Há um ano e meio quando decidi puxar a discussão sobre a escolha do novo reitor da UFG, e me coloquei na
condição de candidato, eu sabia, pelo que eu pretendia fazer, que haveria uma
forte reação daqueles que estão dirigindo esta universidade há três gestões.
No começo eu não me preocupava com
a possibilidade de ser eleito. Até ser convencido por quem eu conversava para
aderir ao objetivo de “mexer” com a universidade, que não faria sentido ser
candidato sem almejar uma vitória, para que as mudanças fossem possíveis.
Aos poucos, principalmente por meio
de alguns artigos que publiquei, essa posição foi se consolidando e a
persistência em apontar desvios na forma de ser uma universidade começou a
incomodar. A crítica se fez imediata, e houve quem dissesse abertamente que a
campanha era extemporânea, fora do tempo.
Essa persistência levou, de fato, à
antecipação do processo. A primeira consequência foi uma cisão dentro da
reitoria, fazendo surgir duas candidaturas, da professora Sandra Mara e do
professor Luis Melo. Eu não estava querendo escolher adversários, mas à época
vi que essas candidaturas potencializariam o debate, e, com a divisão, as
condições para entrarmos fundo nos problemas da universidade estariam dadas. No
entanto, prevendo as dificuldades que seria o processo com esse quadro, voltou
à cena o nome do professor Edward Madureira, reitor por duas vezes no período
de expansão da universidade e de fartos recursos destinados IFES (Instituições
Federais de Ensino Superior) por meio do REUNI. Embora não abertamente, mas nos
bastidores, consolidava-se sua candidatura e o recuo dos outros dois nomes que
haviam despontados. Delineava-se o processo com a presença de um nome forte,
apesar da situação inédita de uma candidatura para um terceiro mandato. Ficava
claro a dificuldade que teríamos pela frente com essa mudança de quadro no
processo eleitoral.
Mas eu não queria discutir somente
a eleição. Eu queria discutir essa universidade. Queria levantar a necessidade
de rompermos com o comodismo e com a normose que nos tem afetado. Queria travar
um debate sobre a necessidade de romper com o clientelismo e a burocracia que
tem deformado o sentido de universidade. Não me intimidei, mantive o meu nome e
abri caminho para que desta feita a escolha não se desse somente com uma
candidatura.
Isso levou a consolidação de um
quadro com mais duas candidaturas, e o retorno a dois dias do final da
inscrição, da candidatura do professor Luis Melo. Além dele entrou na disputa a
um mês e meio da inscrição das chapas, o professor Reginaldo Nassar. O quadro
se definia, mas foi pouco a pouco tornando-se confuso, porque praticamente
o discurso de todos os candidatos pouco se distinguia, e não se percebia por dois
deles que tinham identificação com a atual gestão, nenhum compromisso com os
problemas que apontávamos. Ao final, as propostas eram bastante parecidas,
embora os discursos fossem diferentes. Mas, só discurso não ganha eleição, muito menos quando se deseja quebrar paradigmas.
A consulta à comunidade
universitária comprovou o diagnóstico que apontei nos artigos. Foram diversos,
mais de dez. Mas, creio, isso acrescido a todas as discussões e debates que
fizemos, nos dão a certeza que a próxima gestão, a quarta sequencialmente
conduzida praticamente pelos mesmos personagens, terá que ser diferente. Isso
porque desta feita provocamos a comunidade, que embora tendo reagido de forma
diferente, se fez presente apontando as insatisfações, os diversos problemas,
situações de órgãos em vias de colapso, falta de segurança, ausência de
estrutura adequada na parte administrativa, sobrecarga de trabalho dos técnicos
administrativos, adoecimentos generalizados e as dificuldades que se apontam
como consequência dos cortes de recursos.
O resultado final foi
desproporcional e contraditório com todas as reclamações e insatisfações que
ouvimos. Mas não estranhamos. Houve uma polarização entre duas candidaturas que
tinha mais visibilidade por já terem estado na reitoria, mas que estranhamente
se distanciaram da atual gestão, e algumas vezes usaram discursos que mais
pareciam oposição. Tudo isso levou, ao final, uma definição pelo voto útil,
consolidando quem tinha mais volume de campanha e apresentava mais segurança de
vitória.
Como na sociedade, a universidade
mantém os mesmos vícios de escolhas no estilo rebanhão. A parcela mais
significativa, muito embora todas as insatisfações reinantes e explicitadas nas
diversas reuniões que fizemos, preferiu a acomodação de um voto conservador,
receosa da mudança e preferindo a manutenção de quem inegavelmente fizera uma
boa gestão. Malgrado as deficiências na parte administrativa e na consolidação
de uma universidade fragmentada. Mas o estilo de gestão adotado criou vícios e
reforçou a política de favores. Inegável que consolidou uma forte base,
praticamente imbatível. No entanto, os desafios de outra realidade econômica no
país e uma dotação orçamentária reduzida, colocarão à prova a correção, ou não,
desse rumo.
De nossa parte, persistiremos
levantando discussões sobre a necessidade de definirmos que modelo de
universidade queremos, de forma a deixarmos de ser meramente um conjunto de
faculdades isoladas que brigam cada uma separadamente pelo seu quinhão.
Insistimos que, ou a comunidade se aglutina em torno do objetivo de defender
essa instituição, vendo-a enquanto uma totalidade, ou nos perderemos em meio a
uma fragmentação que só estimula a disputa de poder e acentua vaidades. A
conjuntura atual impõe a necessidade de nos fortalecermos, e devemos fazer isso
definindo um rumo para essa universidade. Devemos procurar estreitar mais nossas
relações com a sociedade, e buscar nas comunidades tradicionais elementos que
enriqueçam o conhecimento que aqui produzimos.
Devemos lutar, e assim o faremos,
para resgatar o princípio de uma universidade que tenha no ensino o seu
primado, em fortalecer a capacitar cada vez mais jovens que entram nessa
instituição sem as devidas convicções de qual caminho devem seguir, o que tem
levado a uma enorme evasão. A UFG não pode seguir desprezando a graduação e
sendo indiferente com a crise que afeta as licenciaturas. E mais, devemos
compreender que estamos numa instituição para servi-la, fortalecendo-a e
fazendo com que ela cumpra seus requisitos fundamentais, voltados para atender
os interesses da sociedade. Ela não pode permanecer como uma instituição
utilitarista, dos professores e a eles servindo, elevando egos e vaidades. Ou
compreendemos o sentido de ser da universidade, e vemos nos estudantes e na
necessidade de formá-los com competência, mas com capacidade crítica, como o
centro de nosso trabalho ou estaremos consolidando uma estrutura pública
privatizada por grupos de interesses movidos por intenções diversas dos
objetivos essenciais do que deve ser uma universidade.
Esses elementos estiveram presentes
no centro das discussões e do resultado final do processo de escolha do futuro
reitor. Foram motivadores para o desfecho de acomodação que mantém esses e
outros vícios. Mas não é algo impossível de ser mudado, depende de levarmos
adiante discussões que são essenciais para definirmos nossos rumos. Sabemos que
podemos contar com um número considerável de colegas que compreendem a
necessidade de buscarmos resgatar essa essência que é instigadora de outros
valores. E assim procuraremos fazer, para além de quaisquer preocupações meramente
de disputas eleitorais.
Mas jamais desejaremos o fracasso
de uma gestão. Nosso compromisso é com o bem da universidade. Portanto, ao
mesmo tempo em que estaremos fustigando o debate, crítico, respeitoso e leal,
nos colocaremos à disposição para lutar em defesa da UFG. Certamente, devemos
lutar juntos para que os problemas gerados por cortes de recursos e de uma
crise política e econômica que nos ameaça, não nos leve a uma situação de
estrangulamento de nossas atividades. Insistimos, no entanto, que a luta deve
ser pela universidade, vista como um todo e não em benefício ou privilégio
setorizados. Em assim sendo, estamos na luta, e creio poder falar também em nome do colega Leandro Oliveira, que somou comigo a chapa que soube qualificar o debate. E continuarei a reafirmar: "é pra frente que se anda"!
Parabéns pela reflexão, prof. Romualdo. O sr. abrilhanta a discussão democrática e plural que a nossa Universidade precisa manter. Abraço!
ResponderExcluirObrigado professor Signates. Abç.
ExcluirExcelente retratação das eleições para Reitoria UFG.
ResponderExcluirViva a luta em base de compartilhamento de ideias!!!
Valeu Wilame. Obrigado. Abç.
Excluir"De nossa parte, persistiremos levantando discussões sobre a necessidade de definirmos que modelo de universidade queremos, de forma a deixarmos de ser meramente um conjunto de faculdades isoladas que brigam cada uma separadamente pelo seu quinhão. Insistimos que, ou a comunidade se aglutina em torno do objetivo de defender essa instituição, vendo-a enquanto uma totalidade, ou nos perderemos em meio a uma fragmentação que só estimula a disputa de poder e acentua vaidades. A conjuntura atual impõe a necessidade de nos fortalecermos, e devemos fazer isso definindo um rumo para essa universidade. Devemos procurar estreitar mais nossas relações com a sociedade, e buscar nas comunidades tradicionais elementos que enriqueçam o conhecimento que aqui produzimos".
ResponderExcluirParabéns pela coragem e determinação, Romualdo. A instituição certamente será beneficiada por pessoas convictas como você.
Já havia te dito que está universidade esta privatizada pelas corporações
ResponderExcluirO resultado eleitoral e a campanha só comprovam isto
Acho que você merecia mais, você tem uma história de luta na UFG e de comprometimento também,mas, como você mesmo disse, venceu o continuísmo. É pra frente que se anda sim, você ainda vai ter muita luta pela frente. Vamos à luta, companheiro!
ResponderExcluirExcelente reflexão. Não podemos desmotivar com as possibilidades de mudanças. Eu acredito na proposta de vocês. Acreditar é o início da mudança.
ResponderExcluirRomualdo é isso mesmo. É preciso enfrentar e propor... nem sempre há compreensão por parte das pessoas sobre as propostas e posicionamentos. O importante é ter maturidade e força para seguir em frente.
ResponderExcluir