segunda-feira, 7 de novembro de 2016

MAIS UMA VEZ A GREVE. EXISTIRÃO OUTRAS ALTERNATIVAS? A UNIVERSIDADE E A LUTA CONTRA A PEC 241/55

Estamos vivendo momentos tensos, de definições políticas e de decisões tomadas por um governo que assumiu o poder por meio de manobras constitucionais. Essa condição faz com que as medidas implementadas não tenham sido submetidas ao crivo da aprovação popular. Nessas circunstâncias, as reformas propostas não objetivam agradar a maioria da população brasileira, mas dar respostas àqueles setores que controlam a riqueza do país, os meios de produção e, por conseguinte, influenciam nas decisões tomadas por parlamentares que foram eleitos sendo financiados por esses segmentos.
As propostas apresentadas pelo governo de Michel Temer, visam corrigir os problemas da crise brasileira com medidas que afetam setores que são cruciais para o desenvolvimento nacional e social do nosso país. Em especial, a saúde, educação, investimentos em programas sociais, questões ambientais e da defesa de nosso território. A partir de um projeto de emenda constitucional, transitada na Câmara dos Deputados sob o número 241, e agora no Senado identificada como PEC-55, esse governo deixa bem claro para que veio, e as razões de impor o impedimento a uma presidenta legitimamente eleita.
O controle dos gastos, feito de forma indistinta, como se estivesse gerenciando uma empresa, demonstra o grau de insensibilidade com setores que são estrategicamente importantes para o nosso crescimento enquanto Nação. Por outro lado, demonstra o quanto está sendo feito para agradar o setor empresarial, principalmente por abrir o Estado, mais do que já está ocorrendo, para a atuação de empresas privadas, terceirizando uma quantidade cada vez maior de atividades aos interesses da ganância privatista.
Esses pressupostos, acrescentando-se o fato de atingir de forma crucial a educação, tem gerado uma onda de revoltas que fez os segmentos que atuam diretamente nessa área, ou que são beneficiários dela, se mobilizarem para combater tais medidas. Como sempre, a juventude tem demonstrado não ter perdido seu espírito de rebeldia, e radicalizaram a luta, entendendo que há uma força coesa no parlamento, dominado pelos conservadores, que garantem o apoio à essas reformas, como um rolo compressor, em troca de benesses, cargos e apoio às suas reeleições. As ocupações de escolas, institutos tecnológicos e faculdades, tomaram uma proporção que não era esperada pelo governo, e tende a se ampliar, muito embora o cerco efetuado pelo ministério público e justiça federal estejam atuando para por fim a essas ocupações.
Por outro lado, os servidores técnico-administrativos já deflagraram em âmbito nacional, um movimento grevista, paralisando por tempo indeterminado suas atividades, e somando-se às lutas de outros setores da sociedade, também pressionam para conter a sangria que está sendo feita nos direitos trabalhistas e sociais.
São movimentos que guardam suas especificidades e lidam com as formas de lutas que lhes são mais adequadas e possíveis de serem levadas adiante de acordo com suas próprias características. Ressalto como importante a intensidade da luta estudantil, pelo vigor que ela possui e pelo receio que todos os governos sentem de ter que encarar grandes mobilizações da juventude nas ruas. Essa juventude carrega a esperança de poder ampliar as reações a medidas que são nocivas à maioria da população brasileira.
Como resposta ao movimento grevista dos técnicos, e os que também já foram aprovados por professores em diversas universidades e institutos federais, o Supremo Tribunal Federal cumpre o papel de guardião das reformas conservadoras em curso. Decidir pelo direito que os governos tem, de imediato solicitar o corte dos pontos dos grevistas, sinaliza, na prática, pelo impedimento dos servidores públicos poderem decidir livremente um direito que historicamente sempre foi crucial nas lutas dos trabalhadores, do Brasil e do mundo, de deflagrar greves quando julgarem que suas reivindicações não encontram canais de negociações, e, de forma impositiva estabelecem-se mudanças que lhes serão prejudiciais.
O direito de greve dos servidores públicos é legitimado pela Constituição brasileira, e somente não foi regulamentado em alguns aspectos porque foge do interesse de uma maioria conservadora, que protela discussões que são do interesse dos trabalhadores. No entanto, concordemos ou não, isso impõe aos professores a necessidade de a deflagração de uma greve ter que contar com o apoio da ampla maioria dos professores, caso contrário será um movimento de apenas uma parcela, somente sendo possível parar em sua totalidade por meio de formas coercitivas e impedimento de acesso á universidade. O que imporia uma realidade de confronto entre nós mesmos.
Mas, em que pese esses questionamentos, e a tentativa de cercear o direito de greve, é preciso analisar se entre os professores universitários, esse instrumento se faz necessário neste momento, e até que ponto ele não dificulta ainda mais as possibilidades de mantermos a universidade em movimento, em condições de debater e discutir as questões postas que irão nos afetar diretamente pelos próximos anos. Aliás, pelos longos vinte anos que estabelece a famigerada PEC.
Como eu disse anteriormente, a greve é um instrumento de pressão que tem por intuito forçar a abertura de diálogo e de negociação, a fim de termos nossas demandas atendidas. Mas, contra quem estamos lutando neste momento? Não se trata de reivindicações pontuais, salariais ou diretamente relacionadas à nossa categoria, especificamente. Essas medidas afetam um leque de setores muito amplos e estão sedimentadas pela formação de uma ampla maioria constituída a partir do golpe parlamentar-judiciário que destituiu a presidenta Dilma. Portanto, não temos interlocutores a nos atender em um movimento grevista, que foge das características tradicionais, quais sejam, a luta contra o arrocho salarial e em defesa de melhorias em nossas carreiras, a partir de pautas de reivindicações construídas com esse objetivo. Assim, a greve deixa de ter um foco específico, e passa a acontecer em cima de reivindicações gerais, que extrapolam a nossa própria categoria e até mesmo os limites da comunidade universitária e da educação. As reformas em curso são bem mais abrangentes, e além de nos atingir afetam milhões de brasileiros por diversos setores em que atuam ou que por algum programa é beneficiado.
Assim, problematizo a questão: qual o objetivo da greve? O que seria possível fazer para combater as reformas do governo Temer, neste momento inseridas na PEC-55, num movimento grevista, que não seja possível de fazer com a universidade aberta e apta a discutir essas e outras questões que se tornarão cruciais para nós nos próximos anos? Valerá a pena diante dessas circunstâncias parar a universidade, e vermos a maioria de nossos colegas distantes de um ambiente que deveria ser instigado a debater com mais frequência esses e outros problemas que nos cercam? Não somente a nós, comunidade universitária, mas a toda a sociedade?
Técnicos-administrativos da UFG
decidem pela greve
Não estou querendo questionar o movimento dos técnicos-administrativos, que possuem outras demandas e tem características distintas dos professores e, principalmente, porque eles não tiveram cumpridos acordos firmados em paralisações recentes. A greve dos técnicos afeta sobremaneira a universidade, as atividades que eles desenvolvem são cruciais para um bom desempenho da instituição, mas efetivamente não leva a um esvaziamento do nosso espaço, e nos força até mesmo a ter a compreensão de suas importâncias em nosso cotidiano.
Mas uma greve de professores, como tem sido nos últimos movimentos grevistas, esvazia a universidade, não atrai os professores para as atividades desenvolvidas e não causam repercussão na sociedade. Muito menos irá sensibilizar um governo que tem no questionamento ao ensino público um de seus objetivos já definidos. E, afinal, até onde o movimento iria? Seria uma greve por tempo indeterminado ou tendo em vista a votação da PEC no Senado? Se porventura houver aprovação dessa proposta (algo previsível, pela ampla maioria que o governo tem no Congresso) como o movimento encararia essa questão? Sabendo-se que mais adiante virão outras medidas que irão nos afetar mais uma vez, e sempre. Deflagraremos uma greve a cada proposta de reforma apresentada pelo governo? Isso significa a mais pura banalização da greve, sem objetivo específico, por meio de combates a medidas amplas e que nos levará ao enfraquecimento do movimento, a uma divisão entre os professores e a uma situação de instabilidade em nossa instituição, o que provocará mais ainda o seu enfraquecimento.
Erguer a bandeira da greve neste momento não significa, necessariamente, a mais revolucionária das posições a ser adotada. Mesmo que consideremos que setores conservadores, existentes na universidade, posicionam-se sempre contra essas paralisações. Mas há de se considerar também, que muitos que não aceitam sob hipótese alguma, a PEC-55, também não consideram a greve o instrumento adequado a este momento. Eu me incluo nesse segmento.
Na década de 1980 foi criado o Fórum
em defesa da UFG. Na foto o reitor
Joel Ulhoa dirige assembléia
Para além dos possíveis maniqueísmos que se queiram criar, não é possível encarar essa situação como numa escolha entre o oito e o oitenta. É possível construir mecanismos internos à nossa instituição para levarmos de forma aprofundada a discussão sobre as consequências que essas medidas trarão. Mas também construirmos outra agenda, não só interna, mas que possa levar para a sociedade essa discussão, por meio de associações, entidades representativas dos diversos segmentos públicos ou privados, e a necessidade de criarmos um movimento a partir da universidade, como já o fizemos em outros momentos de crises, quando criamos os Fóruns em Defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade.
Os movimentos em curso, cada qual com suas características e formas de lutas, podem ser incorporados em uma iniciativa que envolva os sindicatos e entidades, para construir uma agenda permanente de debates, discussões e formas de organização para barrarmos a sequencia de medidas restritivas á educação superior pública que virão pela frente. Também não pode se esconder dessa luta e responsabilidade, a reitoria e seus órgãos complementares. É preciso que haja coragem de se bater de frente com atitudes que ferem a autonomia da universidade e que visam cercear nossa liberdade de ação, de movimento e de discussão. O dirigente da universidade, assim como os das demais entidades que representam as nossas categorias, devem se postar de forma corajosa à frente dessas atividades e demonstrar cabalmente sua postura em defesa da nossa instituição, das nossas condições de trabalhos, na garantia de recursos suficientes para que o ensino e a pesquisa prossigam com qualidade, sem redução dos quantitativos financeiros que são necessários a esse bom desempenho.
Por essa razão, imagino que a deflagração de uma greve manterá somente um pequeno número de pessoas envolvidas, como tradicionalmente acontece, enquanto as demais se limitam a definir a data em que irá retornar a assembleia para votar pelo fim da greve. Isso esvazia nossa universidade e não cumpre o objetivo de garantir que haja uma mudança de comportamento internamente, que nos leve a um interesse maior para as questões que vão além do nosso laboratório de pesquisa, de nossa sala de aula, ou da burocracia que nos amarra.
Neste momento, a comunidade universitária deve ser chamada à responsabilidade de defender o que foi conquistado com muito esforço nos últimos anos. E, se porventura, existir (e existe) quem queira defender as medidas restritivas do governo federal, que esses colegas possam se manifestar e vir abertamente para o debate, se posicionar com seus argumentos. Duvido que tenham condições de negar que tais medidas irão afetar perversamente nossas instituições, afinal, se as estatísticas são manipuláveis, os números não mentem. E as ideias que estão por trás das medidas construídas na elaboração dessa PEC, nitidamente demonstram um caráter de perversão sobre a necessidade de o Estado brasileiro assegurar o ensino público, gratuito e de qualidade.
Professores da UFG aprovam paralisação
nos dias 11 e 25 de novembro contra a
PEC 241/55 e FORA TEMER!
Ademais, conforme já aprovado em assembleia, devemos paralisar nossas atividades nos dias 11 e 25 de novembro, aderindo a uma greve geral nacional nessas datas, como forma de repúdio às medidas impostas pela PEC 55. Isso já é um passo importante para demonstrarmos a nossa indignação e de que não estamos parados diante desse quadro político.
Isso não contrapõe às lutas travadas pelos estudantes, que seguem suas dinâmicas próprias. Mesmo com as ocupações, ou com outras formas de manifestações, o movimento estudantil tem outro perfil. E, quanto mais formas alternativas de se contrapor a medidas indesejáveis, por parte dos estudantes, mas isso servirá para atrair a atenção para as suas demandas. Além do mais, a vida em si, da universidade, depende dos estudantes. São eles que tornam a universidade diversa, inquieta e provocativa. Se os estudantes portam-se passivamente, a universidade perde em essência, acomoda-se e tem como foco somente a formação para o mercado. Por isso, as questões que aqui coloco, não estão relacionadas aos movimentos dos estudantes, e, entendo que porquanto durar suas ocupações, muito embora isso traga como consequência uma reação jurídico-policial, devemos vê-las com respeito, sem confrontá-los, muito ao contrário, contribuindo com o que for necessário para que, mais do que ocupações, isso signifique espaços de diálogos, de defesa de uma universidade crítica e de formação de jovens que olhem para frente enxergando muito mais do que tão somente sua formação profissional, mas também como cidadãos engajados e dispostos a lutarem por transformações sociais mais justas e menos desiguais. Com isso ganha não somente a universidade, mas sociedade como um todo.
Assembléia dos estudantes (FH) decidem
por ocupação. Mas as ocupações não
acontecem em todas unidades
Mas, qualquer que seja a decisão a ser tomada, nenhuma atitude pode implicar em causar prejuízo aos estudantes, notadamente àqueles que estão à frente do movimento de ocupações. Não cabe aos professores estabelecerem uma situação de animosidade nessas situações. Da mesma forma que não devemos adotar uma atitude policialesca de identificar de forma pejorativa qualquer um que apresente opinião contrária, a fim de não criarmos um clima de beligerância entre nós, comunidade universitária. Afinal, como dizia o Cazuza em uma de suas músicas, e que serve nessas circunstâncias que envolvem nossa universidade, “meus inimigos estão no Poder”.

Se a assembleia que ocorrerá no próximo dia 09/11, no entanto, aprovar greve, devemos fazer todos os esforços possíveis para unificar a nossa categoria e desenvolver atividades em conjunto com os demais setores. É essencial que as decisões da maioria sejam respeitadas, e por isso se faz necessário uma grande presença, sempre, nessas assembleias. Devemos criar um ambiente de debate e mobilização permanente, pois o que virá para além dessa PEC tende a prejudicar sobremaneira as universidades e institutos federais de ensino e tecnológicos. Saber fazer isso, de forma a ampliar pelo convencimento as nossas forças, será essencial para garantirmos os recursos que são necessários ao bom funcionamento da universidade, a melhoria de nossos salários e a defesa da autonomia universitária.
CALENDÁRIO:
DIA 07/11 - 14 horas - Assembléia Universitária no Centro de Eventos da UFG
DIA 09/11 - 14 horas - Assembléia Geral dos Professores para decidir sobre a greve geral - Centro de Eventos da UFG
DIA 11/11 - Greve geral nacional. Ato na praça dos Bandeirantes às 9 horas
DIA 25/11 - Greve geral nacional. 

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