglutinação da família em torno da capacidade de produzir coletivamente. A simplicidade do vestir, do viver, da inexistência de vaidades, foi substituída pelo sentimento oposto, porque marcado pela competitividade artificializada pelos desejos impostos pelo consumo. O que antes se produzia coletivamente e manualmente, com os meios de produção que, embora primitivos, eram eficazes para garantir a sobrevivência, se tornam mercadorias não mais possíveis de serem produzidas como antes. Tudo passa a depender da existência do dinheiro. Sempre insuficiente para atender as fantasias construídas pelo “marketing”. Que nada mais é do que a maneira de induzir as pessoas a adquirirem uma determinada mercadoria. O campo foi entregue a grandes corporações e latifundiários ávidos por lucros e sedentos por destruir o que a natureza levou milênios para produzir. Máquinas e produtos químicos substituem as pessoas que foram empurradas para as periferias das cidades.
A servidão ao dinheiro, cujo mecanismo de aprisionamento é o trabalho, impôs às pessoas uma dependência do tempo. Ao invés de seguirmos o preceito de trabalharmos para viver, vimos a lógica ser invertida em viver para trabalhar. E na medida da necessidade de expandir e de ampliar rendas, a família como um todo passa a se dedicar à imposição de se qualificarem objetivando encontrar as condições adequadas para situar-se em um padrão de consumo que lhes possibilitem “ser feliz”. A felicidade passa a ser um objetivo alcançável somente àqueles que conseguem “vencer” na vida. Isso, logicamente, passa a se concretizar diante da nova realidade, na sobreposição e exploração sobre o outro, extraindo de sua força de trabalho a riqueza que construirá uma enorme desigualdade social.
No final da Idade Média, na fase de transição ao capitalismo, o poder absolutista impunha ás pessoas a submissão de leis que as obrigava, até pela punição de chicotadas, a necessidade de se qualificarem para terem condições de servirem à indústria urbana nascente. A vagabundagem, tida na época como crime, era punida de forma dura, com secção de orelhas, enforcamento ou a expulsão da cidade. Era preciso, pela força, alterar a cultura e a rotina das pessoas, cuja atividade produtiva até então não obedecia a regras rígidas, a não ser àquelas que a própria natureza exigia, mas que lhes possibilitavam trabalhar e produzir para viver sem a ânsia consumista que o novo sistema passava a exigir. Mesmo com toda exigência das relações feudais e, principalmente, da corveia, obrigação do servo de servir ao senhor em alguns dias da semana (MARX, O Capital, Livro I, Vol. 2, p. 851-859. Ed. Civilização Brasileira, 1980)
Contudo, a importância do dinheiro para adquirir mercadorias, já não mais possíveis de serem produzidas manualmente como antes, até porque os meios de produção lhes escapam do controle, modifica o tipo de servidão. A dependência a partir de então passa a ser da forçosa necessidade de adquirir trabalho que lhe possibilite ganhar um salário, e, enfim, transformar-se em consumidor. Antes citadino, o indivíduo passa a cidadão, pois além de viver nas cidades algumas obrigações vinham também acompanhadas de direitos. Com o tempo, mais importante do que o direito de ser cidadão destaca-se o fato de se ser consumidor. Não trabalhar, estar desempregado e não ter um salário que lhes permitam consumir torna as pessoas párias, pobres, e ultimamente, excluídos. O sistema flexibiliza-se de tal forma que nos dias de hoje é permitido ser pobre, já que se criou uma hierarquia onde produtos de qualidades inferiores são fabricados para inserir essa camada na lógica consumista do mercado. O excluído assume um sentido mais específico, que significa delimitar às claras as fronteiras que separam pobres e ricos, já que o sistema reparte-se em várias camadas, cada uma tendo acesso a nichos de um mercado que se diferenciam na qualidade e nas condições de viver, e viver bem.
Mas, as cidades que representaram uma mudança revolucionária nessas condições de vida, possibilitaram, mesmo que na lógica egoísta do mercantilismo, avanços significativos nos meios de produção, de trabalho e de consumo. Aceleradamente, revolucionando incessantemente os meios de produção, a classe dominante no sistema capitalista – ou, para evitar polêmica, a classe hegemonicamente dominante –, a burguesia, encontrou na revolução permanente das técnicas e das inovações tecnológicas o mecanismo ideal para reproduzir o capital de forma descontrolável, ampliando a ganância, a usura e o individualismo a níveis da insensibilidade com as condições desiguais das pessoas. Até porque é sobre essa desigualdade que os instrumentos que geram a obsessão pela riqueza efetivam essas diferenças. Não há riqueza que não seja construída mediante um processo de exploração do outro. E, absolutamente, isso não é desígnio concedido por divindade alguma, decorre do processo que opõem de um lado aqueles que possuem os meios de produção, e de outro, os que só possuem sua força de trabalho.
Mas as mudanças estruturais no funcionamento do sistema capitalista foram gradativamente criando oportunidade em atividades meio. Pela própria rotina imposta em função das condições de vida nas cidades, onde tudo tem preço, vira mercadoria, vão surgindo atividades em serviços que passam a requerer também uma capacidade específica, impondo mais uma vez, e sempre, novas necessidades de qualificação. Esses mecanismos, que geram essas novas atividades, reforçam nas pessoas o sentimento de que podem ascender socialmente. Entre as camadas mais pobres e a elite dominante, foi se constituindo uma classe intermediária, intitulada por Marx de pequena burguesia, e que ao longo do tempo, com a inserção de novas ideologias inseridas por intelectuais adeptos do novo sistema, passou a ser intitulada como classe média. Ou classes médias.
geraçãoai5.blogspot
Estabeleciam-se, assim, novos degraus que indicavam as pessoas serem possíveis atingir condições adequadas de vida. Rompendo com a cultura do mundo medieval, cismas religiosos acompanhavam a escalada da burguesia, e avalizavam como predestinação divina o que antes era tido como pecado capital. O protestantismo, e mais claramente, a corrente calvinista, abençoava aqueles enriquecidos, porque teriam esses, pela mão de Deus, e pelo trabalho, assegurado a construção do paraíso na terra. Nos tempos atuais, essa ideologia foi aperfeiçoada, ampliando a individualidade nos objetivos já carregados dessa condição, fazendo surgir, através do neopentecostalismo, a teoria da prosperidade. As igrejas, excetuando-se aquelas que mantinham as tradições antigas, tornavam-se verdadeiros templos financeiros (pelo que se vende e se lucra), onde se oferecem as bênçãos capazes de conduzir os fiéis de encontro aos seus paraísos terrenos.
A burguesia, com essas mudanças, conteve os ímpetos revolucionários. Conseguiu dessa forma disseminar outras vontades, que não somente a transformação de um sistema injusto e desigual, mas ampliar o desejo individual da maioria de fazer parte de uma parcela restrita daqueles que efetivamente poderiam atingir patamares superiores nos padrões consumistas. Embora o sistema permanecesse tal qual em sua lógica inicial, espalhava-se entre a população o sentimento de que era possível “subir mais”. A classe média, a antiga pequena burguesia, passou a assumir a frente da luta visando garantir e manter privilégios, aceitando as condições impostas pela burguesia e procurando distanciar-se ao máximo das camadas pobres. As condições desiguais e injustas consolidavam-se agora tendo a classe média como um gendarme da classe dominante. E assumiu a condução dos mecanismos criados para manter a ordem capitalista, inclusive o próprio poder político. A socialdemocracia surge, então, para ideologicamente conduzir esse processo.
O fracasso das estruturas dos países que haviam rompido com o sistema capitalista, impossibilitados de competir com a sedução neurastênica do modo de produção anarco-capitalista, e em dificuldades para garantir à sua população uma produção de alimentos que atendesse a uma demanda crescente, deu a indicação de um final da história capitalista. Puro engodo de um enredo de ficção. Enquanto existir ser humano e memória a história é infindável. E porquanto houver opressão nenhum sistema será infinito, nem o último da história da humanidade.
legio-victrix.blogspot
Mas é inegável que o deslumbramento passou a se constituir em uma das armas vitais, para as classes dominantes, nas sociedades modernas. As novas tecnologias, implementadas celeremente logo após a queda dos países socialistas, e mediante uma enfurecida jogada de marketing para ocupar os espaços confusos daqueles países e pressionar pela desregulamentação da economia nos países em desenvolvimento, possibilitou a difusão de uma ideia que se impôs além-fronteiras. Ao mundo só restava quedarse ao senso comum, da vitória capitalista, do livre mercado, da competição e da busca pelo sucesso individual.
Em menos de duas décadas o resultado de tudo isso criou uma geração de neuróticos, violentos e de crentes na teologia da prosperidade. Mas que deve ser entendida dentro de uma hierarquia social, pois se apresenta com nuances diferenciadas, como em toda sociedade hierarquizada socialmente. Os objetivos daqueles que se situam nas camadas mais pobres é de obter as mínimas condições de sobrevivência, ampliarem suas possibilidades de ascender socialmente e de terem acesso ao mercado de produtos sofisticados tecnologicamente. Além das duas aspirações principais, terem uma casa para morar e adquirir um carro que lhes deem maiores mobilidades. O automóvel, assim, se torna o termômetro da indústria capitalista moderna.
O individualismo, incorporado agressivamente na cultura das sociedades contemporâneas, e transformado em elemento ideológico a referendar as maiores ambições das classes dominantes e a estimular os desejos das camadas inferiores, se constituiu em uma espécie de bomba-relógio. Despertou as maiores ambições possíveis existentes nos indivíduos, viventes em ambientes que passaram a clamar pela ostentação do luxo e pelo êxtase em se situar na condição de vitorioso, independente dos efeitos colaterais que esses comportamentos geravam. Mas, como um bumerangue, não tardou a retornar ao ponto de partida, sem controle, e com uma violência desmedida.
Entregues à tarefa de consolidar seus objetivos gananciosos a classe dominante imaginou que, ao construir suas fortalezas, em condomínios fechados luxuosos, ou em mansões verticais em bairros apartados da pobreza, consolidariam um modo de vida livre das chagas da miséria sobre a qual esse luxo se impunha. Até porque, o comportamento de vida estressante impunha a jovens executivos aprisionados na teia criada pelo estilo neoliberal de ser, a busca por alguns mecanismos sedutores, que lhes pudesse aliviar o condicionamento escravizante da busca obsessiva pela liderança. As drogas se constituíam nesses instrumentos que lhes aliviavam das cobranças que impunham uma obrigação de a cada final de dia manter lucros cada vez mais acentuados.
Mas havia um preço social, além do custo econômico, a pagar por isso. A busca pela mercadoria que lhes aliviaria das tensões e pressões pela permanente superação e de vitórias continuadas só seria possível diante de ilicitudes. O ópio a que me refiro no título, é na verdade as drogas, que em algumas sociedades naturalmente são utilizadas dentro das circunstâncias que a natureza do local permite, ou até mesmo em decorrência das dificuldades de suportar os condicionantes dela – como na Bolívia, onde mascar folha de coca alivia os fatores da altitude –, passaram a se constituir em mercadorias proibidas pelo excesso criminoso de produtos químicos, à exceção da maconha. Mas mesmo neste caso a química já começa a alterar suas propriedades, até então tida como natural e menos prejudicial à saúde do que as demais, apesar de envolta em polêmica quanto a sua liberação. O que a torna também uma mercadoria ilícita. E o álcool, aceito e legalizado na sociedade, com uma indústria poderosa, mas com os mesmos efeitos colaterais na dissolução da família e na potencialização da violência.
Cocaína
A demanda crescente por essas drogas fez fortalecer um comércio ilegal e criminoso, incontrolável. Nas grandes cidades, a neurose propiciada pela pressão pelo sucesso profissional, pelo tempo desperdiçado no deslocamento entre os lugares, pelo transito massacrante e violento, pela disputa que marca o relacionamento cada vez mais individualista entre as pessoas e a disciplina cada vez mais rígida e exploradora na relação capital x trabalho, empurra-as em direção a esses mecanismos que se supõe aliviar o stress e garantem uma sensação de felicidade. E transforma o tráfico dos produtos utilizados para produzi-las em um negócio altamente rentável que impulsiona a criminalidade e a violência a níveis assustadores.
Uma trágica relação dialética impõe que uma parte daqueles que se tornam dependentes químicos também se constituam em mercadores, submetidos à escravização pelos comandantes desse comércio ilícito e macabro. Isso resulta em uma crescente ampliação de um exército poderoso, que se envolve por extensão no também lucrativo comércio de armas. Essa mistura, que tem de um lado consumidores ávidos por uma mercadoria que lhes põem em êxtase, e de outro, marginais dispostos a tudo para dominar um mercado lucrativo, nada mais é do que o resultado, ou a consequência, de como as sociedades contemporâneas se estruturaram, e da cultura criada a partir das deformações do sistema capitalista. E a violência gerada a partir dessas contradições, dissemina um medo que impõe às pessoas a necessidade de se protegerem, constituindo um novo mercado que surge desse processo: da segurança privada.
Ao Estado se exige um aparato repressivo sofisticado, para combater um exército irregular, composto por indivíduos que, parafraseando o que disse Marx no Manifesto Comunista, “já não tem mais nada a perder, a não ser suas cadeias”. E, retornando ao que abordei no artigo anterior, essas são condições piores do que a própria morte, algo reconhecido pelo próprio ministro da Justiça. Além de parecer um exército de zumbis, já que se reproduzem aceleradamente, por mais que se eliminem territórios por eles dominados. O deslocamento dessas quadrilhas para outros bairros periféricos, a corrupção policial e a permanente demanda, faz com que essas estruturas criminosas assemelhem-se a uma hidra, monstruosidade mítica com corpo de dragão e sete cabeças de serpentes, que se reconstituíam sempre que uma fosse decapitada. Para derrotá-la Hércules, outro personagem mitológico, teria que impedir sua reprodução cicatrizando rapidamente o local da cabeça decapitada.
Os tráficos de drogas, de armas, e de pessoas, jamais serão contidos, enquanto na sociedade persistir uma enorme demanda e consumidores desejosos de pagar por essas mercadorias. A condição efetiva de por fim a essa permanente reconstituição, como no combate à hidra, passa pelo fim das estruturas que lhes possibilitam ser esse um mercado altamente lucrativo. Mas isso não será possível diante das circunstâncias atuais, já que o condicionante nisso tudo se refere ao funcionamento do sistema capitalista, e não é possível extrair isso de sua essência, a não ser que signifique a sua própria destruição.
Ecstasy
Assim, por mais que se tente discipliná-lo, já que não se pode usar o termo civilizar como se fazia antes, pela própria selvageria imposta pelo jeito de se viver nas grandes cidades, novas cabeças de hidras se reproduzirão. As alternativas apresentadas, no âmbito das religiões, não conseguem conter – e isso pode ser observado historicamente – o sentido que está por trás dessa lógica: a usura, a ganância, a individualidade, e tudo que é gerado a partir daí, e que faz do nosso comportamento e de nossa cultura instrumentos que se voltam contra nós próprios e dificultam qualquer mudança. Ambição, egoísmo, vaidade, atitudes mesquinhas, são vírus presentes putridus in corpus.
Assim, somos impulsionados a entorpecer nosso corpo, ou nossa mente, para suportarmos a tirania que nos impõe uma lógica massacrante de submissão ao trabalho, e ao mercado, para saciá-lo de lucro.
Creio, contudo, como disse Marx, que o ser humano jamais se depara com problemas que ele próprio não possa resolver. Mas para isso é preciso, como ele mesmo acreditava, que se encontrem formas de organização que garantam as mudanças que nos livrem da barbárie. Qualquer alteração no estilo de vida a que estamos submetidos só será possível com uma transformação radical no próprio sistema. Extrair a sua essência. E isso significa que ele precisa ser destruído e substituído por outro, em que os valores sejam baseados na cooperação entre as pessoas visando um bem estar comum, onde os meios de produção e as novas tecnologias não estejam a serviço de uma minoria, e que o trabalho não significa algo escravizante, mas prazeroso, dentro de um limite que nos garanta usufruir o tempo curto que representa a nossa vida.
E, se o futuro é uma utopia, mas que mesmo assim insistimos em alcançá-lo, é no presente que ele deve ser construído. Então, não resta tempo a perder. Já que, como dizia o poeta Vinicius de Morais, “a essência do ser humano é a liberdade”. 

Um comentário:

  1. Meu caro amigo,
    Excepcional o texto. Perde quem não lê.
    Um grande abraço,
    Renato Maurício

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