sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

MIRAMOS O FUTURO, MAS O TEMPO NOS LEVOU AO PASSADO


De olhos abertos vejo a vida que flui. Observo a paisagem, as pessoas que passam, que vão, que seguem em alguma direção. Elas desaparecem do meu olhar, mas seguem suas vidas adiante. E com seus olhares veem o que não vejo mais. Minha visão tem limites, só mesmo a imaginação seguirá elaborando outras visões, do que já está distante do meu olhar. Mas são reais. Tão reais quanto eu queira acreditar.
Fecho os olhos e vejo o passado. Observo cada momento vivido tempos atrás por meus olhares atentos... ou nem tanto. Tantas coisas olhei que não observei. Passaram. Mas passaram também as que vi, e vivi. Algumas tão intensamente, e fatídicas, que mesmo de olhos abertos, embora passadas, não escapam da minha memória. Minha filha. Sua morte, nossa dor. Essa dor que é passado e é presente. Que confunde nosso tempo pretérito. De um futuro que restou no passado.
Como é possível pensar o futuro? De olhos abertos, com a vista de um presente torpe, embriagado, dominado pela estupidez humana? Tentando entender o passado e como os fatos vividos distorceram nossa realidade, nublaram nossos caminhos e nos trouxeram para um tempo em que nos tornamos cegos sem sê-los? Já não mais acreditamos no que vemos e no que sentimos. Mas no que desejamos ser... e ter. E, principalmente, no que queremos ver, seletivamente. Perdemos nossa visão e passamos a confundir a realidade com a fantasia. Enterramos o passado, mas ele ressurgiu perversamente enquanto mirávamos o futuro.
Penso que o futuro nunca existirá. É uma construção hipotética. Depende até que estejamos vivos, para a possibilidade de sua realização. Mas ele nunca se realizará efetivamente. Quando acontecer, se acontecer, será presente, e a sua construção terá sido passado. Com olhos bem abertos, ou fechados.
Então o que temos é o presente, que passa, e flui. E o passado a nos ensinar como aconteceu o que se foi. Se fecharmos os olhos para o presente e esquecermos o passado, caminharemos a passos largos para um abismo sem fim. Nesse percurso suicida, a aceleração dependerá do grau de estupidez que atingirmos.
Já alcançamos uma escala limite em graus Fahrenheit.
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* LEIA TAMBÉM:
AS LIÇÕES DO PASSADO, AS INCERTEZAS DO PRESENTE, AS ILUSÕES DO FUTURO

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