sábado, 6 de agosto de 2011

BARRABÁS! OU, A ARTE DE SE JULGAR O OUTRO INDISCRIMINADAMENTE

Liberte Barrabás, gritou a multidão.
Como era de costume naquela época, por ocasião da Páscoa na Judéia, os governantes colocavam para o povo a decisão de escolher algum prisioneiro para ser libertado. De um lado, Jesus Cristo, acusado de subverter valores e querer para si o governo de Israel, em afronta ao poder romano. Barrabás, também preso por se constituir um perigo para o poder político, era culpado por pequenos atos de insubordinação contra a dominação romana. Ao povo foi então perguntado por Pôncio Pilatos, governador da Judéia: Quem quereis que seja libertado? Jesus ou Barrabás? Incitados por políticos e líderes religiosos a multidão respondeu quase em uníssono: Barrabás!
Assim se conduz a multidão a acreditar em algo e a “democraticamente” tomar uma decisão. Induz-se, na verdade, a crer em certa versão, pela repetição e por argumentos que confrontam atos com os valores defendidos por aquelas pessoas. Então, mesmo pessoas de bens e honestas, são submetidas a uma lavagem celebral e a defenderem ardorosamente algo que elas próprias não têm sequer como comprovar suas dúvidas. Aí, no embalo da multidão, essas dúvidas se tornam certezas.
O medo, condiciona a multidão
Algo semelhante é descrito em as Bruxas de Salém, peça escrita por Arthur Miller para criticar a perseguição feita à artistas e diretores de cinema, no período conhecido como Macartismo,, mas baseado em um fato histórico, realmente acontecido em 1692, na então pequena cidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, época da inquisição. Por três dias cerca de 150 pessoas foram condenadas a morte por bruxaria, pela simples acusação induzida por um grupo de adolescentes receosas dos atos que praticaram. A mentira e a fantasia criadas por essas adolescentes se tornaram realidades nas mentes transtornadas pelo medo (Vejam o filme, "As Bruxas de Salém").
Também assim se formaram os regimes totalitários.
E assim, prosseguimos em uma época marcada nos dias atuais, pela facilidade de se criar boatos e de os mesmos serem difundidos com uma velocidade impressionante. A verdade e a mentira se confundem nas mentes daqueles que se consideram inquisidores, a julgarem e condenarem aleatoriamente, pelo simples fato de deduzirem algo que possa transgredir certos valores.
Judeus, julgados por quem?
A mídia, como então na época da Alemanha nazista, com o Ministério da Propaganda, se encarrega de reproduzir fatos espetaculares que garantam audiência pela repercussão que cria, pelos escândalos que produzem. Segue uma lógica culturalmente determinada, como nos casos citados, que transmitem às pessoas a sensação de possuírem o poder de julgar e condenar.
Por trás dessa pantomima, esconde-se o verdadeiro sentido do mecanismo que move o sistema.
***
A estrutura do sistema capitalista e a sua lógica empurram e empurrarão sempre as pessoas em direção à formas fáceis de se darem bem. Essa ânsia em se beneficiar dos caminhos facilitados por mecanismos nem sempre corretos é o que conduz o indivíduo à corrupção (mesmo através de pequenos favores, sempre buscados no dia-a-dia). O sistema capitalista é corrupto por natureza, pois se baseia na ganância, na busca pelo lucro fácil e sempre na crença que se consegue enriquecer explorando a pobreza. Ataquemos essa estrutura e conseguiremos resolver parte desse problema, o restante vem com a cultura de novas gerações que não vejam o mundo por essa ótica.
O discurso contra corrupção é antigo, já possibilitou até golpe militar e não consegue contê-la. Aliás, o que possibilita é aumentar a alienação. Impõe às pessoas a sensação que todo mundo é corrupto, e os esperto agradecem. E todos querem ser esperto...
Corrupção, acelerou a crise financeira
Tem corrupção em todo o mundo, inclusive e principalmente nos EUA, império em fase pré-falimentar (veja o caso da ENRON, e da BLACKWATER), ou na Itália de Berlusconi, e de tantos outros mafiosos pelo mundo adentro. Isso não quer dizer que a maioria seja corrupta ou tenha essa tendência. Nem aqui nem lá. Então não se pode atirar a esmo, mas é preciso apontar as falhas nas estruturas do Estado que possibilita isso.
Mas está tão enraizado na cabeça das pessoas um preconceito já firmado, e isso propositalmente para afastá-las da política, que mesmo quando os casos de investigação e prisão de suspeitos de corrupção acontecem, por ação das Polícias, principalmente a Federal, a opinião é que estão aumentando os casos, e que o país está ficando mais corrupto. Quando na verdade, nunca no Brasil se investigou tanto,  e tantas pessoas estão sendo presas nas várias estruturas do Estado, inclusive na polícia e no judiciário, como nos últimos anos. E nunca as polícias federais, incluo aqui a rodoviária, estiveram tão bem aparelhadas para esse combate.
Não devemos pensar que a corrupção está somente do lado em que não estamos. Cabe à imprensa também começar a pensar assim, pois insiste em não apontar corruptores, principalmente pelo fato de muitos deles serem grandes empresários, empresas poderosas e corporações que gastam muito dinheiro com publicidade. Os governos quando gastam muito em mídia também ficam "blindados". A imprensa sempre se beneficiou desses esquemas. E até mesmo usa as denúncias para pressionar os governos por mais recursos para publicidade.
Vejam, por exemplo, o caso do Banqueiro Daniel Dantas. Porque a imprensa falou tão pouco a respeito (exceção à revista Carta Capital)? Nem quando todo o inquérito sobre ele foi invalidado com todas as provas, simplesmente porque agentes da Abin ajudaram na investigação? Além de ele ter recebido dois habeas-corpus relâmpagos do presidente do Supremo Tribunal Federal, na época o Gilmar Mendes? Então vamos devagar, pois o mundo não é como a imprensa mostra, ela só mostra o que lhe é conveniente.
Devemos levar em conta? Sim? Mas reproduzir o que é dito é outra história. Aí precisamos confrontar com provas que não temos. Repito, vivemos a era das denúncias fáceis. Mesmo, nas redes sociais, se aparecer alguém que queira fazer denúncia sobre uma pessoa de quem não goste isso logo se reproduz aceleradamente. Mesmo que se prove como leviandade depois, o estrago já foi feito. Portanto, todo cuidado é pouco.
Que ninguém imagine que isso dito aqui signifique ser complacente com a corrupção. A crítica que é feita aqui é mais radical, já que ataca a origem: o capitalismo. E não adianta dizer que o socialismo também errou nisso, pois sabemos que naqueles estados socialistas criou-se uma estrutura baseado na burocracia estatal, que também se corrompeu. Mas aquilo já foi, mostrou-se errado, só que o capitalismo é uma aberração e ainda há os que não vêem tamanhos erros como sendo de sua essência. Que o mundo possa encontrar uma alternativa aos sistemas que se demonstraram incapazes de garantir equilíbrio social sem abusar do poder político para interesses particulares. É o desafio.
Agora, porque essas denúncias têm tanto destaque, mesmo sem ter comprovação do que se está denunciando? Pelo impacto que causam, porque se cultivou uma cultura que não se baseia na honestidade, mas a de combater a corrupção, e aí muitos oportunistas se aproveitam e o discurso fica no vazio, excessivamente moralista e pouco político. Porque a política é defenestrada propositadamente. Deve-se considerar que um parlamentar sério faz esse trabalho sem buscar estardalhaço. O caminho é procurar a justiça e forçar uma investigação para saber se existem provas sobre aquilo que se quer denunciar. Isso é feito por alguém que é verdadeiramente honesto.
Mas quando essas denúncias chegam em outras mãos (a imprensa, por exemplo) é porque transitou por vias internas à própria estrutura do Estado, e quase sempre por alguém que tenha ficado insatisfeito. Ou quando vão parar nas mãos de parlamentares, quase sempre de oposição, que transformam essas denúncias em arma política. E o que faz objetiva ter destaque na mídia.  Destruir a imagem do oponente, principalmente se o tempo indicar uma eleição próxima.
Segue-se então a velha ladainha, da lista de nomes para preencher um pedido de CPI e do outro lado a tentativa de impedir que isso aconteça. Porque a essência disso tudo é a política. É sempre assim, desde sempre, nessa lógica “democrática” do sistema capitalista. Porque é a hipocrisia que comanda essas ações, isso está no DNA dessa democracia que tantos defendem. O que está ocorrendo nos últimos anos é que essas denúncias estão se constituindo em armas de quem deseja atacar um adversário. Mas esse é um veneno que agora está sendo injetado nas veias de seus criadores. Pois quando na oposição, a esquerda usou e abusou desses mecanismos.
Vivemos a era das denúncias fáceis. A mídia fica doida prá ter em mãos algo que represente um escândalo, desde que não confronte seus interesses. Depois, quando não consegue provar não dá o mesmo espaço para reconsiderar.  Tem muita corrupção, é fato. A estrutura do sistema e a ganância empurram nessa direção, mas tem muita gente oportunista se aproveitando disso. Sabemos também que a corrupção está por todos os lados, e não só no serviço público, mas não dá para sair acusando indiscriminadamente. Isso possibilita que um bando de alienados reforce o seu discurso de que nada e ninguém prestam e que a corrupção é da essência do ser humano.
É possível combater a corrupção, se não eliminá-la definitivamente, pelo menos reduzir a quantidade de casos, pelo menos enquanto permanecer esse sistema. Mas é preciso ser responsável em relação ao denuncismo inconsequente.
O que fazer, então, com os casos que vão aparecendo, por várias vias? Cabe ao Ministério Público investigar. São denúncias e não se pode sair por aí afirmando algo sem que sequer exista um inquérito investigativo. Quando chegar ao final das investigações podemos concluir e ter a opinião definitiva a respeito. Até lá as coisas devem ser tratadas como suspeitas de irregularidades o que em si, não necessariamente significa corrupção. Pode ser também incompetência, mas isso é um inquérito que vai dizer. Portanto, não se deve prejulgar. Se houver culpa, que se condene pela via judicial, de fato.
Historicamente, mudam-se governos e novos casos acontecem. Até quando? A meu ver, enquanto a estrutura do estado capitalista permitir. Particularmente, vou continuar na minha guerrilha cibernética, considerando que a causa desse e de outros males que afetam o Brasil e o mundo é o sistema capitalista. Demais? É, mas no varejo não vamos mudar nada, somente substituir. Não é a mesma coisa.
É preciso se indignar, dizem alguns. Pois que se indignem. A sociedade está cheia de indignados. São os mesmos que elegem a bancada de parlamentares que hoje nos representam. Sabe porque?  Generaliza-se sem fundamentos, sem conhecimentos, sem ideologia. Puros discursos políticos para se substituir uns pelos outros. Saímos de uma época em que falar de corrupção, violência, sexo era proibido. Mesmo se isso fosse cantado, pois as músicas eram censuradas, assim como a própria imprensa. Hoje é o inverso, para vender a imprensa precisa de escândalos, de crimes violentos, de hecatombes... E os puros vão se indignando. A maioria vai para as igrejas... Segue rezando e se indignando com tantos pecados. Não dá em nada.
Então, não basta somente a indignação. O que proponho vai bem mais além do umbigo. E não quero dizer que devamos ser céticos quanto à tudo que é noticiado, mas se não soubermos qual a intenção das denúncias reproduzimos outros interesses. Que também são políticos.
Conquistar o poder faz parte do jogo político, e alcançá-lo implica também em conter certos desgastes em função dos desvios que levam alguns a se corromperem. Mas é uma condição de quem está na política e fazer parte da estrutura do Estado é uma opção tomada no processo de disputas e alianças políticas. E, de fato, é administrar um Estado cuja estrutura dá margens para todo tipo de falcatruas. Mas o que fazer? Claro que se deve assumir essa responsabilidade. E não deixa de ser um teste de caráter. Mas não é o poder que transforma o indivíduo em mau-caráter, ele só liberta uma tendência que decorre de uma má-formação e da cultura impregnada de se levar sempre um jeitinho para ascender socialmente. E o poder, escorado em uma estrutura viciada, possibilita isso. Mas não se deve generalizar.
Minha militância ultimamente tem se dado como um "guerrilheiro cibernético". É como tenho me identificado. Mas a sociedade em que vivemos está cada vez mais hipócrita, e contra isso eu também me revolto. Transgredir tem sido um hábito comum, inclusive por tantos quantos se julgam no direito de condenar o outro. Seja até mesmo com uma simples infração no trânsito, ou pela maneira como se trata quem seja de outra camada social, de uma religião diferente, quem é ateu, homossexual e tantos outros atos que reproduzem a intolerância e a má educação.
Não devemos sair por aí acusando quem quer que seja sem que tenhamos provas, mas sempre é preciso apontar as mazelas existentes na estrutura do estado capitalista (aliás, esse é um problema DO Estado, qualquer que seja). Mesmo que estejamos fazendo parte dessa estrutura (aqui incluo órgãos administrativos, judiciário, escola, igrejas etc).
Eu não tenho receita sobre como mudar isso, minha vida é limitada no tempo, que mais posso fazer? Não vou repetir discurso alienado, que sirva para desmoralizar alguém, e outro assuma e cometa os mesmos deslizes. Vou pelo entendimento de como funciona toda essa estrutura. Às vezes precisamos mudar de tática. Então, vamos à luta, mas de forma justa e conseqüente. “Hay que endurecer-se siempre. Pero, sin perder lá ternura jamás”.

Um comentário:

  1. "infome os fatos, mas de modo que nao se entendam".
    a populacao deve tomar corpo individualmente e em conjunto,ao eleger qualquer icone de representaçao, de forma racional e esclarecida.
    Do contrario "solte Barrabas".

    ResponderExcluir