segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O EIXO DO MAL (III)

De todos os conflitos analisados, que envolvem aqueles países “sublimemente” envolvidos no chamado “eixo do mal”, o mais emblemático é o da península coreana. Especificamente, para falar do protagonista na linha malévola identificada pelos EUA, em sua caça aos inimigos que compõem o “lado negro da força”, a República Democrática Popular da Coréia, no jogo Geopolítico: Coréia do Norte.
O Estado de São Paulo – 14.06.2009

Como sempre hei de dizer: olhemos o mapa. Vamos identificar as fronteiras que separam este país, como ele se constituiu, a partir da “Guerra da Coréia”, na década de 1950, que levou à divisão em dois países. Alinhada aos EUA, fruto da intervenção daquele país na guerra, a Coréia do Sul, ou República da Coréia.

Do outro lado, a Coréia do Norte manteve, após obter o apoio durante a guerra, um aliado permanente em sua principal fronteira, a China. E uma pequena extensão territorial completa sua outra fronteira terrestre, com a Rússia. O Japão está bem próximo, mas sem ligação direta com suas fronteiras, senão pelo mar do Japão. Do outro lado, o mar Amarelo.

Qual o interesse dos EUA nessa península, já que não podemos contabilizar nenhum recurso natural estratégico como de relevância para atiçar sua cobiça? É aí que as fronteiras nos dão indicação do porque estrategicamente os EUA precisam manter uma instabilidade permanente na região. Uma reunificação das Coréias seria o pior negócio para os estadunidenses, pois poderia reforçar a influência chinesa e ameaçar sua hegemonia.

De fato, a Coréia é um dos países mais fechados do mundo. Ainda mantendo resquícios das características que marcaram os países socialistas até o final da década de 1980, a Coréia reluta em abrir suas fronteiras e sua economia para o mundo. Não somente por opção própria, mas porque para fazer isso ela teria que modificar por completo seu regime político, nos moldes feitos pela China, com a diferença de ter que se submeter aos interesses dos EUA, pela influência que este detém na Coréia do Sul.

A China, apesar de garantir o apoio à Coréia do Norte, e mantê-la livre das sanções da ONU no Conselho de Segurança, não parece disposta a ir além disso. Salvo em caso de uma guerra que envolvesse a Coréia do Sul e os EUA e ameaçasse suas fronteiras, por exemplo, levando a uma derrota norte-coreana e a uma unificação que servisse aos interesses estadunidenses.

Essa é uma situação improvável, pelo fato da Coréia do Norte deter um forte arsenal nuclear, com mísseis capazes de atingir tanto a Coréia do Sul como o Japão. Qualquer atitude hostil que signifique uma declaração de guerra pode levar a ocorrência de um conflito nuclear de conseqüências imprevisíveis.

Como dito nos textos anteriores, certos conflitos noticiados com todo estardalhaço pela mídia, tem o claro objetivo de criar situações que justifiquem ações belicistas. Embora a Coréia do Norte seja um país de difícil acesso, inclusive em relação às informações, não se pode duvidar da capacidade que os EUA tem de agir com métodos de espionagem a fim de criar esses conflitos. Não se trata de teorias conspiratórias, mas de compreender como tem agido aquele país no intuito de gerar guerras de forma a garantir o controle de áreas estratégicas para o seu domínio. E de quebra, vender armas. Muitas armas.

A própria atitude fechada da Coréia a torna um perfeito alvo das táticas estadunidenses. Sem credibilidade, até pela própria propaganda a que é submetida de forma negativa, fica fácil, por exemplo, aos serviços de espionagem preparar uma armadilha, seja de sabotagem ou de um falso ataque, como o que ocorreu na destruição de uma corveta sul-coreana. Pelas “provas” apresentadas, seria muito óbvio a responsabilidade, para ser negada com tanta veemência. Mas, pela característica do próprio regime, e pela maneira imperial como seu presidente conduz o país, até mesmo de forma hereditária, transforma-o facilmente em um perfil adequado à freqüentar o “eixo do mal”. A opinião pública, devidamente preparada, não tem dúvida em considerá-la responsável pelos atos demoníacos de que é acusada.

Parece-me, contudo, mais uma artimanha dos EUA para manter a Coréia do Norte permanentemente sob suspeita, forçar um atrito com sua vizinha do Sul, impedindo uma reaproximação entre as duas, que não lhe interessa politicamente e desviar o foco de suas diatribes no Iraque e Afeganistão, principalmente. Sem contar com a crise intensa que insiste em afetar duramente sua economia, mantendo-o em constante recessão.

Por isso cito aqui trecho de um interessante artigo do prof. José Luis Fiori, publicado no site Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4722), intitulado: “Guerra do Afeganistão - um enigma, quatro hipóteses”.

Segundo suas análises há uma espécie de intenção na radicalização de algumas situações geradoras de guerras, por ser essa uma das condições para a sobrevivência do sistema.

Diz ele, referindo-se à guerra do Afeganistão e à possibilidade do deslocamento do conflito, seguindo caminhos previsíveis, absolutamente construídos dentro dessa lógica belicista: “Depois da Segunda Guerra Mundial, este centro gravitacional saiu da própria Europa e se deslocou na direção dos ponteiros do relógio: para o nordeste e sudeste asiático, com as Guerras da Coréia e do Vietnã, entre 1951 e 1975; e depois, para a Ásia Central, com as Guerras entre o Irã e o Iraque, e contra a invasão soviética do Afeganistão, durante a década de 80; com a Guerra do Golfo, no início dos anos 90; e com as Guerras do Iraque e do Afeganistão, nesta primeira década do século XXI.

(Afeganistão: Jalalabad-Cabul (Der Spiegel - 27.07.10)
(...) Deste ponto de vista, se pode prever que a Guerra do Afeganistão deverá continuar, mesmo sem perspectiva de vitória, e que os EUA só se retirarão do território afegão, quando o “epicentro bélico” do sistema mundial puder ser deslocado, provavelmente, na mesma direção dos ponteiros do relógio”.

Em sendo assim, pode-se dizer que há uma tentativa de buscar um novo epicentro. Veja, por exemplo, que no dia de hoje, 02 de agosto, o presidente Obama divulgou que a “Guerra contra o Iraque se encerrará no dia 31 de agosto de 2010”. Embora, outras manchetes no mesmo dia indicassem que os EUA já tem preparado um plano de ataque ao Irã.

Guerra ao terror, contra a ambição nuclear do Irã, em defesa da democracia na Coréia... são infindáveis as razões do império para manter em ação seu poderio bélico, e assim, conseguir ampliar ações que fazem da guerra um grande negócio.

Quem mais estará habilitado a freqüentar o “Eixo do Mal”?

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