sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O MUNDO, E NÓS, SEM VOCÊ: DEZESSETE ANOS DEPOIS QUE VOCÊ PARTIU

Querida Carol, minha amada filha, em dezembro de 2010 lhe escrevi uma carta[i]. Completavam-se somente 03 anos que você havia partido. Nesta carta, em que eu imaginava que de alguma forma pudesse ser lida por quem já não mais estava entre nós, ilusoriamente, era também endereçada principalmente aos amigas e amigas que lhes conheceram, e com os quais convivemos nos momentos mais tristes e tensos de minha vida. Também naquele momento eu imaginava como estaria sendo a vida com você ainda presente entre nós. Era uma ilusão. Uma linda fantasia construída por quem estava com o coração estraçalhado, partido. Repito aqui essa iniciativa, agora 17 anos depois que sua vida deixou de existir. Embora ateu, imagino você em alguma dimensão, a nos observar e acompanhar nossas vidas. Nesse momento de dor e saudades, e de um amor intenso e interminável, a materialidade do mundo é o que menos me importa. Alimento a possibilidade, por mais inimaginável que pareça, de haver uma outra dimensão, onde as pessoas boas, principalmente quem deixou a vida tão cedo, possa de alguma maneira completar o seu ciclo de vida. Como dizia o velho revolucionário Vladimir Lênin: “Sonhos, acredite neles. Com a condição de realizar escrupulosamente a sua fantasia”.

O que me move nessa segunda carta que lhe escrevo é o que sempre me acompanhou durante todos esses anos. Tentar ver sua presença em uma realidade de drásticas e bruscas mudanças. O mundo, e não somente o lugar onde vivemos, sente uma transformação radical, mais acelerada do que em outras épocas. Vivemos um tempo em que a aceleração é a marca principal, porque estamos sendo movidos cada vez mais por tecnologias que se superam muito rapidamente. A fluidez do tempo faz com que os acontecimentos se sobreponham muito rapidamente à realidade do tempo que já passou (o que leva muito rapidamente ao esquecimento dos fatos), com os elementos que já se constituem naquilo que compreendemos como futuro. Embora eu insista, conforme já escrevi em crônicas dedicadas a você, minha filha, que o futuro é uma ilusão, não existe. É algo a ser construído da junção do passado com o presente. A noção de futuro, para mim, desapareceu com sua morte. Por isso sigo focado no presente, sem esquecer o passado. Razão pela qual passei a adotar o lema do poeta da antiguidade, Horácio (65 - 8 AC): Carpe diem quam minimum credula postero (Aproveite o dia, confia o mínimo no amanhã).

Não é somente a aceleração contemporânea a marca desse novo tempo. Mas também algo que tem sido crônico com o transcorrer da humanidade: a ganância. Isso que é o motor que move a sociedade capitalista, cega aqueles que acumulam riquezas e os fazem pessoas frias, incapazes de compreender que um mundo de crescentes desigualdades caminha celeremente em direção a um abismo. Muito embora as portas das igrejas estejam cada vez mais abertas a receber pessoas frustradas, ressentidas, revoltadas, sem ter a noção crítica de a quem dirigir suas frustrações, e por isso tornam-se presas fáceis nas mãos de oportunistas que se miram pela ganância, alimentam o ódio e transformam o mundo em um hospício descampado.

Minha filha, os dez anos de sua vida foram de uma crescente esperança em nosso país, embora de trágicas mudanças no mundo. Logo na virada do século, aos seus quatro anos de vida, um fato de grande dimensão sacudiu o mundo. O ataque ao coração do império. O país até então de uma hegemonia inquestionável, algo que mudou nos últimos anos, foi atacado em seus pontos estratégicos, da segurança, do poder político e do poder econômico: o Pentágono, a Casa Branca (neste a tentativa foi frustrada) e o World Trade Center.

Quando você completou dez anos, e foi levada a morte por uma doença perversa, um tipo leucemia rara em crianças de sua idade, nosso país passava por momentos econômicos positivos, embora na política, como sempre, a disputa do poder e a forma como a grande mídia nos tempos modernos construiu as bases para a destruição da política, criou um ambiente tenso, mas que foi parcialmente superado. Só que nos últimos dez anos isso se tornou rotina, a desestabilizar os governos de esquerda e criar ambientes propícios para a chegada de aventureiros, oportunistas e golpistas. O ressentimento, alimentado pela grande mídia, abriu caminho para a destruição da política e a ascensão de indivíduos perversos e de má índole, num ambiente político onde essas peças já se faziam presentes, embora não empoderadas.

Parece minha filha, que o turbilhão que afetou minha vida, nossas vidas, com a sua partida, se disseminou pelo nosso país, e pelo mundo. A loucura e o banditismo, e até mesmo a corrupção e as maldades nas decisões políticas, tomaram conta não somente do Brasil, mas também de outras partes do mundo. Se institucionalizaram e foram normalizadas, pelas crenças fundamentalistas que se infiltraram, como vírus, nas mentes de boa parte da população. Os gestos com os dedos, de armas, a simbolizar a eliminação dos adversários, passou a fazer parte de uma coreografia macabra, sendo executada até mesmo dentro de algumas igrejas. A violência, a perversidade, a brutalidade, principalmente contra as mulheres e contra as pessoas pobres e pretas, se disseminaram espantosamente. A política se tornou um ambiente de ódio, chacotas e esculhambação. A ironia passou a substituir os debates políticos e a destruição de reputação se tornou uma norma, onde a mentira, agora chamada de fakenews, constitui-se numa prática que tem deixado a sociedade numa polarização perigosa, a afetar até mesmo as famílias.

Em meio a tudo isso minha filha, parece haver uma programação definitiva para a deflagração de uma terceira guerra mundial. Sim, mundial, porque guerras é o que não falta nesse mundo, espalhadas por praticamente todos os continentes. O mundo se arma não tanto silenciosamente como em épocas passadas, como por exemplo no entreguerras, década de 1930, chamada pelo historiador Eric Hobsbawm de período da paz armada. Mas a apologia às armas e ao armamento não diz respeito somente às nações que se preparam para a guerra. Internamente, em nosso país, numa nova cultura de perversão tem também se disseminado e amplificado a violência. A liberdade de acesso às armas, e até mesmo a negação do impacto disso sobre a violência que afeta a sociedade, patrocinada por uma base parlamentar bancada pelo segmento bélico, se tornou um culto. Caçadores (em um país onde a caça é proibida) e “colecionadores de armas”, montam arsenais particulares e transformam-se também em mercados paralelos para municiarem traficantes e milicianos. Com isso, as grandes cidades tornaram-se cada vez mais campo de guerras, onde até mesmo trincheiras são montadas em territórios urbanos dominadas por esses setores criminosos. Disfarçadamente, no entanto, é no ambiente político parlamentar que essa força cresce, ampliando o número de pessoas que possuem sob seus controles um verdadeiro aparato bélico, permitido por leis criadas no parlamento brasileiro.

Estou me estendendo nesta carta, minha filha, mas é que o mundo capotou nessas quase duas décadas, desde quando convivíamos com sua doce presença entre nós. E voltando aos tempos em que você era criança, do fatídico ataque aos EUA, seguindo de intensas guerras, não houve hiatos que possamos dizer que tempos melhores nos animavam. Logo veio uma grave crise econômica em 2008, que por pouco não se tornou uma grande depressão, mas que afetou economicamente todo o mundo. E suas consequências transformaram a geopolítica mundial, subtraindo parte do poder hegemônico da potência dominante e possibilitando a ascensão de outros países, principalmente a China, e o velho adversário situado geograficamente no Heartland, a Rússia. Aqui talvez eu exagere, pois não tive tempo de enquanto você conviveu conosco, de lhe passar um pouco dos conhecimentos históricos e geográficos de seu pai. Não era ainda o momento. Você devia curtir e aproveitar de sua infância, infelizmente tragada pelo destino. No entanto, você já acompanhava a nossa vida política e por várias vezes esteve conosco em eventos e campanhas das quais fizemos parte, ajudando alguns candidatos e candidatas de esquerda. Neste particular, minha euforia militante diminuiu, e muito devido ao impacto causado por sua morte. Nunca mais fui o mesmo, e entre altos e baixos, causados pela dor de sua partida, o olhar crítico sobre a realidade e a impotência das forças progressistas em conter as mudanças em curso na direção da perversão de uma extrema-direita odiosa, preconceituosa e criminosa, me levou a um gradativo afastamento, embora mantendo sempre minhas relações políticas e a minhas concepções progressistas e comunistas de mundo. Ainda sonho, relembrando a frase extraída do poema do Lênin, com um mundo mais justo e menos desigual. Como você sempre soube ser nossos desejos manifestados em nossas atividades políticas.

Neste dia 13 de dezembro de 2024, data de mais um ano depois de sua partida, de sua morte, ou de sua transformação em estrela, como sua mãe gosta de falar, vivemos em meio a um mundo de incertezas. Mas não podemos deixar de cumprir aquilo que a vida nos legou. Muito embora tristes, sempre, e saudosos com sua ausência, nos escoramos nos sucessos obtidos pelo seu irmão, Iago, que escala no ritmo adequado os degraus do conhecimento e já caminha para finalizar o mestrado em economia, com as portas já abertas, por sua competência para o doutorado. O que muito nos orgulha. E em cada comemoração que fazemos com ele, saiba minha filha, que você está sempre presente em nossas lembranças. Principalmente nesses momentos que podemos dizer serem felizes, em meio à tristeza por não a ter conosco.

Mas aprendi, desde quando busquei a terapia para contornar o sofrimento por sua partida, a tê-la sempre ao meu lado, ao nosso lado. Assim amenizamos um pouco a dor, a tristeza e o sofrimento por não poder tê-la presencialmente.

Ah, antes de finalizar não poderia esquecer de enfatizar, porque creio, ou pelo menos quero crer, que você acompanha, o sucesso da BORDANA, empreendimento coletivo, uma cooperativa de mulheres, criada a partir de seus desejos, e que hoje se tornou, com a força que sua mãe dedica desde o começo, um ambiente de trabalho, mas principalmente de solidariedade, resiliência e cooperação, com muito sucesso por meio da competência e dedicação de mulheres maravilhosas, a começar, naturalmente por sua mãe.

O Instituto Ana Carol está consolidado, mas a Bordana se tornou tão intensa que não dá tempo a sua mãe para tocar projetos por meio dele. Contudo, no próximo ano devo me aposentar da docência, após 30 anos lecionando na UFG, e a partir daí penso em poder assumir a condução dessa organização social, que criamos para imortalizar sua existência e poder contribuir de alguma maneira com alguma forma de transformação social em nossa comunidade.

Última foto da Carol, em
novembro de 2007. Ela estava
pronta, me aguardando para irmos
ao Quintart da Adufg.

Minha querida filha, você era tudo que eu esperava de bom na vida. Já tínhamos o Iago, e a esperança de ter uma filha alimentava meus desejos paternos. E você veio. Não tão intensa quanto seu irmão, mas com a doçura e a alegria que sempre pontuou seus anos de vida por aqui. Meu desejo se transformou em tragédia. Você se foi ainda na infância. Foi um duro golpe em nossas vidas. O tempo amenizou essa dor, embora o sofrimento por tamanha perda não desapareça, nem nunca irá desaparecer. Vamos vivendo com isso, e tendo sua presença como um norte a nos guiar, uma força inexplicável que nos acompanha e faz com que tenhamos você sempre ao nosso lado. Naturalmente, jamais será a mesma coisa que seria com a sua presença física, e o seu desenvolvimento entre a infância, a adolescência e a maturidade de ser mulher. Não pudemos acompanhar isso. Mas sonhamos. E os sonhos nos deixam em meio às tristezas, rompantes de alegrias. Não são meras ilusões, mas fantasias que criamos de ter você aqui, para sempre, em nossas vidas.

Beijos minha querida Carol. E saiba que o nosso amor por você é eterno. E isso está tatuado em meu braço, para sempre. Estará lá enquanto eu viver.


sexta-feira, 31 de maio de 2024

O TEMPO ANACRÔNICO DO ANDES – Ou, me inspirando em Saramago, “O espetáculo da cegueira”

Fiquei feliz ao ler no site A Terra é Redonda, o artigo do prof. Valter Lúcio de Oliveira, “Andes x Proifes – a disputa no sindicalismo docente”. Me identifiquei com a maior parte do escrito, embora possa discordar de alguns poucos elementos contidos na sua análise. Mas no geral, creio que ele foi bastante feliz ao identificar os problemas existentes na luta sindical, e nas questões relacionadas às disputas entre essas duas representações docentes.

O que me surpreendeu foi com a dita surpresa que seu artigo proporcionou a outro colega. Me refiro à réplica, ou algo parecido com isso, em texto produzido por Lucas Trentin Rech, “Assembleias docentes” publicado nesse mesmo site. Economista, me parece que ele lê os números ao seu bel prazer, na tentativa de dar explicação filosófica ao que na democracia se compreende como desejo da maioria real, factual, mas não necessariamente presencial. Caso contrário teríamos que abolir o sistema eleitoral pelo qual são eleitas as representações parlamentares e os gestores municipais, estaduais e federal. Ora, pois que senão após debates restritos, sem a participação popular, televisionado, segue-se a escolha, pelo voto, daqueles que irão nos representar. Como negar o direito de tantos, que não participam desses debates, à suas escolhas, feitas ao longe, mas cientes de suas responsabilidades e, acreditamos, formuladas a partir de suas próprias compreensões, no dito e no contradito.

Negando a possibilidade de plebiscito, para que se possa aferir o desejo de fato da maioria dos docentes às suas escolhas, este colega se aproxima da incongruência bolsonarista que repele a todo custo a ampliação da democracia, e nega os resultados que lhes são contrários, quando a aplicação desta aponta para uma maioria que não lhe favorece. Assim, visam destruir o objeto daquela consulta, buscando a todo o custo desacreditar desse mecanismo, inevitável para os dias atuais.

O “assembleísmo” defendido pelo professor Rech, nada mais é do que uma arena, um ringue, onde aquele que se expressa melhor, ou o que fala com mais veemência, consegue agradar um quantitativo que, mesmo minoritário, se apresenta como mais barulhento e impositivo, causando uma reação se não de indiferença, mas de apreensão, com as bravatas e comportamentos agressivos adotados para inibir e “convencer” boa parte de uma plateia que se cansa e se retira à medida em que o tempo favorece ao histrionismo dessa minoria que procura se impor pela virilidade de seus discursos.

Há muito que a Universidade perdeu essa capacidade de debater, de saber conviver com os contrários, de usar da dialética para compreender a necessidade de evoluir nos pensamentos e nas compreensões fechadas da realidade. O embate de ideias foi substituído pela negação da contradição, pela afirmação da pós-verdade, pelo emburrecimento de quem não deseja ser contraditado. Pior do que isso, as redes sociais terminam completando esses comportamentos, e por ali persiste a continuidade de um discurso que não se encerra nas assembleias, porque o contraditório precisa ser destruído, como nos últimos anos a extrema-direita soube muito bem usar desse mecanismo para destruir reputações.

E, se nas assembleias já não é possível o debate, como consequência dessa negação, nas redes sociais a virulência do discurso, a desqualificação do outro, se espalha em meio à difícil identificação dos autores das ofensas e das fake-news, que são usadas para convencer quem seja mais facilmente seduzido pela radicalidade do discurso e pela ilusão das promessas fáceis de representações fajutas e irresponsáveis. Porque sabe entrar numa peleja por essa radicalidade, mas fica encantoada e desorientada na hora de sair, pela incompetência e incapacidade de saber negociar, e buscar um entendimento no confronto de posições que são adversas e contrárias.

Esse mecanismo, e comportamento, defendido pelo professor Rech, se explica pela condição de manipular a maioria. A estrutura de funcionamento do Andes Sindicato, anacrônica, mas que favorece a uma minoria extremista, “esquerdista”, no sentido aplicado por Vladimir Lênin, embora a maioria da universidade não se afine com seus ideais, dificulta a que uma oposição consequente e desejosa de mudança consiga sucesso. Estrutura não somente nessas condições de negar uma participação maior dos colegas docentes, mas também de dificultar que numa votação direta se possa substituir esses agrupamentos que controlam uma máquina milionária.

A Andes, ou O Andes, não “representa” somente os professores e professoras do ensino superior federal. Ela abrange universidades estaduais, municipais, faculdades isoladas e fundações, que lhes servem somente nos momentos de processos eleitorais, de definição de suas diretorias. Torna-se assim, pela dimensão do quantitativo de tantas instituições, praticamente impossível mudar os rumos dessa entidade, aprofundando seu anacronismo, mas também, ao contrário do que se expressa seus defensores, um autoritarismo crescente que tenta inviabilizar, em meio a uma legítima pluralidade sindical, a possibilidade de outras alternativas, de outros caminhos, que não seja pela radicalidade do discurso ou da violência e intolerância no tratamento com as divergências.

O PROIFES surgiu exatamente do conflito desses embates e desse comportamento autoritário e esquerdista, avesso às negociações, bem presentes nas diretorias do Andes. Como nos últimos acordos, inclusive em relação à melhoria de nossas carreiras, foi a Federação que se dispôs a sentar com os governos, e buscar atingir o melhor, diante do possível, com a absoluta ausência do Andes. Isso incomodou seus seguidores a um ponto de expressar o grau de intolerância, de imposição e de não aceitação de outra entidade que possa ameaçar esse tempo anacrônico no qual ela está fechada. 

Mas todo ciclo se encerra. Por mais que a Andes tente impedir as transformações no movimento docente, cada vez mais se amplia essa possibilidade, de se forjar alternativas que fuja dessa postura sectária e autoritária, de imaginar que suas proposições devem ser, sempre, enfiadas goelas abaixo nos governos que estiverem de plantão. Claro, desde que sejam governos progressistas. Pois que, calando-se diante dos governos de extrema-direita, como em exemplo recente, em que se passaram seis anos sem que se houvesse mobilização para greves nos governos Temer e Bolsonaro.

Mais do que entrar numa negociação, o que deseja com esse comportamento andesino, é abrir uma luta que vai para além de questões salariais ou de reposição orçamentária para as universidades, mas visa construir um protagonismo radical que dê visibilidade a grupos políticos que não possuem o mínimo de representatividade na sociedade.

Distantes desses debates e dessas discussões, muitos colegas embarcam nos discursos radicais, e são convencidos de que o céu não é tão distante para os seus desejos. No entanto, como já dizia um personagem shakespeariano, numa frase muito conhecida, mas pouco compreendida, “há muito mais coisas entre o céu e a terra, do que imagina nossa vã filosofia”.

domingo, 19 de maio de 2024

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A PROPOSTA AO MOVIMENTO DOCENTE - DITA FINAL PELO GOVERNO - PARA OS REAJUSTES SALARIAIS

Mais uma vez direciono meus comentários para os colegas professores e professoras da Universidade Federal de Goiás.

Já publiquei outros artigos aqui no meu Blog, que vocês podem acessá-los, se ainda não o fizeram, que complementam este que escrevo aqui agora, com o intuito de analisar a proposta feito pelo governo para o escalonamento de nosso reajuste, e algumas mudanças em nossa carreira docente.

Inicialmente, uma pergunta básica? Quem tem medo da democracia? Digo isso porque é impressionante a quantidade de ataques de “haters”, ofensas, palavras injuriosas e tentativas de desqualificar o nosso sindicato Adufg, bem como o Proifes-Federação. Temos anotado e copiado essas atitudes bizarras de colegas, e pessoas em geral, visto que não conseguimos identificar algumas delas, porque não se restringem a quem é da UFG. Depois que baixar a temperatura, causada pela greve, iremos ver quais providencias adotaremos, dentro daquilo que a lei nos permite.

Mas em relação ao questionamento que faço, a resposta é simples. Quem tem medo da democracia é quem não consegue conviver com o contraditório, com outras ideias e propostas que não são necessariamente as suas. A forma de se contrapor a uma opinião, para quem não consegue conviver com o debate acadêmico, ou mesmo político, é mediante o uso da agressividade, do ódio, e da intempestividade em impedir que tal proposta, ou ideia, tenha prosseguimento. No computo geral, da avaliação política, chamamos isso de “fascismo”, a tentativa de calar, pela forçar quem tenha outros argumentos que contrarie determinada pessoa propensa à intolerância, autoritária e avessa à democracia. 

Dito isso, vamos ao que importa, porque o que queremos é discutir o que está posto na mesa de negociação para resolver o impasse do nosso reajuste salarial, dentre outras coisas: A proposta apresentada pelo Governo, pela terceira vez, e após reuniões e sugestões de algumas entidades.

Primeiro é necessário ter a percepção, e a compreensão política, de alguns elementos que servem como balizamento para entendermos as dificuldades impostas por conjuntura política complexa e a própria, e imperativa, postura do governo, em não apresentar nenhum percentual para nossa categoria, neste ano de 2024. Tudo isso foi agravado com a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, com forte impacto econômico não somente naquele estado, mas no Produto Interno Bruto do próprio país. Dada a relevância econômica que ele possui, tanto em termos industriais, como principalmente na agricultura e na pecuária (agroindústria).

Se já havia um forte compromisso do governo com o dito “arcabouço fiscal”, e a obsessão pelo “déficit zero” (não dá pra comentar essas questões aqui), com os últimos resultados econômicos, aliados a essa catástrofe climática (que não pode ser atribuída à natureza, mas também não cabe aqui a análise socioambiental desse desastre), nos permite ter a convicção que não haverá acréscimo por parte do governo à proposta já apresentada, no que nos foi informado que esta seria a última, e será levada no dia 27 para o acerto, ou acordo, final.

Podemos apostar, insistindo em uma proposta de índices mais elevados. Claro que isso é o desejo de qualquer docente (não estou analisando a paralisação dos TAEs, mas tão somente dos docentes). Mas podemos ficar, como no dito popular, segurando na brocha, e os negociadores do governo a retirar a escada de nossos pés, nos deixando pendurados. Assim, poderíamos chegar a um impasse e ao fechamento dessa mesa de negociação, que só poderia ser aberta novamente às vésperas do que o governo considera nossa data base, o mês de maio de 2025. Ou seja, perderíamos também o reajuste proposto para 1º de janeiro de 2025. É pagar para ver.

Mas não somos irresponsáveis. Fazemos parte de um Sindicato e de uma Federação, que há muitos anos vem priorizando as negociações, entendendo que essa forma de se chegar a um acordo pressupõe que as duas partes vão gradativamente abrindo mão de suas propostas iniciais, até chegar a um possível trato final, em que cada um vai cedendo um pouco.

O que está colocado agora na mesa de negociação, para ser fechada no dia 27, não é o que queríamos inicialmente. Mas também não é a proposta inicial do governo. Este manteve o ano de 2024 sem reajuste (concedendo somente aumento nos benefícios), mas trouxe na segunda proposta uma antecipação da validade do reajuste, de maio para janeiro de 2025, acrescendo o percentual inicial de 4,5 para 9,0%. Reduziu de 4,5 para 3,5% em maio de 2026, mas isso não tem muito impacto na somatória, devido a antecipação da validade do reajuste para janeiro de 2025, quatro meses antes da proposta original (maio de 2025). 

No prosseguimento das negociações os representantes do governo aceitaram elevar os valores para as classes de entrada (o que vai beneficiar também os professores substitutos), além do aumento de 4,0% para 4,5 e 5,0%, respectivamente nos anos de 2025 e 2026, nos nossos “steps”, ou o aumento que temos automaticamente em nossos salários (preenchendo-se os requisitos, naturalmente) entre cada degrau de nossa carreira. O que impacta também na somatória final no comparativo entre como estávamos no começo deste governo, até o último ano dessa gestão (2026).

Síntese das propostas do Governo Federal, entre 2023 e 2026
Fonte: GOV.BR (2023, 2024, 2024b)
Extraído do artigo do Prof. Tadeu Arrais (ver em www.adufg.org.br)

Defendemos a aceitação dessa proposta, para evitar ficarmos sem nada e sermos forçados a negociar mais uma vez no começo do próximo ano. E não somos irresponsáveis de imaginar que um movimento grevista, aprovado somente com 5 votos de diferença, possa ter fôlego em permanecer por mais tempo. Até porque não usamos da greve como um instrumento político para confrontar governo, nem muito menos para termos algum tipo de protagonismo político. Nosso objetivo é garantir que, em meio a negociações tensas, mas que não tínhamos desde o governo Dilma, possamos chegar a um acordo que nos permita diminuir boa parte de nossas perdas salariais. Para que, em um novo governo, e já na elaboração do orçamento para 2027, possamos garantir outros reajustes, quando podemos zerar essas perdas e avançarmos para termos aumentos reais. A depender do caráter desse governo, a ser eleito. 

Até lá, deverão permanecer abertas as mesas setoriais, e a luta por recomposição orçamentária nas universidades e melhoria de trabalho, tanto para docentes como para técnicos administrativos, que travam sua luta em paralelo. Da mesma forma, uma universidade bem servida de dotação orçamentária, e de gestão democrática, nos possibilita discutir sobre onde internamente devemos investir mais. Nesse ponto, a participação estudantil é fundamental, dado a suas reivindicações serem pertinentes na defesa de melhoria das condições para que possam estudar e permanecer em uma universidade que possibilite os retornos necessários para uma formação completa, em todos os sentidos.

A luta continua, e é permanente.

(*) Acesse também o canal @ROMUCAPESSOA no YouTube: 

https://youtu.be/uYExj8BfISI

quinta-feira, 9 de maio de 2024

SOBRE A AÇÃO DE “HATERS” E AS “FAKE NEWS” NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO E DURANTE A GREVE DOCENTE. E O QUE HÁ POR TRÁS DA INSISTÊNCIA EM SE CRIAR UM “COMANDO” DE GREVE.

Prof. Dr. Romualdo Pessoa
Diretor Financeiro do Adufg Sindicato
Prof. Titular do IESA/UFG

Infelizmente não estamos livres dos vícios, da agressividade, do discurso de ódio e das ações maldosas que permeiam o ambiente virtual que se espalharam pelas redes sociais desde 2017. Embora sabendo que esse comportamento é milenar, mas traduzido como mentiras, principalmente em ambientes de disputas pelo poder e de guerras, foi a partir das eleições estadunidenses daquele ano que essa expressão “fake news” se popularizou, tanto em sua referência quanto na prática.

Junto a isso, e com a disseminação das redes sociais, mas levado pelo ambiente político criado pelo uso das fake news, tornou-se também comum a ação de pessoas provocadoras, que pelo discurso passaram a serem chamadas de “haters”, ou “odiadores”.

Essas duas práticas são irmãs gêmeas, no sentido de destruir reputações, infernizar a vida de algum oponente ou de alguém que expresse opinião polêmica, não aceita por segmentos políticos conservadores, ou até mesmo por quem deseja desqualificar determinadas ideias, concepções e/ou opiniões, mas que não possuem argumentos sólidos, concretos ou até mesmo que sejam coerentes. 

As “fake news” se disseminam como um raio pelas redes sociais, numa situação de difícil contestação, porque já se sabe, por estudos e pesquisas realizadas, que há uma tendência de que as pessoas se guiem mais pelas mentiras do que pelas notícias fundamentadas em fatos reais. Esse é um mal que corrói a sociedade em tempos de informações digitalizadas, da velocidade com que a informação chega nas pessoas e como ela é compartilhada milhares de vezes, sem a observância da veracidade, ou até mesmo porque algumas pessoas desejam acreditar naquilo que está lendo. Neste último caso, essa prática se denominou, também principalmente a partir de 2017, como “pós-verdade”. Ou seja, o fato de as pessoas acreditarem somente naquilo que elas desejam acreditar. Não há espaço para o contraditório.

Nos últimos anos, aqui no Brasil a partir de 2018, essa prática se disseminou na mesma velocidade com que a extrema-direita tomou corpo. Obviamente porque desde então, acentuando-se com a eleição de Jair Bolsonaro e piorando durante a pandemia, isso se transformou numa arma política e ideológica.

A mentira sempre foi uma arma utilizada estrategicamente durante os períodos de guerra. E muito já se repetiu uma frase, “numa guerra a primeira vítima é a verdade”, cujo autor provavelmente seja Ésquilo, dramaturgo grego que viveu no ano VI antes da era cristã, pelo calendário ocidental. Porque esconder a verdade, ou espalhar mentiras, sempre foi uma prática para gerar confusão, omitir como os fatos reais de fato acontecem, além de demonizar adversários gerando dúvidas nas pessoas, que terminam por acreditar na versão mais propagandeada.

Bom, se essa já era uma preocupação há mais de dois milênios, nos imaginemos numa realidade em que a informação circula o mundo em segundos. Pois é neste mundo em que vivemos. E por essa velocidade, e com seus mecanismos que possibilitam essa rapidez, que as perversões atingiram uma proporção epidêmica, no Brasil e no mundo.

Essa prática perversa, por mais incrível que isso possa parecer, tem sido utilizada por setores do movimento docente, que defendem ardorosamente a postura sectária da entidade que se diz “sindicato nacional”. Num primeiro momento isso foi feito para atacar o nosso sindicato Adufg, espalhando de forma mentirosa que o modelo de plebiscito eletrônico não era confiável. Sim, algo parecido com a insistência da extrema-direita em acusar as urnas eletrônicas de não serem confiáveis.

Não bastasse espalhar mentiras para gerar dúvidas, passaram acusar o sindicato, argumentando que o mesmo não iria conduzir o movimento caso a greve fosse aprovada. Logo em seguida, agora atuando como “haters”, passaram a replicar com virulência, comentários nas postagens do sindicato nas redes sociais, e até mesmo em um vídeo que produzi logo depois da deflagração da greve, reafirmando nossa posição que a direção do movimento grevista seria de responsabilidade da diretoria do sindicato, legitimamente eleita pela maioria dos professores e professoras, para conduzir nossas lutas.

Essa sequência de mentiras tinha, claro, um objetivo. Desqualificar o nosso sindicato, e, por extensão, atingir a nossa federação, à qual o Adufg é vinculado, por sua capacidade já comprovada de conduzir negociações vitoriosas com o governo, como foi no caso da reformulação de nossa carreira, durante o Governo Dilma Roussef. Assim, tentando enfraquecer o sindicato por meio de mentiras (ou fake news), gerando dúvidas entre professores e professoras, visavam forçar a criação de um “comando local” de greve, pelo qual a condução da greve se daria por esse “comando”, ficando a diretoria submetida às decisões “democráticas” do que eles chamam de “base”. Para nós, que conhecemos essa prática de há muito tempo, uma clara tentativa golpista de usurpar o poder da diretoria do sindicato, delegado no processo eleitoral legítimo.

Esse tal “comando local de greve” (já criado paralelamente de forma desrespeitosa, dividindo o movimento) reportaria ao “comando nacional de greve” do Andes. O que seria outro golpe, pelo fato de o Adufg-Sindicato não ser vinculado à essa organização, mas sim ao Proifes-Federação. Essa confusão, há anos é provocativamente reforçada, por um grupo de colegas que faz oposição à diretoria do Sindicato. Nas assembleias, por meio de discursos dissimulados, nos acusam de estarmos alinhados ao governo, e com confusões também propositalmente criadas nesses fóruns, com o objetivo de dispersar uma parte dos colegas presentes, a fim de poder levar a cabo suas intenções golpistas, e por meio do “comando” o que desejam seria assumir o controle das decisões a serem “obrigatoriamente” implementadas pela diretoria da Adufg, porque pretensamente teria sido decisão da “base”.

Além dessas duas questões, que envolvem Andes x Proifes, em nível nacional, e diretoria do Sindicato-Adufg x golpe de quem não aceita resultado eleitoral, há outros elementos. Aí entramos no campo do uso de uma forma de luta legítima, mas que deve ser utilizada estrategicamente no momento de impasse final de negociações: a greve. Esses nossos colegas opositores, professores e professoras, que se julgam serem eles os “verdadeiros democratas”, e assim se denominam em grupo recém-criado responsável por criar esse “comando” paralelo, e que replicam aqui essa postura e comportamento sectário do Andes, tem na greve um fim, e não um meio, dentro de um processo de negociação. Ademais, buscam inserir um número grande de reivindicações, para além das questões salariais, para que, quando a última contraproposta for apresentada e não ser aquela por eles indicada desde o primeiro momento, possam assim defender o prosseguimento da greve ad-infinitum, conforme já aconteceu em anos anteriores.

A história está aí, é só pesquisar. Quantas vezes a Andes prosseguiu teimosamente na greve mesmo em fim de negociação, sem conseguir nenhum resultado positivo para sua proposta. Porque a greve passa mais a se constituir em uma arma política para emparedar e desgastar o governo, mesmo sendo este progressista e estar disposto a atender nossas demandas, apesar de que pela conjuntura isso se dê de forma mais lenta do que desejamos.

Entre fake-news, e ação de haters, o objetivo é claro. Nos conduzir para uma greve sem fim, com o objetivo de atender a seus interesses políticos de segmentos minoritários de extrema-esquerda, que neste particular se alinha à extrema-direita na estratégia de enfraquecer o governo Lula.

De nossa parte nos interessa conseguir, por meio da mesa de negociação em curso, algum avanço positivo em relação à proposta inicial feita pelo governo. Já avançamos, mas pensamos que podemos exigir mais e que o governo pode ceder um pouco mais. Assim se negocia, e dessa forma vamos chegando a acordos mesmo que não seja o ideal, mas que seja o possível em meio às situações difíceis pelas quais passa o governo, emparedado pelo Congresso e por bancadas fortemente organizada de setores de direita e extrema direita que sequestraram um terço do orçamento, por meio das chamadas “emendas impositivas”. Mas que seja o acordo possível, dando-se as garantias de correção em nossas carreiras, mantendo-se aberta mesa de negociação especificamente para a categoria docente, assim como também tenta fazer os servidores técnicos-administrativos.

A história se faz com verdades, não se faz com mentiras. A democracia pressupõe o livre desejo da maioria, seja para entrar em uma greve, seja para sair dela. O resultado disso deve ser respeitado, como também deve ser respeitado as escolhas legítimas nas eleições sindicais, sem que se tente o tempo inteiro usurpar um poder legitimamente concedido no processo eleitoral, pela maioria dos professores e professoras. Nosso sindicato, um dos mais forte do país, em termos de estruturas e de percentual de professores e professoras sindicalizados, tanto entre ativos como entre aposentados, merece respeito. E não será por meio de golpes que conseguirão nos dobrar, nem impedir que lideremos nossa categoria e conduzamos o movimento grevista com seriedade e sem manipulações.


quarta-feira, 1 de maio de 2024

DOCENTES DA UFG EM GREVE POR TEMPO INDETERMINADO

Quero me dirigir por meio deste artigo em meu Blog Gramática do Mundo, especialmente aos docentes da UFG, professoras e professores, tanto aos que participaram do plebiscito que definiu pela greve por tempo indeterminado, quanto aos que não participaram por alguma razão.

Após comunicado que será feito à reitoria, obedecendo os trâmites jurícos que são exigidos, a data marcada para o início da greve é dia 07 de maio.

Temos na UFG 2.124 docentes em atividade. Destes 1.575 são filiados ao Adufg-Sindicato, além de 800 aposentados. O resultado do plebiscito indica a ausência de 873 colegas que não opinaram sobre a greve. Trocando em miúdos o percentual dos que votaram a favor da greve é 29,47%.

Mas, do ponto de vista legal, estatutário e democraticamente legítimo, o que importa é o quantitativo de 50%+1, dos votantes, que definiu o resultado do plebiscito, além de considerarmos uma participação significativa para os padrões do movimento em nível nacional. É nisso que pelo aspecto legal temos que nos mirar e focar a luta. Muito embora essa matemática do número de votantes seja importante, porque nos indica a necessidade de dialogarmos ainda com colegas que não votaram, porque, naturalmente, devem obedecer à decisão democrática, não importando o resultado, diferença ou não votantes. Além de também nos indicar o caminho pelo qual devemos seguir, estrategicamente, na condução do movimento, atentando para algumas diferenças em relação ao modelo de organização que tínhamos anteriormente.

Agora o ADUFG é um Sindicato, com abrangência para todo o Estado de Goiás, incluindo aí além da Universidade Federal de Goiás, a Universidade Federal de Jataí e a Universidade Federal de Catalão, que pelo que rege nosso estatuto têm a autonomia para decidirem se entram, ou não em greve. No caso do plebiscito ao qual me refiro e aos encaminhamentos que devemos fazer, diz respeito à UFG.

Mas o que nos diferencia hoje, da forma como lidamos com greves no passado? Exatamente o fato de sermos um Sindicato local, e, portanto, não estamos vinculados a um “sindicato nacional”. Até porque, nossa vinculação estatutária é ao PROIFES- Federação. E isso diz muito sobre a forma como será conduzido o nosso movimento grevista. Para além do que esperneia setores de oposição, o que faz parte da democracia.

Mas a diretoria do Adufg-Sindicato não irá abrir mão da condução da greve, e muito menos da definição quanto às formas de encaminhamentos das questões diretamente ligadas ao movimento. Afinal, foi para isso que fomos eleitos, e estamos atentos e refratários a qualquer tentativa golpista de usurpar nossos comandos. Seguiremos conduzindo as ações de conformidade com nossa prática política, aprovada pela maioria dos sindicalizados, professoras e professores, que elegeram nossa diretoria. 

Outro fator nos diferencia de momentos passados. Estamos hoje vinculados a uma Federação, o Proifes, e não mais ao Andes, pelo simples fato que somos tão sindicato quanto aquele que se diz “nacional” embora não seja. Portanto, pela própria organização nossa, não teremos “Comando de Greve Local”, visto que as ações aqui na UFG serão organizadas e dirigidas pela diretoria do Adufg-Sindicato. Da mesma forma, não enviaremos representante a nenhum “Comando Nacional de Greve”, visto que a forma de organização da Federação é diferenciada. Mas teremos, sim, por indicação da diretoria, representação nossa em Brasília, além dos diretores da Adufg que já fazem parte do Conselho de Representantes, outras pessoas que possam contribuir nos encaminhamentos necessários junto ao PROIFES e aos demais sindicatos que fazem parte da Federação, alguns dos quais em universidades que também definiram por entrar em greve.

É importante salientar que não paramos as negociações. Por meio do Proifes-Federação foi encaminhado na terça-feira (31/04), um ofício ao Ministério de Gestão (MGI), uma nova proposta, que avança em relação ao que o governo apresentou, com indicação de um percentual de reajuste em 2024, e modificação também para os anos seguintes. Isso pode ser verificado por meio do site do Proifes Federação, acessando link: https://proifes.org.br/proifes-entrega-ao-governo-nova-contraproposta-de-reajuste-e-reestruturacao-de-carreira-do-magisterio-superior-e-ebtt/.

Assim, refirmamos nossa prática democrática de negociar, e garantiremos nossa paralização, conforme decisão da categoria por meio da maioria dos votantes no plebiscito, e seguiremos firmes na luta, de conformidade com o que nos foi delegado pelo conjunto das professoras e professores da UFG, entre os que estão em atividades e os que já se aposentaram, e que mantém suas filiações ao Adufg-Sindicato. Tão logo recebamos resposta do governo, por meio da mesa de negociação, chamaremos imediatamente a Assembleia Geral, para definir sobre a aceitação ou não da proposta, e, naturalmente, continuidade ou não da greve.

A LUTA CONTINUA!!


quinta-feira, 11 de abril de 2024

O DILEMA DA ESFINGE: A UNIVERSIDADE, A LUTA SALARIAL E “O QUE FAZER”.

Em outras oportunidades, isso está registrado em alguns artigos neste blog, usei dessa parte da mitologia grega para indicar o quanto se torna difícil buscar soluções em meio a situações que nos são, ou de difíceis compreensão, ou por ignorarmos um aspecto importante, a necessidade de compreensão da conjuntura na qual estamos metidos. A resposta ao dilema da esfinge, nas circunstâncias em que vivemos, seguramente não deixaria nenhuma pessoa surpresa com o resultado da charada decifrada por Édipo.

“— Qual é o animal que de manhã anda com quatro pés, à tarde com dois e à noite com três?” Algo aparentemente simples ao ser indagado, mas não encontrava quem respondesse corretamente. Assim é o dilema que penso estarmos vivendo. Não há surpresa, mas relutamos em que fazer, embora o próprio governo nos empurre para a radicalização. 

Mas, existe um ditado popular que, creio, a maioria conhece: “prudência e caldo de galinha, não fazem mal a ninguém”. Em menos de um ano e meio estávamos às voltas com uma apreensão terrível, será que conviveríamos por mais quatro anos com uma pessoa abjeta a nos presidir, que sempre teve como um dos alvos prioritários a universidade? E não creio que seja difícil responder se perguntarmos: estamos livres desse estrupício? Talvez o estrupício, sim, por enquanto, mas não das perversidades de sua turma cujo objetivo foi espalhar escolas militares por todo o país, bem ao estilo produzido durante o 3º Reich, sob o comando de Adolf Hitler, a partir de 1934. Sugiro que leiam sobre como estavam estruturadas as escolas durante o regime nazista, em que se espelhou o governo Bolsonaro.

Não. Não estamos livres da sombra que nos turvou o nosso caminho nas universidades por mais de quatro anos. Um período sombrio para as ciências, as pesquisas, as universidades públicas, e um ataque bem direto e objetivo às áreas de humanidades, por seu caráter mais crítico e contundente nas análises históricas e sociais.

Alguns poderão dizer que é uma postura defensiva, e que não podemos abdicar de lutar pelos nossos direitos. Tudo bem, nos cabe debater a situação, dialeticamente. Mas sem estigmas, e muito menos subir o tom no discurso, como forma de radicalizar nas ações. No entanto, que estejam abertos a receber o contragolpe quando dissermos que nessa conjuntura posta, radicalizar agora contra o governo facilita o retorno da extrema-direita ao Poder, a começar pelas eleições deste ano.

O que não quer dizer que o governo não possa ser criticado. Isso é necessário em uma democracia, até para que essa queda de braço não termine por fortalecer o lado conservador de um governo que é de coalizão e está nas mãos de uma maioria também conservadora no Congresso Nacional. Nem muito menos que devemos ficar de braços cruzados e aceitar uma negativa do governo em nos negar reposição salarial, diante de perdas que já chegam a 40% acumuladas ao longo de pelo menos dez anos.

Mas se trata de saber como lidar com uma situação complexa, tendo a convicção que não desejamos, sob hipótese alguma, voltar aos tempos sombrios dos governos Temer e Bolsonaro. E isso não está descartado. As eleições deste ano serão um momento importante para sabermos isso.

Posto isso como devemos lidar com essa complexidade, que nos coloca num fio de uma navalha? Primeiro buscar incansavelmente negociação com o governo, mesmo com falas que visam nos esmorecer, mas que termina tomando um efeito contrário. Facilitar as coisas para quem tem uma atração inexplicável por greve. É Impressionante como determinados setores do serviço público, e na universidade também, entram em êxtase na defesa da greve. Compreendo que o movimento grevista deve ser a última alternativa, quando se esgotam todas as tentativas nas mesas de negociação, principalmente na setorial.

É incompreensível buscar de imediato mobilização para greve, com mesas de negociação em andamento, quando o martelo ainda não foi batido. Por outro lado, nos deixa abismado em saber que por quatro anos de governo Bolsonaro, e mais os dois anos de Michel Temer, nenhuma mesa de negociação foi aberta, e nem por isso se chamou um movimento grevista. Me lembro que o último desses movimentos foi em 2015, durante o governo Dilma Rousseff, que, embora eu tenha defendido a greve naquele momento, não desconheço que isso também foi fundamental para aumentar o desgaste da presidenta, o que levou ao seu impeachment golpista. Ou seja, é um paradoxo, crescer o movimento e buscar confrontar o governo quando são de esquerda e estão abertos à negociação. Ao passo que essa mesma gritaria e enfrentamento não se deu quando a universidade estava sendo atacada de todas as maneiras, e ficamos por mais de quatro anos sem nenhum reajuste.

O que me revolta também, é o fato de muitos de nossos colegas, inclusive quem defende a greve, não aparecer nas frentes de lutas, necessárias para dar visibilidade ao movimento. Uma boa parte se limita a parar suas aulas na graduação, mas prosseguem em suas atividades cotidianas ligadas à pós-graduação e pesquisa. Além de aproveitarem para acelerar a produção de alguns textos, necessários e tudo isso com datas definidas.

Enfim, todo esse processo de luta, que inclua a greve é complexo. E entendo que não obteremos resultados só com paralisação, mas com muito debate com o governo, articulação política e participação de forma efetiva e convincente, com propostas coerentes, na mesa de negociação.

Não entro na questão dos servidores técnicos-administrativos, mesmo considerando a greve intempestiva. Porque esse segmento talvez seja o mais prejudicado em sua carreira dentre todos os servidores públicos federais. Então considero sua luta justa e apoio a decisão de deflagração de greve, pois penso que neste caso já se passou de um limite aceitável. O que parece haver uma sinalização do governo para atender a proposta de plano de carreira dos técnicos-administrativos.

Entendo diante de tudo isso, e mesmo querendo ser prudente na questão da defesa de greve, que houve uma falta de habilidade do governo ao dizer desde o começo das negociações que teríamos 0% de reajuste, e que os aumentos nos benefícios não atenderiam aos aposentados e aposentadas. Ao fazer isso, os interlocutores do governo mexeram num vespeiro, pelo fato de termos um grande percentual de perdas salariais nesses dez últimos anos, que está em torno de 40%.

Por fim, enfatizo minha opinião pela negociação, mas penso, como a maioria, que ficarmos sem reajuste este ano é inaceitável. Já apresentamos a proposta, e esperamos que o governo tenha juízo, a fim de evitar a extensão das greves, e garanta um percentual este ano que possa fazer diminuir as perdas salariais desse período. E mais do que isso, que possa corrigir algumas distorções em nossa carreira, a começar por cumprir o piso salarial do magistério, que ele próprio cobra que os estados e municípios cumpram.

Resta o nosso dilema. Uma paralisação nossa, diferentemente de uma fábrica, ou de um setor de fiscalização, não afeta o processo de produção. Em alguns casos com parada completa da cadeia produtiva. Uma greve no serviço público, tão atacado pelo neoliberalismo e com um fantasma de uma reforma administrativa pairando sobre nossos pescoços, só afeta na relação com o governo, e contribui para o desgaste do mesmo. Mas não tem impacto político na sociedade. Seguramente ampliará aquilo que nos consome e já é motivo de muitas preocupações: o aumento da evasão de estudantes, principalmente em áreas de licenciaturas. Ademais, complica muito nosso calendário, que, a muito custo, deveremos normalizar neste ano. Sendo este mais um fator de desgaste e enfraquecimento das instituições de ensino superior. Porque ao fim, e ao cabo, seremos obrigados a repor todos os dias paralisados.

Não adianta fechar os olhos para essas questões, porque afetam nossas rotinas, a depender do quanto uma greve demora a chegar ao fim. Porque sabemos como ela começa, mas não como ela pode terminar. Tudo isso deve ser balizado no momento em que formos tomar uma decisão radical. Que poderá acontecer, caso o governo insista em negar reajuste este ano. Torço para que o Governo Lula – porque votei nele e o apoio - não repita os equívocos de outros governos, de direita, que por muito tempo deixaram a comunidade universitária sob cerco permanente, tensões e negativa de reconhecer nosso direito a reajuste anual.