Foto: Site Poder360 |
Vamos aos fatos, e,
naturalmente, é preciso entender toda a situação, como chegamos até aqui e
porque estamos à beira do caos, numa das piores crises médicas, sanitárias e
socioeconômicas da história de nosso país.
Segundo o
presidente da República, "O povo não tem nem pé de galinha para comer
mais. Agora, o que eu tenho falado, o caos vem aí. A fome vai tirar o pessoal
de casa. Vamos ter problemas que nunca esperávamos ter problemas sociais
gravíssimos”.[1] Vejam, essa é a fala do presidente do
Brasil, não é de nenhum sindicalista ou militante que está lutando contra as
desigualdades sociais. Mas de quem governa e, em tese, possui todos os
elementos e as condições de adotar medidas que minimizem os graves problemas
sociais gerados por essa pandemia. Só que ele não fará isso, por uma razão
óbvia, estrangular a economia e disseminar medo, angústia e ansiedade, faz
parte de um projeto de governo.
Evidente que tem
razão ao dizer que estamos em meio a um caos. E isso condiz com uma estratégia
adotada por seu governo, não somente durante a pandemia, mas mesmo antes de
vivermos esse inferno viral. Claro, a Covid19 se incorporou a uma estratégia
que já estava em curso: tornar a sociedade brasileira um caos.
Bolsonaro foi
eleito no rastro de uma destruição da democracia, conforme a conhecemos por
nossas bandas, e, principalmente da política. Embora ele fosse o azarão da
história, serviu-se perfeitamente de toda uma onda gerada por perversos
mecanismos midiáticos, de canais de televisão, jornais e emissoras de rádio,
que apostaram desde 2015 na desconstrução de projetos políticos de cunhos
sociais e de visões econômicas baseadas no desenvolvimentismo, para, por meio
do ataque à política e projetando a ascensão da alienação derrubar um governo e
apostar em políticas fortemente neoliberais, meritocráticas e antinacionais.
Mas o discurso
levado a cabo, por meio do incentivo às manifestações, transmitidas ao vivo
pelos canais de TV, por onde se disseminaram um comportamento de ódio e
projetou o neofascismo, não atingiu o objetivo desejado pelos setores
conservadores de partidos derrotados na eleição de 2014. Pois eles também se
tornaram alvos da caça às bruxas, e na identificação do que se convencionou
chamar de “velha política”. Foi tudo por água abaixo, inclusive caráter,
seriedade, honestidade, esperança... Prevaleceu o cinismo, o banditismo
miliciano e a hipocrisia religiosa. Se o que se pretendia era demonizar a
política, o demônio soube entender e assumiu o controle. Assim, o caminho
estava aberto para o caos. As redes sociais potencializaram isso, através
das fake news, e a pandemia só veio para acelerar essa situação, já
prevista e consolidada nas eleições de 2018.
Ora, já pude
analisar neste blog e no meu canal no Youtube, como Bolsonaro chegou à
presidência, no vácuo dessas desastrosas intervenções dos setores de
centro-direita neoliberal. Despontou como um “mito”, na condição do que na
geopolítica conhecemos como um “outsider”, desancando a política, com discurso
anticorrupção (como sempre esse discurso antecede as crises políticas
brasileiras e os movimentos golpistas) e aglutinando ao seu lado ressentidos,
derrotados moralmente, despossuídos economicamente, frustrados e alienados.
Embora a absoluta maioria desses aí adjetivados pudessem ser classificados no
nível máximo de alienação. Além de uma burguesia estúpida e uma classe média
oportunista. E, correndo por fora, de forma sutil e sibilina, porque nessa
década esse movimento esteve ao lado de todos os governos, os segmentos
evangélicos, neopentecostais principalmente, e os conservadores católicos da
corrente carismática. Correram por fora num primeiro momento, porque depois
incorporaram o discurso neofascista do presidente e se constituíram em sua
principal base de apoio. Logicamente por traz disso a ambição pelo poder e a
ganância como prática contumaz de seus principais líderes religiosos a
extorquir os fiéis.
Mas Jair Messias Bolsonaro não caiu de paraquedas. Ele se tornou parte de um projeto desses segmentos reacionários religiosos e se incorporou a um movimento que tomava corpo mundialmente havia uma década, que gerou outra aberração política: Donald Trump. Mas que também estava em curso em diversos outros países, como Hungria, Itália, Reino Unido dentre outros, além dos EUA, de onde saiu toda essa inspiração perversiva.
Já citei em outros
artigos que escrevi, baseado em alguns livros e documentários (que indico ao
final desse texto), que esse projeto teve à frente um personagem que se tornou
mais conhecido no ano passado, porque foi preso acusado de desvio de dinheiro
numa arrecadação feita nos EUA para ajudar o governo Trump e construir um muro
na fronteira com o México. Steve Bannon é o personagem por trás da “estratégia
do caos”. Seu escritório foi responsável por dar assessoria aos “políticos” que
surgiram das trevas, atraindo para seus lados todos esses indivíduos que
carregavam algum tipo de frustração e ódio às condições sociais em que viviam.
No documentário
“Privacidade Hackeada”, disponível na Netflix, chama a atenção uma frase dita
por Christopher Wylie, Cientista de Dados, ao se referir a Steve Bannon
(vice-presidente da Cambridge Analytica, e criador do site de notícias
Breitbart), que seria a doutrina utilizada por essas empresas: “Se você quer
mudar fundamentalmente a sociedade, primeiro tem de destruí-la. E somente
depois de destruí-la é que pode remodelar os pedaços segundo sua visão de uma
nova sociedade”.
Bingo! Eis porque
Bolsonaro tem razão na frase dita, paradoxalmente sendo ele, como presidente,
quem poderia adotar medidas que evitassem esse caos. Mas como eu já disse, isso
ele não fará, porque faz parte de uma estratégia. Seu desejo é manter
radicalizado um segmento que será muito prejudicado economicamente, para além
das perdas de vidas, que se tornarão esquecidas pelo foco que está sendo
adotado e pelas condições reais que ficarão milhões de pessoas. As mortes serão
naturalizadas. Isso representa o que conhecemos hoje como “necropolítica”.
Alienadas e corrompidas em seus desejos e olhares, essas pessoas seguem o
discurso fácil, irresponsável e adredemente planejado pelos arquitetos do caos.
Mas o que falta para que aqueles responsáveis por abrir as porteiras dessas perversões, quando levaram a cabo uma outra estratégia, fracassada, de “reerguer o país destruído por Dilma Roussef” revejam seus comportamentos e percebam a gravidade dos acontecimentos que estão em curso e podem levar a que nosso país tenha mais de 500 mil mortos nessa pandemia, além de sua total destruição econômica? Enfim, esta semana divulgou-se um manifesto de banqueiros e economistas[2] que apoiaram essa loucura que empurrou o país para mãos inconsequentes.
Quem sabe um
mea-culpa não abra caminho para recomposição de forças políticas que
compreendam a gravidade da situação na qual eles nos meteram? É o que desejam
aquelas pessoas que têm juízo, clamam pela vida, choram por seus mortos e
anseiam por um país soberano, livre dos “mitos” que vagam por aí órfãos de seus
manicômios. Que lutemos para recuperar nossa dignidade e saibamos compreender a
importância de lutar por uma sociedade justa, menos desigual, e onde se
dissemine valores como empatia, altruísmo e solidariedade.
Ou fazemos isso ou
prevalecerá pelo tempo que requer a destruição de um país, a estratégia do
caos. O apocalipse por trás da necropolítica.
Está em nossas
mãos, não somente os nossos destinos, como a determinação para provar a
Bolsonaro que embora ele tenha razão hoje, o caos não prevalecerá e que toda
maldade, perversão e vilania serão combatidas pelos que sobreviverão à sua
hecatombe planejada. E seremos milhões!
DOCUMENTÁRIOS:
The Weekly S01E09: A Toca do Coelho (The Rabbit
Hole) - https://www.youtube.com/watch?v=b3J7r1H4SYo
Privacidade Hackeada - Entenda como a empresa de
análise de dados Cambridge Analytica se tornou o símbolo do lado sombrio das
redes sociais após a eleição presidencial de 2016 nos EUA - https://www.netflix.com/br/title/80117542
Get Me Roger Stone - Observe a ascensão, queda e
renascimento do operador político Roger Stone, um player influente da Equipe de
Trump há décadas - https://www.netflix.com/br/title/80114666
Eles estão entre nós - O documentário explora a
aliança política entre religiosos, oligarcas, Cambridge Analytica e suas
empresas de fachada que mudaram o equilíbrio da política nos EUA. - https://globoplay.globo.com/eles-estao-entre-nos/t/wwppjgqzSJ/
LIVROS:
DA EMPOLI, Giuliano. Os engenheiros do caos.
São Paulo: Vestígio, 2020
DOWBOR, Ladislau. O Capitalismo se desloca.
São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as
democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018
LIMA, Delcio Monteiro de. Os demônios
descem do Norte. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1987.
ARTIGOS DO BLOG:
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/04/como-chegamos-ate-aqui-e-como-sera-o_28.html
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/07/a-estrategia-da-destruicao-de-bolsonaro.html
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/08/tempos-perigosos-em-que-negam-as.html
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/08/o-despertar-das-bestas-3-parte.html
https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/09/o-efeito-borboleta-ou-teoria-do-caos.html
CANAL ROMUALDO PESSOA: https://www.youtube.com/watch?v=UaAi8OuUojM
NOTA:
[2] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/03/banqueiros-e-economistas-pedem-medidas-efetivas-de-combate-a-pandemia-em-carta-aberta.shtml
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