sábado, 18 de abril de 2015

A SANHA GOLPISTA E A HISTÓRIA COMO TRAGÉDIA. ASSISTIMOS AGORA UMA FARSA.

CRÔNICAS DE UM MUNDO EM TRANSE
“A história se repete, a primeira vez como tragédia,
 e a segunda como farsa”.
Karl Marx

Vou iniciar este artigo, reafirmando o que disse nos dois anteriores, que completam com este uma trilogia sobre a situação política brasileira. Não há uma crise econômica brasileira, há uma crise capitalista, na qual o Brasil se insere por fazer parte de um sistema global. E a crise política se encontra agudizada porque há fortes interesses geopolíticos, que estão desejosos, e agem diretamente para isso, em desestabilizar o governo brasileiro e ferir de morte o principal partido de esquerda. Tudo isso faz parte de um projeto, que tem por trás a necessidade de reafirmação dos interesses hegemônicos dos EUA, bem como a garantia de que não prosseguirá, no Brasil e na América Latina, os rumos de uma política focada em projetos sociais regionais, alinhados com os BRICS.
Posto este parágrafo concluirei essa assertiva pedindo que os céticos, que divergem desse posicionamento, revejam a situação vivida pelo Brasil no período que antecedeu ao golpe militar de 1964. E mais, o que se tentou negar por décadas, o envolvimento dos EUA em toda a sorte de manobras visando atingir o auge do desgaste de Jango, e até mesmo oferecendo suporte militar aos golpistas,[1] terminou por ser confirmado quando se abriram os arquivos estadunidenses sobre aquele período, as responsabilidades daquele país na desestabilização do governo brasileiro,[2] que caminhava para a esquerda e se alinhava com a China.[3]
Presidente Lindon Johson, conversa
com o embaixador estadunidense no
Brasil. Apoio ao golpe.
Mais recentemente, espalhando-se desde o começo do século XXI, são nítidas e comprováveis, a participação dos EUA em diversas ações de desestabilizações de governos hostis a seus pensamentos e que buscam outras alternativas para consolidar alianças políticas regionais e globais.[4] As chamadas revoluções coloridas nos países da Europa Oriental e Ásia Central, as tentativas de derrubar os governos da Venezuela e da Bolívia, os “golpes constitucionais” aplicados em Honduras e no Paraguai, mais uma vez a “revolução” ucraniana (duas em uma década), as revoltas em Hong Kong, na China, a eterna tentativa de desestabilizar o governo argentino, e agora o Brasil. Por trás disso, uma estratégia difundida por Gene Sharp. Um livro elaborado aparentemente para servir como instrumento às iniciativas de se lutar contra as ditaduras (o alvo era, naturalmente, os países da antiga União Soviética), terminou por se constituir em uma cartilha utilizada por ONGs e partidos financiados por corporações, megaespeculadores, como Georges Soros, e governos interessados em alterar a correlação de forças políticas de alguns países de importância estratégicas. O livro de Sharp, e o documentário sobre ele, constituíram-se em instrumentos ideais para orientar os grupos que foram criados e que passaram a agir com escritórios de representações em todo o mundo. Disfarçados em Organizações cujos objetivos seriam propagar e defender a democracia. Segundo BANDEIRA (2013),
From Dictatorship to Democracy, traduzido para mais de 24 idiomas, foi distribuído através do Cáucaso por Freedom House, Open Society Institute, International Republican Institute (IRI), National Endowment for
Democracy (NED) e CIA, e serviu de manual para as “revoluções coloridas”, inclusive no Azerbaijão, onde quatro grupos – YOKH! (Não!), YENI FIKIR (Novo Pensamento), MAGAM (É tempo) e Movimento Laranja do Azerbaijão – estabeleceram conexão com PORA, KMARA e OTPOR e empregaram os mesmos métodos de não violência defendidos pelo professor Gene Sharp e aplicados na Sérvia, Geórgia e Ucrânia. [5]
Em abril de 2002, uma das tantas tentativas de golpe contra o governo de Hugo Chavez, terminou fracassando e possibilitando que fossem denunciados os grupos internos e externos, que procuraram desestabilizar o governo, com manifestações populares, utilizando da mesma estratégia apontada por Moniz Bandeira para os países da Europa Oriental. Em programas de TV, e depois no documentário, disponível no You Tube, “A Revolução não será televisionada”,[6] Chavez apontou os interesses dos EUA por trás da tentativa de golpe, e denunciou a ingerência dessas ONGs, criadas com esses objetivos. 
Um desses grupos, o OTPOR-CANVAS, surgido na Sérvia e transformado em uma organização transnacional com o objetivo de desestabilizar governos,[7] agiu na Venezuela, Peru, Bolívia e Brasil. Em 2014, nos protestos contra Nicolas Maduro, a Otpor-Canvas se fez representar pela JAVU (Juventude Ativa Venezuela Unida), relação explicitada pela utilização do mesmo símbolo.  Após séries de artigos e publicações, essas ONGs mudam de estratégia e passam a oferecer cursos a grupos de jovens, financiados por corporações e pelos EUA, adotando denominações diferentes, muito embora vários deles prosseguissem utilizando suas marcas tradicionais, o punho fechado erguido.
A estratégia do professor Gene Sharp pautou em larga medida a política de regime change, incrementada pelo presidente George W. Bush, de acordo com o Project for the New American Century (PNAC). Ela consistia em fomentar o Political defiance, i.e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attaché School (JMAS), operada pela Defense Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e a mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente. [8]
O governo Obama, diante da necessidade de mudar o comportamento explicitamente mais agressivo de Bush, impôs como nova agenda democrata, a velha estratégia do regime change, mediante o uso dos mecanismos apontados por Sharp, dando continuidade a esse comportamento sutil, de financiamento de “revoltas populares” pacíficas. E a transformação disso em golpes, com destituição de governos eleitos democraticamente, mas não alinhados aos interesses dos EUA.
Naturalmente o Brasil não ficaria fora dessa estratégia e todas as condições, semelhantes às situações ocorridas em países que passaram por processos de desestabilização, foram criadas com o intuito de abrir caminho para os desgastes da presidente Dilma. Em todas as demais situações aqui citadas, os mecanismos adotados foram os mesmos, e quase sempre ocorrendo depois de um processo eleitoral, mesmo que democrático, de resultados apertados, mas com derrota daqueles candidatos que representavam os interesses dos EUA.[9] Basta que se recorra às notícias, não aquelas transmitidas pelos grandes meios de comunicação, porque esses são instrumentos fundamentais para a implementação dessa estratégia de criar desordem institucional mediante pressões populares, cujas insatisfações vão sendo alimentadas gradativamente, mediante um pessimismo criado por uma overdose de más notícias.
Obviamente a situação econômica interna é um elemento forte para dar o primeiro passo gerador de insatisfações. Mas, no caso brasileiro, essa não é uma situação irreversível. Ao contrário dos governos FHC, quando a crise naquele período impôs submissões humilhantes do governo brasileiro ao FMI, por três vezes recorrendo a empréstimos e tendo que aceitar ingerências dessa organização na definição das políticas internas brasileiras, a condição atual não requer isso.[10]
No entanto, a crise fiscal e o necessário ajuste na economia, principalmente em relação aos gastos do governo, foram o mote para que as informações fossem manipuladas, e as manchetes de TV e jornais conservadores injetassem medo e desânimo na população. Entre os grandes empresários, esse comportamento é oportunista. Alinhados com as políticas conservadoras, o locaute (lockout), mesmo que disfarçado, constitui-se em mais um instrumento para gerar desestabilização, porque termina por reduzir a produção e automaticamente elevar os preços. Mas, principalmente, forçar os trabalhadores a aceitarem redução de seus salários ou justificar demissões em massa, responsabilizando o governo. A crise, forjada ou não, se torna também um elemento a garantir maiores lucros a gananciosos empresários.
Outro elemento, sempre muito utilizado para justificar destituições de governos, são as investigações de corrupção. O que acontece atualmente no Brasil, com foco na principal empresa estatal, uma das maiores exploradoras de petróleo do mundo, envolve os velhos corruptos e corruptores de sempre, adicionados na lista um pequeno grupo de novos personagens, cuja sedução do poder e a cooptação pelos agentes que corrompem, azedam a situação para o governo, mesmo que este esteja a apoiar todas as medidas de investigações sobre os malfeitos em relação à coisa pública (res pública).
Ora, mas qualquer governo está sujeito a ser jogado na mesma lama das corrupções que ele próprio instiga a serem investigadas. Porque se torna um forte instrumento nas mãos da oposição, via mecanismo tradicional da hipocrisia política, pelo qual os mesmos que denunciam constituem-se, eles próprios, em investigados,[11] e, eventualmente, réus em processos pouco difundidos ou mostrados pela mídia tradicional, em função de serem aliados no objetivo principal: derrubar o governo legitimamente eleito. Para isso, uma investigação já instrumentalizada por agentes de um judiciário também corrompido e com interesses políticos claros, torna-se direcionada não somente para a identificação dos ilícitos, mas para constituir provas que possam servir como pretexto para abertura de pedidos de impedimentos daquele governante. Daí, com a legitimidade da investigação sendo posta à prova, pelo desvio de suas funções, nos deparamos com os arremedos constitucionais, bem peculiar no âmbito do juridiquês político, que passaria a justificar o golpe fatal, transformando a história, de tragédias passadas, em atos farsescos nos dias de hoje, à semelhança das acontecidas desde as calendas gregas.
Tal se torna obsessiva essa trama, que a cada dia órgãos onde se situam agentes conservadores, ou pelas páginas de uma imprensa reacionária, buscam demonstrar incessantemente situações que possam dar vazão ao instinto golpista presente em partidos conservadores, fiéis e submissos aos interesses hegemônicos dos EUA.
Não resta dúvidas, agora com a mudança de foco para o TCU, que os opositores ao verem as manifestações se esvaziarem e não identificarem nada através da Operação Lava Jato que pudesse atingir a Presidenta, buscam se agarrar a qualquer pretexto para tentarem entrar com processo de impeachment. Deixam cada vez mais claro que por trás dessas ações está a contrariedade pela derrota sofrida nas últimas eleições, e temem uma recuperação do governo que possa projetar com mais força do que naturalmente já tem, o nome do ex-presidente Lula à sucessão de Dilma Roussef. De um lado, apostam no quanto pior melhor, e se escoram numa mídia venal que trata a cada dia de injetar mais pessimismo na sociedade, e, por outro lado, garimpam em meio a artifícios oportunistas motivos que venham a satisfazer suas sanhas golpistas.
Ao mesmo tempo procuram aplicar um golpe de morte no Partido dos Trabalhadores, responsável pelas quatro últimas campanhas vitoriosas e, em que pese os erros cometidos e os envolvimentos de alguns dos seus em atos ilícitos e de corrupção para angariar recursos com o intuito de bancar caixa 2 em campanhas eleitorais, algo comum no ambiente político brasileiro até então, não é por isso que tem angariado um ódio crescente de fascistas, direitistas e conservadores. Ou tudo isso junto e misturado.
O ódio crescente, alimentado pela mídia, aos três últimos governos, se deve a ações e políticas de cunho sociais que em pouco tempo, embora ainda muito incipiente para resgatar a herança perversa de séculos de desigualdades sociais, conseguiram deslocar milhões de brasileiros e brasileiras da condição de miséria absoluta para uma convivência mais decente, inserindo-os no mercado de consumo. A elevação do poder de compra do salário mínimo, por exemplo, esteve presente no momento de duas outras graves crises brasileiras. Quando do assassinato do presidente Getúlio Vargas, juntamente com outras garantias trabalhistas, e no governo João Goulart, que com outras questões sociais colocadas em pauta pelo governo gerou um alvoroço conservador que abriu caminho para o golpe de estado e a instalação de uma ditadura militar.
Tudo isso considerando o fato que tudo que se fez ainda representa um percentual irrisório, diante daquilo que precisa ser feito no Brasil, para recompor a sociedade diante das mazelas geradas pelas inexistências de políticas públicas sociais por tantos anos, até a virada do século XXI. Por exemplo, um dos temas mais polêmicos desde sempre aqui no Brasil, a questão da terra, a Reforma Agrária, teve avanços pífios nessas últimas décadas. Tema este que esteve dentre os mais polêmicos na pauta de medidas que seriam adotadas por Jango nas famosas Reformas de Base, e que foi um dos fatores que levaram os partidos conservadores brasileiros a apoiarem o golpe militar. 
Da mesma forma, quando da realização da Assembleia Nacional Constituinte, em 1985, cujo embate com as forças progressistas levou os setores da burguesia agrária a criarem a famigerada UDR, cujo adjetivo “democrático” no nome escondia milhares de cadáveres de camponeses, assassinados por milícias de pistoleiros. E esses criminosos, estão aí, desfilando em praça pública, arrotando “liberdade” e, com comportamentos fascistas, pregando abertamente golpes. Como o seu ex-presidente, Ronaldo Caiado, recentemente acusado pelo ex-senador cassado, Demóstenes Torres de ser, ele também, um grande corrupto, tendo sido financiado por dinheiro de contravenção. Senador por Goiás, essa figura lidera a bancada do boi, que aglutina centenas de parlamentares, que por todo o país, desde décadas e séculos, roubam e grilam terras nesse país.
Em um trabalho de investigação que desenvolveu, com base nas análises das declarações de bens de diversos parlamentares, o jornalista Alceu Luis Castilho faz uma radiografia dessa realidade. (CASTILHO, 2012)
A primeira parte do livro (“O território”) traz uma radiografia da posse de terra por políticos. Tanto nas Unidades de Federação em que eles foram eleitos, mas também fora delas. O levantamento mostra como os políticos latifundiários detém uma parcela significativa do país; e como eles migram sistematicamente suas posses para as fronteiras agrícolas.
A segunda parte do livro (“O dinheiro”) esmiúça histórias dessa relação entre políticos e a terra. Uma história nem sempre republicana. Vão se delineando melhor os personagens dessa conquista do território: dos prefeitos de pequenos municípios no interior a governadores e senadores. Alguns, famosos – e enriquecidos.
Na terceira parte (“A política”) temos detalhes sobre a famosa bancada ruralista. Como ela vota, como os congressistas têm suas eleições financiadas por grandes grupos agropecuários. Porque políticos com campanhas financiadas por empresas votaram a favor do novo Código Florestal?[12]
Portanto, pouco se mexeu nos últimos anos nessa estrutura montada com base no saque e roubo de milhões de hectares de terras. A cada ano mais concentrada nas mãos de uma minoria, que junto com a alta burguesia, poucos elementos deitados em berços esplêndidos no topo da pirâmide, controlam os meios de produção, tendo ao lado os banqueiros, também contumazes achacadores e acumuladores da riqueza dos brasileiros. Embora tendo continuado se locupletando cada vez mais mesmo nesses anos de governos do Partido dos Trabalhadores, isso ainda é pouco para o que eles representam. Desejam o Poder político, o comando do Estado e o controle da Nação, para nos manter debruçados, ajoelhados, diante do “big brother”, que a todos espionam, controlam e ameaçam: os EUA.
Não que o PT fosse seus aliados, ou cúmplices, mas porque, dado as próprias características e origens desse partido, com base na social-democracia europeia, e no engajamento cristão das Comunidades de Base, não se propunha acabar com o capitalismo, nem com as estruturas que garantem essa concentração de rendas. Portanto, mesmo com as políticas de inclusão social, concentrada em programas importantes como o Bolsa Família, os ganhos da burguesia se ampliaram consideravelmente, aumentando suas riquezas. Mas o simples fato de haver políticas sociais voltadas para o atendimento da população mais pobre, já é suficiente para despertar o ódio desses segmentos. O velho, conhecido e estudado desde Marx, ódio de classe. Pois, ao contrário do que imaginavam os velhos neoliberais, ou os intelectuais acovardados que se renderam à ideologia da globalização, a luta de classes não acabou. E não acaba, porquanto o capitalismo prevalecer.
Passadas essas turbulências, espera-se que o Partido dos Trabalhadores, e demais partidos de esquerda, reflitam sobre a radicalidade do comportamento dos partidos conservadores e da direita. E busquem por meio da unidade de ação, o que não significa que cada um abra mão de seus projetos, que possam fortalecer as principais bandeiras dos trabalhadores, das entidades de classes e organizações sociais sérias. É preciso ter a clareza que esses setores não se conformam com a perspectiva de viverem numa sociedade que caminhe para um ambiente mais democrático, com melhores garantias de vida para a maioria da população, com distribuição mais equitativa da riqueza e com uma reforma agrária que garanta acesso a terra para milhões de camponeses dela deserdados. Eles temem perder as regalias conquistadas à custa da pobreza, não admitem a perspectiva do pobre poder atingir um patamar de vida mais decente.
Contudo, por deter os principais meios de comunicação de massa, esses setores conseguem converter os mais pobres, com o apoio de um neopentecostalismo reacionário crescente, e deixá-los cegos diante da simples realidade que mostram onde se concentram a riqueza. Por todo esse tempo, de massacre midiático sobre o governo, pouco a pouco, com mentiras, boatos e manipulação da notícia, a base que elegeu a presidenta foi sendo minada. Consequência de mais um dos equívocos cometidos pelo governo durante todos esses anos, desde o primeiro mandato do presidente Lula. A ausência de coragem para adotar medidas semelhantes às que foram tomadas na Venezuela, na Argentina e Equador, com leis que viessem a controlar os órgãos de imprensa, jornais, rádios e televisão. 
Não se trata de censura, como eles fazem crer, numa defesa típica de um ataque, pelo que nossa sociedade viveu no período da ditadura. Mas se trata de garantir que, essas concessões públicas, não se constituam em um poder paralelo, um quarto poder como é denominado, pela dimensão e alcance que tem no meio da população, sem nenhum tipo de controle e agindo de acordo com seus interesses, e em benefício de seus aliados. Isso é necessário pelo simples fato: é preciso democratizar esses órgãos, pois a liberdade que eles defendem pra eles, e que existe, constitucionalmente, não é garantida por meio de informação honesta e com espaços iguais a setores sociais que são submetidos à opressão e repressão dos que detém o poder econômico.
Por fim, embora ainda haja muito a ser dito, um governo de esquerda, embora tenha a necessidade de fazer composições com os partidos de centro, para ter garantia de governabilidade, não pode, jamais, abdicar de bandeiras que sempre foram fundamentais para aglutinar os movimentos sociais, e que foram responsáveis pelos últimos resultados eleitorais. Não se pode esconder da população, a verdade. É preciso estabelecer canais de comunicação com as camadas mais pobres e oprimidas, auscultá-las, sentir seus problemas e não ter medo de tomar posições firmes e decididas, que requer escolhas de políticas radicais, não somente progressistas. Mais do que isso. Porque só assim será possível reverter um terrível quadro de desigualdades sociais. Além da necessidade de jamais deixar de estar perto do povo, e de organizá-lo, de formá-lo política e ideologicamente, de transmitir a esse povo confiança em suas ações.
Assim sendo feito, nos momentos de crise como esse, de nítida luta de classes, esse povo saberá de que lado ficará. Os círculos bolivarianos na Venezuela são um exemplo disso. Mas o que foi feito aqui no Brasil, em termos de fortalecimento dos movimentos sociais? Pouco se fez o que, em parte, explica o fato de haver insatisfações mesmo entre aqueles que melhoraram de vida como decorrência das ações dos três últimos governos, e que até pouco tempo votaram na presidenta Dilma para mais um mandato.
É preciso combater a direita, os setores fascistas, os falsos democratas que se recusam a aceitar a derrota nas urnas. Mas é preciso tomar atitudes e explicitar, com medidas concretas e mais duras, de que lado está o governo. Isso não é fácil, leva a embates, mas é preciso fazer. Ademais, como estamos vendo, mesmo não fazendo isso esses setores mexem-se nas catacumbas buscando inspirações em velhos fantasmas, e tentam apregoar mais um golpe contra a frágil democracia brasileira.
Embora tudo isso, é inegável que o Brasil mudou, e de forma visível, neste século. Mas ainda falta muito, para que possamos atingir um estágio mais avançado em termos de recomposição das desigualdades sociais. Por isso, esse momento é crucial, é preciso avançar mais, e jamais permitir qualquer tipo de retrocesso. Devem-se corrigir os erros, dar a volta por cima, e acreditar, como dizia o poeta e escritor Eduardo Galeano, falecido nessa semana, que se a utopia se afasta, devemos estar consciente de que é para isso que ela nos serve, para que possamos caminhar, seguir em frente, podendo vê-la no horizonte. Cada vez que caminhamos ela se afasta, aí é preciso caminharmos mais.




[1] O Papel dos Estados Unidos no golpe de 1964 – Luis Nassif. (http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-papel-dos-eua-no-golpe-de-64)
[3] 1964: A CIA e a técnica de golpe de estado – Luiz Alberto Moniz Bandeira - http://www.espacoacademico.com.br/034/34ebandeira.htm
[4] As revoluções coloridas: os golpes do século 21 – Por Natália Viana. http://www.viomundo.com.br/denuncias/publica-como-funcionam-as-revolucoes-de-veludo.html
[5] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A Segunda Guerra Fria. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. Pp. 108-109
[6] A Revolução não será televisionada – O golpe na Venezuela. https://www.youtube.com/watch?v=MTui69j4XvQ
[7] O Negócio da Revolução – https://www.youtube.com/watch?v=tJE91Cm1oYc
[8] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Idem. P. 107.
[9] “EUA promovem desestabilização de democracias na América Latina”, diz Moniz Banderia - http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/03/eua-promovem-desestabilizacao-de-democracias-na-america-latina-denuncia-moniz-bandeira/
[10] FHC fechou três acordos com o FMI; confira o histórico. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u53074.shtml

[11] Os defensores do Impeachment na operação “Puxando a Capivara”. http://www.vermelho.org.br/noticia/262445-1#.VTEfyxVHGo8.facebook

[12] CASTILHO, Alceu Luís. O Partido da Terra. São Paulo: Contexto, 2012. Pág. 10.

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