“É salutar e estrategicamente
importante, mantermos o movimento coeso, centrado nessas duas reivindicações (o
reajuste e o repasse de verbas para a universidade), até que sejam encerradas
as negociações, que provavelmente ocorrerá até 31 de agosto. Feito isso,
podemos aí, em Assembleia, ou/e por meio de consulta eletrônica (já que é um
instrumento estatutário de nosso sindicato), a fim de ampliar a participação
dos docentes, dizer se aceitamos ou não a proposta final, e, em seguida,
decidirmos pelo fim, ou não, do movimento grevista”.
Com essas palavras, um chamamento à
racionalidade do movimento em função de posições radicalmente antagônicas,
encerrei meu artigo, publicado no Blog Gramática do Mundo na última semana de
agosto (http://www.gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/08/a-greve-na-ufg-e-o-andar-da-carruagem.html).
Nele eu teci críticas ao comportamento
adotado por aqueles que não desejavam greve, e ansiavam por rapidamente botar
fim ao movimento; e pelos que desejam greve
ad infinitum, sem preocupação com o tempo que o movimento perdurará, o que
alguns chamam de “greve até o fim do mundo”.
Não pretendo, absolutamente, adotar
um comportamento arrogante. Não me coloco como senhor da verdade, até porque
não acredito em verdades absolutas. Mas, me exponho sempre, e assim me
caracterizei desde que criei este blog, apresentando minha opinião para debate,
com analises que considero, naturalmente, as mais corretas dentro de uma
determinada realidade. Procuro sempre ser coerente entre atos e opiniões. Por
isso, e pelo que aconteceu entre a data que publiquei o texto citado e esta
última semana, é que decidi complementar aquele artigo, com a análise que se
segue.
SOBRE O QUE É SER RESPONSÁVEL NUMA
GREVE
Nossa última assembleia se iniciou
com intervenções questionando a responsabilidade na deflagração da greve.
Particularmente me vi criticado, uma vez que defendi nas primeiras assembleias
a necessidade de entrarmos em greve, como resposta aos cortes de verbas nas
universidades, bem como para mostrarmos nossa insatisfação com a proposta de
fatiamento de nosso reajuste por longos quatro anos, em um momento de grave
crise fiscal, política e econômica.
Com a perspectiva de as negociações
se encerrarem no dia 31 de agosto, prazo definido nas mesas de negociações
entre federações, sindicatos e o Ministério de Planejamento, Orçamento e
Gestão, naturalmente a greve se colocava, sim, como um instrumento radical de
pressão, já que nossa categoria é incapaz de se movimentar de outras maneiras.
Vivemos na Universidade as rotinas de nossos espaços restritos, nos
laboratórios aos quais estamos ligados, sobre nossas pesquisas ou dos aspectos
relativos àquilo que diz respeito particularmente a cada um. O questionamento
sobre a realidade que nos cerca e que nos envolve cada vez mais, na medida em
que tudo se conecta, constitui-se tão somente em um bate-papo de corredores ou nos
intervalos de almoço. Não se debate com profundidade os problemas da
Universidade. Há uma aceitação passiva das decisões administrativas e das
políticas adotadas pelo governo. Sequer as conhecemos em profundidade. Deixamos
isso a cargo dos nossos representantes nos conselhos universitários, mas pouco
lemos a respeito do que se decide. Ou seja, nosso futuro na universidade pouco
importa, a não ser quando aperta no bolso.
Essas questões, e a normalidade que
nos cerca e da qual nos habituamos, já me motivaram a escrever alguns artigos
em meu Blog. Entendi que a paralisação, de uma maneira ou de outra deveria
servir não somente para pressionar o governo às vésperas de finalizar as
negociações sobre nosso reajuste, mas também para fazer com que os colegas
despertassem da letargia que tem afetado a universidade há muitos anos.
Acostumamos-nos com as melhorias que inegavelmente aconteceram e perdemos a
capacidade de perceber o abismo adiante de nós.
Claro que há outras motivações por
parte de alguns colegas que veem a greve também como instrumento de desgaste
político do governo, ou como um mecanismo para ampliar influência de grupos políticos
entre os professores, além de conquistar espaços na disputa sindical, principalmente
na tentativa de fazer o nosso sindicato retornar à influência da Andes. Nada,
contudo, que não esteja dentro do jogo das disputas democráticas. Pelo menos
dentro dos limites do permitido. Se é aceitável, somente a força de cada lado,
dentro do processo de eleições sindicais, irá dizer.
Mas esse é exatamente o grande
problema. Tentar descobrir qual é o limite do aceitável de uma greve na
Universidade. Aqui me refiro a essa luta específica, de momento, nossa greve
que já dura quase dois meses. É claro que não se pode, de forma inconsequente,
levar uma paralisação até ao extremo de prejudicar um semestre letivo e, assim,
adiar por seis meses a formação dos nossos alunos. Muito menos, é aceitável o
estrangulamento da universidade, por inanição. Contraditório, já que criticamos
o comportamento de governos que, ao não nos atender, estariam apostando no
enfraquecimento dessa instituição. Pelo menos muitos acreditam nisso. Ocorre
que a política é, principalmente por nossas bandas, extremamente instável.
Quando se imagina haver certa tranquilidade institucional, a disputa pelo poder
descamba para um processo autofágico, e se exige, para além da democracia, a
rotatividade dos partidos no poder. Mas essa é outra discussão, embora seja uma
das razões da crise.
O fato objetivo, para não nos
perdermos em subjetividades, é que o momento político brasileiro é, nesse
momento, extremamente crítico. Uma crise econômica internacional, um
descontrole fiscal que fez com que pela primeira vez fosse enviado ao Congresso
Nacional um orçamento deficitário, e uma crise política que vem acompanhada de
radicalidade na disputa pelo poder, mas também da visibilidade de velhos
esquemas corruptos que tradicionalmente corroem as estruturas do Estado brasileiro
e já desde muito denunciado, mas somente agora investigado e punido: uma crise
moral e ética enfraquecem a política, o governo e nos deixa em meio a uma
ambiente de incertezas.
Como diz um velho ditado popular, é
impossível extrair água de uma pedra. E não me refiro às rochas porosas que são
características dos aquíferos. O que quero dizer é da impossibilidade de
conseguirmos resultados positivos e vitórias dentro daquilo que desejamos e
reivindicamos, em meio a um ambiente de caos fiscal e de intensa crise política
que corrói o Estado brasileiro, a ponto da atual presidenta da República correr
o risco de sofrer um impedimento para concluir o seu mandato. Afinal, golpes
institucionais se tornaram práticas corriqueiras em diversos países latino
americanos, e os exemplos mais concretos são os de Hondura e do Paraguai.
Embora se tenha tentado também isso na Argentina, na Bolívia, no Equador e na
Venezuela por diversas vezes.
Mas também, para contrariar o
slogan de um comediante que se tornou deputado federal, “pior do que está, pode
ficar”. Nós, que estamos há mais tempo na universidade, sabemos o que pode nos
aguardar em um governo conservador. Os mais novos deveriam recorrer à história,
e assim saberiam o quanto a Universidade sofreu com políticas conservadoras,
excessivamente neoliberais, nos anos 1990 e anteriores. Assim,
estrategicamente, o melhor que o movimento docente pode fazer é adotar a tática
de recuar momentaneamente, para poder acumular forças e torcer para que a
situação econômica do país melhore. Não deve nos interessar o “quanto pior
melhor”, tão repetido pela presidenta, mas que, na política é algo permanente
na linha política daqueles que estão na oposição e fora das mordomias do poder.
Muito embora também faça parte de iniciativas tresloucadas de grupos sectários
de extrema esquerda, que, nesse particular, aproxima seus discursos aos
interesses e objetivos da extrema direita. O caos como objetivo, facilitaria a
aglutinação de novos “combatentes”.
Um passo atrás, dois à frente. Essa
deve ser a estratégia inteligente que devemos adotar. Encerrarmos a greve e
manter negociações visando uma reformulação em nossa carreira. Além da
necessidade de discutirmos e debatermos com intensidade, o que não temos feito,
os rumos e destinos da universidade, a meu ver, completamente invertido com o
abandono da graduação e a preocupação excessiva e determinante para o
financiamento dessas instituições, nas melhorias das notas dos cursos de
pós-graduação.
Nesse sentido podemos falar de
responsabilidades. Com o conhecimento de nossas possibilidades, do entendimento
da complexidade da realidade econômica, fiscal e política do país e da
preocupação com o futuro, nos cabe tomar uma decisão coerente com nossa
capacidade de discernimento. É o momento de encerrarmos o movimento grevista,
mas de continuarmos nossa luta pela garantia dos repasses necessários à
universidade e de melhorias em nossa carreira em um curto espaço de tempo, no
máximo até 2017.
Mas os professores não podem,
simplesmente, votar pelo fim da greve e voltar a acomodar-se, como se nada
tivesse acontecido, e a destilar as frustrações contra os que estão à frente de
nossa entidade. A força que podemos ter depende do fortalecimento de nossas
instituições que nos representam enquanto uma categoria, o sindicato e a
federação. Não basta nos contentarmos com gratificações e bolsas obtidas por
meio de projetos de pesquisas e de extensão. Isso é provisório, e farão falta
mais adiante, na medida em que se incorporam aos nossos gastos e estilo de
vida. É preciso estarmos presentes na discussões sobre nossa carreira, defender
melhorias em nossas condições de trabalho e cobrarmos da reitoria manifestação
firme em defesa de nossa autonomia, uma luta antiga mas que parece distante das
preocupações dos colegas professores.
Enfim, o que acredito ser uma
atitude responsável é, além de encerrarmos a greve, sabermos que nossas
conquistas futuras estão umbilicalmente ligadas ao nosso envolvimento nas
discussões sobre os destinos da nossa universidade, e da universidade pública e
gratuita de maneira geral. Fora isso, outras atitudes, movidas pelo discurso
extremo e radical ou pela acomodação e insensibilidade diante dos problemas que
é de todos, só nos empurrarão em direção ao precipício.
Parabéns pela lucidez da análise.
ResponderExcluirMaravilha.. Muito bom..
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