terça-feira, 4 de outubro de 2016

A DERROTA DA POLÍTICA, A ESTUPIDEZ E AINDA A UTOPIA!

O que acontece no mundo? Em qual direção a história nos levará? O que temos visto, em termos de decisões que envolvem amplas massas populares, são adoções de saídas para situações de crises que acentuam cada vez mais as contradições, e apontam para uma direção de ampliação dos conflitos, da intolerância e da estupidez como mecanismos de enfrentamento de uma realidade que condiz com a feição de um sistema em crise.
Infelizmente, os resultados eleitorais no Brasil só são surpreendentes para quem esteve hibernando em um sono intenso nos últimos anos, em um coma que o fez ficar absolutamente descolado da realidade. Mas isso não se reduz ao Brasil. O reacionarismo de um Donald Trump, pode se sagrar vitorioso mesmo com um discurso estúpido e recheado de expressões politicamente incorretas. Mas devidamente incensado por grupos ultra-conservadores, alguns religiosos, outros que carregam em seus DNAs os feitos perversos de associações racistas, como a klu-klux-klan.
Na Europa, os nacionalistas de direita assumem um comportamento cada vez mais raivoso, xenófobo, centrado principalmente no aumento do número de refugiados que invadem aquele continente, empurrados por uma série de equívocos geopolíticos, quando atitudes mesquinhas de países ocidentais, movidos por interesses de grandes corporações, apostaram na destruição de uma série de governos na África e na Ásia. A proliferação de grupos terroristas, movidos por sectarismos religiosos e fundamentalismos tresloucados, são consequências de tais atitudes, e dessas políticas insensatas, mas profundamente conectadas com o Poder econômico e as disputas hegemônicas imperialistas.
O “Brexit”, resultado do plebiscito no Reino Unido, que empurrou seus países para fora da União Européia, já bastante analisado e ainda incompreendido em seu resultado surpreendente, não será a decisão mais estapafúrdia do ano, em termos de escuta popular. Como é possível uma população ser contra um acordo de paz, para botar fim a uma guerrilha que já dura 50 anos e foi responsável, em suas ações e nas formas de lhe combater por parte do Estado, por mais de 200 mil mortos? Pois assim foi mais um plebiscito de resultado surpreendente. O povo colombiano, rejeitou no limite, o acordo de paz entre o Estado colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O destaque, neste caso e o que analisarei a seguir, das eleições brasileiras, foi o número extremamente elevado de abstenção, cerca de 60% da população não compareceu às urnas.
Mas, qual a razão de convocar um plebiscito para decidir sobre algo tão complexo, sabendo-se que há interesses belicistas, inclusive de quem se projetou politicamente combatendo esse conflito, mediante as políticas postas em práticas pelos EUA? O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, cujo favorecimento não foi somente político, mas econômico, tinha interesse em fazer fracassar esse acordo. Ao mesmo tempo, as marcas e cicatrizes de tantos anos de luta e de vítimas desse enfrentamento, naturalmente deveriam servir de alerta ao governo colombiano. Não se fazia necessário tal plebiscito, e ele perde força na medida em que a abstenção chegou a 60%, mas não pode ser negado como mecanismo institucional, o que dá um nó nas articulações para se por fim a esse conflito. Para onde irá a Colômbia?
Mas a estupidez, em todos esses casos citados acima, foi o sentimento motivador dessas atitudes. São decisões políticas, inevitavelmente. Opções encontradas para definir futuros políticos de países e regiões. Mas quem disse que decisões políticas também não podem ser estúpidas? Claro que podem. Em tempos de redes sociais, de informações céleres e fragmentadas, e da manipulação que se faz desses mecanismos de relacionamento, a idiotização das pessoas tem sido uma marca desse tempo. Essa não é uma constatação motivada somente por um olhar ideológico à esquerda. É também por isso, pois não se espere isenção de opiniões e de artigos que analisam decisões de caráter político. Contudo, basta um pouco de equilíbrio e sensatez para se observar que determinadas decisões são um caminho inequívoco para acentuar conflitos e ampliar crises dentro da sociedade. O que temos visto nos últimos anos, é a derrota da política. E a derrota da política traz como consequência a violência, a ampliação dos conflitos, a guerra.
Existem motivações para transformarem as pessoas em um rebanho de gado que segue cegamente em uma direção, quando do estouro da boiada, de forma descontrolada. Há de forma arquitetada e planejada, com objetivos estratégicos definidos, interesses políticos reacionários que visam manter os indivíduos, e a sociedade, como uma massa alienada, estúpida na forma de raciocinar e vingativa na reação ao que para ela é apontada como o que pode ser responsável por seus infortúnios. Mesmo que  isso não seja verdade. Mas uma massa cega, incontrolável, ela pode ser num primeiro momento um instrumento eficaz para destruir sonhos, até mesmo daquilo que só pode ser construído lentamente, e que tenderia a lhe favorecer. Ela pode inclusive vir a apoiar e a endeusar indivíduos perversos, com visão de mundo preconceituosa, que não vacila em eliminar os que segundo eles sejam diferentes e com maneiras de agir com as quais eles discordam. Os governos fascistas se beneficiaram dessa volatilidade das massas populares, e as manipularam de forma a apoiá-los em atitudes odientas e criminosas. Ela pode, mesmo que democraticamente, ser também o instrumento pelo qual decisões estúpidas podem transformar um país num caos.
Por que o processo eleitoral brasileiro também pode ser enquadrado nessa lógica? Ora, basta ver o resultado. As pessoas votaram cegamente – ou não votaram – induzidas por uma guerrilha midiática que fez dessas eleições, uma das mais incompreensíveis, se analisarmos a história recente do país. Um discurso moralista, ético, mas fundamentalmente hipócrita, centrou seus ataques na tentativa de marcar um partido como o responsável pela corrupção que caracteriza todo o sistema eleitoral brasileiro. E as massas assim cumpriram seu destino, como na debandada da boiada. Condenaram um partido, não pelos seus erros, mas pelo que se apontaram de seus erros. E negaram todos os seus acertos e avanços que influenciaram na transformação social brasileira nos últimos 15 anos.
Mas por que há um perverso equívoco nessa vingança? Simplesmente porque não se julgou por completo o sistema político, nem muito menos a perversão que em si representa o sistema capitalista e possibilita esses desvios morais, éticos e de caráter. Se listarmos todos os envolvidos nos casos de corrupção que se tornaram públicos e que estão sendo investigados, e não somente a Lava Jato, veremos que praticamente todos os partidos estão envolvidos. Com algumas honrosas exceções de pequenos partidos ideológicos. No entanto, quando olhamos o resultado eleitoral identificaremos que aqueles grandes partidos responsáveis por casos escabrosos de corrupção, e com lideranças já acusadas e apontadas pela Procuradoria da República como comprovadamente corruptos, veremos que à exceção do Partido dos Trabalhadores, todos os demais ampliaram suas participações no espectro político brasileiro. Ora, onde está, então, a coerência de se negar votar em um partido, carimbado por uma mídia que se envolveu diuturnamente por meses no golpe que destituiu uma presidenta, como corrupto, a pretexto de se “limpar” a política?
Não há coerência. Não se votou com coerência. A motivação para a aversão a um partido é decorrência de uma campanha orquestrada, de caráter nitidamente ideológico, e com objetivos estratégicos também definidos, de retomada do poder por parte de uma elite reacionária que não está absolutamente preocupada com os destinos do povo brasileiro, senão da garantia de manter suas regalias e seus interesses gananciosos.
PP (Partido Progressista); PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro); PR (Partido da República); PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira)... estão entre os partidos que mais obtiveram resultados positivos nessas eleições, mas são também os partidos mais citados em casos de corrupção. Se analisarmos o perfil dos candidatos, eleitos ou não, constataremos facilmente que a política medíocre, em toda a sua essência, sagrou-se vitoriosa nos objetivos propostos por quem construiu toda essa perversão. O país marchou para traz, recuou àqueles tempos em que a população votava nos menos piores, com candidatos escolhidos pela ditadura militar dentre aqueles que não importunaria suas decisões. Ou não votou, o número de abstenções é recorde, lavaram as mãos, e esses optaram por deixar que aqueles tomassem decisões estapafúrdias. Mas não se pode condená-los, é uma decisão gerada por decepção e descrença.
Há um objetivo nisso tudo. Desacreditar a política como elemento crucial para definir nossos destinos. Alienar as massas populares a partir da identificação de que seus sonhos fracassaram ao apostar em quem lhes prometiam menos desigualdades e mais melhorias sociais, porque esses buscaram se beneficiar nas estruturas do Estado. É essa uma verdade hipócrita, trágica por ser aceita pela população, porque se volta contra ela própria, e foi construída por quem age de forma vil na manipulação do que é real. E absolutamente direcionada a não permitir que essas mesmas pessoas não identifiquem que do outro lado a corrupção, a malandragem, o banditismo, funciona de forma profissional e cumulativa de riqueza construída sobre o seu trabalho.
Mas o que não se conta é que a cada ação corresponde uma reação em sentido contrário. Se os erros daqueles que ofereceram bonança à população, mas que se corromperam nas estruturas do Estado, lhes foram fatais, tendo sido as massas manipuladas ou não, o mesmo ocorrerá, quando a um certo tempo, essas mesmas pessoas, pelo acentuado da crise, perceber que foram enganadas, ludibriadas e se constituíram em fantoches nas mãos de setores que só olham para seus próprios umbigos. Em momentos de crises econômicas como o que estamos vivendo, as camadas abastadas não tomam atitudes políticas para beneficiar os trabalhadores e os mais pobres. Suas decisões são pragmáticas, calcadas nas necessidades de se manterem sempre numa estrutural social abastada. Portanto, não demorará a essa multidão perceber que o caminho que tomaram seguindo o estouro da boiada a levará para um precipício. Caberá, então, àqueles setores que ideologicamente planejam construir outro tipo de sociedade, saber adotar estratégias que possam direcionar essa multidão para o caminho certo. Tem sido assim os momentos de viradas revolucionárias na história, quando no limite das crises e das contradições, uma população oprimida percebe que só há um caminho apto a livrá-la das submissões e das manipulações das classes dominantes.
Tirá-las do torpor, da indolência, da estupidez e da intolerância não será fácil, mas as dificuldades que virão para elas abrirão possibilidades de conduzi-las, pela política, pela organização popular, pela conscientização e, acima de tudo, pela luta de classes, a construir um projeto revolucionário de uma nova sociedade. A utopia continua no horizonte.

A luta continua!

2 comentários:

  1. Excelente artigo retrata bem a atual situação politica brasileira

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  2. É isso, temos que superar a própria descrença e arregaçar as mangas. Muito trabalho nos espera... A luta continua!

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