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As lutas que ela abraça assume uma radicalidade que muitas vezes é vista como revolucionária, e confunde, de tal maneira que em muitos momentos envolve também aqueles que não possuem os mesmos privilégios, mas sucumbem ao seu discurso e empunham suas bandeiras. No Brasil isso tem se caracterizado nas lutas que visam criar uma aversão à política, seguindo-se o ritual apresentado por uma parte da mídia.
Nos últimos anos, decorrente da globalização, o sistema capitalista adquiriu diversas formas, sem perder a sua essência, a lógica de funcionamento. Mas trouxe, inclusive, novos modelos de economias de mercado mescladas com um forte controle e investimentos estatais. Na base disso, reforçou categorias e profissionais que passaram a assumir funções de destaques em grandes corporações, bancos, e até mesmo nas altas hierarquias em postos importantes do Estado e empresas públicas.
Ao mesmo tempo, como resultado também das novas formas adquiridas pelo capitalismo, e a importância crescente de setores que passam a ter um forte componente de negócio, quando antes era quase exclusivamente responsabilidade do Estado (por ex. a saúde), e também o fortalecimento de gerentes de negócios financeiros, aumentado com a financeirização do capitalismo (os CEOs), surgem profissionais que ele identifica como uma nova forma da burguesia.
“A categoria dos trabalhadores que recebem mais-salário não está, obviamente, limitada aos gerentes: ela se estende a todos os tipos de especialistas, administradores, funcionários públicos, médicos, advogados, jornalistas, intelectuais, artistas… O excesso que eles recebem tem duas formas: mais dinheiro (para gerentes etc.), mas também menos trabalho, isto é, mais tempo livre (para alguns intelectuais, mas também para setores da administração estatal)”.
Para ele, a busca permanente por mais salário para atender ao apetite da classe média não é econômico, mas político, com o intuito de manter sua estabilidade social. “a violência ameaça explodir não quando existe muita contingência no espaço social, mas quando se tenta eliminar esta contingência”
Assim, aceita-se a hierarquia social mediante um arranjo ideológico, de forma que a relação de superioridade não seja humilhante para os subordinados. Mas juntamente com isso, outros componentes são igualmente importantes para a manutenção dessa nova estrutura, que ele vai buscar em outro autor, Jean Pierre Dupuy, cuja função está exatamente em justificar ideologicamente a forma como se produz a hierarquização social e a sua aceitação.
Blog da Boitempo |
Zizek vê de maneira polêmica as crescentes manifestações e radicalizações das lutas sociais. Entende que elas decorrem exatamente dessa nova configuração social e não as compreende como lutas proletárias, mas, ao contrário, são lutas da classe média visando evitar uma possível proletarização.
Em suas palavras: "Lembremos da fantasia ideológica favorita de Ayn Rand (de seu Atlas Shrugged), a de “criativos” capitalistas em greve – esta fantasia não encontra sua realização perversa nas greves de hoje, que em sua maioria são greves da privilegiada “burguesia assalariada” motivada pelo medo de perder seu privilégio (o excedente sobre o salário mínimo)? Não são protestos proletários, mas protestos contra a ameaça de ser reduzido à condição proletária. Isto quer dizer: quem ousa se manifestar hoje, quando ter um emprego permanente já se tornou um privilégio? Não os trabalhadores mal pagos (no que sobrou) da indústria têxtil etc. mas o estrato de trabalhadores privilegiados com empregos garantidos (muitos da administração estatal, como a polícia e os fiscais da lei, professores, trabalhadores do transporte público etc.). Isto também vale para a nova onda de protestos estudantis: sua maior motivação é o medo de que a educação superior não mais lhes garanta um mais-salário na vida futura”.
É um texto carregado de polêmica, mas de uma análise interessante que deve ser lida e debatida, num momento em que há uma necessidade de entendermos todas as situações que estão sendo criadas como decorrência de uma crise estrutural do sistema capitalista. Vivemos um momento de transição, que vai durar décadas, mas, como dizia Marx, as transformações que ocorrerão iniciam-se nas entranhas do próprio sistema e são frutos de suas próprias contradições.
Para uma leitura completa do artigo de Zlavoj Zizek acesse o site Carta Maior (www.cartamaior.com.br) ou o Blog da Boitempo (http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/01/27/a-revolta-da-burguesia-assalariada/).
(*) O título acima é do próprio artigo de Zizek.
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