domingo, 25 de julho de 2010

O EIXO DO “MAL” (I)

Quando acompanhamos as notícias pelos meios tradicionais de informação, TV, jornais e Rádio, ou até mesmo em alguns portais que reproduzem as visões conservadoras, e, consequentemente, tornam-se porta-vozes dos discursos beligerantes dos Estados Unidos, temos a impressão de que só existem problemas em 4 ou 5 países. Notadamente aqueles que ocupam obrigatoriamente as manchetes todos os dias, revezando-se como protagonistas de ações malévolas, nos destaques das noticias internacionais.

Especificamente: Coréia do Norte, Venezuela, Irã, compõem o denominado “eixo do mal”, expressão usada inicialmente por George Bush, ex-presidente dos EUA, mas que seguem sendo os principais alvos da política externa agressiva daquele país, mesmo no governo Democrata de Obama (incluo aqui por conta própria a Venezuela, em substituição ao Iraque, então sob ocupação). Eventualmente entram também nesta lista a Bolívia, o Equador, a Palestina, Cuba (sempre pode aparecer) e, mais discretamente a China e Rússia. Que pelas suas importâncias econômicas são tratados mais “respeitosamente”.

Existem em nosso planeta 192 países, dos que compõem as Nações Unidas, mais 11 que ou lutam por independência, ou tiveram suas independências reconhecidas recentemente, como no caso do Kosovo. E, uma peculiaridade que é o Vaticano, um enclave, uma espécie de cidade-Estado, que representa a Igreja Católica.

Cada qual com suas características e culturas decorrentes do processo histórico e geográfico de consolidação de seus territórios e de seus Estados-Nações. Consequentemente com governos que se diferenciam por essas características, variando da democracia cristã-ocidental a governos teocráticos, cuja constituição submete-se a preceitos sagrados seculares, passando por regimes comunistas com governos fortemente centralizados.

Obviamente cada um desses países carrega problemas diferenciados, formas de governos variadas, antagônicas em suas especificidades, e governantes com estilos e vínculos populares que se encaixam no perfil do sistema de governo e que agem de acordo com o poder que lhes é atribuído por esse sistema.

Em alguns desses casos o governante assume uma postura que contraria o poder hegemônico mundial, capitaneado pelos Estados Unidos, e secundarizado por outras potências européias, mais o Japão e Israel. Estes últimos são países cujas localizações os transformaram em aliados estratégicos importantes da aliança euro-americana. Na América Latina, a Colômbia, sem nenhuma importância econômica, mas estrategicamente nos últimos anos o aliado mais importante dos Estados Unidos.

Há alguns anos, listaríamos mais dois países, hoje sob ocupação: o Iraque e o Afeganistão, devidamente subjugados por invasões em seus territórios, mas ainda numa “guerra infinita”. Vê-se, dessa forma, que cada um desses países tem sua postura política marcada por uma oposição aos interesses dos Estados Unidos.

E por essa razão tornam-se alvos preferenciais dos ataques da mídia às suas ações, em muitos casos com total inversão nas informações ou o falseamento de fatos difíceis de serem comprovados.

Nos últimos dias seguem-se as notícias, repetitivas, dentro da estratégia de forçar a opinião pública à demonização desses países, referentes ao Irã (continuamente), à Coréia do Norte e à Venezuela. Vamos aos fatos:

O IRÃ E SUAS FRONTEIRAS

No caso do Irã, antes de formularmos qualquer juízo de valor sobre as ações do governo daquele país, e das quais podemos tranquilamente discordar, precisamos compreender a Geografia que o cerca, e que determina a sua existência. Sem isso ficamos à mercê do maniqueísmo estadunidense. Quais as fronteiras que cercam o Irã? Essa é uma primeira pergunta a fazer. Que tipo de riqueza natural, fontes de energia, existe em seu território? É uma segunda pergunta importante. E, historicamente, o que foi o Irã com o Xá Reza Pahlevi e o que se tornou aquele país depois da revolução islâmica, que levou os aiatolás ao poder?

A primeira pergunta nos leva a uma informação estratégica esclarecedora, quanto aos interesses em desgastar o governo daquele país. De um lado o Afeganistão, do outro o Iraque, e ainda o Paquistão. E um imenso território estratégicamente situado entre o Mar Cáspio e o Golfo Pérsico, rota possível para instalação de oleodutos e gasodutos de interesses do Ocidente. Afinal, essa foi uma das razões para a invasão do Afeganistão.

Só assim, conhecendo o que se passa nesses países (invasões, guerras, controle de petróleo, construções de oleodutos e gasodutos, controle de armas nucleares), nos dá a dimensão do porque o Irã precisa ser “dominado”. A existência das maiores reservas de petróleo do mundo, no caso do Irã e do Iraque, e a posição estratégica do Afeganistão para o escoamento de óleo e gás.

Por fim, e isso é apenas um começo, os EUA perderam um importante aliado dadas todas as circunstâncias citadas que envolvem estratégicamente o Irã, quando após a revolução islâmica seu “testa-de-ferro”, o Xá Reza Pahlevi, foi derrubado. Podemos recuar um pouco mais no tempo, se quisermos, para historicamente demonstrar o quanto vem de longe a luta dos EUA para manter sua influência naquela região. Em 1953, os EUA derrubaram o governo legítimo e democrático de Mohammad Mossadeq, consolidando o poder de Pahlevi, devidamente acessorado pela CIA até 1979. A partir daí se impõe a República Islâmica, sob o comando do líder exilado Aiatolá Ruhollah Khomeini.

Como forma de tentar minar o poder dos Aiatolás e retomar o controle de um país importante estratégicamente, os EUA apoiaram as ações de Sadam Hussein e instigaram uma guerra do Iraque contra o Irã que durou praticamente toda a década de 1980. Sem vencedores, mas sem conseguir o intento estratégico dos EUA de derrotar os Aiatolás, Irã e Iraque se enfraqueceram e passaram a conviver com crises constantes, muitas delas conseqüências das ações de espiões estadunidenses.

O objetivo sempre foi de procurar manter uma permanente instabilidade naquela região, condição para que os EUA pudessem espalhar bases militares por todos os lados, cercando territórios ricos em petróleo, mas com dificuldades de mantê-los sob seu domínio. Para justificar perante a opinião pública mundial, as notícias que se espalham pelo mundo através de agências noticiosas sob controle ocidental transmitem informações que visam preparar terreno para ações belicistas, sempre dando a idéia que se trata de uma luta justa em nome da democracia. Repete-se isso ad nauseam, até formarem uma opinião pública favorável à suas ações.

Continua...

Em outro Post, abordarei a situação de mais um “demônio”: a Venezuela de Hugo Chavez.

____________________________________________________

* Charge 1: Jornal do Brasil (Rio de Janeiro-RJ) – 27.11.2009
* Charge 2: http://img4.imageshack.us/img4/1803/obamagoestowarbylatuff2.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário