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Há cerca de dois meses (as convenções partidárias ainda não
tinham acontecido) fui procurado por uma jornalista de um jornal de
Aparecida de Goiânia. Ela me solicitou, por meio de algumas
perguntas a mim enviadas, que fizesse uma avaliação da candidatura
de Ronaldo Caiado, que liderava as pesquisas eleitorais. Como
historiador e professor de Geopolítica, considerei que seria uma
obrigação minha responder aos questionamentos feitos. Contudo,
passados alguns dias sem que a notícia fosse publicada procurei saber
quando isso aconteceria. Não muito surpreso fiquei sabendo que o
jornal não publicaria por razões que ela desconhecia. Pois bem, fui
a fundo, procurei tentar entender e descobri que a razão foi a
pressão feita pela assessoria do candidato para que a reportagem não
fosse publicada. Para mim não é surpresa isso, conhecedor que sou
das práticas e do comportamento desse político. Cabe a indagação:
se ele faz isso ainda como candidato, o que fará sendo eleito? Os
prenúncios não são bons, sobre o futuro de Goiás e do Brasil.
Quiçá ainda tenhamos tempo de alterar esse destino. Decidi, no
entanto, que publicaria neste Blog a entrevista, mesmo sem o alcance
que teria caso o jornal a publicasse. Espero dessa forma contribuir, mesmo que minimamente, com o processo político eleitoral em curso no Estado de Goiás, e poder expor para as
gerações mais jovens comportamentos e ações de políticos que se
escondem numa máscara construída por marqueteiros com o intuito de
iludir as pessoas. Lamento também a subserviência de órgãos
jornalísticos que giram em torno do Poder e se submetem a ele. A
liberdade de expressão só é exigida quando se questiona os
comportamentos persecutórios e manipuladores de alguns desses órgãos, para
que eles possam se submeter a critérios verdadeiramente
democráticos. Compreendo, no entanto, que as forças opressoras muitas vezes são muito poderosas e alguns desses jornais, ainda tentando se firmar num ambiente de recessão, terminam por ceder a essas pressões por simples questão de sobrevivência.
Eis
a entrevista:
De
acordo com pesquisas eleitorais, o pré-candidato sai na frente dos
outros pretendentes ao cargo com uma vitória quase certa. Na sua
opinião, a maioria da população pretende votar em Caiado pelas
propostas que apresenta no Congresso, pela experiência na carreira
política ou apenas porque é um nome muito reproduzido nas mídias e
que as pessoas mais desconhecem sua carreira e conhecem a figura?
R
– Caiado lidera pesquisas que indicam um percentual muito grande de
abstenções, votos nulos e brancos. Essa tem sido a característica
principal dessas pesquisas. Aliás, reflete também o resultado da
eleição no Estado do Tocantins no último domingo. Metade do
eleitorado não quis participar do processo.
Penso
que tanto o voto em Caiado, quanto em Bolsonaro, é sintoma de uma
sociedade descrente da política. Esse ambiente foi criado desde as
manifestações de rua que culminaram com o impeachment da presidenta
Dilma Rouseff. O problema, para a maioria da população, é que esse
ambiente favorece somente aos setores conservadores e reacionários,
que defendem prioritariamente o segmento que controla a riqueza e a
produção e não os trabalhadores. Há um desconhecimento da
história que beneficia esses candidatos que nos últimos anos
carregaram no discurso do ódio, alimentando uma intolerância que
foi cultivada para destituir a esquerda do poder. Na medida em que
esse discurso afasta boa parte da população da política esses
elementos se beneficiam, pois seguramente não votariam neles. É um
equívoco daqueles que acham que se omitir é a melhor forma de
resolver as coisas. Não é, pois proporciona que candidatos da
anti-política, defensores de pautas intolerantes e, principalmente,
que se opõem às conquistas dos trabalhadores, se destaquem. Tenho
esperança que o processo eleitoral, ao se iniciar, traga um bom
debate que possa esclarecer o perfil desses candidatos, e como tem
sido as posturas deles na defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e
como tem votado no Congresso Nacional.
Filho
de uma das mais tradicionais família goiana, o sobrenome Caiado já
ocupou diversos cargos públicos em Goiás. Existem alguns feitos -
dessa família ou do próprio senador- que puderam ser sentidas
diretamente, para o bem ou para o mal, pela população?
R
– Claro que não. Os Caiados foram derrotados na política pelo
avanço de idéias modernizadoras, pela necessidade de se fazer o
país e o nosso Estado avançarem em políticas desenvolvimentistas e
sociais com garantia de emprego para uma população sofrida. Os
conservadores chamavam isso, e ainda chamam, de populismo. Essa
oligarquia sempre se bateu contra os avanços, pois seus objetivos
sempre foram defender grandes proprietários de terras e oprimir
trabalhadores rurais e pequenos proprietários. Na base da porrada e
da bala. Não há na trajetória dele, e de sua família, nenhuma
política que tivesse como foco o social, os trabalhadores, os
camponeses, bem ao contrário, é nitidamente defensor do grande
agronegócio e dos latifundiários, que concentram rendas e não se
preocupam com as condições a que está submetida a população.
Um
dos líderes da bancada ruralista no Congresso, Caiado defende
bastante o agronegócio. Pelas suas atuações, o político parece
mais preocupado com esse seguimento do que com a própria população?
R
– Com certeza. E seria assim um futuro governo seu. Sua trajetória
sempre foi marcada por esses posicionamentos. Fiz minha pesquisa
sobre a violência no Sul do Pará e Norte de Goiás (atualmente
Tocantins) nos embates gerados pela Constituinte da década de1980, e
a figura do Caiado sempre esteve presente na liderança da UDR,
entidade que ele ajudou a criar e que fazia sistematicamente leilões
de gados para arrecadar dinheiro para financiar milícias
paramilitares e com pistoleiros, a fim de atacar aqueles que
defendiam a Reforma Agrária. Padres, parlamentares, lideranças
sindicais, advogados, muitos foram assassinados devido a esse
movimento que espalhou violência e ódio pelo interior do país e
que começou por Goiás. É esse comportamento que ele, seguramente,
manterá como governador, caso venha a ser eleito. Basta verificar
suas ações no Congresso Nacional e se perceberá isso com clareza.
Além do levantamento de sua história de vida a partir do momento em
que se constituiu como liderança dos fazendeiros latifundiários.
Quais
ideologias do candidato e quais efeitos poderiam ocasionar sobre os
goianos, caso eleito governador em 2018?
R
– Ronaldo Caiado explicita claramente um comportamento bruto,
avesso à democracia. Suas atitudes, agressivas, como as Bolsonaro, é
típica de indivíduos autoritários que não se submetem a opiniões
contrárias e a comportamentos diversos de seus valores
conservadores. Seria um enorme retrocesso na política para o Estado
de Goiás, principalmente do ponto de vista das ações modernizantes
que transformaram o Estado. O que nós precisamos é muito mais ao
contrário. Precisamos transformar esse perfil moderno dado ao nosso
Estado na direção da solução de problemas sociais e de redução
da concentração de rendas e de riqueza. Caiado defende o oposto
disso, e, consequentemente, caso eleito implicaria em aceleração
dos conflitos, dos crimes contra a população mais pobre e de uma
situação de instabilidade social que seria inevitável. Espero que
a população de Goiás abra os olhos, conheça bem o perfil dos
candidatos, e opte por quem deseja paz, educação, saúde e emprego
para a maioria dos que vivem aqui.
Algo
a acrescentar?
R
– Acredito que a situação apontada agora pelas pesquisas, que é
de momento, tende a mudar quando começar os debates e for mostrado à
população quem é quem. Acho que ainda está muito cedo pra se
imaginar haver algum candidato imbatível. É claro que quem já está
na mídia há muito tempo leva vantagem agora. Mas quando as regras
eleitorais começarem a serem postas dentro do limite da lei isso vai
mudar. É o que eu espero e torço por isso. Precisamos de mais
democracia e não de menos. De mais política e tolerância. Aposto
que as pessoas se darão conta do que é melhor para elas e
escolherão candidatos que não destilem ódio. Mas não será
surpresa se o resultado for esse que as pesquisas indicam.
Infelizmente.
Romualdo, infelizmente a sociedade brasileira se aquieta quando precisam estudar, e os políticos de plantão aproveitam disso. Votar em Caiado e Bolsonaro é mais do que escolher caciques que vociferam o ódio e a anti-democracia num contexto histórico de suas arquiteturas políticas...é coibir a liberdade de expressão e primar pelo retorno da ditadura militar. Isto sim, ao meu ver, é um enorme retrocesso democrático. Abcs
ResponderExcluirRonaldo caiado sempre foi uma pessoa muito arrogante e autoritario.temos que ter uma assembleia bem representativa pra poder vigiar de perto uma pessoa assim, caso seja eleito
ResponderExcluirReplico uma postagem minha ao compartilhar seu artigo no facebook. Obrigada por nos propiciar textos de qualidade. ..
ResponderExcluir"Na minha percepção, Caiado é a velha política. O atraso. O autoritarismo. A escravidão dos camponeses. A exploração dos pequenos produtores. Então, me angustia a possibilidade de um político atrasado e autoritário poder vencer, no primeiro turno, as eleições de 2018 ao governo de Goiás.
No meu ponto de vista cabe muita reflexão sobre isso. E há alguns dias, em um prazeroso almoço festivo, conversando sobre as eleições deste ano com meus filhos, ficou no ar, isto é sem resposta completamente satisfatória, a questão: Como pode um político como o Caiado estar à frente nas pesquisas, o que o povo está vendo nele?
Para contribuir com essa reflexão compartilho o artigo "Caiado - A face cínica do autoritarismo" do professor Dr. Romualdo Pessoa.
Uma explicação fica explícita no artigo: O domínio dos canais de comunicação pelo poderio econômico. Outros tantos pontos carecem de estudos da história, da geopolítica e de outras ciências. Por hora acredito que o estudioso professor já apresenta pontos suficientes para votarmos contra Caiado #EleNão. #ElesNão"
Obrigada professor!
Obrigado minha amiga Isalice. Precisamos travar o velho debate ideológico, como fazíamos na década de 1980, no momento de radicalização da Constituinte quando defendíamos a Reforma Agrária e a UDR se organizava para formar milícia para combater os trabalhadore rurais. Esse que se apresenta maquiado hoje concorrendo ao governo do Estado liderou essa entidade defensora dos latifundiários. #EleNão. @ElesNão!"
ExcluirUma pena que essa situação tenha chegado a esse nível.
ResponderExcluirVejo que isso também é uma consequência dos erros cometidos pelos últimos governos que tiveram 4 mandatos para resolver a reforma agrária e pouco fizeram. Se preocuparam em encher seus bolsos de dinheiro e se afastaram do povo e principalmente dos mais humildes que deveria ser prioridade.
Perdemos uma grande oportunidade de mudar esse país e avançar nas conquistas sociais.