


- "Odes" (I, 11.8) do poeta romano Horácio (65 - 8 AC): Carpe diem quam minimum credula postero (Aproveite o dia, confia o mínimo no amanhã) - Gramática do Mundo - Ler e escrever o mundo através da Geopolítica - "A melhor maneira de predizer o futuro é inventá-lo" (Alan Kay) - "Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa" (Guimarães Rosa)
Temos ultimamente verificado uma profusão de artigos nos meios de comunicação enfatizando a forma como a violência tem se tornado banalizada. São crimes praticados por motivos fúteis e reações intempestivas a pequenos e irrelevantes acidentes que geram um comportamento estúpido e irracional, fazendo com que até mesmo pessoas que jamais se conheceram tornem-se em frações de segundos inimigos mortais.
Como avaliar esses comportamentos? Eu, particularmente, não sou psicólogo, portanto vou analisar essa situação, nessas poucas linhas, por um viés geopolítico. Mas como fazer isso? Será que todo e qualquer conflito, mesmo no mero cotidiano de nossas vidas, pode ser estudado a partir da geografia?
Sim, não somente da Geografia Política, mas também pela História, Sociologia, Filosofia, Economia Política e, claro, Psicologia, porque esta se preocupa mais diretamente nos estudos desses e de todos os tipos de comportamentos humanos. Mas onde podemos buscar as origens para tais comportamentos? Vejam que a psicologia para tentar entender certas situações aflitivas em determinado indivíduo, busca conhecer o seu passado, e através dele chegar ao âmago de sua vida, seus traumas, frustrações, fracassos, ou seja, o conjunto de eventos que determinaram como a sua memória está constituída. Enfim, sua história de vida.
Partimos, portanto, do pressuposto que para conhecer o presente é insofismável se aprofundar no passado. Como em qualquer terapia, para conhecermos a origem das angústias que afligem certa pessoa, é fundamental sabermos o que tal indivíduo acumulou de experiências negativas que causaram certas anomalias em seu comportamento, a ponto de provocar em determinado momento uma ira incontrolável, fazendo-o reagir violentamente contra aquele que cruzar seu caminho em um instante de fúria. Ou propiciar outro caminho, da introspecção, depressão, que o fará agir com brutalidade não somente contra o outro, mas para consigo mesmo. E, às vezes, sequer alguma reação esse indivíduo terá, esgotando em si mesmo a vontade de viver, sendo consumido pela desesperança e tristeza profunda.
Essas são situações que crescem no cotidiano das grandes cidades, metrópoles aceleradas marcadas por sentimentos contraditórios, mas cuja lógica reside no fato de as pessoas precisarem sagrar-se vitoriosas em meio a uma competição desmedida, e na busca por um estilo de vida que os consagrem vencedores. Nesse jogo, seguindo o que determina os valores construídos pelo sistema em que vivemos a vitória não é o fim de tudo, pois deve ser permanente para manter e ampliar o que foi conquistado; e a derrota enseja tais frustrações que forçam alguns por caminhos que imaginam ser um atalho também para atingir esses objetivos. Tais atalhos, de um jeito ou de outro, leva a desfechos indesejáveis, na medida em que se rompem valores e quebra-se a estrutura moral na qual está fundada a sociedade.
Podemos partir de uma frase muito repetida em uma propaganda da maior rede de supermercados do país, na voz de um dos nossos melhores compositores: “o que faz você feliz?”. A resposta para isso, segundo o marketing apresentado, é consumir. Seguindo adiante no objetivo de atrair clientes, apresenta-se ainda um complemento: consumir, bem!
Significa, então, que a condição para estabelecermos relações fraternas, ponderadas, tranqüilas, é nos situarmos dentro de um padrão de vida que possibilite adquirir produtos que nos são oferecidos para consumo e massificados pela mídia de forma variada. Ao sairmos de casa, ligamos o som do carro e os programas têm o oferecimento de determinada marca; nos veículos, ônibus principalmente, uma bela donzela ou um jovem mancebo nos apresentam um produto apontado como responsável por suas formas; por todos os lados, outdoors de várias maneiras e estilos nos “vendem” todo o tipo de mercadorias. Na TV, internet, páginas de jornais e revistas, por todos os lados somos massacrados pela propaganda, de tal forma que no cotidiano de nossas relações, nos tornamos agentes propagadores desses produtos. Não são poucas as vezes que debatemos suas qualidades, e indicamos aquela marca que foi por nós aprovada. Remédios, então, nem se fala. Alguns imaginam conhecê-los melhor do que os médicos e repassam suas possíveis qualidades, num marketing indireto condicionado pela lógica consumista.
Em um ambiente carregado por esses valores, onde consumir “faz você ser feliz”, podemos encontrar a chave para as desilusões, frustrações e disputas violentas. Primeiro porque nos impõe um sentido de viver determinado pela necessidade de estarmos permanentemente em busca de melhores ganhos, já que nosso poder de consumo é incontrolado e infinito. Da mesma maneira como ao sistema capitalista não importa somente ganhar, é preciso ganhar sempre, e cada vez mais.
Imaginemos, nós que possuímos empregos regulares, a angústia e desespero de uma família cujo pai, ou mãe, aquele que dá sustentação financeira à família, encontra-se desempregado. Ou cujo salário, ao final do mês, é insuficiente para atender à necessidade, e à demanda de um grupo condicionado pelo marketing que perversamente invade sua casa pelos meios de comunicação. Como reagirá essa família ao assistir à propaganda citada, que não é a única, mas apenas um exemplo? O que está desempregado saberá na carne o que quero dizer. Mas mesmo com um salário, será ele suficiente para manter satisfeitos adolescentes cuja cultura cerca-o de desejos por produtos tecnologicamente sofisticados, ou roupas de grifes famosas? E, neste parágrafo, falo de exemplos e indago sobre questões que atingem a imensa maioria da população. O que facilita para nós a compreensão da pressão sob a qual está fundada a nossa sociedade.
Compreendendo essas contradições, e o estilo de vida que o sistema nos impõe sempre a buscarmos, podemos levar nossa análise para o âmbito da política, e nesse particular navegar melhor pelo universo de uma sociedade cujo elemento central é a competição. E, como numa disputa esportiva, a busca é permanente pelo recorde, também aqui jamais nos satisfazemos com o que ganhamos. Isso, independente do padrão de vida que analisarmos.
Simplesmente porque nossa cultura é formada a partir dos valores construídos pelo sistema capitalista, onde não há limite para o lucro, e a ganância é o motor principal a nos guiar em direção ao objetivo de sempre acumular mais. E isso independe do fato de envelhecermos, e pela lógica natural da vida em algum momento morrer. A herança, mecanismo inventado para perpetuar a busca obsessiva pela riqueza e garantia da propriedade, se encarrega de assegurar que os mortos determinem quem em vida continuará sua sina.
Isso é o que faz das cidades mais particularmente, palco principal das neuroses e conflitos, ambientes cada vez mais carregados de estupidez, violência e atitudes bizarras. Porque cabe a cada um, seguindo a forma individualista determinada pela cultura capitalista, brigar, com todas as suas forças, para superar o outro, numa disputa que determina quem é vitorioso e será escalado para atingir os melhores degraus da pirâmide social. Como no traçado geométrico dessa figura, também na sociedade vai diminuindo o percentual daqueles que atingem o pico, e os que lá chegarão quase sempre já se encontram na linha de ascendência de alguém “bem sucedido”, pouco ocorrendo a incidência de algum “cristão novo”.
Ou lutamos para alterar essa lógica, atacando o modelo que transmite esses valores culturais, ou será insuficiente exigirmos garantias de segurança por parte do Estado. Porque também esses mecanismos estão corrompidos, seguindo a lógica descrita anteriormente. Nossas prisões não serão suficientes para conter uma demanda que cresce, na medida em que se atiça a onda consumista.
Portanto, antes de nos escandalizarmos com o grau de violência que assistimos, e que em alguns casos somos vítimas, devemos refletir sobre as causas disso. Não é, em absoluto, da essência humana. É, indubitavelmente, da CONDIÇÃO HUMANA.
Em outros post, quero melhor analisar como individualismo e egoísmo vão sendo disseminados por alguns mecanismos de controle ideológico, apresentados como válvulas de escapes dessas neurastenias, mas que são por um lado consequência dessa situação, por outro, objetivo calculado desse modelo de vida. Mais uma contradição a nos envolver num pântano movediço. Para não parecer pessimista devo dizer que tenho plena convicção de que é possível sair dele. Nosso destino não está traçado.
Para não perder o costume, gostaria de indicar o filme CRASH, NO LIMITE! As histórias que se entrelaçam e conduzem à surpresas e tragédias, mostram bem como funciona o cotidiano de uma cidade cujas pessoas encontram-se á beira de um ataque de nervos. Preconceito, intolerância, medo e insegurança são os elementos motivadores das tragédias ali relatadas e que se parecem com muitas das que acontecem na vida real.
IMAGENS:
1 - meupapeldeparedegratis.net
2 - sindicaatodosjornalistasmet.blogspot.com
3 - whynotsee.co.cc
4 - www.ecopop.com.br
5 - www.abraceumalunoescritor.org
6 - www.crashfilm.com
Como sempre hei de dizer: olhemos o mapa. Vamos identificar as fronteiras que separam este país, como ele se constituiu, a partir da “Guerra da Coréia”, na década de 1950, que levou à divisão em dois países. Alinhada aos EUA, fruto da intervenção daquele país na guerra, a Coréia do Sul, ou República da Coréia.
Do outro lado, a Coréia do Norte manteve, após obter o apoio durante a guerra, um aliado permanente em sua principal fronteira, a China. E uma pequena extensão territorial completa sua outra fronteira terrestre, com a Rússia. O Japão está bem próximo, mas sem ligação direta com suas fronteiras, senão pelo mar do Japão. Do outro lado, o mar Amarelo.
Qual o interesse dos EUA nessa península, já que não podemos contabilizar nenhum recurso natural estratégico como de relevância para atiçar sua cobiça? É aí que as fronteiras nos dão indicação do porque estrategicamente os EUA precisam manter uma instabilidade permanente na região. Uma reunificação das Coréias seria o pior negócio para os estadunidenses, pois poderia reforçar a influência chinesa e ameaçar sua hegemonia.
De fato, a Coréia é um dos países mais fechados do mundo. Ainda mantendo resquícios das características que marcaram os países socialistas até o final da década de 1980, a Coréia reluta em abrir suas fronteiras e sua economia para o mundo. Não somente por opção própria, mas porque para fazer isso ela teria que modificar por completo seu regime político, nos moldes feitos pela China, com a diferença de ter que se submeter aos interesses dos EUA, pela influência que este detém na Coréia do Sul.
A China, apesar de garantir o apoio à Coréia do Norte, e mantê-la livre das sanções da ONU no Conselho de Segurança, não parece disposta a ir além disso. Salvo em caso de uma guerra que envolvesse a Coréia do Sul e os EUA e ameaçasse suas fronteiras, por exemplo, levando a uma derrota norte-coreana e a uma unificação que servisse aos interesses estadunidenses.
Essa é uma situação improvável, pelo fato da Coréia do Norte deter um forte arsenal nuclear, com mísseis capazes de atingir tanto a Coréia do Sul como o Japão. Qualquer atitude hostil que signifique uma declaração de guerra pode levar a ocorrência de um conflito nuclear de conseqüências imprevisíveis.
Como dito nos textos anteriores, certos conflitos noticiados com todo estardalhaço pela mídia, tem o claro objetivo de criar situações que justifiquem ações belicistas. Embora a Coréia do Norte seja um país de difícil acesso, inclusive em relação às informações, não se pode duvidar da capacidade que os EUA tem de agir com métodos de espionagem a fim de criar esses conflitos. Não se trata de teorias conspiratórias, mas de compreender como tem agido aquele país no intuito de gerar guerras de forma a garantir o controle de áreas estratégicas para o seu domínio. E de quebra, vender armas. Muitas armas.
A própria atitude fechada da Coréia a torna um perfeito alvo das táticas estadunidenses. Sem credibilidade, até pela própria propaganda a que é submetida de forma negativa, fica fácil, por exemplo, aos serviços de espionagem preparar uma armadilha, seja de sabotagem ou de um falso ataque, como o que ocorreu na destruição de uma corveta sul-coreana. Pelas “provas” apresentadas, seria muito óbvio a responsabilidade, para ser negada com tanta veemência. Mas, pela característica do próprio regime, e pela maneira imperial como seu presidente conduz o país, até mesmo de forma hereditária, transforma-o facilmente em um perfil adequado à freqüentar o “eixo do mal”. A opinião pública, devidamente preparada, não tem dúvida em considerá-la responsável pelos atos demoníacos de que é acusada.
Parece-me, contudo, mais uma artimanha dos EUA para manter a Coréia do Norte permanentemente sob suspeita, forçar um atrito com sua vizinha do Sul, impedindo uma reaproximação entre as duas, que não lhe interessa politicamente e desviar o foco de suas diatribes no Iraque e Afeganistão, principalmente. Sem contar com a crise intensa que insiste em afetar duramente sua economia, mantendo-o em constante recessão.
Por isso cito aqui trecho de um interessante artigo do prof. José Luis Fiori, publicado no site Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4722), intitulado: “Guerra do Afeganistão - um enigma, quatro hipóteses”.
Segundo suas análises há uma espécie de intenção na radicalização de algumas situações geradoras de guerras, por ser essa uma das condições para a sobrevivência do sistema.
Diz ele, referindo-se à guerra do Afeganistão e à possibilidade do deslocamento do conflito, seguindo caminhos previsíveis, absolutamente construídos dentro dessa lógica belicista: “Depois da Segunda Guerra Mundial, este centro gravitacional saiu da própria Europa e se deslocou na direção dos ponteiros do relógio: para o nordeste e sudeste asiático, com as Guerras da Coréia e do Vietnã, entre 1951 e 1975; e depois, para a Ásia Central, com as Guerras entre o Irã e o Iraque, e contra a invasão soviética do Afeganistão, durante a década de 80; com a Guerra do Golfo, no início dos anos 90; e com as Guerras do Iraque e do Afeganistão, nesta primeira década do século XXI.
(Afeganistão: Jalalabad-Cabul (Der Spiegel - 27.07.10)Em sendo assim, pode-se dizer que há uma tentativa de buscar um novo epicentro. Veja, por exemplo, que no dia de hoje, 02 de agosto, o presidente Obama divulgou que a “Guerra contra o Iraque se encerrará no dia 31 de agosto de 2010”. Embora, outras manchetes no mesmo dia indicassem que os EUA já tem preparado um plano de ataque ao Irã.
Guerra ao terror, contra a ambição nuclear do Irã, em defesa da democracia na Coréia... são infindáveis as razões do império para manter em ação seu poderio bélico, e assim, conseguir ampliar ações que fazem da guerra um grande negócio.
Quem mais estará habilitado a freqüentar o “Eixo do Mal”?