segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DECIFRANDO O SISTEMA CAPITALISTA – CRISES ECONÔMICAS E O PODER DAS GRANDES CORPORAÇÕES

Iniciarei na próxima semana um mini-curso. É uma idéia que eu já vinha alimentando há mais de um ano, desde que as notícias sobre a crise econômica se espalharam pelo mundo a partir de 2008, muito embora ela já estivesse ocorrendo pelo menos desde 2006. E tudo isso começou devido às minhas angústias em trabalhar um tema cuja profundidade não era devidamente noticiada, falseava-se naqueles elementos basilares para se compreendê-la. Ou seja, de que era uma crise estrutural, decorrente da lógica natural do sistema capitalista, que se fundamenta na busca obsessiva pelo lucro e tem a ganância como seu motor principal.

Aproveito o blog Gramática do Mundo, como instrumento importante para difundir idéias que possam se contrapor ao monopólio da informação tradicionalmente repassada pela mídia, quase sempre distorcida, para apresentar aos que nos acompanham o conteúdo deste curso, e convidar os que se interessarem a participar do mesmo. Ele será realizado no Instituto de Estudos Sócioambientais (IESA-UFG) e faz parte da programação do Laboratório de Estudos e Dinâmicas Territoriais – Laboter e do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Geopolítica – Nupeg. Serão quatro dias de curso: 05, 06, 07 e 08 de outubro, sempre das 14 às 18 horas. As inscrições devem ser feitas na sala 20 do IESA, até sexta-feira (01/10), mas o número de vagas é limitado.

Logo a seguir transformo em texto o conteúdo do programa e da metodologia que aplicarei ao mini-curso Decifrando o sistema capitalista – crises econômicas e o poder das grandes corporações.

A estrutura do curso

Procurarei, mesmo que de maneira sucinta, analisar o processo histórico que levou à consolidação do sistema capitalista e a partir disso explicar didaticamente como funciona o modo de produção capitalista. Para isso é necessário, antes de tudo, saber como se deu a ascensão da burguesia, as revoluções que ela fez e os mecanismos que adotou para revolucionar uma época e o que viria daí em diante. Também é preciso analisar as principais transformações estruturais que aconteceram, principalmente a partir do século XIX e, já no século XX, a consolidação de um modelo de vida que impulsionou o capitalismo. As transições do poder mercantil – industrial – financeiro e o ápice do sistema capitalista, quando o seu controle passa para as mãos das grandes corporações. E, as crises econômicas, como elementos que alteram mecanismos de controle do capitalismo e acentuam as desigualdades sociais, mas tornam-se elas próprias, novos elementos propulsores de um sistema que se aproveita também das desgraças, sejam sociais, causadas por guerras ou provocadas por catástrofes naturais.

Para entender as crises.

Muito se fala das crises econômicas do capitalismo. Algo que passa a acontecer de forma cada vez mais constante, conforme já dizia Lênin, uma vez que se encurtam as distâncias entre elas. Mas o que pouco se diz é que elas fazem parte da própria dinâmica de funcionamento do sistema, ou seja, o capitalismo se retroalimenta dessas crises.

É para analisar esse processo, e a maneira como o capitalismo encontra saídas para as crises econômicas que ao longo da história definiram a maneira como ele evoluiu, que apresentamos alguns elementos para sua compreensão.

O objetivo é entender o mecanismo de funcionamento do sistema capitalista e encontrar respostas para a sua acelerada ascensão, mesmo que à custa de enormes contradições, como inúmeras guerras, catástrofes, disputas hegemônicas pelo controle do poder mundial, concentração de riqueza paripasso com o crescimento da miséria, definindo como uma de suas características básicas a forte desigualdade social. Paradoxalmente essa desigualdade se dá na contraposição de um enorme sucesso da descoberta de mecanismos cada vez mais sofisticados para produzir mercadorias tecnologicamente avançadas e agregadoras de renda.

O Deus Mercado potencializando divindades menores, mas necessárias para fazer o sistema seguir mantendo sua lógica, o mito do consumo, e a sensação de felicidade que ele carrega, elevado a isso pelas forças ideológicas dominantes, passam a se constituir na base mais importante para a superação de crises econômicas. Renascendo o keynesianismo o Estado surge, em momentos de crise, como a salvação para amenizar seus impactos, mas, fundamentalmente para manter erguida toda a estrutura do modo de produção capitalista, potencializando investimentos que garantem às grandes corporações seguir concentrando renda e riquezas.


Até onde pode ir o poder dessas grandes corporações? E em que medida o Estado, no capitalismo, pode resolver os problemas da distribuição de rendas, da miséria, das desigualdades sociais? É compatível uma lógica concentracionista, em crescimento, do poder das grandes corporações, com a necessidade de impor um freio à usura e ganância a fim de reduzir as desigualdades sociais?

Queremos por meio deste mini-curso, senão encontrar as respostas para essas indagações, reforçar aquelas dúvidas sobre o que fazer, para frear o ímpeto ganancioso dessas corporações e se é possível encontrar saídas, sustentáveis, a um ritmo de desenvolvimento desigual, injusto e concentrador de riquezas.


Objetivo do curso:

O objetivo do curso é identificar como o sistema capitalista se robustece a cada crise. Quais os mecanismos que são responsáveis por essa aparente contradição. E ao mesmo tempo demonstrar como esse sistema vem se transformando ao longo do tempo, no sentido contrário daquele expresso nas primeiras idéias sobre o liberalismo comercial, quando a burguesia combateu o monopólio exercido pelas grandes companhias controladas pelo Estado Absolutista. O que se vê nos dias atuais é um aumento do poder concentrado nas mãos de poucas grandes corporações, a ponto das pessoas não perceberem que se deparam nas gôndolas de supermercados com produtos aparentemente concorrentes, mas que são fabricados pela mesma corporação. Além do controle que elas exercem sobre os Estados, inclusive na definição de determinadas políticas, na medida em que algumas delas possuem valores patrimoniais maiores do que os PIBs de muitos países.

A globalização abriu caminho para essa concentração de poder, presente em todos os setores que lidam com negócios, desde a religião até a mídia, passando pelo controle de marcas, do mercado, e do sistema financeiro. Para onde vai o capitalismo, pós-globalização, com o neoliberalismo desmoralizado, mas mantendo-se ainda de pé esse poder econômico fortemente centralizado nas mãos de poucas corporações que definem, inclusive, nosso modo de viver? Existem saídas ao final desse túnel? São questões que este mini-curso pretende abordar.

Programa e metodologia:

O programa do curso seguirá uma metodologia que visa buscar em filmes e documentários os bastidores de funcionamento do sistema. Serão apresentados quatro filmes/documentários em que esses elementos são postos, a seguir, numa segunda parte da aula serão feitas análises com base naquilo que foi apresentado com o conteúdo de alguns textos que serão deixados à disposição dos inscritos.

1) Na primeira aula o FILME será WALL STREET, PODER E COBIÇA, do diretor Oliver Stone. É interessante começar por esse filme porque ele retrata os Estados Unidos durante o governo de Ronald Reagan, momento de crise econômica, mas de retomada do capitalismo seguindo um novo modelo, o neoliberalismo. O filme foi finalizado no ano de 1985, bem no final do primeiro mandato de Reagan. A partir desta época e daquela que ficou conhecida como a década perdida, o mundo entra em uma nova era, conhecida como GLOBALIZAÇÃO. Com o neoliberalismo o capitalismo retoma sua lógica original e escancara sua opção pela concentração de riqueza, buscando na liberdade de mercado o argumento para desmontar toda a rede de apoio social construída pelo welfare state, de viés keynesiano. Nesta semana entrou em cartaz nos circuitos comerciais a continuação deste filme, abordando agora a crise de 2008, do mesmo diretor, Oliver Stone e estrelado por Michael Douglas.

2) Na segunda aula o documentário a ser exibido é ENRON – OS MAIS ESPERTOS DA SALA. A lógica que impulsionou o capitalismo pós era Reagan, foi a mesma que possibilitou um crescimento meteórico desta grande corporação, que em pouco tempo, devido principalmente pelas relações perniciosas com a família Bush se tornou uma das maiores do mundo no ramo de exploração de energia. Acontece que, segundo o crescente processo de especulação financeira, boa parte daquilo tudo que se apresentava como uma mega-empresa correspondia simplesmente à atividades fraudulentas, inclusive com criação de empresas virtuais encarregadas de vender ações no mercado das bolsas de valores sem nenhum tipo de atividade produtiva.


3) No terceiro dia será apresentado o documentário CORPORATION, dirigido por Jennifer Abbott e Mark Achbar, amplia muito o universo que é representado pelo documentário ENRON. Mostra como as corporações tornaram-se mais poderosas do que o próprio Estado, bem como todo o processo de exploração que leva à uma acumulação espantosa e a um poder incontrolável. O documentário parte de uma decisão judicial nos Estados Unidos que deu às corporações os mesmos direitos que os indivíduos, baseando-se na 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que proíbe ao Estado que este negue, a qualquer pessoa sob sua jurisdição, igual proteção perante a lei. Com base nisso os diretores constroem uma crítica bem humorada ao mundo corporativo e ao poder que ele carrega.

4) No último dia será a vez de vermos o último trabalho do diretor Michael Moore , com seu documentário CAPITALISMO, UMA HISTÓRIA DE AMOR. Seguindo seu estilo mordaz, de uma crítica fortemente irônica, mas bem fundamentada, Moore parte da crise financeira que atingiu os Estados Unidos e explodiu para o mundo em 2008, para mostrar as mazelas do capitalismo, especialmente a lógica gananciosa e egoísta que move o sistema e se apropria do trabalho, da riqueza e da esperança dos trabalhadores. Contudo, Moore aponta possibilidades de superação, a partir da organização das pessoas e do enfrentamento com a lógica perversa que caracteriza esse sistema.

Seguiremos uma nova metodologia, bastante utilizada nos últimos tempos, e expresso em inúmeros artigos que incluiremos na bibliografia. CINEMA E GEOGRAFIA compõem esse novo caminho metodológico, onde exploraremos a capacidade que diretores, produtores e atores encontram para retratar o cotidiano de nossas relações, e buscar em fatos e acontecimentos reais a expressão que transforma em arte nossos cotidianos.

Não necessariamente procuraremos tecer críticas às qualidades artísticas, na medida em que somos leigos neste assunto, mas queremos extrair da capacidade que o cinema possui de nos envolver, para buscar produções cujos temas além de sérios são retratados com competência e qualidade. E que nos servem para irmos construindo o retrato do mundo em que vivemos, a geopolítica mundial, também para nos perguntarmos sempre: para onde iremos? Há vida após o capitalismo?


(*) Será concedido certificado de participação correspondendo a 20 horas/aulas, desde que o percentual de presença não seja inferior a 75%. Ou seja, só poderá haver uma ausência nos quatro dias do mini-curso.

Um comentário:

  1. Professor, sou historiadora e recebi informações acerca do curso a ser ministrado na semana próxima através de meu esposo, que é aluno de mestrado aí no IESA; O prof.Gilmar Elias.Gostaria de saber, dada a relevância do tema e em vista da necessidade da autoformação, se acaso, embora não sendo aluna do Instituto, poderia participar do mesmo. Por favor,peço que em caso de anuência quanto à minha participação, transmita a resposta a meu esposo,para que eu possa me organizar no sentido de colocar um professor em meu lugar nos dias previstos para a duração deste. Na expectativa de que meu pedido seja considerado, sem mais para o momento,aproveito o ensejo para parabenizá-lo por tal iniciativa e subscrevo-me.
    Atenciosamente,
    Eliete Barbosa.

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