Praia do Forte - BA |
Como sempre faço
todos os anos, numa espécie de catarse para fugir da rotina e me deparar com
outras paisagens, me aventuro nas estradas em busca de algum canto onde eu
possa me distrair e relaxar. Ao longo de quase trinta anos perdi a conta da
quilometragem que percorri por todos os cantos desse nosso imenso país, de
norte a sul, de leste a oeste. Até mesmo atravessando a fronteira, pelo Uruguai
e indo em direção a Argentina, retornando pela tríplice fronteira,
acrescentando aí o Paraguai.
Aqui mesmo neste
blog já registrei por meio de dois artigos as minhas aventuras: “A experiência
de um sertanejo nordestino da Caatinga até o Cerrado goiano – E a caça ao pequi”;[1] e “Minha vida é andar, por
esse país, pra ver se um dia descanso feliz...”[2] Desta feita, para além do
que já relatei nas redes sociais, um eterno retorno à minha querida Bahia, e um
passeio pela sempre aprazível e agradável João Pessoa, na Paraíba, fui também
em busca de relembranças, do resgate de minha origens. E é o que irei, de forma
resumida, transmitir nesse pequeno artigo.
Na verdade, essa
busca por informações e lembranças do meu passado faz parte de um Memorial que
começarei a escrever, como condição para ascender ao último degrau da carreira
nossa de docente na Universidade, para professor Titular. Ainda falta retornar
para registro à cidade que nos abrigou quando viemos da Bahia para Goiás:
Morrinhos.
Mas, foi também
uma retomada de contatos com parentes, primos e primas, tanto em Salvador, como
em Alagoinhas, cidade onde nasci. Fiz um registro fotográfico, que insiro aqui
para compartilhar esses momentos com os leitores do meu blog, com amigos e
amigas. Mas o registro completo virá com o Memorial, que disponibilizarei para
todos e todas, assim que for aprovado pela Banca onde deverei apresentá-lo.
Em Salvador, a primeira
parada. Era para ser um final de tarde em Itapoã, mas terminou sendo uma noite
agradável em companhia do primo Antonio Carlos e sua companheira Eva, onde sempre somos bem
recebidos, e com quem sempre mantenho um permanente diálogo. Itapoã guarda em
mim muitas saudosas lembranças. Em sua praia, nas pedras desse lugar tornado
icônico por Vinicius de Moraes[i], registrei uma das fotos
mais belas de minha querida e inesquecível filha, Carol, no ano de 2006. Um ano
depois ele faleceu, em 13 de dezembro de 2007.
Para além de
Salvador, indo em direção ao Recôncavo baiano, não tão distante, a
120 quilômetros da capital, se encontra Alagoinhas. Uma cidade que cresceu
muito rapidamente, aproveitando-se da confluência da BR-101, na intensidade do
tráfego entre Feira de Santana e Aracajú, além de beneficiada por uma malha
ferroviária - atualmente conta com mais de 150.000 habitantes. Mas também por sua economia forte e na produção de limão e laranja
com destaque, além de, desde a década de 1960, ter sido beneficiada pela
descoberta de petróleo em seus limites. Fui rever Alagoinhas, de onde saí,
salvo engano com uma idade de 12 ou 13 anos, no final dos anos 60.
Câmara de Alagoinhas |
Meu objetivo principal,
além de registrar os lugares onde vivemos (claro, em termos de localização,
porque a paisagem é completamente diferente), foi também buscar informações
sobre os mandatos de vereador, exercidos por meu pai. Ali ele exerceu a
vereança por quatro legislaturas, sendo por duas vezes secretário da mesa
diretora da Câmara Municipal. Nesse ponto fomos felizes, porque encontramos os
registros que precisávamos, que nos foram compartilhados de forma atenciosa
pelos servidores daquela Casa. Meu pai, também Romualdo, foi preso em 1964 e
ficou por trinta dias aprisionado no complexo do Forte Monte Serrat em Salvador,
transformado em prisão dos que eram considerados suspeitos de serem “subversivos”,
ou ligados ao partido de João Goulart, como era o caso dele. Esses detalhes
deixarei para relatar no Memorial. A Câmara, naturalmente, está em outro local
e em um prédio próprio, bem amplo. Mas conseguimos registro de onde funcionou a
antiga sede, ao lado da prefeitura. E ali próximo, não muito distante, o local
onde vivemos quando crianças.
Prefeitura e Antiga Câmara |
Depois que meu pai
retornou da prisão, fato que ele pouco comentou conosco, teve o seu mandato
cassado. Tornou-se funcionário do antigo Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem, DNER (transformado depois em DNIT, durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso) e pouco tempo depois se transferiu para a cidade de Serrinha, a cerca
de 70 quilômetros de distância de Feira de Santana (onde morava meu avô e minha
avó), e 180km de Salvador.
Fernando e Neusa, primo e prima. |
De lá, voltamos a
Salvador, para dois dias depois seguirmos para Serrinha. Um pouco mais
distante, mas ainda relativamente perto de Salvador. Situada no Nordeste baiano,
Serrinha é uma cidade de porte médio, com pouco mais de 80.000 habitantes. Bem
servida pela malha rodoviária, e por uma ferrovia, tem pouco destaque na
economia regional, mas um pujante movimento decorrente de atividades
agropecuárias e no setor mineral. Tradicionalmente foi festejada pela qualidade
de sua água, tida como milagrosa e tendo sido até mesmo tema de música.
Ginásio Estadual Rubem Nogueira |
Ali vivi poucos bons
anos de minha infância e começo da adolescência. Moramos inicialmente num
sítio, logo na entrada da cidade, hoje transformado em um condomínio de casas,
e depois mudamos para uma outra residência na mesma rua, sempre perto do DNER,
onde meu pai trabalhava. A poucas quadras dali ainda existe o Ginásio Estadual
Rubem Nogueira, onde entrei pelo processo de admissão, que havia naquela época,
início dos anos 1970. Se não estou enganado fazia o segundo ano do ginasial
quando saímos de lá. O terceiro e último ano e o colegial eu fiz na cidade de Morrinhos
(GO), para onde mudamos em 1974.
Antiga residência em Serrinha |
Como historiador
rever o passado é algo que faz parte da minha trajetória como profissional
estudioso dos processos históricos, e naturalmente isso também se aplica à
minha vida. Mas é uma sensação diferente, muito agradável, retornar a esses
lugares e fazer essa viagem também no tempo, e depois estar de volta para o
futuro. Sim, porque para mim o futuro se conta a cada minuto que está logo ali,
à frente, no presente.
Centro de Serrinha - BA |
Ali em Serrinha comecei
meu primeiro emprego, numa farmácia, no centro da cidade e próximo à feira que
acontecia aos sábados. Eu trabalhava somente nesses dias, que era quando o
movimento aumentava como decorrência da feira. O prédio da farmácia estava lá
ainda e pude fotografá-lo no tempo certo, porque pelas informações ele será
reformado neste começo de ano.
Voltei radiante desse contato com pedaços do meu passado, que contam minha vida. Tanto de
Serrinha, como de Alagoinhas. E feliz por ver, mesmo que meio a chuvas intensas
que estavam assustando, e causando estragos em boa parte da Bahia, a vegetação
da caatinga verdejante. Por todo esse tempo em que viajo para o Nordeste nunca
vi a caatinga tão verde, o que dá a dimensão da felicidade do sertanejo, do morador
do sertão profundo, no agreste baiano e nordestino.
Forte de Monte Serrat |
Retornei à
Salvador e fui fazer uma visita à Ponta de Humaitá, onde se localiza o Forte de
Monte Serrat, local para onde meu pai foi levado, acusado de ser comunista sem
nunca ter sido. Mas, naturalmente, era um vereador combativo e ex-presidente do
Sindicato dos Trabalhadores em Curtume de Alagoinhas. Como Romualdo Pessoa também,
filho, assumi a condição pela qual o acusaram, com muito orgulho e para lutar
contra a opressão e as desigualdades sociais.
O restante da
minha viagem pelo Nordeste, em direção à João Pessoa, na Paraíba, foi mais para
tornar a sentir a brisa sagrada que sopra do litoral nordestino, e eu, como bom
sertanejo, sei bem apreciar.
Em breve contarei
esse história por inteiro, no meu Memorial: UMA VIDA EM TRÊS TEMPOS.
Até lá espero que tenham apreciado este relato, e os outros dois artigos que já escrevi, cujos links estão aí abaixo.
PS: Retorno ao texto para uma correção necessária. O agradecimento à minha irmã, poetisa, Ana Cristina, pela acolhida e hospitalidade em Salvador, sempre agradável. Ela está na foto 2, ao meu lado.
(*) Para acessar suas poesias copie o link: https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=135213
[1] https://gramaticadomundo.blogspot.com/2019/12/a-experiencia-de-um-sertanejo.html
[2] https://gramaticadomundo.blogspot.com/2020/06/minha-vida-e-andar-por-esse-pais-pra_10.html
[3] https://www.youtube.com/watch?v=9a8lDXH2qa0
– Tarde em Irapoã
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