segunda-feira, 8 de junho de 2020

GRAMÁTICA DO MUNDO - DEZ ANOS DEPOIS

Primeira publicação do Blog Gramática do Mundo - 05 de junho de 2010. Seus objetivos se mantêm, a realidade mudou, sempre muda, mas, infelizmente, nossos dias estão contaminados por vírus que nos adoecem corporalmente, e outros vírus que contaminam cérebros, desorganizam a sociedade e destroem nossas relações, impregnando-as de ódio provocados por atitudes medíocres e perversas, desigualdades sociais, intolerância e medo. Saibamos combater tudo isso, mas com solidariedade e empatia, e, acima de tudo, compreendermos que nossa razão de viver não pode ser fundamentada pelo individualismo e negação das nossas diferenças. Combater o fascismo, o racismo, a intolerância, o ódio e a sociopatia, deve fazer parte do nosso cotidiano. Mas viver a vida, acima de tudo, tendo presente que o amanhã se constrói hoje, e o futuro dependerá das atitudes que tomarmos agora. Assim, ele poderá ser melhor ou pior, para cada um de nós particularmente, e para toda a sociedade.


CARPE DIEM - APROVEITE O DIA, CONFIA O MÍNIMO NO AMANHÃ

Há muito tempo venho tentando encontrar um canal de expressão para as minhas angústias, dúvidas, análises e questionamentos que tenho, da minha vida, da sociedade e do mundo no qual vivemos. Nesse primeiro post vou ser mais intimista, navegar por entre as incertezas que compõe o meu "eu" e identificar as fragilidades que transformam nossas vidas em cristais. Por mais vigorosos que julguemos ser, cada um de nós, estamos sempre tendo que lidar com momentos que negam veementemente todas as certezas que temos da vida. Somos frágeis diante do imponderável, incapazes frente ao acaso, impotentes diante da morte, mas poderíamos ter mais tolerância diante das adversidades e das diferenças que nos cercam se conseguíssemos entender melhor as complexidades e contradições que compõem a nossa vida.
Dois anos e meio atrás, vivi até então um dos piores momentos de minha vida. Perdi minha filha, Ana Carolina (minha bela, meiga e esperta Carol), aos dez anos de idade. E isso, como não poderia ser diferente, transtornou minha vida. Desde então - e continuo tendo ao meu lado meu filho e esposa, pessoas que eu amo intensamente, como amava Carol - passei a observar as coisas com um outro olhar. Mantendo minha concepção de mundo, firmada pelo aprendizado de anos de estudos e análises das idéias marxistas, e de uma militância efetiva para transformar essas idéias em realidade, acrescentei uma outra verve à maneira de entender o mundo. Ou até mesmo de como lutar para transformá-lo. Senti que mais importante do que idealizar o futuro é compreender o presente. Entendê-lo e vivê-lo intensamente, sabendo que nossa vida é tênue e que a brusca morte, presença constante na vida, pode impedir que qualquer sonho se realize.
Não proponho apagarmos nossos sonhos, pois isso é o que faz o ser humano acreditar em sua capacidade de criar além do real, e dá esperança de seguir em frente superando adversidades. Mas sonhar, partindo do real, entendendo o mundo em toda a sua dimensão, belezas, misérias, contradições, de uma natureza exuberante, e dentro dela, inerente a ela e dependente dela, o ser humano. Não um super-homem ou super-mulher, para os quais, ou as quais, o dinheiro, a riqueza e o luxo possam torná-los imortais, mas a entender que, no real e em nossos sonhos, somos mortais, passageiros de uma imensa nau, em alguns momentos comandadas por indivíduos insensíveis, arrogantes e inescrupulosos. Mas às vezes não. Podem surgir pessoas que não nos decepcionem, que sejam honestas e que tenham sensibilidade com a pobreza humana.
Que possamos sonhar abstraindo o egoísmo, a intolerância e a vilania na construção de um novo mundo, sem perder de vista a percepção que jamais isso se concretizará se no instante presente não buscarmos construir as bases sólidas que possibilitarão essas transformações. Senão, o sonho se esfumará e se dissipará quando abrirmos os olhos à realidade. Pois o futuro é somente uma imagem que fazemos, na perspectiva que o presente vivido seguirá em frente.
Mas isso depende de nossas escolhas, de compreendermos que o mundo, a sociedade, a nossa vida, não se constrói em círculos fechados, em redomas inexpugnáveis. Depende de entendermos que cada vez mais vivemos enredados em relações e situações que por mais distantes que pareçam de nós, compõem um estágio da humanidade, que nos afetam, nos atingem e transformam nosso estilo de vida. De nada adianta defendermos uma vida monástica, contemplativa. Devemos buscar a satisfação individual e daqueles que compõem nosso círculo mais íntimo, compreendendo que nossos momentos felizes dependem das circunstâncias e do ambiente que nos cercam.
Carpe diem... Sim, viver intensamente cada momento. Mas entendendo o mundo, lutando contra as injustiças, fazendo do nosso lugar e dos lugares do mundo ambientes seguros e toleráveis para viver. Viver o presente. Olhá-lo criteriosa e criticamente. Fazer do agora, do aqui, deste momento, os degraus seguros que iremos escalar. Tornar nossas vozes as vozes dos outros, dos injustiçados, dos desesperançados, daqueles que desprovidos de tudo já não acreditam no presente. E por assim viverem, jamais terão futuro.
Com esse BLOG o que pretendo é vi-ver, com o olhar descrito anteriormente, ler, compreender e d-escrever o mundo. Um olhar político geo-histórico, filosoficamente dialético, mas sensível diante de imensas contradições. Pretendo pelo menos diariamente postar um comentário sobre um tema relevante do momento, denunciando as falsidades que existem por trás dos discursos que invadem nosso cotidiano, banalizam nossas relações e artificializam nossos sentimentos. Principalmente, tentando desconstruir o que é elaborado pela mídia através de informações que encobrem os verdadeiros objetivos e os interesses do poder econômico, ao mesmo tempo que constroem mitos, celebridades, santidades e demônios aos seus interesses. Lutamos contra titãs, mas se é verdade que cada um de nós deve fazer sua parte, eis aqui, minhas idéias, minha luta, minha vida, minha palavra como arma dessa guerra.
Acima de tudo, dedico essa iniciativa à minha filha, eternamente ao meu lado, para sempre comigo, embora seu futuro tenha sido desconstruído em um presente contido no passado recente. Em meus sonhos, não do futuro, mas do passado, sua imagem me incentiva a lutar por um mundo presentemente melhor.
CARPE DIEM! FAÇA VALER O SEU FUTURO. LUTE POR UM PRESENTE REAL, JUSTO E MENOS DESIGUAL.

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