sexta-feira, 11 de setembro de 2015

QUAL A CREDIBILIDADE DA AGÊNCIA DE "RATING", STANDARD & POOR'S?

STANDARD & POOR'S PAGARÁ MULTA DE US$ 1,37 BILHÕES POR SEU PAPEL EM CRISE
Esta notícia não é de hoje. É de fevereiro deste ano.
Mas os mesmos editores do G1 não relembrarão disso que eles mesmos publicaram. E diz respeito a processos contra a Agência Standard & Poor's, a mesma que acaba de rebaixar a nota do Brasil. Ela foi condenada nos EUA por esconder e omitir informações sobre grandes bancos que estavam praticamente quebrados. Para mais informações sugiro que assistam o documentário, premiado com o oscar em 2010, INSIDE JOB. Disponível no Vímeo.
Entenda qual é o papel dessas agências e suas relações com os grandes bancos e corporações multinacionais. É fundamental entendermos qual o papel dessas empresas dentro da lógica de funcionamento do sistema capitalista. Evidentemente ele está relacionado aos interesses dos grandes especuladores do sistema financeiro internacional. Não se trata somente de defender tais investidores, mas também de enfraquecer momentaneamente empresas estratégicas importantes, facilitando suas aquisições ou de suas ações. Esses "abutres", se servem de tais avaliações de "riscos", aproveitam situações de crises, ou as acentuam intervindo nas crises, e lucram cada vez mais. Os efeitos colaterais não são pequenos, e abalam cada vez mais toda a estrutura do capitalismo e não somente do país "rebaixado", pois geram instabilidades e inseguranças na população. Contudo, o que importa para esses especuladores é o lucro imediato e o controle de poder em estados-nações importantes, que venham a facilitar seus enriquecimentos. Mesmo que à custa do crescimento da concentração de rendas e do empobrecimento da grande maioria das pessoas.

Não se trata de negar as crises, elas são da própria essência do sistema capitalista, mas de compreender como alguns poucos setores se aproveitam para lucrar ainda mais, e como eles potencializam as crises, de forma a criar um pessimismo crescente na população ao mesmo tempo em que, sub-repticiamente, esses "abutres" agem para obter altos dividendos com o desespero que se espalha, principalmente entre as camadas médias e pequenos proprietários.
Leia também este artigo:

Vejam esse artigo de Paul Krugman, publicado em 2011, no portal UOL:

Standard & Poor's não tem credibilidade para avaliar dívida dos EUA

Andrea Comas/Reuters
Para entender todo o furor em torno da decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de rebaixar os títulos da dívida do governo dos Estados Unidos, é preciso que se leve em consideração duas ideias aparentemente (mas não realmente) contraditórias. A primeira é que os Estados Unidos não são de fato mais aquele país estável e confiável que era no passado. A segunda é que a própria Standard & Poor’s tem ainda menos credibilidade; esta agência é a pior instituição à qual alguém deveria recorrer para receber opiniões sobre as perspectivas do nosso país.
Comecemos pela falta de credibilidade da Standard & Poor’s. Se existe uma única expressão que melhor descreve a decisão da agência de classificação de risco de rebaixar os Estados Unidos, esta palavra é chutzpah (cara de pau) – tradicionalmente definida pelo exemplo do jovem que mata os pais e depois suplica por clemência pelo fato de ser órfão.
O grande déficit orçamentário dos Estados Unidos é, afinal de contas, basicamente o resultado da queda econômica que se seguiu à crise financeira de 2008. E, a Standard & Poor’s, juntamente com as outras agências de classificação de riscos, desempenhou um papel importante no que se refere a provocar aquela crise, ao conceder classificações AAA a papeis lastreados em hipotecas que acabaram se transformando em lixo tóxico.
E a má avaliação não parou aí. É notório o fato de a Standard & Poor’s ter dado ao Lehman Brothers, cujo colapso provocou um pânico global, uma classificação A no mês em que aquele banco faliu. E como foi que a agência de classificação de risco reagiu depois que a instituição financeira de nota A foi à falência? Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.
Então, são essas as pessoas que agora decretam que os Estados Unidos da América não são mais dignos de crédito?
Mas esperem, essa história fica ainda melhor. Antes de rebaixar os papeis da dívida dos Estados Unidos, a Standard & Poor’s enviou um esboço preliminar do seu novo relatório ao Departamento do Tesouro. Os funcionários do departamento identificaram rapidamente um erro de US$ 2 trilhões nos cálculos da Standard & Poor’s. E o erro era daquele tipo que nenhum especialista em orçamento poderia cometer. Após discussões, a Standard & Poor’s admitiu que estava errada – e rebaixou os Estados Unidos assim mesmo, após remover uma parte da sua análise econômica do relatório.
Conforme eu explicarei daqui a pouco, não se deveria dar muito crédito, de qualquer maneira, a tais estimativas de orçamento. Mas o episódio não gera exatamente confiança na avaliação da Standard & Poor’s.
De forma mais geral, as agências de classificação de risco jamais nos proporcionaram qualquer motivo para que nós levássemos a sério as suas avaliações sobre solvência nacional. É verdade que nações que declararam moratória geralmente foram rebaixadas antes que isso acontecesse. Mas em tais casos as agências de classificação de risco estavam simplesmente seguindo os mercados, que já haviam repudiado esses devedores problemáticos.
E, nos casos raros em que as agências de classificação de risco rebaixaram países que, como os Estados Unidos neste momento, ainda gozavam da confiança dos investidores, essa decisão por parte delas se revelou consistentemente equivocada. Vejamos, particularmente, o caso do Japão, que foi rebaixado pela Standard & Poor’s em 2002. Bem, nove anos depois o Japão ainda consegue pegar dinheiro emprestado livremente e a juros módicos. De fato, na última sexta-feira, a taxa de juros sobre os títulos de 10 anos do Japão era de apenas 1%.
Portanto, não existe motivo para levar a sério o rebaixamento dos Estados Unidos ocorrido na sexta-feira passada. As últimas pessoas em cuja avaliação deveríamos confiar são os analistas da Standard & Poor’s.
No entanto, os Estados Unidos têm de fato grandes problemas.
Esses problemas têm muito pouco a ver com a aritmética orçamentária de curto prazo ou mesmo com a de médio prazo. O governo dos Estados Unidos não está tendo problemas para pegar dinheiro emprestado para cobrir a sua dívida atual. É verdade que nós estamos acumulando dívida, sobre a qual teremos que pagar juros. Mas se fizermos de fato as contas, em vez de ficarmos repetindo os números enormes com voz sinistra, descobriremos que até mesmo déficits muito elevados no decorrer dos próximos anos terão um impacto pequeno sobre a sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos.
Não, o que faz com se tenha a impressão de que os Estados Unidos não são confiáveis não é a matemática orçamentária, mas sim a política. E, por favor, não vamos repetir as declarações usuais de que ambos os lados são culpados. Os nossos problemas são quase que inteiramente provocados por um dos lados – eles são causados, especificamente, pelo crescimento de um extremismo de direita que está preparado para criar crises repetidas em vez de ceder um centímetro sequer em relação às suas exigências.
O fato é que, no que se refere à economia básica, os problemas fiscais de longo prazo dos Estados Unidos não devem ser tão difíceis assim de se resolver. É verdade que uma população em processo de envelhecimento e o aumento dos custos dos serviços de saúde provocarão um aumento mais rápido - sob as atuais políticas - dos gastos do que das receitas tributárias. Mas os Estados Unidos têm custos com saúde bem mais elevados do que os de qualquer outra nação desenvolvida, e impostos muito baixos segundo os padrões internacionais. Se nós pudéssemos nos aproximar, ainda que parcialmente, das normas internacionais nessas duas frentes, os nossos problemas orçamentários seriam resolvidos.
Então, por que é que não podemos fazer isso? Porque temos neste país um movimento político poderoso que gritou “comitês da morte” ao se deparar com tentativas modestas de utilização mais efetiva das verbas do Medicare, e que preferiu que nós corrêssemos o risco de uma catástrofe financeira do que concordar com a cobrança de um único centavo em impostos adicionais.
O verdadeiro problema enfrentado pelos Estados Unidos, mesmo em termos puramente fiscais, não é determinar se nós cortaremos um trilhão aqui ou um trilhão ali do nosso déficit. O problema é saber se os extremistas que estão atualmente bloqueando qualquer tipo de política responsável podem ser derrotados e marginalizados.
http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2011/08/09/standard--poors-nao-tem-credibilidade-para-avaliar-divida-dos-eua.htm
Tradutor: UOL

PAUL KRUGMAN

Professor de Princeton e colunista do "New York Times" desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de Economia em 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário