Pronto, o foco da mídia agora
passou a ser outro, a partir da iniciativa da presidenta Dilma Roussef em
apressar a Reforma Política, uma das exigências do clamor popular, diante da
insatisfação com o atual modelo representativo brasileiro.
Prestem atenção no que passou a
acontecer logo após o anúncio feito pela presidenta. Primeiro a ideia de
convocação de uma Constituinte exclusiva, a quem caberia a discussão em torno
dessa reforma. Seus parlamentares seriam eleitos exclusivamente para discutir e
elaborar o novo sistema político-partidário brasileiro. Imediatamente a grande
mídia, principalmente a Rede Globo, procurou, seletivamente, apresentar
opiniões de juristas contrários à ideia.
Na forma apresentada, a população
passou a ser induzida a acreditar que era juridicamente equivocada a iniciativa
da Constituinte. Absolutamente manipulada, na medida em que outros juristas,
não ouvidos pela mídia, mas cujas opiniões eram expostas em outros canais de
informações, embora menos vistos, confirmavam a validade da iniciativa, desde
que por iniciativa do Congresso e aprovada por 3/5 dos parlamentares. A meu
ver, o temor era que a Constituinte pudesse avança sobre temas mais espinhosos,
como a questão do parlamentarismo, ou até mesmo regulamentar muitas leis ainda
sem aplicação, como o de imposto sobre grandes fortunas.
A pressão surtiu efeito, a presidenta
recuou. Aparentemente argumentando que o prazo para a sua convocação, eleição e
vigência seria longo, o que poderia contrariar o desejo popular de celeridade
nesse processo.
Passou-se então, a partir daí, às
discussões sobre o plebiscito, pois sem a Constituinte, seria essa a forma de
participação popular escolhida pelo governo para forçar a aceleração das
discussões em torno da reforma política.
Imediatamente a mídia, e mais uma
vez a “vênus platinidada” global passa a selecionar vozes discordantes,
seguida, como sempre, de uma oposição que não se envergonha em seguir as
orientações do “grande irmão”. Desta feita, temerosos do que o povo poderá
decidir, desejam substituir o plebiscito por um referendo. Como sempre a
tentativa de encobrir os temores políticos escora-se em (falsos) argumentos
jurídicos. Como “em cada cabeça há uma sentença”, assessoram-se daqueles
juristas que, utilizando-se de seus linguajares “juridiqueses”, adequados para
confundir os leigos, disparam uma salada de frases legalistas, que se traduzem
no seguinte sentido (segundo a minha interpretação): “não deem ao povo o
direito de decidir primeiro”. Ou, como bem direto disse, certa feita, um governador
mineiro, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada: “façamos a revolução, antes que o
povo a faça”.
Repito, fiquem atentos.
Qual a diferença básica, entre
mecanismos aparentemente semelhantes? Do ponto de vista da soberania popular a
diferença é grande, embora juridicamente seja pequena, e o temor conservador
pode ser explicado pelo antes e pelo depois.
Plebiscito é uma expressão de
origem latina (plebiscitum). Era o mecanismo adotado pelos imperadores romanos,
diante de alguma crise institucional, quando buscava-se amenizar as revoltas
populares, da plebe, ou dos plebeus. A fim de conter a massa, o governante,
através dos senadores, davam à essa população mais pobre, o direito de definir
sobre um tema que a contrariava e que,
porventura, fosse objeto de impasse entre os patrícios e seus representantes.
Pode ser entendido como “a plebe opina”. Por esse mecanismo, os temas são
propostos para que o povo decida sobre aquilo que deseja tornar-se lei. O que
for de seu desejo deverá ser implementado pelos legisladores.
Referendo, que também tem sua
origem na terminologia latina (referendum), diferencia substancialmente do
plebiscito porque neste caso é dado ao cidadão o direito de apenas “referendar”,
ou aprovar (ou recusar) aquilo que já foi discutido e elaborado pelos
legisladores ou governantes.
É evidente, que a diferença entre
os dois mecanismos identifica claramente os objetivos daqueles que os propõem.
O que temos atualmente. Um
congresso parlamentar completamente desmoralizado perante a opinião pública,
por várias razões, e a mais relevante é a leniência em tratar de temas que são
do desejo da população. Entre eles, a reforma política, empacada que nem
jumento velho quando cisma em não arredar o pé do lugar. Obviamente porque há
uma falta de sintonia entre o que deseja as ruas e os interesses da maioria
daqueles que foram eleitos, em tese, para representá-las.
Temos um Congresso conservador, por
essência, na sua composição de classe, que foge completamente daquilo que é a
sociedade brasileira. Não importa, agora, que foram eleitos pelo próprio povo.
Há uma sublevação em marcha, e diz respeito, em grande parte, à ineficiência
política desses parlamentares, que se dispõem somente a agilizar questões
relativas aos seus interesses particulares ou das corporações que financiaram
suas campanhas. Repito, a maioria, e não a sua totalidade. Mas é essa maioria
que define o andamento dos processos e que protela a decisão sobre os temas
mais relevantes, de interesse público.
O que deve prevalecer nesse momento
é a voz das ruas. São anos e anos com a aspiração de uma reforma política sendo
tolhida, porque, naturalmente, os parlamentares que ali estão não desejam
realizar mudanças que venham a ferir seus interesses mesquinhos. Seja de
confrontar o poder reacionário do latifúndio, o moralismo inepto de
fundamentalistas evangélicos e o estilo catatônico de velhas raposas
preocupadas somente com o seu curral eleitoral.
Deve-se enviar para a escolha dos
cidadãos várias proposições, para que a maioria escolhida seja,
obrigatoriamente, seguida pelo parlamento. Que seja dado ao povo o direito até
mesmo de errar, mas que não lhe seja usurpado a sua vontade de decidir sobre
questões que o levou às ruas. E não somente que, mais uma vez, seja protelado, enrolado
e manipulado, uma reforma política, aprovada ao bel prazer de uma maioria
conservadora, e empurrada “goela abaixo” somente para ser “referendada”, ou “submetida
à aprovação popular”. Isso é muito pouco para o que deseja as vozes das ruas. O
povo deseja ser protagonista, como vem sendo, dessas mudanças. E se elas não acontecerem pela política, o processo histórico ensina como prosseguirá.
A multidão, que se revolta até de
forma agressiva nas ruas, embora a mídia tente separar bons e maus
(principalmente quando a revolta vai para a periferia), tem pressa. E a sua
insatisfação é também com esse Congresso que aí está, de uma composição
majoritariamente paquidérmica e senil. Ela não quer somente dizer um “sim
senhor” ao que ali vai ser elaborado. Ela precisa mais do que isso, e pode
fazê-lo sendo lhe dado o direito de decidir entre pelo menos três propostas
diferentes para cada tema. É uma ótima oportunidade de fazer as pessoas
discutir amplamente aquilo que ingenuamente vem negando: a política.
E é plenamente possível fazer isso
através de um PLEBISCITO. Com o congresso discutindo e aprovando aquelas
propostas que, entre eles, recebam a maioria dos votos. Para depois elas serem
colocadas para que os cidadãos indiquem qual delas deve ser acatada pelo
parlamento e legislada definitivamente.
A discussão entre Plebiscito e
Referendo não é meramente jurídica. Ela é política. E define claramente, para
quem não é um alienado, obviamente, quem tem medo das decisões das ruas. As
pessoas que se mobilizaram, formaram a multidão em várias cidades desse país, e
ostentaram de formas diferentes e com temas variados, suas indignações com a
situação política atual, deve ficar atenta à essas manobras, feitas com as
sutilezas do poder midiático, e que visam frear a profundidade das mudanças.
PLEBISCITO, JÁ!
POR UMA REFORMA POLÍTICA DECIDIDA
PELO POVO!
Professor Romualdo, parabéns pelo excelente texto! Concordo plenamente! Como vc mesmo disse, a população quer ser protagonista e mesmo que erre, ela quer ter direito de decidir, pois aqueles que eram para representá-los, apenas servem aos interesses das corporações e do capital.
ResponderExcluirParabéns!
Caro Mestre, a rua clama por mudança, são tantas as informações num tempo tão curto, como gostaria de ter mais tempo para refletir sobre esse processo histórico ocorrendo bem na minha geração. Quanto ao plebiscito tem uma possível arapuca formada para o cidadão, a executivo enviou ao legislativo 5 bases para ser discutidas, porém a reforma política precisa ser maior, com voto facultativo, redução dos gastos nos câmeras e assembleias e uma série de outras miudezas que vão ficar longe do plebiscito. Sei que não podemos fazer tudo ao mesmo tempo e nem como queremos porém as avenidas estão cheias de contradições e o povo é sempre ansioso para ouvir a voz mais alta, sem observar se som vem do lado esquerdo ou direito das ruas. Acredito que não temos força para Constituinte (seria um sonho realizado), mas vejo no plebiscito principalmente se vier com foco no financiamento da campanha, podemos tentar desgrudar um pouco o Poder político do Poder econômico, talvez este o pior problema do cenário das eleições brasileiras!!!
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
André Gomes.