Na postagem anterior do blog Gramática do Mundo analisei
outro lado da polêmica que envolve as discussões sobre o combate às drogas, no
Brasil e no Mundo. Questionei o consumo de drogas, o mercado, quem são os
consumidores. Afinal, a droga, qualquer que seja, é uma mercadoria, valiosa
pelo fato de haver um mercado consumidor em potencial. Paradoxalmente, o fato
de ser proibida torna seu comércio mais rentável. Muito embora extremamente
perigoso e realizado ilegalmente, atrai um sem-número de jovens que se tornam
“soldados” de um tráfico macabro, pois negociam produtos altamente químicos e
potencialmente mortais. Suas próprias funções são semelhantes à de homens
bombas, sabem que logo encontrarão a morte.
Intitulei o artigo “Correndo atrás da própria sombra (II)”,
é uma releitura de algo que eu já
havia escrito no final de 2010, que pode ser lido no link (http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2012/11/correndo-atras-da-propria-sombra-ii_15.html) deste blog. Também este texto é uma reflexão iniciada em
2011, quando tomei conhecimento de uma nova droga no mercado.
O meu objetivo é levantar uma discussão de
crítica à sociedade capitalista. Uma mercadoria só se valoriza se houver
demanda. E quanto maior a procura mais o seu valor será aumentado. Assim
acontece também com as drogas, o que coloca o desafio de, tanto quanto combater
os traficantes, impedir o aumento do número de consumidores. Uma tarefa tão
difícil quanto a outra, na medida em que o capitalismo empurra os jovens a um
estilo de vida de agitos, glamoures, competições, e outros hábitos que se
tornam portas de entrada para o consumo das drogas. A religião termina sendo a
porta de saída, mesmo assim, em um universo muito restrito e dependendo do tipo
de drogas que o jovem está a consumir. Porque praticamente não há políticas
públicas para conter essa epidemia. Até porque é difícil convencer o drogado a
se tratar, e há polêmicas quanto a forma de induzi-lo a isso. Me abstenho de
opinar a esse respeito.
Mas, lamentavelmente, as drogas que me dedico a
analisar neste post, dificilmente permitirão aos seus usuários encontrarem uma porta
de saída. Resolvi escrever sobre isso depois de assistir duas reportagens sobre
o assunto, uma no SBT, Conexão Repórter e outra no Jornal da Band ainda no
começo de 2011. Trata-se da mais nova e explosiva droga que começava a se espalhar
pelo país: o “oxi”. Mais potente e destrutiva do que o crack, e o que é
pior, a um custo bem mais baixo.
Uma frase do apresentador do Jornal da Band foi
dita com uma enorme coincidência com o que eu pensava naquele momento em que
assistia. Enquanto a reportagem era mostrada eu via naquelas informações muito
mais do que a descrição de uma droga. É uma “droga”, naturalmente, mais é muito
mais do que tudo que nós já vimos a respeito, e nos espanta saber que algo seja
produzido para ser comercializado, mesmo que ilegalmente. O OXI é uma
verdadeira arma química, com um potencial destrutivo impressionante. Basta ver
os ingredientes químicos utilizados em sua composição: cal, querosene, acetona,
solução de bateria elétrica etc. acrescentado ao cloridrato de cocaína.
O crack, em sua composição química é uma mistura
do cloridato de cocaína acrescido de amoníaco e bicabornato, e é considerado
uma espécie de refugo da cocaína. Já o oxi pode ser considerado um subproduto
do crack. Portanto, potencialmente mais destrutivo do que aquele. Na busca por
mais informações, encontrei um artigo interessante e bem didático sobre essa
droga, que pode acessado no link: http://www.webartigos.com/articles/60245/1/Artigo-OXI---Uma-nova-droga-pior-que-o-Crack-ja-esta-no-Brasil-/pagina1.html#ixzz1LxPXVVg7.
Foi a ele que me reportei na busca para mais informações sobre essa arma que me
escandalizou quando assisti às reportagens citadas.
O enfrentamento ao tráfico desse produto é
extremamente difícil. Essa é uma guerra
sem fronteiras. Por isso torna-se extremamente complicado o seu combate,
acrescido ao fato de a corrupção policial ser um forte ingrediente a protegê-lo,
conforme abordei no artigo anterior. O seu preço, bem mais barato do que o
crack, e os seus efeitos destrutivos e de alto grau de dependência, multiplica
as consequências já danosas das vítimas que infestam as grandes cidades com
filiais da “cracolândia” com números crescentes e assustadores.
Enquanto a polêmica ambiental ocupa as atenções
dos meios de comunicação, e gera preocupações de ONGs com o futuro pouco
verdejante que encontraremos mais adiante, vidas se perdem como trapos pelas
ruas das grandes metrópoles e se espalham em direção às pequenas e médias
cidades. Tornam o presente, principalmente dos pobres, grande maioria daqueles
que consomem esse tipo de droga, um verdadeiro inferno.
O oxi é uma bomba química com potencial
destrutivo de eliminar um sem-número de pobres e miseráveis. Seu consumo não é
exclusividade dos pobres, mas aqueles de outras origens sociais, misturam-se
com a pobreza na medida em que a convivência familiar torna-se impraticável, em
função das conseqüências da dependência química e dos desequilíbrios mentais
que transtornam seus usuários. Passam então para outra nomenclatura:
“sem-tetos” ou “moradores de rua”.
Mas neste ano de 2012 outra nova droga passou a
ser produzida e comercializada. Desta feita de uma mistura do crack com a
maconha. O produto leva ainda, segundo pudemos apurar, solvente, ácido, talco e mármore. Essa ainda está restrita aos grandes centros, principalmente Rio de Janeiro
e São Paulo, mas se dissemina com a mesma rapidez das outras drogas. Ela já foi
apelidada de vários nomes: “desirrée”, “craconha”, “kriptonita”, e vai
gradativamente sendo o seu nome reduzido a “zirrê”. Ela é uma espécie de
ante-sala ao crack, e uma maneira de atrair o usuário de maconha para um
ambiente de uso de drogas mais pesadas. Por isso está afetando jovens em idades
cada vez mais precoces.
Os estudos feitos pelo Nepad, o Núcleo de Estudos
e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas, da UFRJ (Universidade Federal do Rio
de Janeiro), indicam que além de ser porta de entrada para o uso do crack, ela
tem se constituído também em uma barreira para quem tenta deixar o vício. Esse
usuário em tratamento, ao não conseguir suportar a carência da droga, volta a
recorrer ao “zirrê”, criando um círculo vicioso que torna mais difícil a cura.
Quando essa situação chega a um estado de
calamidade pública, esses indivíduos transformam-se em outro problema, de
segurança pública. Passam a amedrontar o “cidadão comum”, em seu cotidiano, na
medida em que ocupam lugares públicos e áreas de lazer das cidades. Alteram a
paisagem e “enfeiam” a cidade, merecendo tratamentos carregados de intolerância
e preconceitos. Tornam-se alvos dos grupos de extermínios. Conforme inclusive
denúncias que indicam ser a morte de seis moradores de ruas em Goiânia atos de
execução de elementos ligados à polícia. Nesse caso espécie de acertos de
contas, pois esses indivíduos constituem-se em intermediários na venda desses
produtos. Quando recusam-se a fazer o serviço, ou ficam em dívida com os
traficantes, são executados. (http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/11/camera-de-seguranca-registra-execucao-de-morador-de-rua.html).
Enquanto isso, a sociedade é induzida a se
preocupar com o futuro. Bandeiras ecológicas, escoradas em um discurso do medo
do que virá adiante, viram degraus para ascender indivíduos a outros objetivos
políticos, e garantem para alguns a captação de recursos financeiros para
financiar seus projetos de preservação da natureza.
Insisto na crítica à lógica que movimenta a
política e os oportunismos que escondem interesses particularistas por trás de
discursos da moda. Não haverá futuro para milhões de pessoas que vivem na
miséria, na pobreza e para uma juventude que se transforma em instrumento de um
sistema cruel, mercantiliza seus sonhos e os empurra para um abismo de onde não
haverá retorno.
Enquanto a classe média, pequena burguesia, se
mantém ativa em seus discursos matizados com ares progressistas, aos pobres é
dado apenas a expectativa de um alívio em suas almas, em suas orações que
purguem seus pecados e lhes garantam paz em um eventual paraíso. Enquanto uns
lutam por um futuro que não existe, outros se apegam à construção idílica de
uma paz celestial. Entre eles um presente contraditório, porque marcado de
diferenças nas vidas terrenas reais.
Vivemos em um mundo maravilhoso, não há dúvidas.
Mas misterioso e transformado em possível hecatombe pelo discurso do medo de um
futuro idealizado, e em um inferno real, pela busca da sensação de prazer e
liberdade garantidos por drogas que transformam pessoas em trapos.
Estado, Ministério Público, Justiça, políticas
sociais, assumem a forma de tímidas ações. O combate ao tráfico esbarra na
corrupção endêmica que afeta as estruturas policiais. E boa parte dos
movimentos sociais transformaram seus discursos em defesa das mudanças e de
crítica ao capitalismo, em bandeiras ambientais e na apologia das catástrofes. Os
grupos ligados a direitos humanos resistem em aceitar internações compulsórias,
pois consideram afronta aos direitos dessas pessoas. Que direitos? Sequer são
cidadãos, foram expulsos de casa ou dali fugiram, pois se tornam problemas
familiares. Não se admite o uso da eutanásia, para doentes em fases terminais,
mas se permite que a droga elimine pessoas lentamente.
Para os pobres, e para a juventude das periferias
das grandes cidades, talvez chegue um tempo em que um estatuto em defesa dos
animais, ou um código que os vejam como plantas, possam ser usados para
protegê-los do inferno das drogas. O desafio é sobreviver, manter coesa uma
família em processo de corrosão, diante do impacto gerado pela destruição que o
Crack, o Oxi, a desirrée, a heroína, a cocaína, etc, causam. Infelizmente a
religião entra em campo para salvar a alma, ou mesmo o indivíduo, mas é incapaz
de levar uma luta maior para transformar a sociedade, porque também o aliena na
direção de salvar-se a si só, em um mundo corroído pelas contradições que podem
empurrá-lo de volta ao inferno, ou deixá-lo trancado amedrontado pelo inferno
que o cerca. Pois é assim, afinal, que se encontra uma parte da população das
grandes cidades. O que fazer?
IMAGENS:
1. Dignow
2. adcl1997.zip.net
3. Veja. Ed. Abril
4. Portal Cadaminuto
5. Gazeta Maringá
6. politicaetc.com
(*) Este texto foi originalmente escrito em maio de 2011, com o título "Oxi, uma bomba química". Atualizei-o com o intuito de reforçar a discussão sobre esse tema, infelizmente sempre atual, e como decorrência do surgimento de uma nova droga. Além dos problemas gerados pelo consumo e tráfico desses produtos que se materializam na explosão de violência que aterroriza as grandes cidades. Tema que tratarei a seguir.
(*) Este texto foi originalmente escrito em maio de 2011, com o título "Oxi, uma bomba química". Atualizei-o com o intuito de reforçar a discussão sobre esse tema, infelizmente sempre atual, e como decorrência do surgimento de uma nova droga. Além dos problemas gerados pelo consumo e tráfico desses produtos que se materializam na explosão de violência que aterroriza as grandes cidades. Tema que tratarei a seguir.
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