É impressionante
como recorrentemente o problema hídrico é tratado somente no limite da
necessidade. Há um provérbio popular que sintetiza bem isso: “Só percebemos o
valor da água depois que a fonte seca”. Naturalmente, o interesse da grande
mídia comercial está na criação de um sentimento de perplexidade, e da geração
de temores e medos que compõem o universo dos jornais e telejornais
sensacionalistas, em sua maioria. Às vezes até aparecem boas reportagens sobre
o assunto. Mas pecam pela superficialidade, e pela insistência em tratar o
problema da falta de água como decorrente dos gastos abusivos, ou excessivos,
por consumidores urbanos.
Podem acontecer
abusos, e certamente acontecem, no uso da água nas cidades. Mas longe está
desta ser a principal razão da grave crise hídrica que ameaça não somente a
economia, mas como nossas próprias vidas, humanos, animais ou plantas.
Sempre acontece um
desvio do eixo central, das questões que são, de fato, as responsáveis pela
forma como a falta de água se tornará, provavelmente tendo seu auge em 2050, no
pior problema da humanidade para o século XXI.
A literatura
acadêmica, focada em pesquisas sobre esse tema, tem apontado há mais de uma década,
não somente os diagnósticos que indicam as causas da crise hídrica seja
escassez ou estresse, como também indicam as necessárias medidas para amenizar
esse problema. Mas, tanto o diagnóstico, quanto as medidas a serem tomadas,
esbarram na forma perversa como funciona o sistema capitalista, ou decorrente
da escolha de um estilo de vida altamente urbanizado, exageradamente marcado
pelo consumismo, mas, principalmente devido ao fato de todos citadinos
necessitarem adquirir os alimentos necessários à sua sobrevivência. Ao
contrário de sistemas anteriores, por séculos e milênios passados, em nossa
época os bilhões de pessoas que vivem nas cidades não produzem seus próprios
alimentos. Essa equação, aliada à lógica gananciosa e usurária que marca a vida
contemporânea, dificulta a tomada de decisões que são essenciais para conter
essa crise.
O que nos reserva
o futuro? Nossa água está acabando, a exemplo do que acontecerá com o petróleo?
Nos últimos 50 anos, dobramos nossas terras cultivadas irrigadas e triplicamos
o consumo de água para atender à demanda global de alimentos. Nos próximos 50
anos, teremos de dobrar mais uma vez a produção de alimentos. Será que haverá
água para tudo isso?
Desvio de água - Rio Descoberto - You tube |
Apesar de retornar
à superfície por meio de um ciclo hidrológico que a renova sempre, a rapidez
com que se dá o consumo esgota rapidamente a água superficial, ou mesmo os
lençóis freáticos, o que levará inevitavelmente à escassez, ou ao estresse
hídrico.
Mas há por parte
dos órgãos públicos muita negligência na identificação e combate às causas que
são geradoras de um consumo elevado e com intenso desperdício desse recurso.
Em diversos artigos
que publiquei no meu Blog Gramática do Mundo, e que tem a água como referência,
venho abordando esse tema diante da grave situação que passa o bioma cerrado.
Abordei esse problema também quando a cidade de São Paulo correu um sério risco
de desabastecimento, em decorrência da diminuição do volume de água do sistema
Cantareira, conjunto de barragens que abastecem aquela cidade, por meio de dois
outros textos.
De lá para cá, o
problema tem se agravado, muito embora no caso específico do Estado de São
Paulo, o governo tenha iniciado um conjunto de obras visando a transposição do
rio Paraíba do Sul. Só que são soluções que não atingem o problema da redução
dos níveis de água, e gerarão outros efeitos colaterais. No caso deste rio a
situação já está crítica em alguns pontos, de diminuição do volume de águas, em
função da destruição de suas margens e da poluição que tem afetado a reprodução
de diversas espécies de peixes, alguns já à beira da extinção.
É preciso agir
para evitar desabastecimentos nas grandes cidades, em todas as aglomerações
urbanas, obviamente, até porque constitucionalmente a prioridade do uso da água
deve ser para atender as necessidades humanas. Contudo, a gestão que os
governos aplicam quando a questão é a água, se limita somente a isso. E não de
forma preventiva, com algumas exceções. As medidas tomadas quase sempre
acontecem quando o problema atinge o seu ponto crucial, de estresse ou de
escassez hídrica, e aí precisa recorrer ao racionamento do uso da água.
ESTRESSE HÍDRICO E
ESCASSEZ HÍDRICA
Precisamos
esclarecer uma questão antes de prosseguirmos. O estresse hídrico ocorre
quando há água, mesmo que em quantidade elevada, mas é insuficiente para
atender a demanda, tanto do uso urbano, quanto na indústria e agropecuária.
Pode-se definir o
estresse hídrico como resultado da relação entre o total de água utilizado
anualmente e a diferença entre a pluviosidade e a evaporação (a água renovada)
que ocorre em uma unidade territorial, em geral, definida por um país.
Já a escassez
decorre pela absoluta falta de água numa determinada região, que pode vir a
ocorrer também como consequência dos usos abusivos e da consequente diminuição
do volume de água. Ou seja, o estresse hídrico pode vir a se transformar,
futuramente, numa escassez crônica.[1]
A escassez hídrica
é uma das medidas de avaliação geográfica de uma unidade territorial. Ela pode
ser física e econômica. Quando a quantidade disponível de água de um país não é
suficiente para prover as necessidades de sua população, existe uma escassez
física de água. Se um país não tem recursos financeiros para levar água de
qualidade e em quantidade suficiente à sua população, apesar de ela ocorrer em
seu território, a escassez é econômica.[2]
Objetivamente
pode-se encontrar resposta para as dificuldades de diversas regiões do mundo em
ter acesso à água potável seguindo-se o processo produtivo, os mecanismos que
levam à produção industrial, à criação de gado e, principalmente à agricultura,
com uso intensivo de irrigação, completamente fora de controle. Neste último
caso, embora a irrigação seja um elemento essencial para garantir produção de
alimentos suficiente para alimentar a população, a preços acessíveis, a
ausência de fiscalização sobre os métodos adotados, muitos deles feitos de
forma clandestina, tem sido um fator de destruição de importantes rios. Aqui no
Brasil isso é nítido, é sabido, mas não é fiscalizado como deveria. E quando há
fiscalização e multas os punidos não pagam, em função do poder exercido pelos
grandes produtores rurais, absenteístas em sua maioria, latifundiários e que
são responsáveis por produção em larga escala de monocultura.
canal desvia água ilegalmente |
Já desde há alguns
anos o Estado de Goiás enfrenta problemas em decorrência de períodos de
escassez recorrentes, como é peculiar no cerrado, provocada por prolongadas
estiagens. Isso causou, como efeito colateral o esvaziamento de rios importantes
para o abastecimento. A partir disso o estado intensificou a fiscalização em
diversas bacias, como as dos rios Meia Ponte e Araguaia, a fim de garantir o
direito da água à população urbana. Mas esse é um problema antigo, sem que haja
punição aos que desviam água sem licença, ou quando a tem extrapola o limite do
que lhe é permitido.
O que se vê, de
forma impune, embora haja investigações do Ministério Público e da Delegacia de
Meio Ambiente, é uma série de irregularidades praticadas por grandes produtores
rurais, com desvios de águas do rio Araguaia por meio de extensos canais. No
entanto isso já ocorre há tempos, e termina por se constituir em fatos naturais,
pois há abertura de processos, a indicação de multas, mas esse setor consegue
por meio de forte articulação política, concentrada numa bancada poderosa no
Congresso Nacional, se livrar de qualquer punição. E seguem cometendo
irregularidades no uso da água.
Poderíamos listar
aqui diversos outros casos de irregularidades na captação de água para
irrigação, bem como o desperdício gerado pelo uso de velhos pivôs centrais. Na
região de Cristalina, onde desenvolvo uma pesquisa, muito embora haja em
algumas propriedades técnicas mais sofisticadas, com uso de tecnologias
modernas que controlam a emissão de água e até mesmo o horário em que isso
ocorre, os abusos acontecem sem fiscalização. Soma-se a esses fatores a disputa
entre irrigantes e investidores de Pequenas Centrais Elétricas (PCHs), bem como
de obras mais suntuosas para geração de energias, barragens que prejudicam o
curso normal das águas do rio São Marcos e de outros, e afetam também espécies
da fauna fluvial, em alguns casos de forma irreversível.
AS ATIVIDADES
HUMANAS E O CICLO DA ÁGUA
As mudanças
climáticas, como dizemos, embora o correto é se referir a variabilidade
climática, está a ocorrer, naturalmente. E não há dúvida que a ação humana
contribui para acentuar desequilíbrios e potencializar transformações que, pelo
tempo, demorariam mais a ocorrer, ou não se dariam com a intensidade com que
acontecem. Portanto, as alterações climáticas são fato, acontecem, e a ação
humana tem reflexo nisso.
A insistência em
centrar no consumo urbano o problema da água, ou de considerar que o
aquecimento global se deve principalmente a efeitos colaterais da
industrialização, esconde a essência do problema, as reais causas que estão
deteriorando nossa qualidade de vida no Planeta Terra. O interesse em desviar o
foco, ou em construir versões sobre as causas, tem o objetivo de amenizar as
responsabilidades sobre a maneira como o sistema capitalista esgota nossos
recursos, destrói a natureza e impacta perversamente no clima, principalmente
nas regiões com altos índices de urbanização, como decorrência de um estilo de
vida que implica em consumir além daquilo que o planeta pode oferecer para
produzir mercadorias.
As interferências
das atividades humanas no ciclo hidrológico ocorrem em todos os continentes e por
todos os países. Os impactos dessa intervenção no ciclo variam para cada região
ou continente. De modo geral esses impactos são:
a) construção de
reservatórios para aumentar as reservas de água e impedir o escoamento;
b) uso excessivo
de águas subterrâneas;
c) importação de
água e transposição de águas entre bacias hidrográficas.
Isso é apontado
pelo professor José Galizia Tundisi,[3] referência nesse assunto,
como o resultado desastroso de ações que são feitas sem a devida adoção de
mecanismos protetivos, bem como ausência de planejamento para garantir que um
bem imprescindível não corra o risco de se acabar.
Inevitavelmente,
esse descontrole tem afetado o ciclo hidrológico, que por sua vez implicará em
desequilíbrios climáticos e oscilação acentuada de temperaturas.
O fato é que há
uma relação dialética entre a crise hídrica, as constantes mudanças climáticas,
em um tempo mais acelerado que o normal e o intenso desenvolvimento
capitalista. No entanto, é necessário ter a compreensão exata de quais são os
elementos nesse processo que são os principais responsáveis por esse desequilíbrio.
Mesmo que não
houvesse mudança climática, o mundo continuaria enfrentando o declínio no
abastecimento de água per capita por causa do desenvolvimento econômico e do
crescimento da população. Mesmo que pudéssemos congelar o crescimento populacional,
a modernização significa maior consumo de carne, bens acabados e energia; tudo
isso eleva o consumo de água per capita. Contrariando a crença popular, o
crescimento populacional e a industrialização representam ao suprimento de água
global um desafio ainda maior do que a mudança climática.
Captação irregular de água do rio meia ponte |
Ou seja, são
exatamente as condições criadas por um modo de produção acentuadamente
predatório. Mas, tem sido mais difícil identificar as soluções porque o foco
dos possíveis motivos geradores desses desequilíbrios se concentra nas
consequências, e não nas causas.
É preciso termos
claro que por trás de toda essa discussão existem elementos de geopolítica, e
encobre as principais razões tanto para os desequilíbrios climáticos regionais
como a escassez e estresse hídrico. Porque afeta interesses estratégicos, tanto
econômicos como na disputa por recursos naturais.
Trocando em
miúdos. O problema que se acentua gravemente no Brasil, mas que atinge também
outras partes do mundo por diversos continentes, a deficiência hídrica, é
causada por essa forma de desenvolvimento que destrói a natureza. E as medidas,
ou repercussões dessa crise, só aparecem nos períodos em que ocorre ausências
de precipitações pluviométricas.
AS ÁGUAS DO
CERRADO
Vamos falar um
pouco do Bioma Cerrado. Esse que já foi considerado por Guimarães Rosa como “a
caixa d’água do Brasil”. E que de fato pode ainda ser assim chamado, por ser
por meio de suas nascentes, córregos e rios, que se formam algumas das
principais bacias brasileiras. Mas sabemos que o problema não se resume a um
único bioma, afeta os demais de forma diferente pela especificidade em suas
características geomorfológicas.
Ocorre que nos
últimos anos houve uma intensificação acelerada da produção agrícola e criação
de gado, impactando fortemente nesse Bioma. A redução dele decorre da
exploração predatória, baseada na grande produção de monocultura,
principalmente commodities, em propriedades latifundiárias que usam fartamente,
por meio de grandes pivôs centrais, a irrigação como condição para aumentar
suas produtividades. E o Estado é o financiador dessa situação, muito embora
não o faça na mesma proporção, em termos de importância na cadeia de produção
alimentar, com os pequenos produtores e com a agricultura familiar.
Mas além de
citarmos a irrigação, é preciso identificar um problema anterior. O
desmatamento, que destrói aceleradamente o Cerrado e leva ao fim, além de uma
rica biodiversidade, as veredas, principais fontes de água, por cujas nascentes
formam-se córregos e rios. Tanto o desmatamento, como o pisoteio do gado, são
fatores destrutivos que vão reduzindo a capacidade de recarga e
consequentemente transformarão mananciais de perenes a intermitentes.
Registre-se que o Centro-Oeste é o maior produtor de gado bovino do Brasil, e
somando-se com a região Norte, concentram mais da metade dessa produção.
Justamente as regiões que atualmente mais são afetadas pelo desmatamento.
Pivôs ilegais - rio araguaia |
É óbvio que a
consequência disso será a diminuição do volume de águas que verterá para os
principais rios que formam grandes bacias. Aliado a isso, as intervenções que
são feitas para construção de barragens, sejam para Pequenas Centrais
Elétricas, ou para Grandes Centrais Elétricas, causam fortes impactos também
sobre a fauna fluvial e gradativamente reduzem o tamanho e a importância
daquele rio. A destruição de suas margens, ou matas ciliares, consequência do
desmatamento, da extração descontrolada de areia e em muitos casos devido a
garimpos clandestinos, são outros fatores que transformam a paisagem por todo o
percurso de montante à jusante e vão reduzindo o volume desses rios até que em
alguns casos eles cheguem à sua foz na condição de um pequeno riacho.
Essas ações
predatórias são as principais razões pela redução da capacidade hídrica de uma
determinada região. E isso tem acontecido numa escala criminosa no Bioma
Cerrado, a ponto de até mesmo a capital federal, construída bem no coração
desse bioma, passar pela primeira grande crise de escassez, levando a
necessidade de rodízio na distribuição a fim de evitar uma situação mais
drástica de absoluta falta de água.
Mas embora seja
óbvio para os que estudam os problemas hídricos, inclusive da gestão, onde estão
as origens dos problemas, os lobbies organizados que reforçam o poder dos
grandes proprietários de terras, representados por uma grande bancada de
parlamentares no Congresso Nacional, pressionam os governos para que isentem as
dívidas daqueles produtores flagrados em ilicitudes na exploração da água.
Utilizando-se do
argumento de que a produção de alimentos é uma necessidade para alimentação de
uma população crescente, reivindicam mais investimentos para ampliar a área
irrigada, sob o pretexto de que há ainda no Brasil um enorme potencial hídrico
a ser explorado. O que pesa, na verdade, para além dos rumos que pode ir nossa
capacidade hídrica, é a ganância e os lucros que são gerados para manter a
opulência de uns poucos, que estão sempre protegidos desses infortúnios, já que
a escassez de água afeta principalmente a população mais pobre.
Outro aspecto, de
certa forma também de difícil solução, haja vista a incompetência dos gestores
na administração pública, cujo foco é sempre a eleição seguinte, é a absoluta
ausência de um planejamento adequado que identifique quais setores são
estratégicos para a manutenção e fortalecimento do espaço vital seja nacional,
ou regional.
Esgoto no meia ponte - Domício Gomes - O Popular |
E no caso das
grandes cidades, principalmente as capitais, as condições de crescimento
levaram a uma absoluta inoperância na preocupação com o abastecimento de água
na mesma proporção e aceleração com que se dava o crescimento populacional.
Enquanto isso, nascentes foram sendo aterradas, córregos transformavam-se em
canais e a quase totalidade dos mananciais que cortam as zonas urbanas foram
transformados em depósitos de descargas de dejetos de casas e indústrias,
constituindo-se em verdadeiros esgotos a céu abertos. As águas que por ali
circulam em tempos de grandes pluviosidades perdem-se na podridão e não são
aproveitadas para consumo. Em tempos de estiagem o que prevalece são os
líquidos que saem dos esgotos.
No entorno das
cidades, os cinturões verdes, de produção hortifrutícolas, disputam boa parte
dessa água e a usam para irrigação. Até aí se pode dizer ser um uso tolerado,
na medida em que são produtores que abastecem as feiras e centrais que
distribuem frutas e verduras essenciais em nossa alimentação. O problema é que
não há fiscalização adequada, nem se busca usar de novas tecnologias para
amenizar os gastos de água. Invariavelmente o poder público prefere grandes
financiamentos para empreendimentos de produção para exportação, menosprezando
a importância do pequeno agricultor. Que de outra forma não consegue adequar
seu sistema de irrigação às necessidades de controle do consumo de um recurso
em estágio crescente de escassez.
Assim, sem o
devido planejamento, as águas que cruzam as cidades foram se tornando impróprias
para o uso, e as que as circundam, ou mesmo que estão prestes a serem captadas
pelos sistemas de abastecimentos, vão tendo o volume reduzido pelo uso que se
faz dela para irrigação a montante. Só que essa é uma situação absolutamente
previsível. Assim como é a previsibilidade de que após o período chuvoso, já
que a água que escorre por esses mananciais torna-se imprópria para consumo e
perde-se rapidamente nas vias impermeabilizadas, um novo período de estiagem,
sempre com maior intensidade, virá para preocupar e gerar pânico e revolta
entre as pessoas.
A alternativa
encontrada por muitos, os que tem condições para isso, naturalmente, inclusive
condomínios horizontais e empresas, é recorrerem à instalação de poços
artesianos. Ora, como a cidade cresce acentuadamente, e se espalha por uma
periferia cada vez mais distante do centro, o abastecimento público de água
demora a atender a essa crescente demanda. A retirada de água dos lençóis
subterrâneos assume assim a condição de prover inúmeras residências do
abastecimento necessário, obviamente. O que resulta disso? O aumento da
retirada de água desses canais subterrâneos faz com que eles se esgotem
gradativamente, reduzam o volume hídrico, forçando a que cada vez mais seja
necessário aprofundar os poços para atingir o lençol freático e extrair a água.
Ao mesmo tempo, isso vai afetar o processo de recarga e será também gerador do
esgotamento de inúmeras nascentes, cujas águas se dispersam para outras regiões
por efeitos naturais e vão desaparecendo como decorrência da diminuição da
quantidade que existem nesses lençóis e aquíferos.
O QUE PODEMOS
CONCLUIR DE TUDO ISSO?
Os principais
problemas são gerados, portanto, pela destruição acelerada da natureza, pelo
desmatamento em larga escala e a consequente destruição de nascentes, córregos,
riachos e rios. O maior perigo do mundo, inegavelmente, está na possibilidade
de uma escassez geral da água, por não haver nenhuma alternativa para a humanidade
com o fim de um líquido que é vital
Rio Meia Ponte - Goiânia - O Popular |
Não me parece que
tudo isso dito aqui seja novidade. E vou terminar da forma como comecei. Sempre
que a situação chega num ponto crônico em função do aumento do período de escassez,
soa o alarme, a mídia se alvoroça, confunde na explicação, cria um pânico que é
natural, já que a falta de água é a pior coisa que existe para a vida. Aí temos
alguns momentos de preocupação, e vemos as autoridades se debaterem com uma
situação que não poderá ser resolvida no auge de um estresse ou uma escassez
real.
O que sempre
procuro propor quando discuto essa questão, portanto, é que devemos
urgentemente encontrar o eixo correto para identificar as causas que estão nos
levando por um caminho que pode tornar-se difícil de recompor o que se está a
destruir. Claro que ainda é possível corrigir esses rumos, a ciência ajuda, com
certeza. Mas é na gestão, no planejamento estatal e fiscalização severa, que
devem se concentrar as principais correções.
Mas, eis que de
repente, vem a chuva! É como o soar dos sinos, alertando para um novo tempo.
População, meios de comunicação e autoridades se aquietam aliviados. Eis que a
preocupação passa a ser a quantidade e a força com que cai a água, e as
atenções passam a voltar-se para aquelas populações, as mesmas vítimas
principais da falta de água, que vivem em áreas de riscos e correm o perigo de
serem arrastadas por enchentes causadas pelas péssimas condições da arquitetura
das cidades e dos ambientes urbanos. Boa parte desta água, como visto, não poderá
ser aproveitada, porque vai escorrer para mananciais altamente poluídos.
Eis o cúmulo da
contradição e isso se repete terrivelmente com data marcada. Como sair disso?
Com participação efetiva da sociedade, por meio de organizações sociais,
universidades e associações que pressionem governos a adotarem medidas
reparatórias, preventivas, diante da crise hídrica, e não somente quando o
período de escassez atinge o seu auge. Aí é como ficar vendo o cachorro correr
atrás do próprio rabo. E enquanto isso a água se esvai.
(*) Este
texto é uma adaptação de um artigo publicado neste blog em 2017: https://gramaticadomundo.blogspot.com/2017/11/enquanto-chuva-cai-agua-se-esvai.html
[1] RIBEIRO, Wagner Costa. Geografia
Política da Água. São Paulo: Annablume Editora, 2008. Pág. 62.
[2] Idem.
[3] TUNDISI, José Galizia. Água no
Século XXI: Enfrentando a escassez. São Carlos: RiMa, IIE, 2003. Pág. 14-15.
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