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segunda-feira, 7 de junho de 2010
Dossiês.com
Nos aproximamos de mais uma eleição. Desta vez com as atenções disputadas pela Copa do Mundo da África do Sul. Mas não diferente das últimas, e seguindo a mesma estratégia dos últimos pleitos, repete-se a tragicomédia das denúncias de dossiês. Algo que, suspeita-se, acontece também em Goiás. Numa prática questionável, na medida em que as denúncias já tornam-se como verdadeiras tão logo se divulguem as acusações que estão por trás de tais artifícios, isso não contribui para um processo eleitoral lícito e de fato democrático.
A semana que passou foi marcada por um desses lances, no passado recente protagonizado por personagens caracterizados pelo presidente Lula como "aloprados". No entanto desta vez o amadorismo permeou as ações de alguns assessores de imprensa do PT mineiro (reforçado por uma divisão interna da campanha desse Partido naquele Estado). Ao que tudo indica essas pessoas caíram numa armadilha preparada por um agente federal aposentado, que ao não ter seus serviços aceitos pelo preço oferecido repassou as informações à revista Veja (sabe-se lá a que preço), que, de pronto, como é de seu feitio, preparou uma matéria de capa com o intuito claro de repercutir no restante da mídia, bem como desestabilizar a campanha da ex-ministra Dilma Rouseff, em clara ascensão nas pesquisas eleitorais.
Invertendo as informações, a Veja indicou como certo a fabricação de um Dossiê, omitindo a notícia mais importante, que na verdade tratava-se da negociação sobre a publicação de um livro, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., intitulado "Os Porões da Privataria", onde esse experiente jornalista, com passagem pelo Jornal do Brasil, o Globo e Correio Braziliense, investiga possíveis lavagens de dinheiro no decorrer do processo de privatização aqui no Brasil em benefício de pessoas do governo FHC, à época, e seus parentes. A denúncia atinge o candidato José Serra e sua filha. O autor promete divulgar os capítulos do livro pela internet (a introdução já encontra-se no site do Azenha: http://www.viomundo.com.br/).
Não quero, neste momento, entrar em análise das denúncias, pois vou aguardar os novos capítulos do livro estarem disponíveis. Mas todas essas tramóias, denúncias, acusações e estratégias de contra-ofensivas (como as do Estadão, Folha e Globo), sugerem que tenhamos a capacidade de irmos buscar, além da notícia que muitas vezes aparece como manchete bombástica, os elementos que nos permitem entender o que está por trás de toda a trama.
A razão primeira deste blog é exatamente tentar desconstruir o que nos é informado como veracidade, quando não passa de possíveis armações com o intuito de atingir determinados objetivos políticos.
Contudo, se dossiê ou não, se de fato é um livro como poderemos nas próximas semanas averiguar, não desfaz mais uma trapalhada de pessoas ligadas ao PT, cuja prática de reunir munições contra os adversários repete vícios e equívocos históricos, que se constitui uma cultura da política brasileira.
Se há elementos que apontem para corrupção no processo de privatização, e em sendo este o principal partido presente no Governo Brasileiro, o que se deve é acionar as instituições legítimas para investigar e punir os responsáveis por desvios de dinheiro público. Sabemos, como no caso de Daniel Dantas, a dificuldade que existe de colocar na cadeia indivíduos inescrupulosos, dilapidadores do dinheiro público, mas que possuem enorme poder de salvaguardar seus interesses. Desde ter a seu favor, advogados bem pagos e experientes, às influências políticas que os protegem.
Mas é chegada a hora de impedir que tais personagens sejam mais poderosos do que as instituições republicanas. Isso só será possível de acontecer quando, de fato, as práticas forem mudadas, as punições acontecerem, e tais suspeitas deixarem de inundar o imaginário político eleitoral para tornarem-se investigações sérias com desfechos adequados para as tipificações dos crimes cometidos.
Ficaremos de olho em mais essa novela, certos de que houve, sim, muita corrupção no processo de privatização em tempos recentes, mais que tais fatos não podem somente servir de munição de campanha. Ao mesmo tempo, estaremos atentos às tentativas de inverter a lógica acusatória, conforme é prática da mídia, em que esquece-se a acusação e os acusadores tornam-se os réus, desqualificando-se muitas vezes denúncias que trazem fortes evidências de crimes.
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