CRÔNICAS DE UM MUNDO EM TRANSE
“A história se repete, a primeira vez como
tragédia,
e a segunda
como farsa”.
Karl Marx
Vou iniciar este artigo,
reafirmando o que disse nos dois anteriores, que completam com este uma
trilogia sobre a situação política brasileira. Não há uma crise econômica brasileira, há
uma crise capitalista, na qual o Brasil se insere por fazer parte de um sistema
global. E a crise política se encontra agudizada porque há fortes interesses
geopolíticos, que estão desejosos, e agem diretamente para isso, em
desestabilizar o governo brasileiro e ferir de morte o principal partido de
esquerda. Tudo isso faz parte de um projeto, que tem por trás a necessidade de
reafirmação dos interesses hegemônicos dos EUA, bem como a garantia de que não
prosseguirá, no Brasil e na América Latina, os rumos de uma política focada em
projetos sociais regionais, alinhados com os BRICS.
Posto este parágrafo concluirei
essa assertiva pedindo que os céticos, que divergem desse posicionamento,
revejam a situação vivida pelo Brasil no período que antecedeu ao golpe militar
de 1964. E mais, o que se tentou negar por décadas, o envolvimento dos EUA em
toda a sorte de manobras visando atingir o auge do desgaste de Jango, e até
mesmo oferecendo suporte militar aos golpistas,[1]
terminou por ser confirmado quando se abriram os arquivos estadunidenses sobre
aquele período, as responsabilidades daquele país na desestabilização do governo
brasileiro,[2]
que caminhava para a esquerda e se alinhava com a China.[3]
Presidente Lindon Johson, conversa com o embaixador estadunidense no Brasil. Apoio ao golpe. |
Mais recentemente, espalhando-se
desde o começo do século XXI, são nítidas e comprováveis, a participação dos
EUA em diversas ações de desestabilizações de governos hostis a seus
pensamentos e que buscam outras alternativas para consolidar alianças políticas
regionais e globais.[4]
As chamadas revoluções coloridas nos países da Europa Oriental e Ásia Central,
as tentativas de derrubar os governos da Venezuela e da Bolívia, os “golpes
constitucionais” aplicados em Honduras e no Paraguai, mais uma vez a
“revolução” ucraniana (duas em uma década), as revoltas em Hong Kong, na China,
a eterna tentativa de desestabilizar o governo argentino, e agora o Brasil. Por
trás disso, uma estratégia difundida por Gene Sharp. Um livro elaborado
aparentemente para servir como instrumento às iniciativas de se lutar contra as
ditaduras (o alvo era, naturalmente, os países da antiga União Soviética),
terminou por se constituir em uma cartilha utilizada por ONGs e partidos
financiados por corporações, megaespeculadores, como Georges Soros, e governos
interessados em alterar a correlação de forças políticas de alguns países de
importância estratégicas. O livro de Sharp, e o documentário sobre ele,
constituíram-se em instrumentos ideais para orientar os grupos que foram
criados e que passaram a agir com escritórios de representações em todo o
mundo. Disfarçados em Organizações cujos objetivos seriam propagar e defender a
democracia. Segundo BANDEIRA (2013),
From
Dictatorship to Democracy, traduzido para mais de 24
idiomas, foi distribuído através do Cáucaso por Freedom House, Open Society
Institute, International Republican Institute (IRI), National Endowment for
Democracy (NED) e CIA, e serviu de manual para as “revoluções coloridas”, inclusive no Azerbaijão, onde quatro grupos – YOKH! (Não!), YENI FIKIR (Novo Pensamento), MAGAM (É tempo) e Movimento Laranja do Azerbaijão – estabeleceram conexão com PORA, KMARA e OTPOR e empregaram os mesmos métodos de não violência defendidos pelo professor Gene Sharp e aplicados na Sérvia, Geórgia e Ucrânia. [5]
Democracy (NED) e CIA, e serviu de manual para as “revoluções coloridas”, inclusive no Azerbaijão, onde quatro grupos – YOKH! (Não!), YENI FIKIR (Novo Pensamento), MAGAM (É tempo) e Movimento Laranja do Azerbaijão – estabeleceram conexão com PORA, KMARA e OTPOR e empregaram os mesmos métodos de não violência defendidos pelo professor Gene Sharp e aplicados na Sérvia, Geórgia e Ucrânia. [5]
Em abril de 2002, uma das tantas
tentativas de golpe contra o governo de Hugo Chavez, terminou fracassando e
possibilitando que fossem denunciados os grupos internos e externos, que
procuraram desestabilizar o governo, com manifestações populares, utilizando da
mesma estratégia apontada por Moniz Bandeira para os países da Europa Oriental.
Em programas de TV, e depois no documentário, disponível no You Tube, “A
Revolução não será televisionada”,[6]
Chavez apontou os interesses dos EUA por trás da tentativa de golpe, e
denunciou a ingerência dessas ONGs, criadas com esses objetivos.
Um desses
grupos, o OTPOR-CANVAS, surgido na Sérvia e transformado em uma organização
transnacional com o objetivo de desestabilizar governos,[7]
agiu na Venezuela, Peru, Bolívia e Brasil. Em 2014, nos protestos contra
Nicolas Maduro, a Otpor-Canvas se fez representar pela JAVU (Juventude Ativa
Venezuela Unida), relação explicitada pela utilização do mesmo símbolo. Após séries de artigos e publicações, essas
ONGs mudam de estratégia e passam a oferecer cursos a grupos de jovens,
financiados por corporações e pelos EUA, adotando denominações diferentes,
muito embora vários deles prosseguissem utilizando suas marcas tradicionais, o
punho fechado erguido.
A estratégia do professor Gene
Sharp pautou em larga medida a política de regime
change, incrementada pelo presidente George W. Bush, de acordo com o
Project for the New American Century (PNAC). Ela consistia em fomentar o Political defiance, i.e., o desafio
político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint
Military Attaché School (JMAS), operada pela Defense Intelligence Agency (DIA),
para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das
instituições, mediante o planejamento das operações e a mobilização popular no
ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do
Ocidente. [8]
O governo Obama, diante da necessidade
de mudar o comportamento explicitamente mais agressivo de Bush, impôs como nova
agenda democrata, a velha estratégia do regime
change, mediante o uso dos mecanismos apontados por Sharp, dando
continuidade a esse comportamento sutil, de financiamento de “revoltas
populares” pacíficas. E a transformação disso em golpes, com destituição de
governos eleitos democraticamente, mas não alinhados aos interesses dos EUA.
Naturalmente o Brasil não ficaria
fora dessa estratégia e todas as condições, semelhantes às situações ocorridas
em países que passaram por processos de desestabilização, foram criadas com o
intuito de abrir caminho para os desgastes da presidente Dilma. Em todas as
demais situações aqui citadas, os mecanismos adotados foram os mesmos, e quase
sempre ocorrendo depois de um processo eleitoral, mesmo que democrático, de
resultados apertados, mas com derrota daqueles candidatos que representavam os
interesses dos EUA.[9]
Basta que se recorra às notícias, não aquelas transmitidas pelos grandes meios
de comunicação, porque esses são instrumentos fundamentais para a implementação
dessa estratégia de criar desordem institucional mediante pressões populares,
cujas insatisfações vão sendo alimentadas gradativamente, mediante um
pessimismo criado por uma overdose de más notícias.
Obviamente a situação econômica
interna é um elemento forte para dar o primeiro passo gerador de insatisfações.
Mas, no caso brasileiro, essa não é uma situação irreversível. Ao contrário dos
governos FHC, quando a crise naquele período impôs submissões humilhantes do
governo brasileiro ao FMI, por três vezes recorrendo a empréstimos e tendo que
aceitar ingerências dessa organização na definição das políticas internas brasileiras,
a condição atual não requer isso.[10]
No entanto, a crise fiscal e o
necessário ajuste na economia, principalmente em relação aos gastos do governo,
foram o mote para que as informações fossem manipuladas, e as manchetes de TV e
jornais conservadores injetassem medo e desânimo na população. Entre os grandes
empresários, esse comportamento é oportunista. Alinhados com as políticas
conservadoras, o locaute (lockout), mesmo que disfarçado, constitui-se em mais
um instrumento para gerar desestabilização, porque termina por reduzir a
produção e automaticamente elevar os preços. Mas, principalmente, forçar os
trabalhadores a aceitarem redução de seus salários ou justificar demissões em
massa, responsabilizando o governo. A crise, forjada ou não, se torna também um
elemento a garantir maiores lucros a gananciosos empresários.
Outro elemento, sempre muito
utilizado para justificar destituições de governos, são as investigações de
corrupção. O que acontece atualmente no Brasil, com foco na principal empresa
estatal, uma das maiores exploradoras de petróleo do mundo, envolve os velhos
corruptos e corruptores de sempre, adicionados na lista um pequeno grupo de
novos personagens, cuja sedução do poder e a cooptação pelos agentes que
corrompem, azedam a situação para o governo, mesmo que este esteja a apoiar
todas as medidas de investigações sobre os malfeitos em relação à coisa pública
(res pública).
Ora, mas qualquer governo está
sujeito a ser jogado na mesma lama das corrupções que ele próprio instiga a
serem investigadas. Porque se torna um forte instrumento nas mãos da oposição,
via mecanismo tradicional da hipocrisia política, pelo qual os mesmos que denunciam constituem-se, eles próprios, em investigados,[11]
e, eventualmente, réus em processos pouco difundidos ou mostrados pela mídia
tradicional, em função de serem aliados no objetivo principal: derrubar o
governo legitimamente eleito. Para isso, uma investigação já instrumentalizada
por agentes de um judiciário também corrompido e com interesses políticos
claros, torna-se direcionada não somente para a identificação dos ilícitos, mas
para constituir provas que possam servir como pretexto para abertura de pedidos
de impedimentos daquele governante. Daí, com a legitimidade da investigação
sendo posta à prova, pelo desvio de suas funções, nos deparamos com os
arremedos constitucionais, bem peculiar no âmbito do juridiquês político, que
passaria a justificar o golpe fatal, transformando a história, de tragédias
passadas, em atos farsescos nos dias de hoje, à semelhança das acontecidas
desde as calendas gregas.
Tal se torna obsessiva essa trama,
que a cada dia órgãos onde se situam agentes conservadores, ou pelas páginas de
uma imprensa reacionária, buscam demonstrar incessantemente situações que
possam dar vazão ao instinto golpista presente em partidos conservadores, fiéis
e submissos aos interesses hegemônicos dos EUA.
Não resta dúvidas, agora com a
mudança de foco para o TCU, que os opositores ao verem as manifestações se
esvaziarem e não identificarem nada através da Operação Lava Jato que pudesse
atingir a Presidenta, buscam se agarrar a qualquer pretexto para tentarem
entrar com processo de impeachment. Deixam cada vez mais claro que por trás
dessas ações está a contrariedade pela derrota sofrida nas últimas eleições, e
temem uma recuperação do governo que possa projetar com mais força do que
naturalmente já tem, o nome do ex-presidente Lula à sucessão de Dilma Roussef.
De um lado, apostam no quanto pior melhor, e se escoram numa mídia venal que
trata a cada dia de injetar mais pessimismo na sociedade, e, por outro lado,
garimpam em meio a artifícios oportunistas motivos que venham a satisfazer suas
sanhas golpistas.
Ao mesmo tempo procuram aplicar um
golpe de morte no Partido dos Trabalhadores, responsável pelas quatro últimas
campanhas vitoriosas e, em que pese os erros cometidos e os envolvimentos de
alguns dos seus em atos ilícitos e de corrupção para angariar recursos com o
intuito de bancar caixa 2 em campanhas eleitorais, algo comum no ambiente
político brasileiro até então, não é por isso que tem angariado um ódio
crescente de fascistas, direitistas e conservadores. Ou tudo isso junto e
misturado.
O ódio crescente, alimentado pela
mídia, aos três últimos governos, se deve a ações e políticas de cunho sociais
que em pouco tempo, embora ainda muito incipiente para resgatar a herança
perversa de séculos de desigualdades sociais, conseguiram deslocar milhões de
brasileiros e brasileiras da condição de miséria absoluta para uma convivência
mais decente, inserindo-os no mercado de consumo. A elevação do poder de compra
do salário mínimo, por exemplo, esteve presente no momento de duas outras
graves crises brasileiras. Quando do assassinato do presidente Getúlio Vargas,
juntamente com outras garantias trabalhistas, e no governo João Goulart, que com
outras questões sociais colocadas em pauta pelo governo gerou um alvoroço
conservador que abriu caminho para o golpe de estado e a instalação de uma
ditadura militar.
Tudo isso considerando o fato que
tudo que se fez ainda representa um percentual irrisório, diante daquilo que
precisa ser feito no Brasil, para recompor a sociedade diante das mazelas
geradas pelas inexistências de políticas públicas sociais por tantos anos, até
a virada do século XXI. Por exemplo, um dos temas mais polêmicos desde sempre
aqui no Brasil, a questão da terra, a Reforma Agrária, teve avanços pífios
nessas últimas décadas. Tema este que esteve dentre os mais polêmicos na pauta
de medidas que seriam adotadas por Jango nas famosas Reformas de Base, e que
foi um dos fatores que levaram os partidos conservadores brasileiros a apoiarem
o golpe militar.
Da mesma forma, quando da realização da Assembleia Nacional Constituinte,
em 1985, cujo embate com as forças progressistas levou os setores da burguesia
agrária a criarem a famigerada UDR, cujo adjetivo “democrático” no nome
escondia milhares de cadáveres de camponeses, assassinados por milícias de
pistoleiros. E esses criminosos, estão aí, desfilando em praça pública,
arrotando “liberdade” e, com comportamentos fascistas, pregando abertamente
golpes. Como o seu ex-presidente, Ronaldo Caiado, recentemente acusado pelo
ex-senador cassado, Demóstenes Torres de ser, ele também, um grande corrupto,
tendo sido financiado por dinheiro de contravenção. Senador por Goiás, essa
figura lidera a bancada do boi, que aglutina centenas de parlamentares, que por
todo o país, desde décadas e séculos, roubam e grilam terras nesse país.
Em um trabalho de investigação que
desenvolveu, com base nas análises das declarações de bens de diversos
parlamentares, o jornalista Alceu Luis Castilho faz uma radiografia dessa
realidade. (CASTILHO, 2012)
A primeira parte do livro (“O
território”) traz uma radiografia da posse de terra por políticos. Tanto nas
Unidades de Federação em que eles foram eleitos, mas também fora delas. O
levantamento mostra como os políticos latifundiários detém uma parcela
significativa do país; e como eles migram sistematicamente suas posses para as
fronteiras agrícolas.
A segunda parte do livro (“O
dinheiro”) esmiúça histórias dessa relação entre políticos e a terra. Uma
história nem sempre republicana. Vão se delineando melhor os personagens dessa
conquista do território: dos prefeitos de pequenos municípios no interior a
governadores e senadores. Alguns, famosos – e enriquecidos.
Na terceira parte (“A política”)
temos detalhes sobre a famosa bancada ruralista. Como ela vota, como os
congressistas têm suas eleições financiadas por grandes grupos agropecuários.
Porque políticos com campanhas financiadas por empresas votaram a favor do novo
Código Florestal?[12]
Portanto, pouco se mexeu nos
últimos anos nessa estrutura montada com base no saque e roubo de milhões de
hectares de terras. A cada ano mais concentrada nas mãos de uma minoria, que
junto com a alta burguesia, poucos elementos deitados em berços esplêndidos no
topo da pirâmide, controlam os meios de produção, tendo ao lado os banqueiros,
também contumazes achacadores e acumuladores da riqueza dos brasileiros. Embora
tendo continuado se locupletando cada vez mais mesmo nesses anos de governos do
Partido dos Trabalhadores, isso ainda é pouco para o que eles representam.
Desejam o Poder político, o comando do Estado e o controle da Nação, para nos
manter debruçados, ajoelhados, diante do “big brother”, que a todos espionam,
controlam e ameaçam: os EUA.
Não que o PT fosse seus aliados, ou
cúmplices, mas porque, dado as próprias características e origens desse
partido, com base na social-democracia europeia, e no engajamento cristão das
Comunidades de Base, não se propunha acabar com o capitalismo, nem com as
estruturas que garantem essa concentração de rendas. Portanto, mesmo com as
políticas de inclusão social, concentrada em programas importantes como o Bolsa
Família, os ganhos da burguesia se ampliaram consideravelmente, aumentando suas
riquezas. Mas o simples fato de haver políticas sociais voltadas para o
atendimento da população mais pobre, já é suficiente para despertar o ódio
desses segmentos. O velho, conhecido e estudado desde Marx, ódio de classe.
Pois, ao contrário do que imaginavam os velhos neoliberais, ou os intelectuais
acovardados que se renderam à ideologia da globalização, a luta de classes não
acabou. E não acaba, porquanto o capitalismo prevalecer.
Passadas essas turbulências,
espera-se que o Partido dos Trabalhadores, e demais partidos de esquerda,
reflitam sobre a radicalidade do comportamento dos partidos conservadores e da
direita. E busquem por meio da unidade de ação, o que não significa que cada um
abra mão de seus projetos, que possam fortalecer as principais bandeiras dos
trabalhadores, das entidades de classes e organizações sociais sérias. É
preciso ter a clareza que esses setores não se conformam com a perspectiva de
viverem numa sociedade que caminhe para um ambiente mais democrático, com
melhores garantias de vida para a maioria da população, com distribuição mais
equitativa da riqueza e com uma reforma agrária que garanta acesso a terra para
milhões de camponeses dela deserdados. Eles temem perder as regalias
conquistadas à custa da pobreza, não admitem a perspectiva do pobre poder
atingir um patamar de vida mais decente.
Contudo, por deter os principais
meios de comunicação de massa, esses setores conseguem converter os mais pobres,
com o apoio de um neopentecostalismo reacionário crescente, e deixá-los cegos
diante da simples realidade que mostram onde se concentram a riqueza. Por todo
esse tempo, de massacre midiático sobre o governo, pouco a pouco, com mentiras,
boatos e manipulação da notícia, a base que elegeu a presidenta foi sendo
minada. Consequência de mais um dos equívocos cometidos pelo governo durante
todos esses anos, desde o primeiro mandato do presidente Lula. A ausência de
coragem para adotar medidas semelhantes às que foram tomadas na Venezuela, na
Argentina e Equador, com leis que viessem a controlar os órgãos de imprensa,
jornais, rádios e televisão.
Não se trata de censura, como eles fazem crer,
numa defesa típica de um ataque, pelo que nossa sociedade viveu no período da
ditadura. Mas se trata de garantir que, essas concessões públicas, não se
constituam em um poder paralelo, um quarto poder como é denominado, pela
dimensão e alcance que tem no meio da população, sem nenhum tipo de controle e
agindo de acordo com seus interesses, e em benefício de seus aliados. Isso é
necessário pelo simples fato: é preciso democratizar esses órgãos, pois a
liberdade que eles defendem pra eles, e que existe, constitucionalmente, não é
garantida por meio de informação honesta e com espaços iguais a setores sociais
que são submetidos à opressão e repressão dos que detém o poder econômico.
Por fim, embora ainda haja muito a
ser dito, um governo de esquerda, embora tenha a necessidade de fazer
composições com os partidos de centro, para ter garantia de governabilidade,
não pode, jamais, abdicar de bandeiras que sempre foram fundamentais para
aglutinar os movimentos sociais, e que foram responsáveis pelos últimos
resultados eleitorais. Não se pode esconder da população, a verdade. É preciso
estabelecer canais de comunicação com as camadas mais pobres e oprimidas, auscultá-las,
sentir seus problemas e não ter medo de tomar posições firmes e decididas, que
requer escolhas de políticas radicais, não somente progressistas. Mais do que
isso. Porque só assim será possível reverter um terrível quadro de
desigualdades sociais. Além da necessidade de jamais deixar de estar perto do
povo, e de organizá-lo, de formá-lo política e ideologicamente, de transmitir a
esse povo confiança em suas ações.
Assim sendo feito, nos momentos de
crise como esse, de nítida luta de classes, esse povo saberá de que lado
ficará. Os círculos bolivarianos na Venezuela são um exemplo disso. Mas o que
foi feito aqui no Brasil, em termos de fortalecimento dos movimentos sociais?
Pouco se fez o que, em parte, explica o fato de haver insatisfações mesmo entre
aqueles que melhoraram de vida como decorrência das ações dos três últimos
governos, e que até pouco tempo votaram na presidenta Dilma para mais um
mandato.
É preciso combater a direita, os
setores fascistas, os falsos democratas que se recusam a aceitar a derrota nas
urnas. Mas é preciso tomar atitudes e explicitar, com medidas concretas e mais
duras, de que lado está o governo. Isso não é fácil, leva a embates, mas é preciso
fazer. Ademais, como estamos vendo, mesmo não fazendo isso esses setores
mexem-se nas catacumbas buscando inspirações em velhos fantasmas, e tentam
apregoar mais um golpe contra a frágil democracia brasileira.
Embora tudo isso, é inegável que o
Brasil mudou, e de forma visível, neste século. Mas ainda falta muito, para que
possamos atingir um estágio mais avançado em termos de recomposição das
desigualdades sociais. Por isso, esse momento é crucial, é preciso avançar
mais, e jamais permitir qualquer tipo de retrocesso. Devem-se corrigir os
erros, dar a volta por cima, e acreditar, como dizia o poeta e escritor Eduardo
Galeano, falecido nessa semana, que se a utopia se afasta, devemos estar
consciente de que é para isso que ela nos serve, para que possamos caminhar,
seguir em frente, podendo vê-la no horizonte. Cada vez que caminhamos ela se
afasta, aí é preciso caminharmos mais.
[1] O Papel dos Estados Unidos no
golpe de 1964 – Luis Nassif. (http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-papel-dos-eua-no-golpe-de-64)
[3] 1964: A CIA e a técnica de golpe
de estado – Luiz Alberto Moniz Bandeira - http://www.espacoacademico.com.br/034/34ebandeira.htm
[4] As revoluções coloridas: os
golpes do século 21 – Por Natália Viana. http://www.viomundo.com.br/denuncias/publica-como-funcionam-as-revolucoes-de-veludo.html
[5] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A Segunda Guerra Fria. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2013. Pp. 108-109
[6] A Revolução não será
televisionada – O golpe na Venezuela. https://www.youtube.com/watch?v=MTui69j4XvQ
[8] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Idem. P. 107.
[9] “EUA promovem desestabilização
de democracias na América Latina”, diz Moniz Banderia - http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/03/eua-promovem-desestabilizacao-de-democracias-na-america-latina-denuncia-moniz-bandeira/
[10] FHC fechou três acordos com o
FMI; confira o histórico. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u53074.shtml
[11] Os defensores do Impeachment na
operação “Puxando a Capivara”. http://www.vermelho.org.br/noticia/262445-1#.VTEfyxVHGo8.facebook
[12]
CASTILHO, Alceu Luís. O Partido da Terra.
São Paulo: Contexto, 2012. Pág. 10.
Ótimo artigo
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