Há muito tempo venho tentando encontrar um canal
de expressão para as minhas angústias, dúvidas, análises e questionamentos que
tenho, da minha vida, da sociedade e do mundo no qual vivemos. Nesse primeiro post vou ser mais intimista, navegar por
entre as incertezas que compõe o meu "eu" e identificar as
fragilidades que transformam nossas vidas em cristais. Por mais vigorosos que
julguemos ser, cada um de nós, estamos sempre tendo que lidar com momentos que
negam veementemente todas as certezas que temos da vida. Somos frágeis diante
do imponderável, incapazes frente ao acaso, impotentes diante da morte, mas
poderíamos ter mais tolerância diante das adversidades e das diferenças que nos
cercam se conseguíssemos entender melhor as complexidades e contradições que
compõem a nossa vida.
Dois anos e meio atrás, vivi até então um dos
piores momentos de minha vida. Perdi minha filha, Ana Carolina (minha bela,
meiga e esperta Carol), aos dez anos de idade. E isso, como não poderia ser diferente,
transtornou minha vida. Desde então - e continuo tendo ao meu lado meu filho e
esposa, pessoas que eu amo intensamente, como amava Carol - passei a observar
as coisas com um outro olhar. Mantendo minha concepção de mundo, firmada pelo
aprendizado de anos de estudos e análises das idéias marxistas, e de uma
militância efetiva para transformar essas idéias em realidade, acrescentei uma
outra verve à maneira de entender o mundo. Ou até mesmo de como lutar para
transformá-lo. Senti que mais importante do que idealizar o futuro é
compreender o presente. Entendê-lo e vivê-lo intensamente, sabendo que nossa
vida é tênue e que a brusca morte, presença constante na vida, pode impedir que
qualquer sonho se realize.
Não proponho apagarmos nossos sonhos, pois isso é
o que faz o ser humano acreditar em sua capacidade de criar além do real, e dá
esperança de seguir em frente superando adversidades. Mas sonhar, partindo do
real, entendendo o mundo em toda a sua dimensão, belezas, misérias,
contradições, de uma natureza exuberante, e dentro dela, inerente a ela e
dependente dela, o ser humano. Não um super-homem ou super-mulher, para os
quais, ou as quais, o dinheiro, a riqueza e o luxo possam torná-los imortais,
mas a entender que, no real e em nossos sonhos, somos mortais, passageiros de
uma imensa nau, em alguns momentos comandadas por indivíduos insensíveis,
arrogantes e inescrupulosos. Mas às vezes não. Podem surgir pessoas que não nos
decepcionem, que sejam honestas e que tenham sensibilidade com a pobreza humana.
Que possamos sonhar abstraindo o egoísmo, a
intolerância e a vilania na construção de um novo mundo, sem perder de vista a
percepção que jamais isso se concretizará se no instante presente não buscarmos
construir as bases sólidas que possibilitarão essas transformações. Senão, o
sonho se esfumará e se dissipará quando abrirmos os olhos à realidade. Pois o
futuro é somente uma imagem que fazemos, na perspectiva que o presente vivido
seguirá em frente.
Mas isso depende de nossas escolhas, de compreendermos
que o mundo, a sociedade, a nossa vida, não se constrói em círculos fechados,
em redomas inexpugnáveis. Depende de entendermos que cada vez mais vivemos
enredados em relações e situações que por mais distantes que pareçam de nós,
compõem um estágio da humanidade, que nos afetam, nos atingem e transformam
nosso estilo de vida. De nada adianta defendermos uma vida monástica,
contemplativa. Devemos buscar a satisfação individual e daqueles que compõem
nosso círculo mais íntimo, compreendendo que nossos momentos felizes dependem
das circunstâncias e do ambiente que nos cercam.
Carpe diem... Sim, viver intensamente cada
momento. Mas entendendo o mundo, lutando contra as injustiças, fazendo do nosso
lugar e dos lugares do mundo ambientes seguros e toleráveis para viver. Viver o
presente. Olhá-lo criteriosa e criticamente. Fazer do agora, do aqui,
deste momento, os degraus seguros que iremos escalar. Tornar nossas vozes as
vozes dos outros, dos injustiçados, dos desesperançados, daqueles que desprovidos
de tudo já não acreditam no presente. E por assim viverem, jamais terão futuro.
Com esse BLOG o que pretendo é vi-ver, com o olhar
descrito anteriormente, ler,
compreender e d-escrever o
mundo. Um olhar político geo-histórico, filosoficamente dialético, mas sensível
diante de imensas contradições. Pretendo pelo menos diariamente postar um
comentário sobre um tema relevante do momento, denunciando as falsidades que
existem por trás dos discursos que invadem nosso cotidiano, banalizam nossas
relações e artificializam nossos sentimentos. Principalmente, tentando
desconstruir o que é elaborado pela mídia através de informações que encobrem
os verdadeiros objetivos e os interesses do poder econômico, ao mesmo tempo que
constroem mitos, celebridades, santidades e demônios aos seus interesses.
Lutamos contra titãs, mas se é verdade que cada um de nós deve fazer sua parte,
eis aqui, minhas idéias, minha luta, minha vida, minha palavra como arma dessa
guerra.
Acima de tudo, dedico essa iniciativa à minha
filha, eternamente ao meu lado, para sempre comigo, embora seu futuro tenha
sido desconstruído em um presente contido no passado recente. Em meus sonhos,
não do futuro, mas do passado, sua imagem me incentiva a lutar por um mundo
presentemente melhor.
CARPE DIEM! FAÇA VALER O SEU FUTURO. LUTE POR UM
PRESENTE REAL, JUSTO E MENOS DESIGUAL.
Romualdo,
ResponderExcluirO silêncio nos ajuda a lidar com as dores derivadas das adversidades do mundo, mas chega um momento em que é preciso colocar a voz para fora. Estabelecer diálogos, compartilhar ideias, alegrias, dilemas, angústias, vontades, dores, etc.
Acredito que intercambiar palavras consiste em uma prática rica, a qual amplia possibilidades de diálogos com o mundo.
Grande abraço e sucesso nessa nova empreitada.
Obrigado.
Benjamim
Olá Professor,
ResponderExcluirMuita paz e muita inquietude construtiva!!! Somos elos, então conectemos nessas buscas. Vitórias e perspectivas nesse ambiente digital. Estamos presentes!
Caro Romualdo, obrigado pelas tenras e sábias palavras!
ResponderExcluirCarpe Diem!
Manuel
Ao escrever sobre sua vida, sobre sua reconstrução e incorporação de novos valores, Romualdo mostra que é uma grande figura humana.
ResponderExcluirAbraço do
Euler de França Belém
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuerido Romualdo,
ResponderExcluirsaiba: a mais bela mensagem de felicitação que recebi pelo nascimento de minha filha querida partiu de você. O que no fundo penso que querias dizer-me era isso: Carpe Diem!, minha filha, minha vida.... E não há um só dia que não deixo de me lembrar de suas palavras: 'olhe sua pequena bem de perto...' Guardo sua mensagem com muito carinho, e compartilho-na com todos pois, são suas as palavras nessa gramática do mundo:
"Parabéns, Laura.
Não tenho palavras para lhe dizer que não me deixe profundamente emocionado, aliás já fiquei só ao ver as fotos de sua filha.
Mas tenho que falar: viva sempre bem com sua filha, com quem você ama, da maneira mais intensa que suas emoções permitirem, mas não queira ver ao longe, onde suas vistas não alcançarão. Olhe para bem perto, aí do seu lado, e viva com intensidade esse amor sempre a cada dia, renovando-o sempre. E acima de tudo transmita-lhe sempre compreensão e tolerância. E leve bem a sério este ditado popular: nunca deixe para fazer amanhã o que vc pode fazer hoje.
Desejo toda a felicidade do mundo para você e sua filha, e também para seu parceiro. E dos significados de seu nome, me parece mais pertinente crer que este será o que lhe acompanhará: "orientação de uma vida, de uma ação; rumo, direção, caminho". Então, que a pequena e bela Vereda viva repleta de alegria e felicidade pelos caminhos de sua vida.
Carpem die!
Beijos para essas mulheres maravilhosas.
do amigo,
ROMUALDO"
Um grande abraço! E grata!
Laura Jaime Ramos
Olá Romualdo,
ResponderExcluiròtimos textos. Estou recomendando para alguns amigos com muito orgulho, por reconhecer sua capacidade de se expressar de uma forma especial e bastante crítica.
Abraços do mano,
Carlos Alberto - Cacá
A comunidade acadêmica está ganhando um espaço memorável graças ao seu grande talento em redigir com maestria e lucidez.
ResponderExcluirA visão crítica sempre foi um dos traços mais marcantes de sua personalidade, conheço-a muito bem!
Aguarde as "minhas" críticas, afinal temos algo em comum... rsrsrsrs.
Fico feliz por ver a concretização de algo que, tenho certeza, contribui muito para a sua realização pessoal.
Bj.
Ana Cristina Montalvão Campos
Olá Romualdo,
ResponderExcluirEsta é primeira vez que leio o seu blog e adorei suas palavras. Parece que, para muitos na universidade, nossa vida se restringe apenas a vida profissional.
E viver cada dia, requer um exame em todas as esferas que as compõem.
Momento terapia: a vida faz sentido quando estamos cercados das pessoas que amamos e admiramos, e para mim, inclui os amigos, no âmbito profissional, o grupo do Lepeg (no qual, fui super bem recebida) e a vinda do Adriano para cá (e que você também teve participação e nos apoiou).
Um grande abraço,
Adriana Olivia