Conselho de Segurança da ONU - (O Globo) |
Escaldados pelo resultado da intervenção da OTAN na Líbia, Rússia e China resolveram endurecer suas posições e dificultar as tentativas dos EUA e demais aliados ocidentais - com uma forte propaganda midiática – de repetir a mesma estratégia na Síria. Mais uma vez, agora no começo deste mês de fevereiro, outra resolução apresentada no Conselho de Segurança foi rejeitada, por não obter unanimidade entre seus membros. Rússia e China opuseram-se novamente.
Como já abordei aqui em outras oportunidades, inclusive na 5ª parte de “Crônica de um mundo em transe”, a Síria é a última pedra de dominó, cuja queda irá possibilitar um cerco ao Irã, possibilitando aos aliados ocidentais atingirem o território daquele país pelo mediterrâneo. Claro, considerando que o Iraque garantiria passagem para tropas aliadas atingir fronteiras iranianas (o que não é certo). Há que se considerar também o fato que é através desse país que a Rússia consegue monitorar o Mediterrâneo, com a base militar de Tartur, ali instalada, a única da marinha que ele possui fora de seu território.
Tudo isso decorre também das dificuldades de se utilizar o estreito de Ormuz, em função também das seguidas ameaçadas do Irã em fechá-lo, bem como, mesmo que isso não ocorra, pela facilidade de os mísseis iranianos atingirem embarcações que tentarem utilizar aquela rota.
Tal qual ocorreu em relação ao Iraque, e mais recentemente no caso da Líbia, a mídia cria toda uma preparação, forjando uma opinião pública que seja favorável á uma nova invasão repassando informações, não comprovadas, que são obtidas de fontes não confiáveis, pois são opositores do regime sírio. Mas são nítidas as diferenças de enfoques, comparando-se as situações na Síria e no Egito.
Notícias de que o governo sírio tem atacado a população, repetidas infinitas vezes, constroem a mesma verdade, seguindo a lógica goelbesiana, que alterou o perfil de Kadafi, de aliado ocidental, a “um tirano sanguinário assassino de seu próprio povo”. Assim, seu assassinato foi recebido com naturalidade, e merecimento, em função da propaganda insidiosa, insistentemente, que o transformou em um monstro cuja morte tornou-se merecida. É assim que as multidões são preparadas para a aceitação de assassinatos seletivos e agressões aos direitos humanos.
O resultado da queda da Líbia e da maneira como internamente tem sido perseguidos antigos aliados de Kadafi, com torturas e assassinatos seletivos, denunciados pela ONG “Médicos Sem Fronteiras”, que decidiu, por isso, abandonar o país, deixou de se tornar notícia.
Assim, a mídia prepara também a opinião pública para que o destino de Bashar al-Assad seja semelhante ao de Kadafi e ao de Sadam Hussein. Mas esconde o que está por trás da insistência, e seguramente, da ação de agentes infiltrados entre os opositores sírios, em derrubar aquele regime.
Seguramente muitas ações violentas e repressões brutais estão ocorrendo na Síria, mas fruto não tão somente de manifestações da população, mas da ação de grupos opositores armados no que podemos identificar como uma guerra civil ocorrendo naquele país. Inclusive por parte de antigos militares, desertores, que se uniram aos combatentes, seguindo-se ao que ocorreu na Líbia, quando parte dos ministros abandonaram o governo e levaram consigo muitos militares, que reforçaram a base de oposição ao Kadafi e se constituíram nos principais aliados internos da OTAN. O que terminou por levar à destruição do regime de Muamar Kadafi.
Desta feita, com interesses geopolíticos em jogo, e até porque internamente insatisfações são crescentes por conta de suspeitas de processo eleitoral fraudulento, a Rússia se recusa a aprovar resoluções que dê o pretexto para novos ataques da OTAN, como ocorreu na Líbia. E nisso é seguido pela China, demonstrando que nesse tabuleiro de xadrez já é nitidamente conhecida a posição de cada uma das peças que compõe o jogo.
Porta-aviões russo (defesanet) |
Como a demonstrar as dificuldades que a Rússia criará para impedir a mesma estratégia utilizada na Líbia, dois de seus navios, liderados pelo Porta-aviões Almirante Kuznetsov, aportaram em sua base militar no Mediterrâneo, em território Sírio, desde o dia 9 de janeiro deste ano.
Se de um lado torna-se difícil emplacar uma nova resolução no Conselho de Segurança, por outro cresce a impaciência de Israel, que passa a ver dificuldades para um possível ataque ocidental ao Irã. Caso não se dê rapidamente a queda do governo Sírio, impossibilitando um cerco seguro ao Irã, a tendência é que Israel resolva atacar o país persa, acreditando que o tempo beneficia os iranianos, dando-lhes condições de aperfeiçoar sua capacidade de lidar com a energia nuclear. O receio de que o país dos Aiatollahs construa artefados atômicos, já que possui mísseis com capacidade de deslocá-los a centenas de quilômetros, tem muito mais a ver com a hegemonia geopolítica naquela região do que por um possível ato tresloucado de seus dirigentes.
Enfim, é isso que está em jogo. E é absolutamente abominável, embora compreensível já que as grandes corporações da mídia tem também interesses por trás desse conflito, a forma como as notícias são passadas, repetitivas ad nausean, tentando formar no meio da opinião pública internacional, as justificativas que tornariam aceitável mais um ato de agressão militar, que não tem nada a ver com preocupações humanitárias.
Possivelmente o fim do governo sírio seja o mesmo dos demais países do Oriente Médio que não sobreviveram às revoltas populares e as ações de agentes infiltrados em grupos opositores. Mas, caso isso ocorra, somente aumentará mais ainda a instabilidade na região, somando-se mais um estado caótico, como decorrência das intervenções que se tornaram hábito neste século. Iraque, Afeganistão, Líbia, Egito, Iêmen, e agora a Síria, deixam de ter governos títeres, mantendo à força regimes de poucas liberdades políticas, e passam a conviver com instabilidades decorrentes de governos fracos que mal conseguem desarmar insurgentes que atuam dominando territórios nas fronteiras desses países.
As condições para uma nova guerra, de proporções incalculáveis seguem sendo criadas. Embora seja difícil prever se isso de fato acontecerá, não resta dúvida que as jogadas políticas caminham nessa direção, e deixam claro que esse é o objetivo das grandes potências ocidentais. A Síria não é o alvo final. Assim como a Líbia foi invadida para se dominar o petróleo daquele país, possibilitando o embargo do petróleo iraniano, a queda do regime sírio tem como objetivo conter o fortalecimento do Irã, cuja capacidade de produzir armas nucleares o tornaria praticamente inatingível no Oriente Médio e o transformaria numa potência regional com condições de controlar a região detentora das maiores reservas de petróleo do mundo.
As pedras de dominó estão caindo uma a uma, ou, olhando o mapa do oriente médio como um tabuleiro de xadrez, podemos dizer que os jogadores estão analisando os possíveis movimentos de suas peças, e prestes a algum dos lados gritar: xeque-mate.
Manifestações de apoio ao governo |
Possivelmente o fim do governo sírio seja o mesmo dos demais países do Oriente Médio que não sobreviveram às revoltas populares e as ações de agentes infiltrados em grupos opositores. Mas, caso isso ocorra, somente aumentará mais ainda a instabilidade na região, somando-se mais um estado caótico, como decorrência das intervenções que se tornaram hábito neste século. Iraque, Afeganistão, Líbia, Egito, Iêmen, e agora a Síria, deixam de ter governos títeres, mantendo à força regimes de poucas liberdades políticas, e passam a conviver com instabilidades decorrentes de governos fracos que mal conseguem desarmar insurgentes que atuam dominando territórios nas fronteiras desses países.
Protestos contra Bachar al-Assad |
As pedras de dominó estão caindo uma a uma, ou, olhando o mapa do oriente médio como um tabuleiro de xadrez, podemos dizer que os jogadores estão analisando os possíveis movimentos de suas peças, e prestes a algum dos lados gritar: xeque-mate.
Nenhum comentário:
Postar um comentário