Desde
outubro de 2016, quando publiquei um artigo neste blog, uma espécie de
manifesto (https://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/10/minha-vida-se-completa-na-ufg-sigo-por_13.html), me coloquei na condição de candidato a reitor da UFG. Mas
minhas críticas ao perfil burocrático das últimas gestões, se estendem a meses
antes, por meio de diversos artigos que estão até hoje aqui registrados.
Minha
candidatura, vista como extemporânea terminou por ser um balizador da
existência ou não de disputa nessa eleição. O retorno de um candidato que já
passara por duas vezes pela reitoria, em um momento de disponibilidade de
muitos recursos e euforia como consequência disso, por meio do REUNI (Programa de
Reestruturação das Universidades Brasileiras), deixou em suspense sobre a
insistência ou não da minha condição de candidato. Mantive a minha coerência, e
julguei que tal candidatura representava a repetição de tudo que eu via de
forma crítica. Reforçou mais ainda a necessidade de termos disputa e uma
discussão em profundidade sobre o que é ser uma universidade e como nos
tornamos uma instituição fragmentada, burocrática e clientelista.
Com
essa decisão, e a certeza que eu não recuaria, mais outros dois candidatos
entraram na disputa, a praticamente um mês de abertura das inscrições da chapa.
Um desses candidatos voltara ao jogo a dois dias do final da inscrição,
representando uma dissidência do grupo que há doze anos controla a
administração da universidade, repetindo erros e vícios acobertados por uma
acomodação que afetou a universidade desde o processo de expansão. Não
importava por esse tempo discutir modelo de universidade, mas disputar o
elevado montante de recursos que estava à nossa disposição.
Mas,
apesar de ver essa dissidência como fruto do esgotamento dessa forma de
comandar a UFG, saudei o fato de haver quatro candidaturas, pois significava
essa possibilidade de discutirmos os nossos problemas – que haviam sido jogados
para debaixo do tapete – com mais profundidade e de forma respeitosa. Creio que
estamos conseguindo fazer isso, malgrado campanhas sub-reptícias que estão
sendo feitas por meio de boatos, algo que afirmo não ser prática daqueles que
apoiam a nossa chapa.
Dirijo-me
especificamente àqueles que porventura não tenham se alinhados com outras
candidaturas. Essa Universidade padece de muitos vícios somente possíveis de
serem corrigidos com uma mudança forte, e a substituição de todos aqueles
que há mais de uma década se revezam em cargos e assessorias, não se
preocupando em questões elementares para uma gestão participativa, democrática
e com coragem de assumir posições. Não somente não temos um modelo adequado de
universidade, funcionando de maneira integrada e com princípios que há muito
defendemos, baseado na multidisciplinaridade, como nos fragmentamos
acentuadamente nesse processo de expansão. Há muitos problemas.
As
últimas gestões jamais realizaram planejamento estratégico, e a
descentralização administrativa muito mais do que representar um estilo
democrático de gestão, significa a delegação de responsabilidade,
isentando-se de assumir com coragem decisões que devem implicar em garantir a
integralidade de nossa instituição. Isso tornou a UFG com um perfil nitidamente
clientelista. A burocracia, que se intensificou muito, é apenas consequência
desse estilo de gestão e cumpre o objetivo de reforçar o poder nas mãos do
grupo que a comanda. O excesso de burocracia e a multiplicação de comissões
representam alguns dos vícios que precisam ser corrigidos.
Nossa
universidade nos últimos anos foi posta de ponta-cabeça. O ensino de graduação,
porta de entrada das dezenas de milhares de estudantes que representam a
finalidade de sua existência, foi relegado às calendas gregas, menosprezado e
não teve a prioridade que deveria ter. A licenciatura, então, embora os
problemas externos também contribuam, passa por um momento de crise grave. Mas
nenhuma iniciativa, nem via pró-reitoria de graduação, nem via o Fórum de
Licenciatura, foi tomada para atacar os problemas que afetam essa área. Sequer
nos tornamos protagonistas em discussões com governos e instituições externas à
universidade, para poder contribuir com políticas públicas que reforcem as
licenciaturas e garantam mais seguranças àqueles que escolhem formar-se como
professores e professoras. Perdemos o bonde da história em diversos momentos:
não discutimos o impacto do ENEM, não nos adequamos a contento para as mudanças
que vieram com o SISU e não tivemos participação na discussão sobre a Reforma
do Ensino Médio. E estamos passando ao largo das discussões sobre as mudanças
das Bases Curriculares. Só conseguimos avanços, que devem ser mantidos e
ampliados, na política de inclusão social. Mas padecemos de medidas concretas
para garantir a permanência desses estudantes e evitar a evasão.
Precisamos
discutir amplamente essa universidade, e mudar por completo. Precisamos nos
adaptar às mudanças que tem acontecido, e deixarmos de seguir o perfil de
universidade definido pelas ondas neoliberais que percorreram o mundo e o levou
a uma das piores crises desde a grande depressão da década de 1930. Que nos
sirvam somente os aspectos positivos, principalmente a nossa adequação aos
avanços tecnológicos. Devemos ter coragem de não aceitar imposições que nos
colocam submissos e de joelhos diante de medidas que são aplicadas sem
questionamentos. Sucumbimos aos controles externos, não há luta por autonomia,
o que há é covardia diante de decisões que desfiguram a universidade, por medo
de assumir posições e de ser processado.
Não
temos dúvidas em dizer que mais do que crescimento, neste momento de crise
institucional, econômica e política, nosso objetivo deve ser uma reestruturação
interna, com foco nas pessoas, na qualidade e na identificação do modelo de
universidade que nos possam dizer o que somos, para que e para quem servimos.
Queremos uma universidade que reforce a inter, trans, e multidisciplinaridade,
que entenda o perfil da nova geração de estudantes e que crie condições para
evitar a mobilidade interna e a evasão crescente, por meio de reforma curricular
e do estabelecimento de grandes áreas do conhecimento, retardando a escolha por
qual curso o jovem deseja. Algo que tem sido bem aplicado na Universidade
Federal Sul da Bahia, na Universidade Federal do ABC, dentre outras.
No
âmbito da estrutura da Universidade, queremos mudar a política e a prática no
tratamento com os trabalhadores. Em primeiro lugar recompor uma estrutura
técnico-administrativa que passou por um desmonte, a partir de escolhas por
contratação de trabalhadores terceirizados, o que se agravou enormemente à
medida dos cortes orçamentários e da redução dos recursos para custeio. Um erro
estratégico imperdoável das gestões anteriores, que optaram por dirigir a
universidade por meio de contratação de empresas que precarizam o trabalho e
não se preocupam com o grau de qualificação de seus trabalhadores. Criamos uma
dificuldade gerencial, na medida em que a expansão da universidade não contou
com a ampliação do número de técnicos efetivos, ao contrário do número de
professores que se elevou nesse processo. Um crescimento exponencial predial da
Universidade não acompanhado pela garantia de pessoal efetivo suficiente. O
corte de recursos impõe, naturalmente, uma diminuição no número de
terceirizados, cujo pagamento se dá via verbas de custeio. Sobrecarregando,
assim, as atividades sobre um número de TAEs que não teve o crescimento
necessário.
Além
disso, não tem havido nos últimos anos a preocupação necessária com a saúde dos
trabalhadores, sejam professores ou técnico-administrativos. Programas criados
há mais de uma década não têm sido usados para prevenir adoecimentos, por meio
de garantia de exames de saúdes regulares e de acompanhamento de possíveis
situações de estresse e depressão. Tem faltado às gestões da UFG a preocupação
humanista e a valorização de outro patrimônio, que não só o material: as
pessoas que constroem essa universidade.
Precisamos
fazer a Universidade funcionar para aqueles alunos/as trabalhadores/as que
estudam à noite. A UFG não funciona para eles, a não ser os Centros de Aulas.
Vamos estabelecer os turnos contínuos para garantir uma universidade
funcionando nos três turnos. E assim, atenderemos também a uma demanda
histórica dos servidores técnico-administrativos, uniformizando o regime de
trabalho em seis horas, como já acontece na biblioteca, hospital universitário
e hospital das clínicas. Faremos isso, é uma necessidade, e queremos como
contrapartida mais qualidade e dedicação no trabalho, possíveis de serem
verificados por meio de planejamento e relatórios anuais.
No
tocante à nossa relação com a sociedade, um vazio enorme nos afastou e nos
deixou sem o protagonismo que tivemos em outras épocas. A expansão nos deixou
somente preocupados com as questões internas. Conformamos-nos disputando os
recursos e consolidando as unidades e laboratórios, isso era natural. Mas faltou
à direção da universidade se preocupar em não se fechar como aconteceu. Nossa
política de extensão é burocrática, como de resto. As ações se prendem a
editais, e pouco se busca de alternativas, por meio de programas, que possa nos
colocar em sintonia com o que se produz na sociedade, no âmbito da cultura, das
artes e dos saberes tradicionais. E fazemos pouco levando para a sociedade,
principalmente para as periferias e bairros mais pobres, o que produzimos em
diversas áreas do conhecimento, e principalmente nas artes e na cultura.
Queremos
mudar isso, fazendo da universidade um ambiente mais vivo, mais pulsante, mais
criativo e, principalmente, mais tolerante com as diferenças. Uma universidade
onde a disputa a ser feita internamente se dê prioritariamente no campo das
ideias. Um ambiente aonde ninguém venha ser expulso por professar opiniões,
ideias ou comportamentos que represente a identidade de gênero e as escolhas
político-ideológicas de cada um/a. Queremos, enfim, resgatar a essência de ser
universidade, algo que estamos perdendo gradativamente.
São
essas algumas das questões que destacamos, embora ainda faltem muitas outras e
críticas que tenho acumulado ao longo desse processo. Bem mais do que imaginava
poder fazer quando comecei a debater os problemas da UFG. Vejo hoje que nossa
situação, do ponto de vista administrativo e organizacional, é mais grave do
que imaginava, o que joga por terra o argumento de “ser experiente”. Os “experientes”
criaram uma estrutura caótica, desorganizada e fragmentada.
Espero
contar com apoio expressivo da comunidade universitária. Que não tenham receio
em apostar em um jeito novo de conduzir essa universidade. O medo não é um
sentimento positivo quando precisamos de transformação, reflete a acomodação e
a aceitação de uma normalidade estranha. Não tenhamos receios de enfrentar os
desafios de uma época que está sendo marcada pela indefinição dos rumos, e
diante de uma crise política que nos afeta com muita força. Mas precisamos de
coragem e determinação para superar esse momento e fazer com que a UFG aposte
na qualidade como elemento a nos projetar para patamares superiores no
posicionamento do ranking universitário. E, lhes garanto, não terei medo de
tomar posição e de lutar com ênfase por nossa autonomia. Mantenho a minha
verve, e não temerei ameaças de processos, já passei por isso e jamais me
acovardei. Meu CPF estará sempre à disposição, sem receios, e manterei minha
coerência com aquilo que estou apresentando nos eixos programáticos de minha
candidatura. Minha história reforça isso, e pode ser atestada no artigo do link
que inseri no começo desse texto.
Conto
com esse apoio. Tanto eu, quanto meu colega de chapa, candidato a vice-reitor,
professor Leandro Oliveira. Estamos nos propondo a diuturnamente nos dedicarmos
ao objetivo de fazer da UFG um lugar melhor para se trabalhar e estudar. E a
torná-la uma das dez melhores universidades brasileiras.
Um
forte abraço.
Professor
Romualdo Pessoa
CHAPA
1 – UFG PRA VOCÊ! DIVERSIDADE & QUALIDADE
É
PRA FRENTE QUE SE ANDA!
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