terça-feira, 22 de junho de 2010

O Critério da Verdade


Tenho sido bastante crítico com o comportamento da mídia em minhas aulas de Geopolítica. Não somente em relação ao Brasil, mas ao mundo, de maneira geral. As corporações que detém o controle da informação manipulam as notícias de forma desavergonhada. Partem do princípio de que apenas um número reduzido de pessoas busca ir além do que vêem ou ouvem através dos meios de comunicação. De fato, a maioria das pessoas conforma-se com as informações que lhes são passadas e não buscam o contraditório.

(charge: http://caouivador.files.wordpress.com/2009/03/burro_carga.jpg)

Essa é a aposta que fazem os senhores da mídia. Em tempos recentes, não mais que três anos, tem crescido aceleradamente a importância da web para romper com o controle da informação exercido por esses grupos. Blogs e outras ferramentas como o twitter, tem procurado romper com esse monopólio e travam (e eu passo a me incluir nessa lista) uma verdadeira guerra de guerrilhas midiática, com o objetivo de trazer ao debate outras fontes, seguramente mais confiáveis, a fim de contrapor com o contraditório, as “verdades” construídas ao sabor dos interesses ideológicos, conservadores, da mídia tradicional. É uma guerrilha, dado ao poder econômico que esses grupos detêm.

Por essa razão achei interessante repercutir um texto postado por Luis Nassif em seu blog, mostrando como a notícia é manipulada, invertendo-se o resultado, por exemplo, de uma competente atividade diplomática. Registre-se que nos últimos meses a mídia tem concentrado suas críticas à diplomacia brasileira e, por extensão, recheado os discursos do candidato oposicionista à presidente da República. No caso específico, é visível o objetivo em repercutir um tipo de notícia que agrade aos Estados Unidos e ao seu principal aliado no Oriente Médio, Israel.
Vejam e avaliem. Voltarei ao tema mais vezes.

Do blog de Luis Nassif: http://www.advivo.com.br/luisnassif/

A cobertura de Lula em Israel

Guila Flint é brasileira, filha de judeus poloneses e mora desde 1969 em Israel – para onde se mudou menor de idade. Nos últimos anos tornou-se conhecida como respeitada correspondente em Israel pela BBC Brasil. Frequentemente passa boletins para a BBC Brasil e para a CBN.


Na viagem de Lula a Israel, coube a Guila o momento mais curioso. Com praticamente toda a cobertura falando em vexames, em erros de Lula, Guila passou uma informação até então inédita: a viagem tinha sido um sucesso.

De férias por aqui, Guila considera que o Brasil conseguiu uma relevância única na região. Passou a ter uma dimensão similar ao das grandes potências e a ser visto efetivamente como fator de conciliação.

Em parte, se deve ao carisma de Lula. Na visita a Jerusalem, o trajeto até a embaixada estava coberto por bandeiras brasileiras – algo inédito na visita de governantes estrangeiros.

O mais respeitado jornal israelense, o Haaretz, dedicou cinco páginas a Lula, dois no caderno principal – onde foi chamado de “profeta do diálogo” -, dois no caderno econômico, com ampla cobertura sobre a economia brasileira.

Parte relevante desse sucesso se deveu ao trabalho do Itamarati, diz Guila. Antes da visita, o chanceler Celso Amorim esteve várias vezes em Israel explicando a posição do Brasil, principalmente depois de ter abrigado uma reunião da Cúpula Árabe.

Na visita a Lula, houve a preocupação de um absoluto equilíbrio entre Israel e Palestina. Em geral, governantes ficam em Israel e fazem uma breve visita à Palestina. Lula ficou um dia e meio em cada parte, hospedou-se em um hotel nos dois lados.

Do lado israelense, colocou flores no monumento ao Holocausto e no túmulo do soldado desconhecido. Recusou a armadilha de colocar flores no túmulo do fundador do Estado de Israel, Theodor Herzi, por não constar do roteiro original negociado entre as duas chancelarias. “Era uma armadilha do chanceler israelense”, diz Guila. “que achava que podia dar um passa-moleque em um país de botocudos. E acabou quebrando a cara”.

Do lado palestino, Lula colocou flores no túmulo de Arafat. A isonomia de tratamento evitou desgastes de lado a lado. “Na Palestina, Lula é visto quase como um libertador”, conta Guila. “A ponto de inaugurarem uma Rua do Brasil em frente o cemitério onde está Arafat”.

Por todo esse impacto da viagem, Guila estranhou a cobertura dada por correspondentes brasileiros à visita. Assim como tem estranhado a cobertura dada ao país. “Em todos os grandes jornais estrangeiros se percebe uma imensa aposta no Brasil, nas mudanças que estão ocorrendo”, diz ela. “Agora mesmo, em visita ao Brasil, percebi diferenças enormes. Mas pelos grandes jornais, parece que o país está indo para trás”.

Embora todos os grandes jornais mundiais estejam passando por crises variadas e a presença da Internet imponha mudanças, Guila considera que por aqui o impacto das mudanças foi maior. Talvez devido à excessiva politização da cobertura.

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