quarta-feira, 9 de junho de 2010

Por trás do discurso (a guerra como continuidade da política)





A Geopolítica se constitui em um dos mais importantes instrumentos para o entendimento das relações de poder. Em se tratando das conexões que são estabelecidas dentro da disputa hegemônica pelo poder mundial, torna-se um elemento de análise imprescindível.

Nas relações internacionais o fundamental, em primeiro lugar, é compreender como os principais atores estão situados no embaralhado jogo que define quem comanda a distribuição das cartas. Distribuí-las insere esse protagonista dentro de uma visão particular que permite jogar a última carta, ou seja, após todos os demais envolvidos terem apresentado seu potencial de prosseguir ou finalizar o jogo.
O objetivo é ganhar o jogo. Não há empate. A ocorrência de uma indefinição sobre quem se sagrou vitorioso determina que haja uma decadência por parte daquele que detém, ou detinha até então, a hegemonia, o controle do jogo.

Assim compreendemos a intempestiva reação dos Estados Unidos tão logo se anunciou o anúncio do acordo com o Irã, promovido por Brasil e Turquia, dois países emergentes, mas que ainda estão distante de liderarem o poder político mundial. Portanto, são intrusos em um clube determinado pelo poder de fogo das armas nucleares.
Claro que não há ingenuidade nesses dois países. Os interesses para torná-los tão atuantes em um tema complexo como esse vão desde os acordos econômicos até a necessidade de obter maior visibilidade em um mundo agora multipolarizado.

Mas, como na célebre frase shakespeariana, “há muito mais coisas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia”.

O MUNDO MOVIDO À GUERRA

Podemos fazer análises as mais diferenciadas sobre o que motiva as grandes potências à tomar atitudes aparentemente irracionais. Analisamos muitas vezes movidos por olhares ideológicos, e/ou conjunturais. Mas quando nos deparamos com números reais, que indicam, por exemplo, um exponencial aumento de gastos militares no mundo, passamos a compreender melhor os interesses existentes por trás dos discursos. Poder-se-ia argumentar que o fato de haver um acréscimo, aparentemente pequeno, algo em torno de 6% no ano de 2009 em comparação com o ano anterior (http://www.sipri.org/) , deve-se à necessidade de adequar os armamentos aos avanços tecnológicos. Contudo, quando observamos o mundo completamente envolvido em uma crise econômica de proporções globais, com economias pujantes amargando PIBs negativos, esses números tornam-se incompreensíveis. Pelo menos à luz de uma leitura superficial, dentro de uma lógica formal, ou de como popularmente chamamos, senso comum.

Na verdade a indústria bélica constitui-se no maior investimento financeiro em atividades econômicas no mundo. E para dinamizá-la é necessário a existência de conflitos que dêem visibilidade aos modernos equipamentos que entram anualmente nesse mercado espetacular.

Por outro lado, como historicamente pode-se perceber, as crises econômicas de caráter mundial, principalmente, são quase todas elas sucedidas por grandes guerras. O renascer econômico de países cujas economias estão em crises dependem, muitas vezes, de um enorme colapso das estruturas econômicas mundiais, como é comum nesses períodos marcados pela chamada “economia de guerra”. Destruídas infraestruturas dos países envolvidos, principalmente naqueles mais frágeis, a máquina capitalista comandada pelas grandes corporações entra em campo para recompor, á luz dos interesses gananciosos, o que foi destruído. A isso denominou a economista canadense Naomi Klein de “Capitalismo de Desastre” (A Doutrina do Choque: a ascensão do capitalismo de desastre, Editora Nova Fronteira, 2008)

Por trás do discurso, podemos então encontrar as respostas para a negativa em se aceitar o acordo firmado entre Brasil e Turquia com o Irã. E, certamente, na análise concisa dos interesses em jogo, tanto na disputa pelo petróleo, quando no domínio de uma região estratégica para os interesses das grandes potências, encontraremos mais razões que justificam a opção de confronto que se vislumbra com adoções de mais sanções contra o país persa, à semelhança do que aconteceu com o Iraque.

O que poderá vir a acontecer com uma guerra neste momento é de difícil previsão. O Irã não é o Iraque, em primeiro lugar; há uma forte animosidade contra Israel por parte dos países árabes, e a guerra do Afeganistão permanece um calcanhar de Aquiles na política externa belicista estadunidense. Certamente o que é possível prever é que, mais uma vez, milhares de vidas humanas serão eliminadas para que prevaleçam os interesses mesquinhos que se escondem por trás dos discursos.

Estaremos acompanhando o desenrolar dos fatos.

Um comentário:

  1. ... e acho que estão fabricando neste momento mais uma "zona de conflito mundial". Pior que não é nem no extremo, médio ou próximo oriente. Também não é na região do Caucáso. ADIVINHA!!!! É isso ai, estão no nosso quintal. AMAZÔNIA!

    Pense bem, todos os elementos necessários para um conflito estão lá. Os caras devem estar babando de vontade para vender muitas armas, né não?

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