quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um novo fundamentalismo (I)


Quero aproveitar esse espaço para exprimir algumas idéias a respeito da questão ambiental no Brasil e no mundo. Ultimamente esse é um tema que tem despertado meu interesse em função da pesquisa que estou começando a desenvolver sobre a Geopolítica da Água e as questões políticas que passam a envolver esse recurso imprescindível para a vida.

O interesse é motivado também porque o assunto tem me acompanhado em alguns cursos de especialização no IESA: o de Educação Ambiental, que já se realiza há vários anos, e dois mais recentes onde foram incluídos módulos (disciplinas) que tratam da questão ambiental, seja no cotidiano das relações com as escolas de ensino fundamental e médio e na produção e gestão de projetos culturais. E também na graduação do curso de Ciências Geoambientais com a disciplina Natureza e Sociedade.

Mas a razão principal deve-se ao olhar crítico que tenho estabelecido na relação com o discurso ambientalista tradicional. Aquele cujos espaços na mídia são mais intensos do que os que buscam encontrar um equilíbrio entre a necessidade de inclusão social de uma parcela significativa (e maioria) da população brasileira, e mundial, e os cuidados com a conservação das riquezas existentes nos biomas, florestas e mares, profundamente afetadas pela intensidade como se dá a exploração da natureza dentro da lógica da sociedade industrial capitalista, predatória e consumista.

Esse olhar tem procurado ultrapassar as retóricas de um discurso que se aproxima do fundamentalismo religioso, que busca muito mais o convencimento pelo sentimento e emoção, do que pela razão. Na dimensão desses discursos reduzem-se os espaços para um debate que direcione as atenções para as reais causas do problema, que a meu ver é sistêmica, pois se insere na lógica como funcionam as relações de produção no capitalismo.

Sobressaem-se as ações espetacularizadas, midiáticas, que visam muito mais garantir visibilidade a determinadas ONGs e, consequentemente, ampliar suas possibilidades de arrecadação de doações (semelhante às ações das igrejas neopetencostais), do que propriamente atacar as verdadeiras raízes do problema.

O que pretendo apresentar nesse blog é uma opinião que analisa as questões ambientais pela ótica da Geopolítica, compreendendo que na natureza encontram-se recursos que são essenciais aos Estados do ponto de vista estratégico.

Atraem também interesses gananciosos de grandes corporações, que ambicionam controlar desde minérios imprescindíveis para a indústria (como a cassiterita, tungstênio, lítio,Urânio, dentre muitos outros), e a guerra, até micro-organismos que se espalham aos milhões em biomas com biodiversidades riquíssimas como a Amazônia e o Cerrado, somente para citar os dois maiores no Brasil.

Por isso não nos causa espanto quanto nos deparamos com as manchetes internacionais de ontem e hoje, em meio à euforia da copa do mundo, que noticiam a descoberta de US$ 1 trilhão em reservas minerais no Afeganistão (país que possui um PIB de apenas US$ 12 bilhões).

É exatamente por isso que os Estados Unidos estão por lá há anos fazendo uma guerra que certamente não é somente para caçar Osama Bin Laden e os Talibãs, ou construir oleodutos e gasodutos que atravessam aquele território.

Certamente isso não é novidade para eles, pois dispõem de tecnologias espetaculares capazes de identificar por satélites essas riquezas nos subsolos daquele país, assim como nas profundezas da Floresta Amazônica. O que sabemos agora pela mídia eles já sabem desde antes de realizarem uma invasão.

E se não for dessa maneira, com certeza essas informações são coletadas por espiões que espalham-se pelo mundo travestidos de empresários e missionários (ver Perkins, John. Confissões de um Assassino Econômico. Ed. Cultrix, 2005), estes últimos dedicados a converter aborígenes, como há séculos, e quem sabe também a inserir alma em seus corpos humanos impudicos. Um pretexto que ainda continua sendo bem utilizado.

Outras informações vão gratuitamente em forma de pesquisas feitas nas universidades, obrigatoriamente em artigos indexados em revistas internacionais.

É sempre bom relembrarmos das obras de Yves Lacoste: A Geografia, isso serve antes de mais nada para fazer a guerra; e, Claude Raffestin, em Geografia do Poder, que destacam a importância para os Estados em terem o controle de seus recursos naturais, e como isso torna-se estrategicamente importante na disputa pelo poder mundial.

É bem verdade que existem por trás dos discursos também pessoas (e ONGs) bem intencionadas, mas que repetem slogans formulados por setores envolvidos com questões muito maiores, e não conseguem discernir que nos últimos tempos, até o aquecimento global tem sido objeto de disputas políticas, envolvendo seja as academias de ciências ou interesses de Estados.

Quando falamos então, de biodiversidade, em um mundo marcado pelo avanço na biotecnologia, os interesses políticos em disputa assumem uma dimensão impossível para nós de mensurar. É de bom grado deixarmos a ingenuidade de lado diante de certos discursos. Afinal, por trás deles há poder!

Continuarei no tema.

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