Mais uma vez voltamos ao começo. Deparamos-nos
com mais um movimento grevista nas universidades brasileiras. Mas é preciso
entender melhor as razões dessa greve, que, a meu ver, vai além da necessidade
de se pressionar o governo para termos uma melhoria em nossas carreiras.

Com essa estratégia, caso o ministro
se dispusesse a negociar, a ideia que prevaleceria seria a de que a vitória da
construção da carreira deveu-se a esse movimento. Isso é completamente falso,
estávamos em meio a uma mesa de negociação, em que a contragosto a Andes foi
forçada pelas circunstâncias a também participar, e, pelo seu feitio, de
utilizar da greve como instrumento extemporâneo, com objetivos claramente
políticos, aproveitou-se da lentidão do governo em cumprir o compromisso
firmado no ano passado (somente implementado agora por meio de medida
provisória) e deflagrou o tipo de movimento que sempre a caracterizou. A greve.
Ora, não se faz greve em meio a uma
negociação. Greve é resultado de um impasse, das dificuldades em se abrir
canais de negociações, e da impossibilidade de se obter resultados positivos
que atendam às partes em discussão. O que deveríamos, pela experiência da
demora do governo em cumprir os compromissos firmados é levar para a mesa de
negociação uma data limite para termos nosso plano de carreira, e o
compromisso de vigoração do mesmo a partir de 1º de janeiro de 2013. Haja vista
que o prazo anterior foi prejudicado pela morte do principal articulador dessa
mesa, o secretário executivo do Ministério do Planejamento, Duvanier Costa. E que
seja garantida no acordo a equiparação de nossa carreira com a do Ministério de
Ciência e Tecnologia. Caso até o final do prazo dado para apresentação do plano
não tenha sido cumprido, aí sim, deveríamos radicalizar, a partir do início do
próximo semestre. Mas, receio que essa estratégia oportunista, de deflagrar uma greve extemporânea, já tenha jogado por terra essa possibilidade.
Pelas informações passadas pelo nosso
sindicato (Adufg), que tem acompanhado as negociações sobre a carreira, vários
pontos complicados já haviam sido acordados. Houve um estremecimento nessas
relações pela morosidade com que o projeto para incorporação de gratificação e
de um reajuste (pífio) tramitava na Câmara dos Deputados. Paralisado nas mãos
de um parlamentar inoperante, infelizmente de Goiás, o Deputado Jovair Arantes
(PTB). Devido a essa lentidão, e já sabendo da insatisfação no meio universitário,
o governo resolveu editar uma medida provisória. Mas um aspecto dessa medida
desagradou uma parcela considerável dos colegas professores, aqueles que
recebem gratificação por trabalhar em atividades insalubres.
Não que de imediato fosse haver uma diminuição
nos ganhos. A redução dessa gratificação à metade, que poderia implicar em
redução salarial, foi compensada por outra gratificação, evitando o impacto
dessa diferença pelos próximos meses. Mas sua duração é por pouco tempo. Ocorre
que essa é uma medida provisória, ainda será submetida à votação no Congresso,
e é ali que se deve pressionar para alterá-la. Ademais, esse é também um dos
pontos que está em negociação nas reuniões com os representantes sindicais e do
governo, que discute a nova carreira, sendo, portanto possível de ser revertida
quando da finalização do acordo, que deve ocorrer antes da extinção dessa nova
gratificação de insalubridade. Portanto, nada que não possa ser revertido, mas
absolutamente não se constitui em um pretexto para deflagrar uma greve cujas
consequências são mais nocivas para nós, professores, e, principalmente para os
estudantes, do que para o governo. Pelo menos nesse momento.
Assisti a uma entrevista na rede Globo,
da representante da Andes, apontando um caos nas universidades, o velho
discurso, dizendo que falta até papel higiênico, ridícula. A mídia, obviamente,
agora dá vazão a essas críticas. Há interesses políticos. Mas como sempre, a
crítica é direcionada para os investimentos nas universidades, quando o pano de
fundo é o salário. Dessa forma ilude a opinião pública com mentiras sem ter a
coragem de dizer claramente que o problema é sim, o salário. E não devemos ter
pruridos em assumir isso, afinal nossos salários são os mais baixos dentre as carreiras
públicas. Mas esse é um problema que estamos prestes a resolver, para isso há
uma mesa de negociações em funcionamento.
Como a Andes percebeu que as negociações
se direcionavam para uma carreira, senão 100% de acordo com o que queremos,
pelo menos bem melhor do que atual, acelerou a preparação de uma greve. De tal
forma que, se o ministro se dispõe a negociar, passará a idéia de que a
vitória da construção da carreira foi dela. Quando isso não é verdade, a Andes
sempre buscou o embate e nunca negociação.
Faço qualquer coisa para evitarmos que
a greve seja deflagrada na Assembleia do dia 06/06, na UFG. Mas não movo uma
palha caso isso seja aprovado. Farei igual à maioria dos indignados professores
que não se dispõem a participar de absolutamente nada, reclamam de tudo, mas
não tem coragem sequer de paralisar seus projetos de pesquisa e atividades de
orientação na pós-graduação. E quando retornam as aulas não são repostas,
nunca, da forma como deveria ocorrer em um calendário normal. E no final das
contas o prejuízo é somente da graduação e dos planejamentos de nossas férias.
Ficamos um, ou dois anos, como já aconteceu em épocas passadas, com um
calendário desorganizado prejudicando nossos descansos.
Há um grande comodismo por parte da
maioria dos colegas, que não participam das assembleias e se curvam às decisões
de uma minoria que segue movida não pela indignação geral, mas por questões
particulares e por motivações políticas. Quando se deflagra uma greve, então,
essa maioria limita-se a acompanhar de longe o desenrolar dos fatos, mas
permanecem atuantes em outras atividades nos seus laboratórios, principalmente
em suas pesquisas, cujo prazo não pode ser prorrogado. Bem como as orientações
de pós-graduação, que devem cumprir também prazos determinados.
A decisão do Ministro foi a de não
abrir diálogo com os grevistas. Mas isso era esperado. Esse tem sido o
comportamento dos governos frente às greves. Principalmente quando já existe
uma mesa de negociação fazendo isso, com a participação, inclusive, e
principalmente, das entidades sindicais. É claro o caráter oportunista e
diversionista do movimento. O resultado vai ser o mesmo da última greve dos
servidores e também das últimas que a Andes liderou, e a primeira medida do
ministério foi exatamente suspender as reuniões da mesa de negociação.
Neste domingo, na coluna do
jornalista Elio Gaspari, já há uma crítica ao movimento, afirmando que o “piquete”
realizado pelas lideranças do movimento só foi suficiente para parar algumas
unidades da Universidade Federal Fluminense por um dia, com muitos professores
seguindo suas atividades normalmente.
A propósito, tenho um salário menor
do que da maioria dos professores, muitos já como Associados, mais um degrau de
nossa carreira conquistado com negociação. Acho pouco, o que ganho, pela
importância da minha profissão. Ao contrário da maioria sempre me integrei na
luta, foi presidente da Adufg por duas vezes, sendo que na primeira vez estive
também à frente de uma greve, por decisão da categoria. Durante muito tempo me dediquei mais ao movimento
docente do que propriamente em cuidar da minha carreira. A demora em ter o meu
doutorado não se deve somente a isso, mas foi um dos motivos. Por todo o tempo
de minha militância sindical sempre vi mais o coletivo do que as minhas
questões particulares. Embora eu faça parte de uma categoria, onde, como as
demais de outras áreas de nossa sociedade, a maioria dos que a compõem só se
mobiliza por questões que dizem respeito a interesses particulares. Quando
muito, aceitam as decisões do movimento.
Mas eu também fico indignado com o
fato de receber menos do que acredito ter direito. Mas essa situação decorre também das burrices cometidas pelo movimento docente, principalmente na década
passada. Poderíamos ter avançado mais se as estratégias utilizadas fossem mais
inteligentes e que pudessem envolver os professores até mesmo com opiniões
expostas em grandes jornais e revistas de circulação nacional. A divisão do
movimento docente explicitou esse problema, com duas entidades adotando
estratégias diferentes, um da radicalização e a outra da negociação.
Mas essa radicalidade caracterizou
parte do movimento sempre pela deflagração de greves políticas e a constituição
de um grupo de sindicalistas que se aproveitam desse momento para gerar desgastes
políticos e fortalecer suas tendências. À custa, sempre, das receitas das
entidades, com gastos exorbitantes em pagamentos de diárias, passagens e
estadias. Enquanto a maioria, passivamente, permanecia distanciada das
comissões criadas para fortalecer o movimento. Ao final, criticava-se o
resultado, gerando permanentes desgastes para as entidades. E isso se tornou
também uma arma política, por quem, no momento, faz oposição à diretoria do
sindicato.
É que se repete agora, a meu ver como
uma farsa, da qual não tenho mais ânimo nem de fomentar, e muito menos de
combater. Faço desse texto um instrumento de dupla indignação, às diatribes de
um tipo de movimento docente que nos desqualificam enquanto professores
universitários que possuem outras capacidades de embates e pressões perante os
governos; e à condição em que permanece nossa categoria, cujo reconhecimento é
falado nos discursos – inclusive de nossa presidenta - com pouco efeito na
prática, com péssimos salários, incompatíveis com nossa importância, dando margem para reações desse tipo.
Mas sou convencido de que as duas
situações são resultados de uma relação dialética, de causa e efeito.
Nacionalmente ainda estamos aquém de termos uma representação forte e com
perfil mais respeitado, que nos qualifiquem, e que saibam adotar estratégias
inteligentes compatíveis com nossa condição de mestres e pesquisadores. Por
isso tenho defendido nos últimos anos a necessidade de construirmos sindicatos
locais fortes e uma Federação Nacional de Sindicatos que tenha um perfil
diferente e que seja respeitada pela estrutura do estado brasileiro, no executivo,
no legislativo e no judiciário.
Saberei ser solidário com qualquer
movimento, como sempre tenho sido ao longo de anos de atividades desde o
movimento estudantil até o sindical. Até
porque eu também serei beneficiado com os resultados que dele advierem. Sejam
negativos ou positivos. Mas não exijam mais de mim, além do que eu já consegui
oferecer até então. Não me disponho mais a entrar em aventuras, me oporei à proposta
de greve na UFG e tomarei a decisão sobre o que fazer, pelo foro íntimo que me
é de direito, após o resultado da Assembleia Geral dos professores, no dia 06
de junho. Espero que os demais colegas participem, e não fiquem ao longe
esperando para serem informados dos resultados.
Até lá!