ENTREVISTA
DO PROFESSOR ROMUALDO PESSOA AO JORNAL DO PROFESSOR – ADUFG (JUNHO 2017)(*)
1)
O que te move a concorrer ao cargo de reitor?
R – A universidade se
acomodou a partir de uma euforia com uma quantidade grande de recursos
aplicados pelo governo federal no processo de expansão com o Reuni. O ambiente
acadêmico retraiu-se, consolidando suas unidades e laboratórios, mas faltou
reforçar a essência da universidade, que se perde quando se fragmenta. Esse
olhar crítico que tenho expressado em artigos publicados em meu blog (www.gramáticadomundo.blogspot.com.br)
há pelo menos dois anos, me motivou e despertou uma marca que carrego comigo há
décadas de lutas na universidade. O desejo de agir quando me incomodo com uma
situação que não me agrada. Penso que por todos esses anos, mesmo com muitos
recursos e com governos progressistas, até o segundo governo da presidenta
Dilma, houve aqui na UFG um processo de desmonte da universidade, com o
enfraquecimento de sua estrutura administrativa, com a substituição de técnicos
efetivos por terceirizados. Ao mesmo tempo desprezou-se a importância da
graduação, e dentro desta a necessidade de fortalecer as licenciaturas. Por
esse tempo houve também um ensimesmamento na universidade, e, portanto uma
retração na relação com a sociedade. Deixamos de ser protagonistas nas
discussões de muitas questões que nos dizia respeito e que envolveu a sociedade
intensamente. Tudo isso, e a certeza de que a experiência de anos de luta
estudantil, sindical e acadêmica, poderia me possibilitar apresentar novos
rumos, me fez deflagrar esse processo e ser o primeiro a colocar o meu nome em
discussão para ocupar a reitoria da UFG a partir de 2018.
2)
Nesse momento de escassez de recursos, com a conturbação política, quais
serão os principais desafios de uma gestão de reitoria?
R – Em primeiro lugar ter muita
disposição de lutar pela recomposição dos recursos orçamentários, bem como para
garantir que aquilo que a Universidade consegue arrecadar por vários serviços
prestados sejam totalmente investidos em nossa instituição. O desafio principal
é não se acomodar, procurar unificar os representantes políticos goianos também
nessa luta, provocar na Andifes um sentimento maior de combatividade na defesa
das instituições federais e, principalmente, unificar a comunidade
universitária nessa luta. Precisamos recompor e fortalecer os setores que
compõem o ambiente acadêmico para que tenhamos uma universidade forte e com
poder de reivindicação e destaque perante o MEC e o MPOG, mas também criar um
fórum de defesa de nossa universidade, aglutinando diversos setores da
sociedade organizada, governos estadual e municipal. Já fizemos isso em outros
momentos de dificuldades e conseguimos passar por períodos igualmente
turbulentos com determinação e não se curvando às pressões. Juntar essa luta
também com a defesa de nossa autonomia. Agora, acreditamos que para termos
sucesso precisamos fazer diferente de tudo que tem sido feito nas últimas
gestões, na forma de lidar com as dificuldades. Ser mais proativo, ter coragem
de tomar decisões e procurar se antecipar a situações de crises que possam nos
desagregar.
3)
Qual a avaliação o professor faz da gestão do professor Orlando?
R – Eu prefiro não olhar
somente a gestão do professor Orlando. Para mim sua gestão representa uma
continuidade do que foi feito a partir das duas administrações anteriores do
professor Edward. Ele foi Pró-Reitor de Administração e Finanças nas duas
gestões, portanto não tem como separar sua administração das anteriores. Há
diferenças de estilo, mas creio que houve continuidade à maneira como a UFG tem
sido administrada nas últimas gestões. Claro que as dificuldades financeiras
impactaram numa situação de instabilidade política e de cortes de recursos, mas
isso se agravou também por uma opção feita de investir em contratação de
técnicos terceirizados. Com isso reduzindo as verbas para custeio e não
aumentando o número de técnicos-administrativos, que complica com a diminuição
dos terceirizados. Além de ter acentuado uma gestão muito burocrática e
excessivamente submissa aos controles que reduzem a autonomia da universidade.
E também repetiu os erros cometidos anteriormente em não reforçar a graduação.
Sintomaticamente temos nesse processo eleitoral tanto um ex-reitor participando
que de forma inédita em nossa história deseja ser reitor pela terceira vez,
como também um ex pró-reitor de graduação, que estava no cargo até o final do
mês de abril. E essa foi uma área pouco valorizada nas três últimas gestões,
embora haja números positivos, e que devem ser melhorados, em relação à
inclusão por meio de ações e programas de cotas. Mas faltou focar na qualidade,
na revisão curricular para adequar os programas dos cursos às mudanças que
ocorreram desde o ENEM até ao SISU. Enfim, faltou nos últimos anos fazer da
universidade uma instituição plena, com força e qualidade nos três setores que
compõem o tripé acadêmico: ensino, pesquisa e extensão. Tornamos-nos uma
instituição fragmentada, clientelista e
fragilizada em sua estrutura admistrativa. Vamos corrigir isso, diminuindo a
burocracia, buscando estreitar as relações entre as áreas e conter a alta
evasão que afeta os cursos de graduação.
4)
O que o professor considera como sendo o ponto mais forte da sua candidatura?
R – A nossa vontade de fazer
diferente, promovendo uma mudança completa no quadro de gestores de nossa
universidade, a fim de conter certos vícios que se fortalecem com a continuidade
de um mesmo grupo no comando, a disposição de refazer o sentido de ser
universidade e a proposta de realizar planejamento estratégico, algo que não
tem sido feito. Também retomar o protagonismo da UFG na relação com a sociedade
e criar um ambiente de debate e discussão sobre problemas que são cruciais
dentro e fora da universidade. Em nossas discussões com a comunidade
universitária tem havido uma concordância com a necessidade de a UFG mudar de
rumo. Podemos fazer mais e melhor, tendo como foco a qualidade e o respeito às
diferenças.
5)
Para a consulta à comunidade, a sua força de votos maior está entre estudantes,
técnicos ou professores?
R – Há uma tradição, não só na UFG,
mas nas eleições em outras universidades, que é a fragmentação dos votos entre
os professores quando há uma grande quantidade de candidatos em disputa. Creio
que isso acontecerá nessas eleições. Os estudantes, só se tornam decisivos
quando vota um número elevado, em decorrência do peso proporcional, pelo fato
de a quantidade ser bem maior. A não ser que haja uma votação muito expressiva,
e é o que desejamos e estimularemos. Já os técnicos administrativos podem ser
decisivos, já que costumam votar mais coesos. Nesse ponto, pelas propostas que
tenho apresentado e que representam demandas antigas da categoria, como a
flexibilização da jornada com turnos contínuos e 30 horas semanais, e a atenção
à qualificação e à saúde, tem me permitido transitar com facilidade nesse
segmento. Ao mesmo tempo, existem dois outros candidatos que representam o
modelo de gestão que até agora não valorizaram muito a categoria e não fizeram
ampliar o quadro de técnicos efetivos. Optaram por criar comissões que sempre
protelaram decisões que já poderiam ter sido tomadas. Por minha história de
luta desde os tempos do movimento estudantil e também por ter sido duas vezes
presidente do nosso sindicato (ADUFG) e da SBPC, creio que conseguirei obter
votos expressivos em todas as categorias. São trinta e cinco anos lutando em
defesa da UFG, creio que haverá um reconhecimento a isso e o momento de crise
reforça a necessidade de termos um reitor com perfil de luta, coragem,
determinação e que consiga angariar respeito nos três segmentos que compõem a
comunidade acadêmica.
*Essa é a íntegra da entrevista que concedi ao Jornal do Professor. Por razões de espaço a entrevista foi editada. Publico aqui em toda a sua integridade, as razões pelas quais nos colocamos como candidato a reitor da UFG.
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