No final do mês
de junho, ao participar da primeira assembleia convocada pela Adufg para
discutir as propostas apresentadas pelo governo, em relação ao nosso reajuste
salarial, e diante de uma política já em curso, de cortes de verbas, me
posicionei sem vacilação pela necessidade de construirmos uma forma de pressão
em um momento importante, estratégico, de negociações com o Ministério de
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Sem nenhuma outra perspectiva de mobilização,
que não fosse a greve, imaginava ser esse o melhor mecanismo de pressão, que
pudesse fazer com que os nossos negociadores tivessem um poder maior na mesa de
negociação. Embora desgastado, este governo, nem qualquer outro, se sente
confortável diante de um movimento paredista de professores universitários.
Naquele momento
indicamos a greve para o começo de julho, garantindo a finalização do semestre
e evitando maiores prejuízos, principalmente para os estudantes. E assim
aconteceu. Numa assembleia bastante representativa, uma das maiores da história
da UFG, conseguimos aprovar por ampla maioria a permanência na greve, somando o
nosso movimento ao de dezenas de outras universidades ou campis.
Três semanas
depois que análise é possível fazer desse processo? Certamente não tenho a
pretensão de obter unanimidade na opinião daqueles que lerem este artigo. Até
porque serei bastante crítico com determinados comportamentos que impregna em
nossas relações. Uma espécie de esquerdismo, doença infantil que não perdoa nem
professores universitários. Parafraseando Lênin.
Para mim,
objetivamente, nosso movimento teria como foco duas reivindicações básicas: um
percentual adequado de reajuste salarial e a garantia de fim do
contingenciamento dos recursos destinados às universidades. Só isso já seria
suficiente para travarmos uma batalha com o governo federal, diante de uma
situação política extremamente delicada e com um rombo nas contas públicas, que
gerou a necessidade de um ajuste fiscal fortemente recessivo. E, diante de algo
bastante grave, compreensível para quem está acompanhando a situação do mundo
pós-2008: uma grave crise econômica, sistêmica, que se espalha pelo mundo, e
agora atinge a China, até então praticamente imune aos solavancos do sistema
capitalista. Obviamente, este não é um quadro favorável a uma negociação de
reajustes salariais para o serviço público, principalmente quando a receita
para fazer o bolo vem acompanhada de fortes doses neoliberais, impondo rígidos
cortes às despesas públicas.
O meu entendimento,
como estudioso da realidade geopolítica mundial, e estando acompanhando ano a
ano o desenrolar dessa crise, era que a necessidade de forçarmos um acordo
melhor para o nosso reajuste, se deve exatamente à compreensão de que os anos
que virão serão bem piores do que este, pelo menos em termos de flexibilidade
do governo em nos conceder reajustes salariais. Ademais, é inadmissível
aceitarmos de braços cruzados cortes tão profundos no orçamento de nossa
universidade. Isso afetaria, e afetará, caso se concretize, nossa capacidade de
desenvolvermos o melhor de nosso trabalho, sob todos os aspectos.
Não endosso o
discurso de que estamos no caos, naturalmente, pois não estamos, e os últimos
dez anos foram de melhorias nas estruturas das universidades e em nossas
condições de trabalho. Até mesmo, embora alguns discordem, na melhoria em
nossas carreiras. Contudo, os cortes feitos pelo governo federal, segundo
exposição apresentada pelo reitor Orlando Amaral na Assembleia Universitária,
nos deixariam com um montante de recursos semelhante ao que a universidade
recebia antes da expansão levada a cabo pelo Reuni. Obviamente, nessas
condições, senão um caos pelo menos uma situação de dificuldades fará com que
nossas condições de trabalho retrocedam, trazendo péssimas lembranças de
situações dos anos FHC, de absoluto abandono de nossas universidades. Isso não
podemos aceitar, mesmo que o governo diga que é algo passageiro, decorrente dos
desajustes fiscais.
Mas a crise não
é passageira, ela é sistêmica, duradoura e global. A Educação, nessas e em
quaisquer circunstâncias, assim como o investimento em ciência e tecnologia,
não podem ser submetidos a cortes de recursos. Isso significará, certamente, conter
os pequenos avanços que tivemos e perdermos a oportunidade de consolidar nossa
condição de país emergente e apto a atingir o clube das cinco maiores economias
do mundo. Mesmo considerando-se uma realidade de crise grave que afeta a
economia mundial. Em pleno auge da crise, em 2009, o presidente dos EUA, Barack
Obama, aumentou de 2,66 para 3% do PIB os investimentos nas áreas de Ciências e
Tecnologia. Cortes nessas áreas são fatais, e representam um enorme retrocesso
em qualquer processo de desenvolvimento.
O corte dos
recursos, mais o pífio percentual de reajuste já seriam mais do que suficiente
para não ficarmos parados. Isso em termos de decisão a tomar, naturalmente,
porque o que fizemos fui justamente parar por completo a UFG. Mas, diante da
realidade, que nos é dura e cruel em termos financeiros, ou seja, das dificuldades
de caixa do governo brasileiro, as perspectivas não são as melhores possíveis.
Tudo indica que a proposta alternativa a ser apresentada ao final na mesa de
negociação não contemplará nossas expectativas e não deverá sequer chegar perto
das perdas que teremos com a inflação deste ano.
Certamente
poderemos repetir uma frase atribuída a diversos autores, desde Rui Barbosa a
Bob Marley: “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter
lutado”. Evidentemente que isso não é um consolo, mas não podemos viver uma
normalidade de aparência, nos fecharmos em uma redoma e nos silenciarmos.
Fingir que não existe uma crise que também nos afeta.
Contudo, há um
outro lado dessa moeda. O fato de eu estar convencido que essas reivindicações
e situações já demandam um esforço enorme para conseguirmos vitórias, diante
dos elementos expostos até aqui, existem outras pessoas, colegas professores,
que imaginam estar vivendo uma crise pré-revolucionária, e que a greve pode vir
a ser um caminho para mudanças estruturais. Em função disso, e por acreditarem
piamente nessa possibilidade, definem uma pauta de reivindicações que seria
capaz de alterar por completo nosso modelo de universidade. Dessa forma,
acrescentam como palavra de ordem a conduzir o movimento grevista, de que a
nossa greve não tem data para acabar.
Isso é um
suprassumo da irracionalidade. Não se elabora planos de mudanças estruturais
para serem aprovadas em uma greve, cujo motivo para sua deflagração foi
explicitamente focado em dois pontos de pautas bem definidos. Até porque,
dentre os professores que aprovaram a entrada na greve, muitos, certamente, não
concordam com as propostas de universidade que são expostas nas discussões de
calorosos debates quase intermináveis, nas reuniões do comando local de greve.
Assembléia dos professores (Agosto), dirigida pela UFG. Uma das maiores já realizadas na universidade. |
Aliás, eis outro
mecanismo anacrônico, persistido nessa greve, muito embora seja uma criação de
uma estrutura sindical que não existe mais para nós da UFG. Desde que nos
transformamos em sindicato, e o registro sindical já foi publicado no Diário
Oficial da União, adquirimos autonomia e deixamos de ser uma seção sindical de
um sindicato nacional. Os comandos de greves eram constituídos em outra
realidade, e as representações locais eram deslocadas para Brasília onde, ali,
o comando nacional era dirigido por diretores do sindicato nacional. Numa
flexibilidade democrática, talvez excessiva, e anacrônica, a mesa da última
assembleia optou por criar um comando, que seria composto por representante de
todas as unidades, mais diretores do sindicato e por essa entidade deveria ser
dirigido.
Mas o
democratismo foi mais além, e optou-se por uma rotatividade na coordenação do
comando, e este passou a se considerar uma entidade, naturalmente bancada pelos
recursos do sindicato. Alheio às questões legais, embora em acordo com o
sindicato, optou-se por criar um fundo de greve (algo que deveria ser feito em
assembleia, e com percentuais pagos também por não filiados), e a partir daí o
que se tem aprovado para investimento com esses recursos, inclusive informativos,
segue uma tendência ideológica que não tem representação e aceitação majoritária
no âmbito da comunidade universitária. Uma estratégia recorrente em todas as
greves, diante do silêncio e passividade da maioria dos professores que possuem
visões diferentes tanto da realidade política brasileira, quanto do modelo de
universidade que se propõe construir a partir dessas mobilizações.
Foge-se, assim,
das duas questões centrais, dos elementos essenciais que motivaram essa
paralisação, conforme abordado na primeira parte deste artigo. E, como a
participação nessas reuniões terminam por restringir-se a um pequeno número de
professores, os mais engajados politicamente, obviamente que os encaminhamentos
dados refletem a posição majoritária, quase sempre exclusivista, que abomina o
pluralismo e acredita que tudo se decide no voto da maioria presente. Mesmo que
essa maioria seja efêmera e não representativa do que pensa o conjunto dos
professores e professoras.
O ápice disso
foi a decisão do comando de rebelar-se contra a decisão da diretoria da
Adufg-Sindicato, que, acertadamente, optou por cancelar uma assembleia marcada
para esta semana, por não haver nenhum elemento novo nas negociações que a
justificasse. Naturalmente, é necessário haver uma nova proposta do governo,
para que a mesma possa passar pelo crivo da categoria. Sem isso, uma assembleia
ficaria presa à polarização entre os que querem continuar a greve, e os que
desejam o retorno às atividades. Mas, há os que se extasiam com esse excesso de
assembleísmo, e por essa razão chamaram uma reunião, em paralelo, certamente
para poder aprovar extensas pautas reivindicatórias, e, assim, fazer valer o
objetivo de manter a greve indefinidamente, para além da discussão em torno de
uma possível nova proposta a ser apresentada, que nem de longe atenderia os
devaneios de quem confunde alhos com bugalhos.
Não entro no
mérito das propostas, porque tenho concordância com boa parte delas. Só não
vejo coerência, nem considero correto instrumentalizar a greve, extrapolando
uma pauta específica, principal motivação da categoria para a definição de qual
momento deve-se encerrar a paralisação. As demais questões podem, e devem, ser
discutidas permanentemente no cotidiano das atividades na Universidade e no
âmbito de um congresso universitário, que deve, contudo, ser convocado e
organizado institucionalmente, envolvendo governo, todas as universidades e as
entidades que representam os três segmentos, professores, estudantes e servidores
técnicos administrativos. Devemos
discutir uma reforma universitária abrangente, que possa modificar o atual modelo
de universidade, ou crie outros modelos, adaptados a uma nova realidade vivida
pelo país, que requer uma excelência em termos de ampliação da pesquisa, de
avanços na ciência, tecnologia e inovação. E, principalmente, corrigir as
distorções que transformaram a graduação na parte manca do tripé: ensino,
pesquisa e extensão.
Assembléia Universitária reuniu mais de 2000 pessoas, entre professores, servidores e estudantes. |
Não estou
propondo, portanto, silenciar as discussões sobre os vários problemas que nos
afetam. Só considero inadequado vinculá-los nesse momento à nossa pauta de
reivindicação, pois isso tornaria a greve infinita, na medida em que não há
nenhum movimento por parte do MEC no sentido de fazer essa discussão. E, do
ponto de vista estratégico, é um erro dar tamanha ampliação a um movimento
deflagrado com uma pauta específica centrada em dois pontos: salários e repasse
de verbas para a universidade.
Por outro lado,
e por fim, é desanimador verificar um movimento que tem por objetivo encerrar a
greve sem que tenhamos respostas concretas sobre a negociação em curso. A ponto
de, na última semana, termos observado manifestação de satisfação de alguns
colegas com o fim da greve na UFRJ. Ora, a uma semana da definição do governo,
sob pressão, sobre qual percentual será definido na mesa de negociação,
encerrar a greve na maior universidade pública brasileira, naturalmente
enfraquece o movimento e faz o governo refluir num eminente recuo de sua
proposta. Foi com grande decepção que tomei conhecimento da decisão da
assembleia dos professores naquela universidade, mas pior ainda foi ver
movimentações entre nós, na UFG, para que o mesmo pudesse acontecer por aqui.
Como disse, e
por isso escrevi esse artigo, não defendo uma greve por tempo ilimitado.
Contudo é absolutamente incorreto, e joga contra um eventual sucesso da
própria categoria, procurar encontrar pretexto para encerrarmos esse movimento
antes da definição quanto ao percentual que sairá da, ou das, mesas de
negociações (com o MEC e o MPOG). É evidente que isso joga a favor do governo,
que terá informações da fragilidade do movimento e não fará nenhum esforço em
alterar sua proposta inicial.
Prof. Orlando Amaral, reitor da UFG expõe as dificuldades com os cortes no orçamento. |
Há, e acredito
que em alguns de forma honesta, uma preocupação sobre as consequências de tal
paralisação sobre o futuro de nossa universidade. Penso, contudo, que mais
prejudicial que essa paralização é o a absurdo corte que deixará a universidade
com o orçamento anterior ao Reuni, em uma instituição que cresceu de forma
espetacular e nos colocou entre as maiores universidades brasileiras, além do
desanimo que nos acometerá com o arrocho salarial que será inevitável nos
próximos anos. É evidente que a greve causa transtornos, e, dependendo do tempo
empurrará o final do semestre para dezembro ou janeiro. Mas, diferente da
maioria, a UFG finalizou o seu primeiro semestre e isso amenizará mais os
prejuízos, já que não precisaremos de nenhum recesso para ajeitar calendário,
nem será preciso suspender o semestre letivo.
Por isso, é
salutar e estrategicamente importante, mantermos o movimento coeso, centrado
nessas duas reivindicações, até que sejam encerradas as negociações, que
provavelmente ocorrerá até 31 de agosto. Feito isso, podemos aí, em Assembleia,
ou/e por meio de consulta eletrônica (já que é um instrumento estatutário de
nosso sindicato), a fim de ampliar a participação dos docentes, dizer se
aceitamos ou não a proposta final, e, em seguida, decidirmos pelo fim, ou não,
do movimento grevista.
Nos dois casos,
em extremos diferentes, podemos usar um usual ditado popular, muito antigo e citado
até hoje: “prudência, e caldo de galinha, não faz mal a ninguém”.
A crítica segundo a qual o CLG é anacrônico parece pressupor que
ResponderExcluir1. Atualmente exista algum tipo de realidade política e sindical que dispensaria o CLG e que
2. dado que o CLG surge em uma determinada realidade histórica, que já não existe, então não seria mais necessário.
Ora, se as relações mudam, então podem mudar também funções e objetivos, se não fosse assim, então não deveria haver nem sequer sindicatos, uma vez que surgiram em determinado momento histórico diferente do atual. (É claro, segundo o raciocínio do autor do texto, o sindicato seria também uma peça anacrônica na nossa engrenagem das políticas das relações de trabalho).
O CLG existe, atualmente, como espaço de discussão das pautas de reinvindicação e de estratégias de mobilização. Talvez o autor do artigo pense que o sindicato é que deveria cumprir essa tarefa. Mas. lamento informar que os sindicatos não cumpre tais tarefas e nem se preocupam em cumpri-lo. Além disso, o que é pior, o nosso sindicato não parece nem mesmo cumprir os objetivos de lutar pelos direitos dos docentes, pois nosso dirigentes sindicais estão mais preocupados em transformar o sindicato em um clube social do que em pensar e agir sob uma perspectiva política e de confronto com o governo, que não mede esforços para por fim aos direitos dos trabalhadores. O apelo ao legalismo, presente tanto no artigo como no discurso da ADUFG, significa implicitamente mais uma perda de reconhecimento e legitimidade do sindicato do que uma tese forte para aceitarmos e confiarmos nas lideranças sindicais que nós temos (aliás, a nossa atual direção sindical, assim como as anteriores, tem sido mais motivo de vergonha alheia do que de respeito). Apelar para o jurídico ou para o legal é o grito desesperado de grupos que não tem condições de dialogar nem tem a violência policial para ajuda-lo a recuperar o controle e o reconhecimento. Para piorar, ainda se menciona algum tipo de recurso à internet, que seria o remédio que curaria a aversão das pessoas ao debate em assembleias. Bem, se fosse possível um debate on line ao vivo com pessoa opinando e expondo posições bem argumentadas e de forma que todos pudessem participar sem qualquer restrição, certamente, que seria melhor. Mas isso não existe e mesmo quando a ADUFG fez uso da internet, o fez de forma alienadora, mais como estratégia para evitar o debate do que para promove-lo.
Para terminar, uma provocação: creio que é preferível uma postura radical, xiita, que ao menos revela inconformismo e resistência, do que uma postura submissa e administrativa que se conforma com migalhas. A primeira pede muito e ganha pouco, a segunda pede pouco e ganha nada.
Pelo seu texto, e pelo apego à atitude xiita, percebe-se porque setores que apoiam a Andes simpatizam com as ações do Estado Islâmico na Síria e aprovaram o Impeachment da presidenta Dilma Roussef na reunião das ADs, repetindo o comportamento da direita raivosa e golpista. É por essas e outras que nos desligamos dessa entidade, e o CNL, que se diz uma parte do CNG para mim é anacrônico. Representa um outro tipo de estrutura sindical ao qual não temos mais ligação. Em minha opinião, se temos sindicato local não precisamos de nenhum comando, que não seja o da diretoria e do Conselho de Representantes.
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