sábado, 8 de julho de 2017

REFLEXÕES SOBRE O RESULTADO DA ESCOLHA DO NOVO REITOR DA UFG

Há um ano e meio quando decidi puxar a discussão sobre a escolha do novo reitor da UFG, e me coloquei na condição de candidato, eu sabia, pelo que eu pretendia fazer, que haveria uma forte reação daqueles que estão dirigindo esta universidade há três gestões.
No começo eu não me preocupava com a possibilidade de ser eleito. Até ser convencido por quem eu conversava para aderir ao objetivo de “mexer” com a universidade, que não faria sentido ser candidato sem almejar uma vitória, para que as mudanças fossem possíveis.
Aos poucos, principalmente por meio de alguns artigos que publiquei, essa posição foi se consolidando e a persistência em apontar desvios na forma de ser uma universidade começou a incomodar. A crítica se fez imediata, e houve quem dissesse abertamente que a campanha era extemporânea, fora do tempo.
Essa persistência levou, de fato, à antecipação do processo. A primeira consequência foi uma cisão dentro da reitoria, fazendo surgir duas candidaturas, da professora Sandra Mara e do professor Luis Melo. Eu não estava querendo escolher adversários, mas à época vi que essas candidaturas potencializariam o debate, e, com a divisão, as condições para entrarmos fundo nos problemas da universidade estariam dadas. No entanto, prevendo as dificuldades que seria o processo com esse quadro, voltou à cena o nome do professor Edward Madureira, reitor por duas vezes no período de expansão da universidade e de fartos recursos destinados IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) por meio do REUNI. Embora não abertamente, mas nos bastidores, consolidava-se sua candidatura e o recuo dos outros dois nomes que haviam despontados. Delineava-se o processo com a presença de um nome forte, apesar da situação inédita de uma candidatura para um terceiro mandato. Ficava claro a dificuldade que teríamos pela frente com essa mudança de quadro no processo eleitoral.
Mas eu não queria discutir somente a eleição. Eu queria discutir essa universidade. Queria levantar a necessidade de rompermos com o comodismo e com a normose que nos tem afetado. Queria travar um debate sobre a necessidade de romper com o clientelismo e a burocracia que tem deformado o sentido de universidade. Não me intimidei, mantive o meu nome e abri caminho para que desta feita a escolha não se desse somente com uma candidatura.
Isso levou a consolidação de um quadro com mais duas candidaturas, e o retorno a dois dias do final da inscrição, da candidatura do professor Luis Melo. Além dele entrou na disputa a um mês e meio da inscrição das chapas, o professor Reginaldo Nassar. O quadro se definia, mas foi pouco a pouco tornando-se confuso, porque praticamente o discurso de todos os candidatos pouco se distinguia, e não se percebia por dois deles que tinham identificação com a atual gestão, nenhum compromisso com os problemas que apontávamos. Ao final, as propostas eram bastante parecidas, embora os discursos fossem diferentes. Mas, só discurso não ganha eleição, muito menos quando se deseja quebrar paradigmas.
A consulta à comunidade universitária comprovou o diagnóstico que apontei nos artigos. Foram diversos, mais de dez. Mas, creio, isso acrescido a todas as discussões e debates que fizemos, nos dão a certeza que a próxima gestão, a quarta sequencialmente conduzida praticamente pelos mesmos personagens, terá que ser diferente. Isso porque desta feita provocamos a comunidade, que embora tendo reagido de forma diferente, se fez presente apontando as insatisfações, os diversos problemas, situações de órgãos em vias de colapso, falta de segurança, ausência de estrutura adequada na parte administrativa, sobrecarga de trabalho dos técnicos administrativos, adoecimentos generalizados e as dificuldades que se apontam como consequência dos cortes de recursos.
O resultado final foi desproporcional e contraditório com todas as reclamações e insatisfações que ouvimos. Mas não estranhamos. Houve uma polarização entre duas candidaturas que tinha mais visibilidade por já terem estado na reitoria, mas que estranhamente se distanciaram da atual gestão, e algumas vezes usaram discursos que mais pareciam oposição. Tudo isso levou, ao final, uma definição pelo voto útil, consolidando quem tinha mais volume de campanha e apresentava mais segurança de vitória.
Como na sociedade, a universidade mantém os mesmos vícios de escolhas no estilo rebanhão. A parcela mais significativa, muito embora todas as insatisfações reinantes e explicitadas nas diversas reuniões que fizemos, preferiu a acomodação de um voto conservador, receosa da mudança e preferindo a manutenção de quem inegavelmente fizera uma boa gestão. Malgrado as deficiências na parte administrativa e na consolidação de uma universidade fragmentada. Mas o estilo de gestão adotado criou vícios e reforçou a política de favores. Inegável que consolidou uma forte base, praticamente imbatível. No entanto, os desafios de outra realidade econômica no país e uma dotação orçamentária reduzida, colocarão à prova a correção, ou não, desse rumo.
De nossa parte, persistiremos levantando discussões sobre a necessidade de definirmos que modelo de universidade queremos, de forma a deixarmos de ser meramente um conjunto de faculdades isoladas que brigam cada uma separadamente pelo seu quinhão. Insistimos que, ou a comunidade se aglutina em torno do objetivo de defender essa instituição, vendo-a enquanto uma totalidade, ou nos perderemos em meio a uma fragmentação que só estimula a disputa de poder e acentua vaidades. A conjuntura atual impõe a necessidade de nos fortalecermos, e devemos fazer isso definindo um rumo para essa universidade. Devemos procurar estreitar mais nossas relações com a sociedade, e buscar nas comunidades tradicionais elementos que enriqueçam o conhecimento que aqui produzimos.
Devemos lutar, e assim o faremos, para resgatar o princípio de uma universidade que tenha no ensino o seu primado, em fortalecer a capacitar cada vez mais jovens que entram nessa instituição sem as devidas convicções de qual caminho devem seguir, o que tem levado a uma enorme evasão. A UFG não pode seguir desprezando a graduação e sendo indiferente com a crise que afeta as licenciaturas. E mais, devemos compreender que estamos numa instituição para servi-la, fortalecendo-a e fazendo com que ela cumpra seus requisitos fundamentais, voltados para atender os interesses da sociedade. Ela não pode permanecer como uma instituição utilitarista, dos professores e a eles servindo, elevando egos e vaidades. Ou compreendemos o sentido de ser da universidade, e vemos nos estudantes e na necessidade de formá-los com competência, mas com capacidade crítica, como o centro de nosso trabalho ou estaremos consolidando uma estrutura pública privatizada por grupos de interesses movidos por intenções diversas dos objetivos essenciais do que deve ser uma universidade.
Esses elementos estiveram presentes no centro das discussões e do resultado final do processo de escolha do futuro reitor. Foram motivadores para o desfecho de acomodação que mantém esses e outros vícios. Mas não é algo impossível de ser mudado, depende de levarmos adiante discussões que são essenciais para definirmos nossos rumos. Sabemos que podemos contar com um número considerável de colegas que compreendem a necessidade de buscarmos resgatar essa essência que é instigadora de outros valores. E assim procuraremos fazer, para além de quaisquer preocupações meramente de disputas eleitorais.
Mas jamais desejaremos o fracasso de uma gestão. Nosso compromisso é com o bem da universidade. Portanto, ao mesmo tempo em que estaremos fustigando o debate, crítico, respeitoso e leal, nos colocaremos à disposição para lutar em defesa da UFG. Certamente, devemos lutar juntos para que os problemas gerados por cortes de recursos e de uma crise política e econômica que nos ameaça, não nos leve a uma situação de estrangulamento de nossas atividades. Insistimos, no entanto, que a luta deve ser pela universidade, vista como um todo e não em benefício ou privilégio setorizados. Em assim sendo, estamos na luta, e creio poder falar também em nome do colega Leandro Oliveira, que somou comigo a chapa que soube qualificar o debate. E continuarei a reafirmar: "é pra frente que se anda"!

9 comentários:

  1. Parabéns pela reflexão, prof. Romualdo. O sr. abrilhanta a discussão democrática e plural que a nossa Universidade precisa manter. Abraço!

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  2. Excelente retratação das eleições para Reitoria UFG.
    Viva a luta em base de compartilhamento de ideias!!!

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  3. "De nossa parte, persistiremos levantando discussões sobre a necessidade de definirmos que modelo de universidade queremos, de forma a deixarmos de ser meramente um conjunto de faculdades isoladas que brigam cada uma separadamente pelo seu quinhão. Insistimos que, ou a comunidade se aglutina em torno do objetivo de defender essa instituição, vendo-a enquanto uma totalidade, ou nos perderemos em meio a uma fragmentação que só estimula a disputa de poder e acentua vaidades. A conjuntura atual impõe a necessidade de nos fortalecermos, e devemos fazer isso definindo um rumo para essa universidade. Devemos procurar estreitar mais nossas relações com a sociedade, e buscar nas comunidades tradicionais elementos que enriqueçam o conhecimento que aqui produzimos".

    Parabéns pela coragem e determinação, Romualdo. A instituição certamente será beneficiada por pessoas convictas como você.

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  4. Já havia te dito que está universidade esta privatizada pelas corporações
    O resultado eleitoral e a campanha só comprovam isto

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  5. Acho que você merecia mais, você tem uma história de luta na UFG e de comprometimento também,mas, como você mesmo disse, venceu o continuísmo. É pra frente que se anda sim, você ainda vai ter muita luta pela frente. Vamos à luta, companheiro!

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  6. Excelente reflexão. Não podemos desmotivar com as possibilidades de mudanças. Eu acredito na proposta de vocês. Acreditar é o início da mudança.

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  7. Romualdo é isso mesmo. É preciso enfrentar e propor... nem sempre há compreensão por parte das pessoas sobre as propostas e posicionamentos. O importante é ter maturidade e força para seguir em frente.

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