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Esse governo, de perfil neoliberal
na economia e de extrema direita na política e no trato das questões sociais,
se especializou em encaminhar pacotes de maldades para o Congresso Nacional,
com o intuito de destruir o Estado naquilo que ele possui de capacidade de
intervir na garantia das proteções dos direitos sociais, dos trabalhadores e no
combate à miséria e à crescente desigualdade social, diante de um sistema
ganancioso e desigual.
Mas há uma estratégia pérfida que
acompanha cada uma dessas medidas, que estão chegando sorrateiramente no
parlamento, enquanto os filhotes do fascismo, no cio, bradam propostas e frases
de conteúdo totalitário e com nítido viés autocrata. Essa é a primeira
estratégia, desviar a atenção das medidas absurdas e impopulares que estão sendo
aprovadas, ou melhor, tratoradas por uma maioria conservadora, defensora das
camadas sociais mais abastadas e no interesse do capital financeiro, nacional e
internacional. Nisso eles se confundem, se misturam.
Além disso, juntamente com essas
propostas acompanham medidas claramente impossíveis de serem aprovadas, por
tocarem em pontos sensíveis, de interesses corporativos da elite econômica e
política do país, bem representadas no Congresso Nacional.
Na reforma da previdência o jabuti
subiu na árvore. Sabe-se lá como, mas ele estava lá. E como jabuti não sobe em
árvore, alguém o colocou lá. Nesse caso, o jabuti era o BPC (Benefício de
Prestação Continuada). Era visível que essa proposta não passaria no Congresso,
pois ameaçaria eleições de muitos parlamentares. Contudo, essa foi a discussão
central, em meio a um pacote de maldades que ia sendo aprovado e tratado como
presente para gerações futuras, numa campanha de marketing paga pelo governo e
outra campanha que veio pelo interesse dos ricos por meio dos canais de televisão,
a grande mídia corporativa: Globo, Band, SBT, Record... Enfim, tiraram o jabuti
da árvore. O BPC se manteve tal qual sempre esteve. Embora outros jabutis
estivessem lá para fazer companhia a ele, e seriam acionados caso falhasse a
propaganda em torno deste.
Agora, com outro pacote de maldades
neoliberais em curso o jabuti escalou algo mais impossível para si, subiu no
telhado. E o jabuti das reformas econômicas, o mais importante, chama-se “municípios
de menos de cinco mil habitantes”. Qualquer emissora de TV ou de rádio que
alguém sintonizar nesse exato momento estará fazendo algum debate sobre a
extinção dos pequenos municípios. Esses, em sua maioria, com algumas exceções a
se salvarem, criados a fim de garantir os currais eleitorais de políticos
oportunistas e conservadores.
Ora, aposto meu mísero salário
contra uma garrafa de vinho malbec argentino da região de Mendoza, agora
aparentemente livre do neoliberalismo, que essa proposta jamais será aprovada.
Mais uma vez, desvia-se a atenção das questões que para eles são essenciais,
aprovar um pacote que destrói a capacidade do estado intervir para solucionar
problemas sociais e atacar, como deveria estar sendo feito a fim de reduzir a
miséria crescente, e beneficiar os bancos e as grandes corporações. O jabuti no
telhado vai sair de lá juntamente com os pequenos municípios. Afinal, só foram
colocados nesses lugares onde estão por uma questão de estratégia e oportunismo
político.
Mas atentem para um enorme jabuti
que foi colocado no alto da torre de tv de Brasília. Aquela em que todos sobem
para ver portentosamente a esplanada do poder federal, de onde atualmente saem
alguns inocentes jabutis e se atacam direitos sociais. Esse jabuti, no caso,
são os servidores públicos federais. Como é possível de se ver, em todos esses
pacotes há alguma referência ao que seria “privilégio” do servidor público.
Algo que vem sendo repetido ad nausean, desde que a grande mídia conseguiu
eleger o “caçador de marajás”. Não por acaso deposto por corrupção. De lá para
cá, sistematicamente, os servidores públicos tem sido alvo da anti-propaganda,
a fim de criar uma cultura de desmoralização não só desses servidores, como do
serviço público em geral. Isso é o que se chama de pavimentar o caminho para
que a população rejeite o trabalho que é feito pelo Estado, e aceite a sua
redução, assim como a retirada de direitos conquistados pelos trabalhadores e
trabalhadoras do serviço público federal. Assim como também nos demais níveis
federativos.
Os jabutis estão escalando
perigosamente tais lugares? Claro que não, eles estão sendo colocados
estrategicamente por lá, a fim de desviar a atenção para as maldades e
perversidades contidas nos pacotes de reformas, cujo intuito, claramente, é
atender as demandas das classes dominantes: burguesia industrial, financeira e
latifundiária. E uma parte da classe média, alta, que gerencia grandes
corporações, ou atuam como testas de ferros para os interesses destas.
Temos sabido lidar com essas questões?
Creio que não. As forças de esquerda dividem-se naquilo que é essencial, a
partir de demandas próprias e de estratégias que visam as campanhas eleitorais.
Isso que se tornou um vício. Perdeu-se a capacidade de focar na organização dos
trabalhadores, da população em geral, abdicou-se disso que foi e está sendo
feito por igrejas neopentecostais, ou por grupos conservadores da igreja
católica, como carismáticos e TFP. Erra o maior partido de esquerda, que
esgrime como sua maior bandeira a liberdade de sua grande liderança, e foco obsessivamente
nisso, erra o candidato de esquerda que foi o terceiro mais votado, erra os
pequenos partidos de esquerda porque, como sempre, lutam entre si pelo
protagonismo que os tornem maiores do que o outro, e se engalfiam em minúcias
ideológicas intermináveis.
Enquanto isso a população tem a sua
atenção voltada para os jabutis, sofrem com os riscos que tais espécimes
correm, porque não foram feitos para escalar árvores, telhados e torres de tv.
E se aliviam quando os mesmos que puseram os jabutis nesses lugares, os tiram
de lá e se satisfazendo com isso esquecem as maldades que estão a apunhalá-los
pelas costas.
E assim segue a procissão, seja com
as cordas que os levam à virgem, ou com os gritos histéricos de neopentecostais
reacionários. E as pessoas cedem a fé, de que do céu virão as melhorias que
elas esperam. Talvez com o tempo elas precisarão se proteger, porque no andar
da carruagem o que cairá do céu será uma chuva de jabutis. Como aliás conta uma
velha fábula da festa no céu. Bom, originalmente foi o sapo que imaginava poder
voar e se esborrachou no cão, e, sendo salvo pela virgem Maria, foi remendado.
Mas nos dias de hoje, os sapos
estão em extinção, e já não se fala mais nesse tipo de festa no céu. Agora é a
vez dos jabutis correrem o risco de se estropiarem. Esses colocados em lugares
estranhos pelos farsantes para ludibriar incautos, que acreditam nessas histórias
e em outras lendas mais.
Salvemos os jabutis, mas não nos
esqueçamos do povo, inebriado pela fé alienante, escorados em discursos
preconceituosos e iludidos de que serão bem servidos no banquete dos ricos.
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